Dr. Everton Padilha e família |
Em
2007, no dia 11 de setembro, senti uma forte dor de cabeça, seguida de vômitos
em jato. Fui levado pela minha esposa ao Hospital Edmundo Vasconcelos. Foram
realizados vários exames, tomografia computadorizada e inclusive punção
liquórica, que não detectaram nada, a princípio, mas tinha uma intensa sensação
de tonturas. No dia seguinte, a base de fortes medicamentos, deram minha alta
para casa, mas com uma tontura que não passava. Ainda no estacionamento do
hospital, nem consegui entrar no carro. Acabei pedindo para ir para o InCor.
Resumindo a história: depois de um dia inteiro de observação, e mais
medicamentos para o quadro de tonturas e dores de cabeça que sentia, fizeram
uma ressonância magnética, a qual diagnosticou que eu tinha sofrido um AVC
isquêmico de cerebelo. O neurologista deu uma certeza para a minha esposa: que
eu teria sequelas.
O
prognóstico era ruim da parte funcional. Eu provavelmente não conseguiria
dirigir, teria dificuldades para realizar atividades que exigissem coordenação
motora e motricidade, e a qualquer momento poderia ter problemas de
labirintite. E da parte profissional, eu não poderia atuar como médico
intensivista, pois vários procedimentos invasivos exigem coordenação motora e
ajuste fino de motricidade que eu não mais teria. Eu perdera mais da metade do
cerebelo. Minha esposa disse que confiava em Deus e que ela e outras pessoas
iriam orar pela minha recuperação. O neurologista disse, com desdém: “Você vai
ter que rezar muito, pois com certeza ele terá sequelas.”
Foram
seis dias angustiantes dentro de uma UTI. Eu tinha que permanecer na UTI, pois
a área afetada era próxima do centro da respiração e havia o risco iminente de que
eu apresentasse uma parada respiratória. Nos dias subsequentes, começou uma
“romaria” de médicos e residentes no meu quarto. Uns dando palpites de como eu
deveria me conduzir dali em diante. Meu chefe na Unidade Coronariana disse que
eu teria que andar com auxílio de uma bengala para evitar quedas. Fizeram
múltiplos exames para saber o que teria feito acontecer aquilo. Provavelmente,
teria sido uma “variação anatômica”: eu não possuo, assim como 10% da
população, estes de maneira assintomática, vasos extras protetores na região
occipital. Todas as outras causas foram descartadas.
Dois
dias depois, havia uma nova ressonância a ser feita. Minha esposa estava
confiante. Disse para mim: “Everton, Deus vai operar um milagre, e a imagem que
foi vista na sua primeira ressonância vai desaparecer.”
No
entanto, senti algo diferente daquilo que ela me falou. Respondi para ela,
deitado na maca: “Kátia, Deus até pode fazer o milagre de reverter tudo o que
apareceu aqui na primeira ressonância. Mas talvez o milagre maior seja Ele
fazer com que, apesar de eu ter essa lesão, esse buraco no cérebro, que eu
possa voltar a fazer todas as minhas atividades normalmente.”
Infelizmente,
na segunda ressonância, continuava aquela grande imagem, agora ainda mais
definida a área de isquemia. Mais dois ou três dias se passaram. Alguns
momentos com a angústia de estar ali parado naquela cama de hospital. O misto
da sensação de frustração e a ironia de ser na mesma UTI onde eu atendia
pacientes; e, em alguns momentos, algum médico ou enfermeiro desavisado
perguntava: “O que aconteceu? O que você está fazendo aqui?”
No
meio daquele misto de sensações, uma sensação maior veio à minha mente. Recebi
a visita de vários pastores conhecidos. Mas tinha a sensação de que não
importava o que acontecesse, eu queria era estar com Deus. Difícil explicar
plenamente, mas talvez o que mais se aproxime disse seria aquela vontade
expressa por Jó: “Ainda que Ele me mate, nEle esperarei” (13:15). Pedi para ser
ungido, não com a expectativa da melhora, mas com o simples e profundo desejo
de me sentir junto a Deus.
O
pastor a quem pedi o favor veio com outro junto, em uma terça feira, 18 de
setembro. Transcorrera uma semana do “meu 11 de setembro”. Pela parte médica,
estava no pior do edema cerebral residual. Me sentia com frio (duas mantas
grossas não davam conta do recado), como se estivesse em alto-mar (tontura
constante, aplacada pelas medicações).
O
primeiro pastor falou algumas palavras sobre a importância da unção, e depois
os dois pastores e minha esposa fecharam a porta do quartinho da UTI e se
puseram de joelhos enquanto eu fechei os olhos. Antes de fechá-los, pela cama
alta, mal dava para ver um pedaço da cabeça deles. Foi então que aconteceu.
De
olhos fechados, senti que alguém havia entrado no quarto. Até me desliguei das
palavras da oração. Pensei que poderia ser o enfermeiro para administrar a
medicação. Pensei em qual medicação
poderia ser naquele horário..,. Em uma fração de segundo passaram pensamentos
sobre quem poderia ter entrado, e quanto tempo poderia esperar para administrar
os medicamentos. Bem, decidi que faria um gesto para a pessoa sair por alguns
instantes e que retornasse após a oração. (Dou essa explicação para enfatizar
qual o meu estado naquele momento: não estava entubado, nem “dopado”. Tampouco
estava em um momento de “catarse” pelo momento espiritual. Como já disse, minha
fé estava em me sentir com Deus, não que houvesse algo sobrenatural naquele
momento.)
Portanto,
quando abri os olhos, tive um susto muito grande! Ao fundo do quarto, alto, na
altura do pé direito do quarto da UTI (passando dos três metros), branco,
vestes brancas, cabelo absolutamente alvo, rosto e semblante sereno, eu vi!
