terça-feira, dezembro 01, 2015

A tentativa de descartar a consciência com aval político

Em defesa da vida
A escritora Adélia Prado concedeu ao jornal O Globo uma entrevista interessante. Destaco aqui especialmente as respostas que ela deu a duas perguntas sobre feminismo e aborto:

O movimento feminista, que cada vez ganha mais força nas ruas, reunindo milhares de pessoas em marchas, já sendo chamado de “primavera das mulheres”, a anima?

Não. Homicídio tornou-se uma palavra fraca. Por que “feminicídio”? Me lembra bandeiras, discursos irados, passeatas. O assassinato de mulheres é horrível não porque é de mulheres, mas porque a mulher é também uma pessoa. Qualquer assassinato é hediondo até prova em contrário. Enquanto nos distraímos com bandeiras e neologismos, o crime segue fagueiro e impune contra homens, mulheres, crianças, velhos, povos, contra a Humanidade. Dizer “feminicídio” não muda a questão. A revolução é de outra ordem. É moral, educacional, religiosa, civil, espiritual. Supõe um país que se dê ao respeito em suas instituições, um povo educado, igrejas não mercenárias. Onde está o líder civil ou um santo que nos leve a verdes pastagens e água pura?

Qual sua opinião sobre os projetos de lei que criminalizam todo tipo de aborto, como o PL 5069?

“Não matarás.”. Salvo se em legítima defesa. Como tornar legal o aborto se a criança, inocente, incapaz, dependente da mãe para viver também é titular do direito inalienável à vida? Qual vida vale mais? É bom não esquecer: a vida de qualquer um é um valor em si mesma. Se a gravidez é uma ameaça real à vida da mãe, instala-se uma situação das mais terríveis e complicadas que conheci até hoje. Faz-se aborto por miséria, desespero, vergonha e egoísmo na maioria das vezes. As leis civis e religiosas se turvam diante desse problema, antes de tudo moral, de profunda complexidade e consequência. Necessita para sua resolução muita coragem e discernimento, que nem sempre andam juntos. As legislações, reconhecendo a natureza dramática do assunto, tentam contorná-lo para resolvê-lo. A letra é fria e muitas vezes mata. Apelo ao último juiz para o qual só existe um tribunal, o da consciência. Será sempre trágico agir contra a luz desse juiz. Não há, fora da minha consciência, quem me proíba ou me libere para o aborto. Obedecer à lei – para o sim ou para o não – nunca é garantia de paz interior. Decidir pela vida é obrigação do legislador. Considero “Meu corpo, minhas regras” uma empáfia, militância, cunha para extrair variadas vantagens, inclusive a tentativa de descartar a consciência com aval político.