Agora
é oficial: estamos na era da modificação genética humana. A equipe da
Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, nos Estados Unidos, confirmou as
notícias de que teriam modificado embriões humanos em laboratório, e já
esperam iniciar os testes clínicos, que envolvem transplantar os embriões para
estabelecer uma gravidez e monitorar o nascimento das crianças. O cientista
cazaque Shoukhrat Mitalipov, que lidera o estudo, confirmou o feito, mas ele
sabe que existem barreiras éticas em seu projeto, que talvez forcem a levar o
estudo para fora do país. Se as leis dos Estados Unidos não permitirem os
testes clínicos, ele afirma que “apoiaria a mudança da tecnologia para outros
países”, ele afirmou. Mitalipov afirma que seu estudo tem como objetivo apenas
trazer correções genéticas, e não aprimoramentos, como forma de tentar
minimizar as implicações éticas do projeto. Os testes visavam apenas a substituir
genes ligados a condições genéticas por outros saudáveis.
O
cientista já vinha experimentando manipulações genéticas há bastante tempo. Em
2007, ele mostrou ao mundo os primeiros macacos clonados, e em 2013 ele clonou
embriões humanos para criar células-tronco. Os embriões clonados só se
desenvolveram por alguns dias antes de serem descartados.
Durante
os experimentos, os cientistas modificaram dezenas de embriões humanos
criados in vitro usando
esperma doado de homens com doenças genéticas. Ao longo da experiência, os
pesquisadores localizaram os genes responsáveis pela doença, substituíram esses
genes por genes “saudáveis” e reintroduziram o genoma modificado nos embriões,
efetivamente curando-os da doença.
Pesquisas
semelhantes feitas na China esbarraram em dois problemas. Primeiramente, nem
todas as células tinham seu DNA modificado; algumas delas mantinham o código
genético antigo, resultando num problema que os cientistas chamaram de “mosaicismo”.
Além disso, as alterações feitas pelos pesquisadores causaram também outros
efeitos além dos desejados.
Mas
a equipe de Natalipov diz ter corrigido esses dois problemas. De acordo com um
cientista com conhecimento do projeto, “essa é a prova de que isso [essa
técnica de edição genética] pode funcionar. Eu não acho que isso significa o
começo de testes clínicos ainda, mas leva a questão mais longe do que qualquer
outra pessoa já foi”.
Essa
foi a primeira vez que cientistas norte-americanos utilizaram técnicas de
edição genética em embriões humanos. Antes disso, técnicas desse tipo já haviam
sido testadas, mas apenas na China. O país oriental já vinha experimentando a
edição genética em embriões humanos desde pelo menos abril de 2015.
O
motivo para a hesitação do ocidente em torno desse assunto é uma resistência da
comunidade científica a pesquisas desse tipo por motivos éticos. O governo dos
Estados Unidos já chegou a considerar que o CRISPR, uma ferramenta de
edição genética comumente usada, pode ser considerada uma arma de destruição em
massa. Além disso, há o medo de que esses experimentos possam abrir a porta
para uma geração de “bebês customizados”. Uma vez que se torna possível editar
o código genético dos embriões, torna-se possível também modificar as
características físicas e psíquicas das pessoas, tais como aparência física e
até mesmo traços de personalidade.
Nota:
Embora, à primeira vista, um feito como esse apresente a possibilidade de cura
de doenças genéticas e outras anormalidades, há que se considerar também as
portas que se abrem para pesquisadores menos éticos e dispostos a “brincar de
Deus”. Até que ponto as alterações poderão ser feitas? Quem vai regular isso,
de fato? Que consequências isso pode trazer para a vida humana a longo prazo? Como
pessoas geneticamente melhoradas poderão tratar as demais ou ser tratadas por
elas? Quando leio sobre manipulação genética de embriões humanos me vem à mente
o que Ellen White escreveu no século 19 como sendo um dos piores pecados que
motivaram a destruição do mundo pelo dilúvio. Quer saber mais sobre isso? Leia este texto. [MB]