domingo, junho 19, 2016

“Evangelho da Esposa de Jesus” é falso

Era tudo mentira
A historiadora que anunciou a existência de um manuscrito que diz que Jesus foi casado com Maria Madalena confessou nesta sexta-feira (17) que o documento é falso [eu já havia postado sobre isso aqui e aqui]. Karen King, professora de história eclesiástica na Universidade de Harvard, fez seu anúncio depois que a identidade da pessoa que entregou o manuscrito a ela foi revelada: Walter Fritz, um norte-americano envolvido nos estudos de egiptologia, no ramo de peças de automóveis e na pornografia. Até agora, Fritz era a peça que faltava para esclarecer o enigma que vinha confundindo o mundo acadêmico havia quatro anos - a autenticidade do pequeno pedaço de papiro de 1.500 anos, escrito na antiga língua copta. O segredo foi revelado por Fritz em uma carta direcionada à revista The Atlantic, na qual ele assumiu ser o proprietário do manuscrito. “Eu, Walter Fritz, certifico que sou o único proprietário do fragmento de papiro que foi chamado de ‘Evangelho da esposa de Jesus’”, inicia o homem. “Garanto que nem eu, nem quaisquer terceiros forjaram, alteraram ou manipularam o fragmento e/ou sua inscrição, desde que foi adquirido por mim. O proprietário anterior não deu indicações de que o fragmento tenha sido adulterado”, alegou.

King obteve o papiro em 2011. De acordo com o registro, seu antigo proprietário havia comprado o fragmento de um homem chamado Hans-Ulrich Laukamp, em 12 de novembro de 1999. Uma nota manuscrita no contrato registra ainda que Laukamp adquiriu o papiro em 1963, em Postdam, na Alemanha Oriental. Agora se sabe que Fritz adquiriu o papiro de Laukamp em Berlim, em 1990, quando se conheceram em uma palestra do autor Erich von Daniken - famoso por suas teorias alienígenas.

Anos mais tarde, durante uma viagem de negócios para Londres, Fritz conheceu um negociante de artes que se ofereceu para comprar o manuscrito por cerca de US$ 50 mil (equivalente a R$ 174.520). Antes de fechar acordo, Fritz entrou em contato com a professora King para entender por que o comerciante estava oferecendo um valor tão alto. No entanto, o negociante interrompeu as negociações ao descobrir que Fritz conversou com a historiadora. Foi nesse momento que King ganhou o papiro.

Desde que King surgiu com as alegações baseadas no papiro, alguns estudiosos passaram a questionar a autenticidade do documento. O jornal da Universidade de Cambridge dedicou uma edição para esclarecer a controvérsia, contando com a contribuição dos principais estudiosos de teologia, incluindo o Dr. Christian Askeland.

“Não podemos saber ao certo por que o falsificador criou esse manuscrito, se ele queria ganhar algum dinheiro por meio do engano. Alguns especulam que a falsificação é uma jogada para a narrativa O Código Da Vinci, que inclui um Jesus casado e um professor de Harvard”, disse Askeland ao site Christian Today.

Os indícios de falsificação também foram apoiados por outros acadêmicos que apontaram a má formação das letras, a gramática incomum e o ponto de sintaxe formados para uma falsificação moderna.


Nota: Nada como um dia depois do outro... Como ficam agora os milhares de céticos que apontavam para esse “manuscrito” como evidência de que o relato bíblico estava equivocado? Será que a descoberta da fraude ganhará a mesma repercussão da “descoberta” original? Será que o assunto estampará a capa de revistas como National Geographic, Superinteressante, Galileu e Veja? Ou, como é comum nesses casos, será publicada (se for) como apenas uma nota? Será que o agora milionário Dan Brown terá coragem de escrever outro romance polêmico com base na descoberta da fraude? Ele pelo menos poderia vir a público para dizer que enriqueceu disseminando mentiras sobre Jesus e Sua discípula Maria Madalena. [MB]

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