sexta-feira, maio 19, 2017

Os desafios de ser geocientista criacionista no Brasil

Que dizem as rochas?
Em entrevista dada à coluna de tecnologia de um jornal local em Minas Gerais, o cientista francês Jérôme Baron, pós-doutor pelo Max Planck Institite (referência mundial em pesquisas do cérebro), afirmou que fazer pesquisa no Brasil “é quase heroico”. Baron mudou-se para o Brasil, abandonando o Instituto Max Planck, na Alemanha, para ficar perto da esposa, brasileira, e da filha. Hoje ele é pesquisador na Universidade Federal de Minas Gerais, onde trabalha estudando a percepção visual de corujas. Se nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil já temos grande falta de investimentos em projetos de pesquisas científicas, o que falar então de regiões como Norte e Nordeste? Mas é de lá que vem o maior número de geocientistas criacionistas, principalmente geólogos, que eu conheço.

Durante minha graduação, não abracei de imediato o criacionismo. Talvez por ter pouco conhecimento a respeito ou achar pouco interessante. Entretanto, ficou claro para mim, no decorrer dos anos, principalmente durante meu mestrado, que não podia conviver com a ciência de um lado e a religião do outro. Era estranha a ideia de que, durante a semana, eu vestia minha “roupa” de pesquisador, e nos fins de semana, a “roupa” de cristão. O conflito de crenças e ideias sempre vem. E você é obrigado a tomar uma posição: ou fé ou razão. Foi aí que descobri que não precisava abrir mão de uma ou de outra. Que, na verdade, há muita fé no que chamamos de “razão” e bastante razão no que embasamos nossa fé, a Palavra de Deus. Foi então que decidi mergulhar fundo no criacionismo, onde descobri que, semelhantemente, outros colegas de diferentes áreas da ciência também estavam na mesma busca – a ciência na religião.

Os desafios vêm. Os questionamentos crescem de maneira exponencial. Porém, como na ciência, são as perguntas que nos motivam a avançar em busca de novas descobertas. E como tenho descoberto! Como tenho visto que novos modelos podem ser propostos e antigos modelos, questionados. Como, aos poucos, Deus nos revela Seus maravilhosos mistérios por meio da ciência. Como consegui enxergar que aquilo que parecia impossível de se harmonizar em minha mente, ciência e religião, na verdade, são áreas que podem caminhar lado a lado. Porque o Deus da religião usou Sua maravilhosa ciência para criar todas as coisas. O problema está na “ciência” que os homens querem enxergar. Não é errado questionar. Não é errado investigar... Sendo assim, por que não questionar antigos modelos e propostas para darmos passos largos em direção às verdadeiras descobertas sobre as origens, ou mesmo coisas ainda não reveladas a respeito?!

Mas quem disse que é fácil? Se para a pesquisa científica secular no Brasil já não se tem muito incentivo, o que falar sobre pesquisas criacionistas, sobretudo na área de geociências? “A falta de conhecimento sólido sobre os argumentos criacionistas por parte da grande maioria dos acadêmicos (professores e alunos) dentro do campo das geociências tem sido uma das maiores dificuldades para os geocientistas criacionistas”, afirma David Pereira, criacionista, mestrando em geologia pela Universidade Federal do Pará. No campo das geociências, ainda temos pouco com o que contar, principalmente no Brasil. Graças a trabalhos como os dos geólogos doutores Nahor Neves, Marcos Natal e outros, a Sociedade Criacionista tem recebido importantes contribuições nessa área nos últimos anos. Mas é preciso mais! É preciso sair da zona de conforto e caminhar com ousadia e confiança. É preciso crer que se está do lado certo. Ainda que o “caminho largo” pareça mais confortável e ninguém olhe para você com receio, como disse o criacionista e estudante de geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Thiago Soldani.

Ao longo desses anos de estudante e pesquisador, tenho visto colegas de fé e profissão ficarem na “sombra”, com receio de serem ridicularizados. Outros, por não haver um aporte de material conciso ou mesmo “convincente” a respeito da geologia criacionista, preferem acreditar em teorias seculares, montando ideias que misturam um pouco daqui e dali, para não desagradar a “gregos e troianos”. Mas, nesse ponto, precisamos olhar para trás e aprender com nossos irmãos evolucionistas. Basta lembrar que, quando a teoria da Tectônica de Placas foi apresentada ao público pela primeira vez pelo geólogo norte-americano Harry Hass (que tomou como base os estudos de Alfred Wegner sobre a Deriva Continental), na década de 1960, foi simplesmente ridicularizada. Mas a persistência dele, a dedicação e, sobretudo, a fé em suas pesquisas o levaram ao progresso. Desde então, inúmeras pesquisas foram e vêm sendo realizadas nessa área. E hoje essa teoria é considerada seminal para a geologia moderna.

Por mais desafiador que seja trabalhar com a geociência e o criacionismo, mesmo sem haver grandes financiamentos ou mesmo um grande número de pesquisadores para “somar” a esse tão “temido” grupo nos estudos criacionistas, sinto que fomos chamados para marcar uma nova geração de pesquisadores que não têm medo de caminhar a segunda milha! Que não medem esforços para ir além dos livros seculares. Que, como Harry Hass, não têm medo de serem ridicularizados.

Saiba que existe um universo de evidências enterradas e registradas nas rochas sobre os grandes mistérios da Criação. Saiba que você, geólogo, geofísico, engenheiro, geólogo ou qualquer outro profissional ligado às áreas da geociência pode e tem o direito de não aceitar esse desafio... Mas só quero que você não esqueça: se você não falar, “as pedras clamarão”! (Lucas 19:40).

(Hérlon Costa é geólogo formado pela UFPA e mestre em Geologia Exploratória pela UFPR)