terça-feira, fevereiro 16, 2016

Resenha crítica do livro Zelota, de Reza Aslan

Reza Aslan é o autor do livro Zelota – a vida e a época de Jesus de Nazaré. Ele é especialista em temas religiosos, formado em Harvard e na Universidade da Califórnia. Estudou o Novo Testamento, grego bíblico, história, sociologia e teologia das religiões. Nascido no Irã, ele vive entre Nova York e Los Angeles.

Aslan e seu livro alcançaram projeção e interesse e, consequentemente, tremendo sucesso editorial, depois de uma polêmica entrevista na rede de televisão americana Fox News, com grande audiência de cristãos de diferentes denominações nos Estados Unidos. Na entrevista, a jornalista Laura Green questionou duramente Aslan e perguntou como ele teve a ousadia de escrever um livro sobre Jesus, sendo muçulmano. A pergunta foi considerada preconceituosa e Aslan respondeu que escreveu o livro como acadêmico com doutorado e especializações em história das religiões e 20 anos de estudo das origens do cristianismo. Esse debate contribuiu para as vendas aumentarem quase 50%.

Em síntese, Aslan defende em seu livro o seguinte: Jesus, ao contrário do que pregam as denominações cristãs, não foi um pacifista que, diante da violência “oferecia a outra face” e amava os inimigos. Segundo Aslan, Jesus foi um revolucionário, cujo objetivo principal era expulsar os romanos da Judeia, criar um reino de Deus na Terra e assumir seu trono. Ele recupera com novas cores uma antiga versão de cristianismo – em voga nos anos 1960 graças à Teologia da Libertação, que misturava cristianismo com marxismo. Era um Jesus mais para Che Guevara do que para Madre Teresa de Calcutá. “Ele era um zelote revolucionário, que atravessou a Galileia reunindo um exército de discípulos para fazer chover a ira de Deus sobre os ricos, os fortes e os poderosos”, escreve Aslan no começo de seu livro.

Zelote é uma palavra derivada do aramaico. Significa “alguém que zela pelo nome de Deus”. Outra possível tradução para o termo é fervoroso, ou mesmo fanático. Sua origem está ligada ao movimento político judaico que defendia a rebelião do povo da Judeia contra o Império Romano. Os zelotes pretendiam expulsar os romanos pela força.

O empenho do autor em sua argumentação supostamente embasada pela História é desconstruir a figura do Jesus pacifista, amoroso e pregador de um reino eterno, e apresentá-Lo como um revolucionário disposto a reverter a ordem e Se estabelecer como rei dos judeus liderando-os na libertação do jugo romano.

Porém, as convicções de Aslan esbarram em limitações que ele procura resolver com uma argumentação especulativa. Procura preencher a falta de dados com suposições, visto não encontrar registros históricos suficientes. O irônico é que a fonte principal do autor é o próprio evangelho que ele procura desmerecer como fonte fidedigna. Empenha-se ao máximo para desfazer a concepção cristã acerca do Jesus que, diante de Pilatos, afirmou: “O Meu reino não é deste mundo” (João 18:36).

O teólogo Martin Goodman, professor de história romana em Oxford, observa que “o problema não é Aslan ser muçulmano ou ser iraniano. O problema é que ele usa uma tese ultrapassada e desacreditada como se fosse uma verdade absoluta”.

A revista Época, ao comentar a respeito do livro, analisa assim: Aslan escreve de modo fluente e coloquial sobre complexas discussões acadêmicas e transforma densos emaranhados filosóficos em narrativas emocionantes. Mas seu livro apenas prova como é difícil tentar ligar a compreensão do cristianismo à história de Jesus – um personagem de traços e características que O diferenciam profundamente dos seres humanos comuns.

(Alceu Nunes é editor associado na Casa Publicadora Brasileira)