A máxima popular de que futebol, política e religião – esta última em particular – não se discutem cai por terra para Michelson Borges. Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, trabalha desde 1998 na Casa Publicadora Brasileira (CPB), empresa pertencente a uma rede mundial de sessenta editoras adventistas que produzem livros e revistas nas áreas de teologia, educação e família. Por lá, passou por diversas editorias até assumir a frente da revista Vida e Saúde.
Quando a CPB ofereceu ao jornalista a oportunidade de fazer uma especialização em teologia e um mestrado na mesma área, ele não pensou duas vezes. Transitando, então, nos dois mundos, criou o blog Criacionismo em 2006. “Na condição de ex-evolucionista e criacionista desde 1991, estava bem inteirado a respeito da controvérsia envolvendo esses dois modelos que lidam com o tema das origens. Entendi que o público deveria ter acesso a esses conteúdos e me propus ‘traduzi-los’”, conta Borges.
A ideia deu muito certo. O blog, hoje filiado à Sociedade Criacionista Brasileira, tem uma média de seis a dez mil acessos diários. São temas relacionados com ciência e religião, sem deixar de lado assuntos sobre saúde, tendências, profecias, sempre sob a ótica criacionista. “O jornalismo é minha ferramenta de trabalho. A teologia permeia os conteúdos que produzo e minha maneira de viver e ser.”
Borges é bastante crítico em relação à cobertura de assuntos sobre religião. Em sua opinião, o que se vê é algo “geralmente enviesado e tendencioso, quando não preconceituoso. Especialmente se o tema for criacionismo”. Há mais de vinte anos, o jornalista coleciona “recortes” de jornais e revistas com reportagens sobre o tema.
“Criacionistas já foram chamados de ignorantes, esquizofrênicos, fundamentalistas e até criminosos. Mas ninguém parece levar em conta que a Igreja Adventista, por exemplo, tem várias universidades espalhadas pelo mundo, com cursos de biologia reconhecidos e centros médicos de renome. A igreja também mantém um centro de pesquisas em geociências, nos Estados Unidos, com paleontólogos, biólogos e geólogos que pesquisam e fazem boa ciência.”
(Revista Imprensa, uma das mais antigas e conceituadas revistas de jornalismo do Brasil)
Agora leia com exclusividade a íntegra da entrevista que concedi à revista Imprensa
1. Conte sobre a sua trajetória
profissional no jornalismo: onde se formou, quando começou na carreira e
principais veículos/empresas em que atuou.
Formei-me em 1995, no curso de Jornalismo da Universidade Federal
de Santa Catarina. O primeiro veículo de comunicação em que trabalhei foi a
rádio Novo Tempo, em Florianópolis, pertencente à Rede Novo Tempo de Comunicação.
Trabalhei lá no ano de 1997. Editava e apresentava um jornal diário, além de um
programa de divulgação científica. Em 1998, fui contratado pela Casa
Publicadora Brasileira (CPB), editora pertencente a uma rede mundial de 60
editoras adventistas que produzem livros e revistas nas áreas de teologia,
saúde, educação e família. Há quase vinte anos na editora, passei por várias
editorias e hoje sou editor da revista Vida
e Saúde, que vem sendo publicada há 78 anos no Brasil.
2. Qual foi o momento mais
importante de sua carreira no jornalismo?
Difícil escolher um, mas gostaria de mencionar dois. O primeiro foi
há uns 15 anos, quando fui designado para fazer uma matéria sobre o trabalho
que a igreja vinha realizando numa comunidade carente em Ananindeua, no Pará. Especialmente
a atuação do Clube de Desbravadores (semelhante aos escoteiros), que estava
ajudando as crianças daquele lugar a ter um novo rumo na vida, e do Hospital
Adventista de Belém, com profissionais de saúde voluntários, que estavam lá
orientando a população em vários assuntos, demonstrando amor na prática, de
maneira desinteressada. Não foi a única vez que tive que cobrir pautas dessa
natureza, e em cada reportagem é maravilhoso ver o poder do amor, o poder de
Deus em ação através de Seus filhos. Sinto-me um privilegiado, pois enquanto
alguns colegas têm que falar de corrupção e morte, posso falar em vidas
transformadas.
O segundo momento foi a recente cobertura de um congresso sobre
saúde emocional, promovido pela Igreja Adventista nos Estados Unidos, em
Orlando, na Flórida. Pude entrevistar personagens de destaque, como o Dr.
