domingo, setembro 03, 2017

Propriedade do leite materno pode levar a novos medicamentos

A ameaça iminente de resistência aos antibióticos significa que precisamos desesperadamente de novos remédios para combater as superbactérias mortais, e cientistas podem ter encontrado um deles na fonte de alimento mais natural de todas: o leite materno. Pesquisadores sabem há muito tempo que, além do sustento geral, o leite materno fornece aos bebês nutrientes vitais para construir e fortalecer seu sistema imunológico. Agora, descobriu-se um novo mecanismo por trás desse incremento antibacteriano, presente nos açúcares do leite materno. Ao contrário do entendimento de que as defesas antibacterianas são passadas de modo hereditário, sendo transmitida das mães para seus bebês unicamente através de proteínas no leite materno, uma equipe da Vanderbilt University afirmou que açúcares – ou carboidratos – também demonstram propriedades que podem oferecer proteção contra infecções bacterianas.

“Este é o primeiro exemplo de atividade antimicrobiana generalizada com protagonismo dos carboidratos no leite humano”, diz o químico Steven Townsend. “Uma das propriedades notáveis ​​desses compostos é que eles são claramente não-tóxicos, ao contrário da maioria dos antibióticos.”

A infecção mais proeminente que afeta os recém-nascidos é chamada de Streptococcus do Grupo B (GBS), que pode levar os bebês a desenvolver pneumonia antes que seu sistema imunológico esteja suficientemente forte para combater a bactéria. Felizmente, enquanto a GBS pode ser mortal para os bebês, a maioria dos recém-nascidos não é infectada por ela. A equipe queria investigar se esses bebês poderiam obter uma proteção de cortesia a partir do leite da mãe.

“Nós nos perguntamos se o hospedeiro comum de [GBS] – as mulheres grávidas – produz compostos que podem enfraquecer ou matar o estreptococo, que é a principal causa de infecção em recém-nascidos em todo o mundo”, explica Townsend. Para perseguir a resposta, os pesquisadores retiraram carboidratos de leite materno humano de cinco doadores e açúcares complexos isolados a partir deles (chamados de oligossacarídeos), antes de introduzir os oligossacarídeos nas culturas de estreptococos em laboratório. Analisando a interação sob o microscópio, a equipe descobriu que o carboidrato poderia matar as bactérias e enfraquecer suas defesas naturais, impedindo que elas formassem um biofilme protetor contra ameaças.

Em uma das amostras, os açúcares eliminaram completamente o estreptococo. Em outra, eles foram moderadamente eficazes ao matar o estreptococo, enquanto nas três amostras restantes os carboidratos não foram muito efetivos.

Para ajudar a explicar o que aconteceu, a equipe deu início a outro conjunto de testes. Em novas pesquisas ainda não publicadas, mas apresentadas em um encontro da American Chemical Society, em Washington, DC, o grupo da Townsend voltou a encontrar resultados mistos. Estes incluem dois casos em que os açúcares do leite materno quebraram o biofilme e mataram a bactéria; quatro em que o biofilme estava quebrado, mas as bactérias sobreviveram; e dois nos quais as bactérias morreram, mas o biofilme persistiu.

A investigação está no início, e é claro que mais pesquisas serão necessárias para descobrir o espectro desses resultados. Mas se a equipe puder resolver o quebra-cabeça, isso pode levar ao início de uma nova classe de antibióticos, agora que sabemos como esses carboidratos atuam na presença de bactérias.

“Os açúcares seguem dois processos”, disse Townsend. “Primeiro, eles sensibilizam as bactérias e depois as eliminam. Os biólogos costumam chamar isso de ‘letalidade sintética’. Surge aqui um grande incentivo para que possamos desenvolver novos medicamentos antimicrobianos com essa capacidade.” Além disso, a equipe diz que seus dados preliminares, ainda em andamento, indicam que os açúcares do leite podem tornar as bactérias mais suscetíveis a antibióticos comuns – como a penicilina e eritromicina. [...]


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