Quando o caráter se revela |
Enquanto
viajava fora do país, mal pude acreditar nas imagens e nas notícias que me
chegavam pelo celular. Será que tudo aquilo estava mesmo acontecendo no Brasil?
As ruas da Grande Vitória, no Espírito Santo, foram tomadas por assaltantes, houve
tiroteios, arrastões, pancadaria, saques e quase cem mortes violentas. Mais de
90 milhões de reais em prejuízos materiais. Com a polícia paralisada, os
malfeitores fizeram a festa. Isso, em si, já é terrível e um grave problema de
segurança pública, mas o pior foi ver gente bem vestida e com carrão destruindo
a porta de lojas e roubando descaradamente os produtos em exposição,
principalmente eletrônicos. Não há justificativa para o roubo nem para a
violência, mas, quando gente que não precisa de dinheiro ou que se supõe que
tenha tido mais privilégios que outros e não está roubando para saciar a fome
se entrega a essas ações criminosas, pode-se constatar que, definitivamente, há
algo de podre no DNA humano.
Quer
dizer que é só a polícia sair de cena, afrouxarem-se as regras que o caos se
instala? As pessoas “andam na linha” apenas quando alguém as está vigiando ou
quando têm medo da punição? Pior é que alguns ainda podem pensar: “Se roubam
milhões lá em Brasília, por que não posso roubar um aparelho de TV?”, e dão de
ombros para o pai de família que depende da loja para colocar comida sobre a
mesa e manter os filhos na escola. Estão se lixando para a comerciante que “ralou”
para montar sua lojinha e viver do pequeno lucro que o negócio lhe dava. Com
essa situação, perde o cidadão, perde o governo que não pagou bem seus
policiais e agora terá que desembolsar muito mais com a recuperação do
patrimônio público e com indenizações; e perde o país, com a sensação de que
nosso povo não tem caráter. Que direito têm esses criminosos de reclamar dos
bandidos de colarinho branco? Não são feitos da mesma matéria?
O
Brasil vive não apenas uma crise política e institucional. Vivemos uma crise de
valores e de bons exemplos. Em quem as pessoas podem se inspirar? Mal dá para
contar nos dedos de uma mão os políticos que representam mais ou menos bem
aqueles que votaram neles. Homens de terno e gravata que não saqueiam lojas,
mas que metem a mão no bolso dos contribuintes que suam para pagar seus
impostos; homens e mulheres que não se importam se uma escola não terá merenda
ou se não haverá medicamentos em um posto de saúde – desde que sejam
salvaguardados seus “direitos” de ter uma conta recheada na suíça e um
apartamento em Miami.
O
clima de revolta se instala. Ninguém mais quer saber de pensar no bem do
próximo. Cada um quer tirar sua “lasquinha”. E em Vitória e arredores os
bandidos estão nas ruas e os cidadãos, presos em casa, vendo a comida acabar
sem ter coragem de sair para comprar alguma coisa (isso se ainda tiverem
dinheiro, pois os bancos estão fechados).
Esse
é o tipo de situação que revela o barril de pólvora sobre o qual estamos
sentados. A paz frequentemente é muito relativa – tão pacífica quanto um canhão
carregado, como disse alguém. Onde está o verdadeiro problema? Na impunidade?
Nos baixos salários dos policiais? Na falta de segurança nas ruas? Não,
necessariamente. O problema é muito mais grave que isso. O problema humano se
chama pecado, e ele não está circunscrito às cidades capixabas. Não é
exclusividade do Espírito Santo. Como caráter pode ser definido como aquilo que
somos quando ninguém está olhando, o caráter de muita gente está sendo revelado
por lá.
Agora
deixe-me lhe falar sobre outro Espírito Santo, o ser divino chamado na Bíblia
de “Consolador”. É Ele quem pode fazer frutificar em nós o amor, a paz, a
bondade... É Ele quem pode mudar nosso caráter, a fim de que sejamos a mesma
pessoa em qualquer circunstância. É Ele quem pode implantar em nosso coração o
desejo de justiça, o amor ao semelhante e a retidão moral. Se o Espírito Santo
não nos controlar, não sabemos do que seremos capazes. Sem o Espírito de Deus
em nossa vida, todo lugar poderá ser um Espírito Santo imerso no caos.
Michelson Borges