quinta-feira, junho 16, 2016

Fundamentalista? Vem aqui, vamos conversar um pouco

Sem diálogo não há entendimento
Sou um cristão adventista do sétimo dia e vejo com preocupação o rótulo de “fundamentalista” que alguns grupos militantes põem em quase toda forma de manifestação religiosa ou fé que contrarie ou discorde de seus pontos de vista ou princípios. Discordou, é contra, não acha legal? Pronto. Você é não sei o que “fóbico”. Claro, o ódio existe. Ele é real. Sim, os gays são perseguidos, ofendidos, agredidos. Sim, a direita religiosa contribui com esse discurso de ódio. Sim, vivemos numa sociedade machista, numa cultura que sensualiza quase tudo e de forma muito precoce. Vivo num país em que o estupro ainda não foi enfrentado e combatido da forma como devia. Não votei e não apoio Feliciano. Discordo de Bolsonaro. Pela ótica de alguns, pelo fato de ser “religioso”, eu seria um apoiador em potencial da direita e de seus candidatos que professam uma fé cristã ou são, de alguma forma, “conservadores”.

Meus amigos vão me entender e talvez, por isso, este desabafo seja desnecessário. Mas em nome daqueles que acreditam no diálogo, na convivência entre diferentes credos ou não credos (ateísmo também pode ser uma forma de fé), cores e raça – porque todos somos da mesma raça, a humana – e orientação sexual, gostaria de esclarecer:

1. Sou livre para votar em quem quiser. Para acreditar no Deus ou na razão que achar conveniente.
2. Minha fé, que vai além de uma placa de igreja, é apolítica. Voto em quem quiser. Essa mesma fé, baseada na Bíblia, também ensina que o Estado é laico e diz que eu posso fazer a diferença na sociedade em que vivo, e que devo amar não apenas os amigos, mas orar pelos inimigos.
3. Minha fé luta contra a cultura do estupro por meio do projeto Quebrando o Silêncio. Atua em desastres por meio da Adra.

Fundamentalista? Por quê? Por crer numa verdade fundamental?

Pouca gente percebe, mas, pela ótica da análise do discurso (AD), essa palavrinha vem carregada de sentido, o qual geralmente é atribuído a grupos violentos e extremistas, que contrariam os preceitos da fé cristã.

Sobre o massacre em Orlando, a Igreja Adventista do Sétimo Dia deixou a seguinte mensagem, a qual compartilho com você, amigo, cristão ou não. Atenção para as palavras grifadas, que eu quis salientar:

“Veementemente condenamos o ódio que levou a esse massacre. Esse tipo de violência irracional não tem lugar neste país ou no mundo. É assustador que essas vidas tenham sido tragicamente perdidas devido ao ódio. Oramos para que o amor de Deus conforte e console os entes queridos das vítimas, cujas vidas se tornaram um pesadelo.

“Como cristãos, vigorosamente cremos que o ódio de alguém contra o irmão, irmã, amigo ou inimigo não procede de Deus, mas do próprio pai do mal, o diabo. Devemos condenar todas as expressões de ódio, desde à violência verbal à mortal. Todas as mulheres, crianças e homens neste mundo, independentemente se prestam culto, vivem ou amam como nós, são filhos de Deus.

“Somos assegurados de que, no final, o amor vencerá. Sabemos que um dia o ódio e o mal não mais existirão. Até então, seguiremos orando para que as comunidades neste mundo possam viver sem medo.”

(Leonardo Siqueira é jornalista)