segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Anos de doutrinação relativista e evolucionista dão nisso

A capa da revista Veja desta semana é um retrato perfeito dos tempos em que vivemos, de uma geração definida pela indefinição, como bem definiu o amigo Odailson Fonseca. O título interno da matéria é “Amigues para sempre”, numa referência ao tal “gênero neutro”, que faz com que certas palavras terminem em “e” para suprimir os “a” e “o”, relacionados a mulher e homem. O texto diz que, “se voltassem hoje ao mundo dos vivos, o escritor Álvares de Azevedo, o poeta Manuel Bandeira e o e­x-pr­esidente Floriano Peixoto estranhariam muitas coisas. E uma delas seria o cabeçalho da prova de biologia aplicada no ano passado no colégio em que eles estudaram, o Pedro II, no Rio de Janeiro, o terceiro mais antigo em atividade no Brasil. Ao lado do campo a ser preenchido com o nome de cada estudante, a prova trazia a palavra alunx, em vez de ‘aluno’ ou ‘aluna’. Todos na classe conheciam o significado daquele xis. Em mensagens trocadas nas redes sociais, jovens e adolescentes usam a letra, assim como o ‘e’, para suprimir a identificação masculina ou feminina em palavras como ‘amigx’ ou ‘queridx’ – na versão com ‘e’, mais pronunciável, ‘amigue’ ou ‘queride’. É o chamado gênero neutro, utilizado basicamente em duas situações: a pedido, quando o outro diz que quer ser tratado assim, ou por iniciativa de quem escreve – e prefere não cravar se o destinatário é homem, mulher, e assim por diante.”

Por que “assim por diante”? Porque não são mais apenas dois gêneros, atualmente. “No Brasil, o Facebook acrescentou, em março passado, no espaço destinado à identificação do usuário, dezessete novas opções de gênero, além do masculino e feminino. Nos Estados Unidos são mais de cinquenta. A lista inclui cross gender, sem gênero e ainda uma alternativa para personalizar a resposta”, informa a Veja.

Mencionando dados de um levantamento da agência de publicidade J. Walter Thompson, a matéria dá conta de que 76% dos jovens brasileiros não dão importância à orientação sexual dos outros e 82% concordam que as pessoas devem explorar mais a própria sexualidade. Outra pesquisa, coordenada pela psicóloga Luciana Mutti, em Porto Alegre, revelou que 20% dos adolescentes entrevistados já haviam tido relações com pessoas de ambos os sexos.

Veja explica que, para a chamada geração Z, a sexualidade é fluida e as preferências nessa área podem mudar ao longo da vida. “Um indivíduo do sexo masculino, por exemplo, pode passar boa parte da existência sentindo-se atraído por outros indivíduos do sexo masculino e mais tarde mudar de ideia – o que não necessariamente quer dizer que começará a gostar de mulheres.”

Embora essas mudanças sociais assustem pela velocidade com que vêm se processando, a gênese delas é algo que vem lá de trás na História. Na verdade, este cenário atual só foi possível porque a corrosão de certos paradigmas e valores e de uma cosmovisão vem ocorrendo há muito tempo. Os pilares da tradição judaico-cristã tiveram que ser chutados (ou reinterpretados por cristãos liberais) a fim de que se pudesse defender a ideia de que gênero é, antes de tudo, uma construção social, não uma criação de Deus. A Bíblia deixa bem claro no primeiro capítulo de seu primeiro livro (o Gênesis) que um casal é composto por um homem e uma mulher, e que o casamento é a união íntima desses dois seres diferentes numa relação heterossexual monogâmica e de fidelidade.

O abandono da cosmovisão criacionista, inclusive por parte de muitos cristãos, levou a este estado de coisas. A mitologização do relato da criação tornou tudo “fluido” (a la Bauman). Relativizou tudo e tornou válido o vale-tudo. É o mundo das certezas incertas; dos fundamentos de areia movediça. Aonde vamos parar com essa perda de referenciais absolutos? Alguma sociedade pode sobreviver assim?

O curioso é que, embora preguem a tolerância, os defensores dos múltiplos gêneros não toleram críticas. E a chamada da capa da Veja desta semana é prova disso. Ela diz, embaixo da palavra vendável em letras garrafais “Sexo”: “Na revolução de costumes da geração z, eles e elas se dizem ‘neutros’ e ‘a sexualidade é fluida’... E você não tem nada com isso!”

Então só me resta aceitar tudo? Não posso nem dar minha opinião? Não tenho nada com a vida dos outros, mas eles podem criticar minha religião e me chamar de fundamentalista porque sou criacionista e defendo o casamento heterossexual? Que tolerância é essa que só tem uma via de mão única? A sociedade do “livre pensar” não quer que eu pense diferentemente do zeitgeist reinante!

É claro que o assunto é muito mais complexo do que isso. É claro que nascem pessoas geneticamente pertencentes a um gênero, mas que possuem características físicas de outro. É claro que há homens e mulheres que, por uma série de fatores e motivos, acabam tendo ou desenvolvendo atração por pessoas do mesmo sexo. Mas daí a dizer que tudo isso é normal e proibir essas pessoas de buscar uma solução que não passe pela simples aceitação do “fato”, é muita intolerância.

O cristão não pode e não deve ser homofóbico, porque não pode e não deve hostilizar qualquer tipo de pessoa. O cristão não pode e não deve forçar ninguém a nada e precisa respeitar a decisão dos outros, já que o próprio Deus os respeita. Só não me venham dizer que eu não tenho nada a ver com esse assunto! Só não me venham empurrar para o gueto dos ditos preconceituosos (coisa que não sou) nem me amordaçar, porque, quando isso acontecer (e, infelizmente, vai), aí teremos perdido todos os traços de civilidade e teremos nos transformado numa nova Sodoma, com pessoas se entregando às suas paixões e desejos desenfreados, com o apoio da mídia e das autoridades – se é que elas ainda terão alguma autoridade.

Não sei se Julian Huxley disse isto mesmo, mas a frase é mais do que verdadeira: “A razão de nos lançarmos sobre a Origem das Espécies é que a ideia de Deus interfere com nossos hábitos sexuais.” 

O mundo se tornou complexo. Estamos cortando o galho em que estamos sentados. Sem fundamentos, as paredes caem. Daqui a pouco, só sobrarão os escombros de uma sociedade perdida; de um mundo sem rumo.

Lamento lhes dizer, “amigues”, mas isso não será para sempre...

Michelson Borges