quinta-feira, março 31, 2016

O planeta poderia ser povoado a partir de um casal?

Sim, poderia
[Já tratei deste tema aqui, mas, como o UOL voltou ao assunto, resolvi postar novamente. Meus breves comentários seguem entre colchetes. - MB] Se sobrasse apenas um casal na Terra, ele seria capaz de povoá-la? Se você já se fez essa pergunta, não é o único. Cientistas de diversas épocas já questionaram o assunto, que permanece controverso, pois, obviamente, não será possível fazer a experiência na prática [assim como não é possível fazer “na prática” uma experiência que comprovasse a evolução da primeira forma de vida ou mesmo processos macroevolutivos]. O pesquisador de genética de populações da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Waldir Stefano, acredita que é possível, mas lembra que a primeira condição para que isso ocorra é que o casal seja fértil. “É possível, mas não é fácil”, ressalta. Isso porque o casal teria pouca variabilidade genética, o que está relacionado com diversos problemas. Um estudo feito com crianças nascidas na Tchecoslováquia entre 1933 e 1970 mostrou que quase 40% daquelas cujos pais eram parentes de primeiro-grau tinham graves deficiências - 14% morreram por conta de alguma delas [mas, se levarmos em conta que, antes do pecado, a genética de Adão e Eva era perfeita, não haveria problema algum na consanguinidade. Quando isso passou a ser um problema, devido à degeneração da vida pós-pecado, Deus proibiu casamentos entre parentes muito próximos, justamente para evitar o reforço dos defeitos genéticos]. 

Segundo Stefano, com o passar do tempo, essa variabilidade aumentaria, mas tudo depende de para que lado iria o processo de seleção natural. Ele explica que ao longo dos anos, mutações ocorrem no DNA dos descendentes e, caso as mutações vantajosas para a sobrevivência prevaleçam, a chance de povoar o planeta novamente é grande.

Existem exemplos de colonização com pequenas populações iniciais, como a do Havaí, em que havia muita consanguinidade e foi bem-sucedida. No entanto, as mutações que aparecem podem trazer desvantagens para os indivíduos. Há casos, como algumas famílias reais europeias, em que as mutações desvantajosas chegaram a causar esterilidade nos descendentes.

Stefano cita o livro As Sete Filhas de Eva, escrito por Bryan Sykes, professor de genética da Universidade de Oxford. “A obra mostra o estudo do DNA mitocondrial, que é herdado da mãe. Os pesquisadores chegam a sete grandes matrizes de ascendentes na Rússia”, diz. “Antes dessas sete, provavelmente havia menos ainda.”

Ele explica que, como o gameta feminino (óvulo) é muito maior que o gameta masculino (espermatozoide), quando o zigoto é formado, as mitocôndrias (responsáveis por “fabricar” a energia das células) são iguais às da mãe. O professor lembra que há doenças transmitidas geneticamente pelas mitocôndrias, como a doença de Leber, que provoca cegueira entre os 40 e 50 anos.

Na grande parte das vezes, as variações do material genético não trazem grande efeito no fenótipo (características visíveis, como cor dos cabelos e dos olhos) e não são percebidas de imediato. Se trouxerem vantagens maiores para a sobrevivência dos descendentes, serão passadas adiante. “A grande questão é em que período de tempo isso poderia acontecer”, disse, referindo-se a quantos anos seriam necessários para que os descendentes de um casal gerassem uma população de sete bilhões de pessoas.

Em 2002, o antropólogo John Moore publicou um estudo pela Nasa em que estima que seriam necessárias 160 pessoas para dar início a uma população estável para um novo planeta. O estudo partiu do modelo de pequenos grupos migratórios antigos da humanidade.

Ele recomendava começar com casais jovens sem filhos e sem genes recessivos perigosos. No caso, o número usado no cálculo vale para uma viagem ao espaço permite 200 anos de isolamento antes da volta à Terra, quando as pessoas teriam novamente contato com maior variabilidade genética.