segunda-feira, outubro 26, 2015

Uma bola de “caipirinha” cósmica é nova esperança de vida

Jogando o problema para fora
Cientistas informaram na sexta-feira que conseguiram identificar, pela primeira vez, duas moléculas orgânicas complexas em um cometa - lançando nova luz sobre as origens cósmicas de planetas como a Terra. Segundo a pesquisa, publicada na revista Science Advances, os especialistas detectaram moléculas de álcool etílico e de um açúcar simples conhecido como glicolaldeído no cometa Lovejoy. “Essas moléculas orgânicas complexas podem ser parte do material rochoso a partir do qual os planetas se formaram”, afirmou o estudo. Moléculas orgânicas já haviam sido encontradas em núcleos de cometas. O caso mais recente foi o do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, onde o robô Philae da agência espacial europeia encontrou várias, algumas das quais nunca antes detectadas num cometa. Como os cometas contêm os materiais mais antigos e primitivos do sistema solar, os cientistas os estudam como se fossem cápsulas do tempo que oferecem pistas sobre como tudo começou [ou teria começado], 4,6 bilhões de anos atrás.

Durante anos, debateu-se se os cometas que se chocaram com a Terra há milhões de anos a alimentaram com os componentes necessários para a vida. Embora este último estudo não resolva a questão, adiciona novos elementos para o debate, garante Dominique Bockelée-Morvan, co-autor e astrofísico do Centro Francês para a investigação científica.

“A presença de uma grande molécula orgânica complexa no material de um cometa é um passo fundamental para uma melhor compreensão das condições que prevaleceram no momento em que a vida surgiu [sic] em nosso planeta”, explicou à AFP. “Essas observações vão significar uma possível explicação para a origem da vida em nosso planeta”, apontou.

Lovejoy interessa particularmente os cientistas porque “é um dos cometas mais ativos na área orbital da Terra”, disse o estudo.

A pesquisa foi feita através de um telescópio de 30 metros de comprimento no Instituto de Radioastronomia Milimétrica em Sierra Nevada, Espanha, em janeiro de 2015, quando o cometa estava no seu momento mais brilhante e produtivo.


Nota: Como me disse um amigo biólogo dotado de grande senso de humor: “Deve ter muito pinguço perdido nas estrelas!” O desespero para explicar a misteriosa origem da vida é tanto que a ideia da panspermia cósmica (origem espacial) vem ganhando força entre os cientistas. Como se fosse um pulinho partir de moléculas orgânicas para a vida, com toda a sua informação genética, suas máquinas moleculares e complexidades específicas. A hipótese da panspermia é a admissão de que mesmo em quase cinco bilhões de anos seria impossível surgir e evoluir vida aqui em nosso planeta. Então, o jeito é jogar o problema para fora. Mas se a vida viesse embarcada num cometa na forma de, digamos, uma bactéria alienígena? Ficaria muito difícil explicar como esse ser vivo teria sobrevivido no vácuo e no frio espaciais e resistido às radiações cósmicas letais. Além disso, quando chegasse ao nosso planeta, esse ET microscópico teria que resistir às altíssimas temperaturas causadas pelo atrito da entrada do cometa na atmosfera e, se o cometa não se esmigalhasse no ar e chegasse ao solo, o ser unicelular ainda teria que suportar a força do impacto. Só se fosse uma bactéria kryptoniana! Supor que o cometa Lovejoy, com seu conteúdo de “caipirinha espacial” pudesse ajudar a desvendar o mistério é depositar fé demais no acaso. E eu não tenho tanta fé para acreditar nesse tipo de história. [MB]