sexta-feira, janeiro 27, 2017

Quando a ciência é mal compreendida

O que ela é de fato?
Hoje em dia se usa a palavra ciência de várias maneiras. Por exemplo, “tomei ciência de que...”; “a história é uma ciência que...”, “a ciência está sempre mudando...”. Algumas dessas expressões são usadas em um contexto que deixa claro que seu significado nada tem a ver com metodologia científica. Em outros, a confusão se manifesta, ignorando séculos de estudo que levaram à descoberta da ciência e ao uso dessa palavra no contexto da metodologia científica. Frequentemente se confunde metodologia científica com protocolo aristotélico (observação, formulação de hipóteses, testes de hipóteses) e com atividades de pesquisa, chamando-se a tudo isso, de maneira indiscriminada, de ciência. Ao misturar-se esse uso com o de ciência como área do conhecimento, a confusão só aumenta. Esses significados todos não são sequer compatíveis entre si e essa confusão obscurece uma série de assuntos muito importantes.

Os pioneiros da revolução científica preocuparam-se com diversas questões desse tipo. Inicialmente, eles mesmos usavam a palavra ciência dessa forma confusa. Por exemplo, Roger Bacon (século 13), ainda usava a palavra ciência com o sentido de área do conhecimento. A contribuição dele foi analisar as diversas áreas do conhecimento e constatar que a Matemática está à base de todas.

Galileu sentiu a necessidade de esclarecer o conceito de ciência a fim de desfazer diversos equívocos filosóficos de sua época e preparar o caminho para um significativo aprofundamento do estudo do que Deus faz. Segundo ele, Deus usou elementos matemáticos para criar tudo. O universo (lembrando que a Terra e tudo o que está nela faz parte do universo) é como um imenso livro escrito em caracteres matemáticos. Sem conhecer esses caracteres (se formos analfabetos em relação à linguagem matemática da natureza), ficaremos como que a vagar em um labirinto escuro das especulações e promessas grandiosas mas vazias da filosofia humana. Nessa perspectiva, ele considerou que a verdadeira ciência consiste em uma metodologia baseada em métodos matemáticos e que pode ser aprendida e utilizada pela humanidade.

Foi a colocação em prática dessa ideia que alavancou o progresso do conhecimento a níveis que ultrapassam a compreensão da maioria das pessoas mesmo hoje em dia. Mesmo áreas que não costumam fazer uso direto dessas técnicas acabaram se beneficiando grandemente pelo fato de pesquisadores de outras áreas as estarem usando.

(Eduardo Lütz é físico)

Nota: Veja o que Ellen White escreveu há mais de um século: “‘Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da Sua boca’ (Salmo 33:6). Visto como o livro da natureza e o da revelação apresentam indícios da mesma mente superior, não podem eles deixar de estar em harmonia mútua. [...] Inferências erroneamente tiradas dos fatos observados na natureza têm, entretanto, dado lugar a supostas divergências entre a ciência e a revelação. [...] Tem-se pensado que a geologia contradiga a interpretação literal do relatório mosaico da criação. Pretende-se que milhões de anos fossem necessários para que a Terra evoluísse do caos; e com o fim de acomodar a Bíblia a essa suposta revelação da ciência, supõe-se que os dias da criação fossem períodos vastos. [...] Tal conclusão é absolutamente infundada” (Educação, p. 128, 129).

“De cada dia consecutivo da criação, declara o registro sagrado que consistiu de tarde e manhã, como todos os outros dias que se seguiram” (Patriarcas e Profetas, p. 112).

“Em relação à obra da própria criação diz o testemunho divino: ‘Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu’ (Salmo 33:9). Para Aquele que assim poderia evocar à existência inumeráveis mundos, quanto tempo seria necessário para fazer surgir a Terra do caos? [...] É verdade que vestígios encontrados na terra testificam da existência do homem, animais e plantas muito maiores do que os que hoje se conhecem. [...] Mas com referência a essas coisas a história bíblica fornece ampla explicação. Antes do dilúvio o desenvolvimento da vida vegetal e animal era superior ao que desde então se conhece. Por ocasião do dilúvio fragmentou-se a superfície da Terra, notáveis mudanças ocorreram, e na remodelação da crosta terrestre foram preservadas muitas evidências da vida previamente existente. [...] Estas coisas, [...] são testemunhas a testificarem silenciosamente da verdade da Palavra de Deus” (Educação, p. 129).

“Precisamente como Deus realizou a obra da criação, jamais Ele o revelou ao homem; a ciência humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo. Seu poder criador é tão incompreensível como a Sua existência” (Patriarcas e Profetas, p. 113).