sexta-feira, setembro 15, 2017

Metafísica. Meta-o-quê?!

Pelo jeito quartas-feiras são os dias desse semestre que sairei com o cérebro frito da universidade. Quarta-feira é o dia da aula de metafísica.

E, já que eu preciso fritar o cérebro pra entender essas coisas, nada melhor do que fazer outras pessoas fritarem o cérebro: vocês! Brincadeira. Na verdade, posts sobre esses assuntos serão mais como uma experiência para ver se consigo traduzir em linguagem mais simples algumas ideias nessa área da filosofia que acabam sendo muito relevantes para a filosofia da religião.

Vamos então para uma definição de metafísica! Só aí a coisa já fica bem complicada!

Bom, a última parte da palavra é bem conhecida: física. Mas quando nos referimos a esta física, não estamos nos referindo à área do conhecimento chamada de física, mas de tudo o que é, de fato, físico. Tudo o que é material, visível, palpável no mundo que conhecemos. 

Já que essa parte da frase é barbada, o que dizer da primeira? Na filosofia, sempre que se coloca um "meta" na frente de uma palavra, está se referindo a um estudo mais abstrato, que vai "mais além": o estudo do fundamento, ou o alicerce daquele assunto. Por exemplo, a minha especialização é metaética, que é o estudo dos fundamentos ou a justificação mais básica do porquê temos a ética (moralidade) que temos. Então, a metafísica é o estudo da "essência" das coisas físicas.

Complicou? Vamos para alguns exemplos do que é estudado em metafísica e depois rapidamente ver que diferença isso faz.

Exemplo 1: um dos tópicos que se estuda na metafísica é quais coisas no nosso mundo são "contingentes" e quais são "necessárias". Nós já usamos esse linguajar aqui no blog, mas só para retomar. Para alguns metafísicos existem algumas coisas que existem no nosso mundo, mas que poderiam ter sido diferentes. Ou seja, não existe nada que exija que a neve seja branca. Esse é um fato contingente. A neve poderia ter sido roxa ou rosa (já pensou que massa?). 

Por outro lado, existem "coisas" necessárias, que não importa que tipo de mundo nós tivéssemos, estas coisas seriam necessárias. Como, por exemplo, as leis da lógica. A lei da não contradição é um ótimo exemplo de algo que é necessário. A lei da não contradição diz que você não pode afirmar e negar algo ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Eu não posso dizer, no mesmo tempo e no mesmo sentido, que o sol é quente e o sol não é quente. As leis da lógica, portanto, são "coisas" necessárias. E assim, uma das tarefas da metafísica é diferenciar entre coisas contingentes e necessárias.

Veja a utilidade desse conceito para a filosofia da religião no meu post sobre o argumento ontológico para a existência de Deus.

Exemplo 2: outro assunto fascinante na metafísica é liberdade. Ainda vou fazer uma série sobre o debate liberadade-compatibilismo-determinismo, mas por enquanto basta saber que é a metafísica que discute se a "essência" do ser humano é livre ou determinada (seja por causas naturais ou sobrenaturais).  

Como é de se esperar, esse é um assunto super fértil na filosofia da religião, já que as implicações que existem para a existência de um Deus, onisciência e o problema do sofrimento são gigantescas!

Exemplo 3: os metafísicos também são os filósofos que mais estão interessados no problema da natureza humana. Mais especificamente, no debate entre fisicalismo e dualismo. Para os fisicalistas (também chamados de materialistas) nós somos apenasmatéria. Não existe divisão entre mente e corpo, ou entre corpo e alma. Tudo está interligado e funciona como uma grande e complexa máquina. Para o dualismo, essa divisão é real.

Obviamente, essa conversa é muito própria no meio da filosofia da religião, uma vez que o dualismo é comum entre religiosos para justificar a crença na alma e no mundo imaterial dos anjos, demônios, espíritos, etc. 

Nós teremos mais oportunidades para ir mais a fundo nesses e outros assuntos da metafísica, mas espero que, por ora, tenha levantado uma certa curiosidade e vontade de aprender mais!

(Marina Garner Assis é doutoranda em Filosofia da Religião)