Exatamente de acordo com as descrições que temos.
Minha
reação foi a seguinte: fechei os olhos de maneira bem cerrada, bem
apertada. Me lembrei do que as
professoras nos primários da Escola Sabatina falavam, que é falta de reverência
ficar com os olhos abertos na hora da oração. Comecei a orar: “Senhor, me perdoa!
Obrigado por estar aqui. Faze o que Tu tens para fazer e viestes fazer aqui!”
Enquanto
eu orava, coincidindo com o momento em que o pastor ungiu-me, comecei a sentir,
aí sim, um calor enorme no corpo. Mas imagine assim: se eu não saísse da cama,
eu sentia que literalmente “pegaria fogo”. E assim foi. O pastor terminou a
oração, pulei da cama (feito impossível até aquele momento, no meu estado),
abracei os dois e a minha esposa. Fiquei em pé e nos despedimos. Detalhe: tentei
contar para ela o que tinha visto naquele momento, mas, a despeito de conseguir
articular perfeitamente todos os pensamentos e palavras, minha voz emudecia ao
tentar falar o que ocorrera.
Depois
disso, tive alta da UTI na quarta-feira à tarde, e na sexta feira do InCor. O
mesmo neurologista me avaliou e disse: “Você está excelente e sua recuperação
foi fantástica! Em uma situação dessa, uma pessoa recupera até 60% da
motricidade na saída do hospital, e mais 30% em dois anos.”
-
E como eu estou? – perguntei.
-
Noventa e nove por cento - respondeu ele.
-
O que falta para 100%?
-
Não sei, mas não vou te dar 100% agora.
Nunca
tive nenhuma sequela desse AVC. E foi AVC mesmo! Tenho ressonâncias e todos os
exames periódicos até hoje para provar. Imagine um carro rodar sem o motor... É
como me sinto.
Estou
escrevendo isto só para exemplificar e reafirmar que Deus é real, nas pequenas
e nas grandes coisas. Às vezes, não conseguimos entender o “porquê”, e talvez
essa razão nem exista diretamente. Ou talvez exista um “para que” que nenhum de
nós saiba...
Para
mim, talvez depois de nove anos disso que ocorreu, comecei a entender as razões
pelas quais Deus permitiu na minha jornada que passasse por aquela
experiência. Seja o que for que seja na
sua, tenha a certeza do amor e do cuidado do nosso Pai Celeste.
Pois
bem... Tive alta em uma sexta-feira. No sábado pela manhã, minha esposa me
perguntou se iríamos à igreja, ou se eu ficaria em casa descansando. É lógico
que eu iria à igreja! E lá estava eu, de terno e gravata, sábado de manhã. E
várias pessoas falaram mais ou menos a mesma coisa: “Olha, Everton! Você está
bem! Orei por você! Mas, peraí... Você está bem mesmo? Nós oramos pelo seu caso
na quarta-feira, no culto de oração, e disseram que você estava em uma UTI.”
“E
estava mesmo. Mas você orou por mim, não orou?”, respondia com um sorriso. “Então...
suas orações foram atendidas!”
No
domingo, estava sendo realizada uma programação com o pastor Luís Gonçalves,
chamada “Caravana da Esperança”. Como a igreja lotou, minha esposa e eu fomos
assistir no auditório, com projeção simultânea da programação da nave da
igreja. Ao final, o pastor Luís fez uma oração, e disse: “Senhor, sê com aquele
ancião desta igreja que está em um leito de UTI, que Tu possas atuar na vida
dele.” Comecei a rir comigo mesmo... Era de mim que ele estava falando! Corri
para o outro lado. Subi as escadas rapidamente. O pastor Luís se encontrava lá
na frente, se despedindo de algumas pessoas. Me aproximei e disse: “Pastor,
obrigado por ter me citado na sua oração!”
Ele
ficou meio sem entender. Expliquei: “Sou o ancião desta igreja por quem o
senhor pediu em oração. Muito obrigado!”
Como
já disse, nunca tive nenhuma sequela relacionada ao evento. Por sinal, nesta
semana, em retrospecto, minha esposa até comentou que minha precisão e rapidez
em procedimentos médicos em Medicina Crítica ficaram melhores.
Na
época, pediram obrigatoriamente que eu ficasse um mês em licença pelo INSS. A
perita, antes de ver meus exames, estava fazendo uma cara de poucos amigos. Depois
que viu minha tomografia, fez cara de espanto e perguntou: “Você não quer mais
tempo de licença médica?” Respondi: “De jeito nenhum! Quero é voltar a
trabalhar.”
Mais
um detalhe: minha esposa, até então, tinha um diagnóstico de endometriose, com
possível dificuldade de engravidar. Deveria de usar continuamente
anticoncepcionais, e mesmo se parasse para tentar engravidar, seria algo que
não ocorreria de primeira. Esse diagnóstico havia sido dado antes de nos
casarmos, nos exames pré-nupciais. E já tínhamos cinco anos de casados quando
ocorreu meu AVC.
Após
a minha alta, ela decidiu parar de usar o anticoncepcional. Em dezembro,
ficou grávida. No dia 4 de setembro de
2008, uma semana antes de completar um ano do que ocorrera comigo, Deus nos
presenteou com o nosso primeiro filho, Erick. Deus, quando atua, não faz nada
pela metade! Naquele momento, Ele agiu e restituiu de maneira plena todas as
nossas necessidades.
(Testemunho concedido ao blog www.criacionismo.com.br
pelo Dr. Everton Padilha Gomes. Ele é cardiologista, trabalha no Incor, no
Hospital Adventista de São Paulo e dirige o Estudo Advento; saiba mais aqui.)