Harold Koenig, da Universidade Duke, e David Mathews, de Harvard. Eles e outros
foram unânimes em afirmar, com base em suas pesquisas, que a boa saúde depende
também da saúde mental, e a saúde mental depende também de uma espiritualidade
sadia.
3. Quando se formou em
teologia? Como surgiu o interesse pela carreira? Conte um pouco sobre sua
trajetória profissional nessa área.
Sempre fui um líder atuante na Igreja Adventista do Sétimo Dia,
tanto em Santa Catarina quanto em São Paulo, ocupando vários cargos/ministérios
relacionados ao ensino e à divulgação dos princípios do evangelho. Quando a CPB
me ofereceu a oportunidade de fazer uma especialização em Teologia e um
mestrado na mesma área, foi a realização de um sonho de longa data. Foram cinco
anos de estudos matriculado no Centro Universitário Adventista de São Paulo
(Unasp, campus Engenheiro Coelho).
A Bíblia diz, na introdução do Evangelho de João, que Jesus é o
Verbo, o ser da Divindade que comunica, que veio mostrar como é Deus. Para mim,
comunicação e teologia têm tudo a ver, e Jesus Cristo é a maior evidência
disso. Ele é o comunicador-modelo, tão eficiente que a mensagem de amor que Ele
anunciou vem reverberando pelos séculos e nos alcança aqui, em nosso tempo.
Sempre me inspirei nEle.
4. Quando você criou o blog
Criacionismo? Quais os principais temas abordados ali? Você tem uma equipe
trabalhando com você? Qual a média de acessos por mês?
Criei o blog Criacionismo em 2006, mais para experimentar esse
relativamente novo (na época) meio de divulgação de conteúdos. Na condição de
ex-evolucionista e criacionista desde 1991, eu estava bem inteirado a respeito
da controvérsia envolvendo esses dois modelos que lidam com o tema das origens.
Sabia, também, que essa discussão era tratada de maneira muito acadêmica, em
círculos fechados. Entendi que o público deveria ter acesso a esses conteúdos e
me propus “traduzi-los” em forma de textos curtos (postagens) e inteligíveis,
como manda o bom jornalismo científico. A ideia deu certo. Hoje o blog, que é
filiado à Sociedade Criacionista Brasileira, tem uma média de seis a dez mil
acessos diários. Nele eu costumo publicar diariamente textos e vídeos (que
posto em meu canal no YouTube) relacionados com ciência e religião, sem deixar
de falar, também, sobre saúde, tendências, profecias e outros temas, sempre sob
a ótica criacionista. Embora esse seja um trabalho voluntário, sem fins
lucrativos e solitário, ao longo destes dez anos acabei formando uma rede de
amigos e interessados no assunto que me enviam quase que diariamente sugestões
de pauta e dicas de conteúdos. Isso me poupa muito trabalho de “garimpagem”.
5. Qual profissão “fala mais
alto” hoje? Teologia ou jornalismo? Ou consegue conciliar as duas na mesma
proporção?
Acredito que consigo conciliar as duas. O jornalismo é minha
ferramenta de trabalho. A teologia permeia os conteúdos que produzo e minha
maneira de viver e ser.
6. Como avalia a cobertura da
mídia brasileira quando o assunto é “religião”?
Com raras e honrosas exceções, a cobertura de assuntos que têm que
ver com religião geralmente é enviesada e bastante tendenciosa, quando não
preconceituosa. Especialmente se o tema for criacionismo. Tenho colecionado
“recortes” de jornais e revistas ao longo de mais de vinte anos, por isso posso
provar o que digo. Criacionistas já foram chamados de ignorantes,
esquizofrênicos, fundamentalistas e até criminosos. Mas ninguém parece levar em
conta que a Igreja Adventista, por exemplo, tem várias universidades espalhadas
pelo mundo, com cursos de Biologia reconhecidos e centros médicos de renome,
como o da Universidade de Loma Linda, na Califórnia. A igreja mantém, também,
um centro de pesquisas em geociências, nos Estados Unidos, com paleontólogos,
biólogos e geólogos que pesquisam e fazem boa ciência.
Parece que as únicas pautas “amigáveis” são aquelas que cobrem
eventos sociais, humanitários e/ou de assistência social, o que não deixa de
ser uma boa coisa, afinal, essas atividades são o evangelho posto em prática.