quarta-feira, junho 01, 2016

Estátua católica gera controvérsia em SC

Rosto da estátua de Madre Paulina
Imbituba, terra do primeiro milagre [atribuído a] santa Paulina, deve se tornar nos próximos anos o mais novo destino de quem busca o turismo religioso. Em fase inicial, o monumento à religiosa começa a receber o trabalho de terraplenagem e fundação, para abrigar uma estátua de 46,5 metros de altura. A santa será mais alta do que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que mede 38 metros, e terá um investimento de R$ 4,9 milhões, pago integralmente pela administração municipal. Desde a ideia inicial do projeto, há quase dez anos, a construção do monumento encontrou resistência. Recentemente, nas redes sociais, foram criadas comunidades para discutir a obra e o emprego do recurso público, sendo a maioria das manifestações contrárias à imensidão da obra. Mas, pelas ruas, é mais difícil encontrar quem se oponha ao projeto. “Qualquer projeto sempre tem os prós e contras. Há evangélicos, espíritas, vários segmentos, é uma obra voltada aos católicos, mas abrange uma área espiritual importante. Esses do contra vão ter sempre, falam que com esse dinheiro poderia se fazer outras coisas, mas é um investimento no turismo religioso em uma cidade onde a população católica ultrapassa os 80%”, defende o secretário de Turismo de Imbituba, Paulo Sefton.

O turismo religioso é um dos segmentos que mais crescem no país, tendo movimentado 17,7 milhões de viagens no último levantamento do Ministério do Turismo, de 2014. Com a vinda em massa dos fiéis e turistas, todo o trade de serviços é movimentado, com a vantagem de que esse tipo de atração pode ser visitada o ano inteiro, em todas as estações. Do ponto de vista espiritual, a construção do monumento consolida o trabalho e a dedicação da Associação de Peregrinos da Caminhada da terra do primeiro milagre de Santa Paulina.

“Esse monumento traz uma mensagem diferente, espiritual, de uma pessoa que só fez o bem. A matéria-prima dessa obra é também a fé, e esse vai ser o segundo maior monumento religioso do país, só perdendo para a estátua de Santa Rita de Cássia, com 52 metros”, explica o presidente da Associação, Camilo Carvalho Damásio. [...]

Embora o monumento a Santa Paulina deva se tornar mais um destino para o turismo, a questão religiosa não pode ser desvinculada da obra. Do ponto de vista da comunidade evangélica, que não adora imagens nem cultua santos, a obra vai na contramão da crença, e por isso não é bem aceita. Segundo as lideranças da Assembleia de Deus em Imbituba, o investimento poderia ser destinado a outras questões. [...]

Embora seja católica, a dona de casa Carmem Lúcia dos Santos Martins, de 62 anos, também acredita que as prioridades do município deveriam ser outras, como a construção de uma creche, por exemplo. Já a diretora do Santuário de Santa Paulina em Nova Trento, irmã Anna Tomelin, defende a obra e ressalta que o monumento será um espaço de fé para receber todos que creem em Deus, independente da religião.


Nota 1: [Faço o comentário a seguir com todo o respeito aos irmãos católicos sinceros.] Será ingenuidade da irmã Tomelin? Como pessoas de outras religiões que não cultuam imagens poderão usar aquele lugar como um “espaço de fé”? Fica evidente o interesse das autoridades em incentivar o turismo, mais ou menos como faziam os fabricantes de estátuas da deusa Diana dos efésios, nos tempos de Paulo (Atos 19). Puro interesse financeiro, portanto. E o interesse da Igreja Católica, que deveria, na verdade, desestimular a idolatria por parte de seus fiéis. Geralmente, os líderes católicos dizem que não adoram imagens, apenas as veneram. Mas por que não dizem isso aos fiéis católicos que idolatram, sim, as imagens de santos, carregando-os nas costas, beijando-os, tratando-os como entidades milagreiras. O segundo mandamento da lei de Deus (retirado do Catecismo por motivos óbvios) condena esse tipo de atitude. A estátua será maior que a do Cristo Redentor, quase numa ilustração do que fazem muitos religiosos, ao exaltar alguns santos acima do próprio Filho de Deus. Alguém deveria lembrar às autoridades catarinenses que o Estado brasileiro continua sendo laico, e que é errado e anticonstitucional utilizar verbas públicas em benefício de uma religião, ainda que seja majoritária. [MB]

Nota 2: Em compensação, veja esta decisão interessante proferida em Goiás, sobre a necessidade de respeito ao direito de credo (clique aqui). O que mais chamou a atenção do meu amigo e advogado Willian Bittencourte, de Criciúma, SC, além da notícia em si (que na essência é positiva), foi o que está por trás de um dos argumentos usados pelo magistrado que proferiu a decisão, para quem “a Igreja Católica, a Santa Sé, é pessoa jurídica de direito público”, ou seja, para o juiz, a Igreja Romana desfruta de prerrogativas de ente público, por constituir, segundo ele, “um país soberano, o Vaticano, logo goza da proteção Constitucional por possuir personalidade jurídica”. E as demais denominações religiosas? Gozariam igualmente dessa mesma proteção? Evidentemente que não. Willian explica: “Isso porque as demais denominações religiosas não são consideradas pelos organismos multilaterais internacionais – como a ONU e demais entes políticos – um país soberano com personalidade jurídica; somente a Santa Sé goza dessas prerrogativas; somente ela pode invocar esse tipo de direitos contra os demais entes políticos estatais. Ou seja, num futuro não muito longe, esses tipos de argumentos de ‘soberania’ poderão ser usados (e certamente o serão) para impor que os credos e as doutrinas católicos sejam respeitados por todos, o que para mim deixa tudo muito claro de que estamos, realmente, bem próximos do limiar de novos tempos, nos quais se cumprirão as profecias previstas na escatologia bíblica.” Sim, são novos tempos, mas algumas coisas mudaram muito pouco e voltarão com toda a força... Quem viver verá. [MB]