sexta-feira, janeiro 23, 2015

“Relógio do Apocalipse”: três minutos para o fim do mundo

Cientistas do BAS
O fim do mundo está próximo! A depender do alerta emitido nesta quinta-feira pelo Boletim de Cientistas Atômicos (BAS, na sigla em inglês), ao adiantar em dois minutos o “Relógio do Apocalipse”, que agora marca três para meia-noite, vivemos uma situação tão perigosa quanto a da Guerra Fria. A última vez em que a situação esteve tão crítica foi em 1984, num momento em que o recrudescimento das hostilidades entre os EUA e a então União Soviética ameaçavam a humanidade com uma guerra nuclear. Desta vez, a principal ameaça vem do clima. “Isto é sobre o fim da civilização como nós a conhecemos”, disse Kennette Benedict, diretora-executiva do BAS. “A probabilidade de uma catástrofe global é muito alta, e as ações necessárias para reduzir os riscos são urgentes. As condições são tão ameaçadoras que estamos adiantando o relógio em dois minutos. Agora faltam três para a meia-noite.”

A emissão de dióxido de carbono e outros gases está transformando o clima do planeta de forma perigosa, alertou Kennette, o que deixa milhões de pessoas vulneráveis ao aumento do nível do mar e a tragédias climáticas. Em comunicado, o BAS faz duras críticas aos líderes globais, que “falharam em agir na velocidade ou escala requerida para proteger os cidadãos de uma potencial catástrofe”.

O consultor e ambientalista Fabio Feldmann considera o alerta “bastante razoável” e destaca a falta de mobilização de governos e sociedades como o principal entrave.
“Se há um ano eu falasse sobre os riscos da crise hídrica em São Paulo, seria tachado de apocalíptico, mas veja a situação agora”, disse Feldmann. “A realidade está superando as previsões científicas, mas não está colocando o tema na agenda. Esse é o drama.”

Além da questão climática, o BAS alerta sobre a modernização dos arsenais nucleares, principalmente nos EUA e na Rússia, quando o movimento ideal seria o de redução no número de ogivas. Estimativas mostram a existência de 16.300 armas atômicas no mundo, sendo que apenas cem seriam suficientes para causar danos de longo prazo na atmosfera do planeta.

“O processo de desarmamento chegou a um impasse, com os EUA e a Rússia aplicando programas de modernização das ogivas – minando os tratados de armas nucleares – e outros detentores se unindo nessa loucura cara e perigosa”, informou o BAS.

A organização pede que lideranças globais assumam o compromisso de limitar o aquecimento global a dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e de reduzir os gastos com armamentos nucleares. “Não estamos dizendo que é muito tarde, mas a janela para ações está se fechando rapidamente”, alertou Kennette. “O mundo precisa acordar da atual letargia. acreditamos que adiantar o relógio pode inspirar mudanças que ajudem nesse processo.”

O BAS foi fundado em 1945 por cientistas da Universidade de Chicago (EUA) que participaram no desenvolvimento da primeira arma atômica, dentro do Projeto Manhattan. Dois anos depois, eles decidiram criar a iniciativa do relógio, para “prever” quão perto a humanidade estaria da aniquilação. Na época, a principal preocupação era com o holocausto nuclear, mas, a partir de 2007, a questão climática passou a ser considerada pelo grupo. As decisões de ajustar ou não o relógio são tomadas com base em consultas a especialistas, incluindo 18 vencedores do Prêmio Nobel.

Desde a criação, o “Relógio do Apocalipse” foi ajustado apenas 22 vezes. O momento mais crítico aconteceu em 1953, com o horário marcando 23h58, por causa dos testes soviéticos e americanos com a bomba de hidrogênio. A assinatura do Tratado de Redução de Armas Estratégicas, em 1991, fez o relógio marcar 17 minutos para a meia-noite, a situação mais confortável até hoje.

O último ajuste do relógio aconteceu em 2012, para 23h55, com o BAS alertando sobre os riscos do uso de armas nucleares nos conflitos do Oriente Médio e o aumento na incidência de tragédias naturais.


Nota: Nada como o medo para motivar ações drásticas no planeta. De qualquer forma, é bom ver que há mais pessoas percebendo que este mundo é um barril de pólvora prestes a explodir. [MB]