segunda-feira, agosto 17, 2015

Todos nós merecemos um impeachment

O problema é mais profundo
A palavra inglesa impeachment voltou à moda. A primeira vez em que a ouvi tantas vezes nos noticiários e na boca do povo foi em 1992, quando da cassação do cargo do então presidente Fernando Collor de Mello. Impeachment é impedimento ou impugnação de mandato do chefe do poder Executivo. Não é privilégio do Brasil. Aliás, a palavra foi usada pela primeira vez no Reino Unido, contra William Latimer. Nos Estados Unidos, Andrew Johnson foi o primeiro a ser “impitimado”, sendo destituído do cargo em 1868. Em 1974, Richard Nixon renunciou à Presidência para não ser deposto. E em 1999, Bill Clinton, por causa de suas estripulias sexuais e outros problemas, quase sofreu processo de impeachment, mas escapou.

Agora a sombra dessa maldição que de vez em quando desce sobre os supremos mandatários das nações paira sobre a cabeça da nossa primeira presidente mulher. Dilma Rousseff vive dias difíceis no começo de seu segundo mandato. Milhões de pessoas foram às ruas neste domingo para protestar contra ela, contra seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva, e contra a corrupção. Entre esses milhões, muitos querem o impeachment dela e a prisão dele. Outros tantos consideram o impeachment uma medida muito traumática e que poderia aumentar a instabilidade econômica no país e agravar ainda mais a crise política. Todos desejam mudança, mas parecem não saber muito bem por onde ela deve começar nem com quem.

Quando se investiga a história da humanidade, uma coisa fica evidente: a corrupção sempre existiu – embora aqui em solo tupiniquim muita gente tenha se tornado especialista no assunto. Regimes vêm e vão; socialistas cedem a vez aos capitalistas e vice-versa; monarquias; repúblicas; parlamentarismos; presidencialismos... Tentativas de melhor gerir os negócios das nações. Embora haja sempre algumas pessoas honestas e bem-intencionadas no meio de tantos oportunistas e “fominhas” de poder, não dá para negar que as injustiças continuam aí – a desigualdade social; a miséria, com tantos ganhando tão pouco e uma minoria se refestelando com muito; a falta de verdadeiro amor pelos que sofrem.

A solução definitiva não virá de um impeachment, assim como uma revolução social nunca será garantia de igualdade, justiça e fraternidade. Sabe por quê? Porque o problema não está nos regimes políticos. Eles são parte de um problema mais profundo. O problema não é social; é individual. Não há revolução que resolva uma desgraça que está no coração, no DNA humano. Quem precisa de reforma, de uma recriação somos nós. É o nosso coração que precisa de um “impeachment”. Precisa ser deposto para que uma vontade superior, pura e justa assuma o controle. Do contrário, reis virão; presidentes se sucederão; manifestações, por mais justificáveis que sejam, encherão as ruas de pessoas que depois voltarão para casa para assistir às mesmas notícias na TV. E quase nada mudará.

Nós precisamos de um “impeachment” para que outro governo assuma logo o poder.

Michelson Borges