quarta-feira, fevereiro 08, 2017

O Espírito Santo, o caos e a natureza humana

Quando o caráter se revela
Enquanto viajava fora do país, mal pude acreditar nas imagens e nas notícias que me chegavam pelo celular. Será que tudo aquilo estava mesmo acontecendo no Brasil? As ruas da Grande Vitória, no Espírito Santo, foram tomadas por assaltantes, houve tiroteios, arrastões, pancadaria, saques e quase cem mortes violentas. Mais de 90 milhões de reais em prejuízos materiais. Com a polícia paralisada, os malfeitores fizeram a festa. Isso, em si, já é terrível e um grave problema de segurança pública, mas o pior foi ver gente bem vestida e com carrão destruindo a porta de lojas e roubando descaradamente os produtos em exposição, principalmente eletrônicos. Não há justificativa para o roubo nem para a violência, mas, quando gente que não precisa de dinheiro ou que se supõe que tenha tido mais privilégios que outros e não está roubando para saciar a fome se entrega a essas ações criminosas, pode-se constatar que, definitivamente, há algo de podre no DNA humano.

Quer dizer que é só a polícia sair de cena, afrouxarem-se as regras que o caos se instala? As pessoas “andam na linha” apenas quando alguém as está vigiando ou quando têm medo da punição? Pior é que alguns ainda podem pensar: “Se roubam milhões lá em Brasília, por que não posso roubar um aparelho de TV?”, e dão de ombros para o pai de família que depende da loja para colocar comida sobre a mesa e manter os filhos na escola. Estão se lixando para a comerciante que “ralou” para montar sua lojinha e viver do pequeno lucro que o negócio lhe dava. Com essa situação, perde o cidadão, perde o governo que não pagou bem seus policiais e agora terá que desembolsar muito mais com a recuperação do patrimônio público e com indenizações; e perde o país, com a sensação de que nosso povo não tem caráter. Que direito têm esses criminosos de reclamar dos bandidos de colarinho branco? Não são feitos da mesma matéria?

O Brasil vive não apenas uma crise política e institucional. Vivemos uma crise de valores e de bons exemplos. Em quem as pessoas podem se inspirar? Mal dá para contar nos dedos de uma mão os políticos que representam mais ou menos bem aqueles que votaram neles. Homens de terno e gravata que não saqueiam lojas, mas que metem a mão no bolso dos contribuintes que suam para pagar seus impostos; homens e mulheres que não se importam se uma escola não terá merenda ou se não haverá medicamentos em um posto de saúde – desde que sejam salvaguardados seus “direitos” de ter uma conta recheada na suíça e um apartamento em Miami.

O clima de revolta se instala. Ninguém mais quer saber de pensar no bem do próximo. Cada um quer tirar sua “lasquinha”. E em Vitória e arredores os bandidos estão nas ruas e os cidadãos, presos em casa, vendo a comida acabar sem ter coragem de sair para comprar alguma coisa (isso se ainda tiverem dinheiro, pois os bancos estão fechados).

Esse é o tipo de situação que revela o barril de pólvora sobre o qual estamos sentados. A paz frequentemente é muito relativa – tão pacífica quanto um canhão carregado, como disse alguém. Onde está o verdadeiro problema? Na impunidade? Nos baixos salários dos policiais? Na falta de segurança nas ruas? Não, necessariamente. O problema é muito mais grave que isso. O problema humano se chama pecado, e ele não está circunscrito às cidades capixabas. Não é exclusividade do Espírito Santo. Como caráter pode ser definido como aquilo que somos quando ninguém está olhando, o caráter de muita gente está sendo revelado por lá.

Agora deixe-me lhe falar sobre outro Espírito Santo, o ser divino chamado na Bíblia de “Consolador”. É Ele quem pode fazer frutificar em nós o amor, a paz, a bondade... É Ele quem pode mudar nosso caráter, a fim de que sejamos a mesma pessoa em qualquer circunstância. É Ele quem pode implantar em nosso coração o desejo de justiça, o amor ao semelhante e a retidão moral. Se o Espírito Santo não nos controlar, não sabemos do que seremos capazes. Sem o Espírito de Deus em nossa vida, todo lugar poderá ser um Espírito Santo imerso no caos.

Michelson Borges