sexta-feira, outubro 20, 2017

Sob a luz da profecia (22 de outubro)



“Lâmpada para meus pés é Tua palavra, e luz para o meu caminho.” Salmo 119:105  

É difícil encontrar alguém, principalmente crianças e mulheres, que não tenha medo do escuro. A sensação de desconforto, insegurança, dúvida e temor brota instantaneamente ao sermos envolvidos pela escuridão. Por quê? Simplesmente porque fomos feitos para a luz, para enxergar as coisas ao redor. Todavia, não desejamos ver apenas os elementos do mundo físico, mas também ter o intelecto e o espírito iluminados por uma claridade proveniente de fonte superior. Necessitamos de “lâmpadas” que nos ajudem a afugentar os “terrores noturnos”: a superstição e a ignorância, os fantasmas morais e existenciais, bem como as trevas espirituais.

Inegavelmente, o mundo tem à sua disposição muitas ferramentas que ampliam o seu poder de visão. As luzes de um progresso sempre crescente se verificam no âmbito das ciências e do conhecimento em geral. Porém, tem-se ainda a sensação pesada de que a História encontra-se rodeada de trevas, precisando daquele fiat lux que lance seus holofotes sobre o passado inalcançável, o presente sombrio e, sobretudo, sobre o desconhecido e incerto futuro. É preciso admitir: “Em parte, conhecemos, e em parte profetizamos” (1 Coríntios 13:9). Nesse sentido, quaisquer luzes provenientes só da razão e da ciência são fracas lanternas tentando iluminar o Universo. Logo, nem a ciência, nem a filosofia, nem qualquer outra luz humana possui um poder de alcance tão vasto e amplo como tem a profecia. Para escândalo das mentalidades antropocêntricas e racionalistas, só existe uma “lâmpada” capaz de tornar claro o extenso e nebuloso caminho da História: a Palavra de Deus, especificamente suas declarações proféticas, as quais espalham um potente facho luminoso sobre esta era de escuridão.

A profecia bíblica, embora desprezada por muitos ou enlouquecida por outros com interpretações estranhas e bizarras, quando corretamente entendida é o farol divino a apontar para o horizonte onde a vista humana não consegue enxergar. Certamente, “há, sim, por trás do nevoeiro do mundo, um rosto cuja providência dirige o curso da história e cujo amor traz redenção para seus dramas”. Noutras palavras, precisamos “andar na escuridão [...], precisamos cruzar um cenário desconhecido, com a esperança de chegar a salvo ao destino. Não vemos claramente o caminho à nossa frente, porém cremos que o Senhor nos guiará ao lar. [...] Nosso lugar é no caminho, não acima dele. Um dia, cremos com firmeza, tudo se tornará claro [...]. A escuridão, porém, não é total. Os autores bíblicos usaram muitas vezes a figura da luz para lembrar que Deus não nos deixou em completa escuridão!” A Bíblia nos guia na caminhada, sendo lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos. Assim, “essa imagem significativa sugere a iluminação de uma área em volta de nós enquanto andamos, mas não da paisagem toda”. 

Os adventistas do sétimo dia, uma denominação cristã com crenças distintivas, aceitam a luz proveniente da palavra profética, mantendo a mente e o coração abertos à revelação. Estudiosos do texto sagrado, para eles a Bíblia possui porções importantes acerca de acontecimentos dramáticos que ocorreram e ocorrerão no palco da história, com implicações espirituais solenes e de consequências eternas. Os adventistas estão convictos de que esse conhecimento iluminador – a verdade presente – precisa ser compartilhado com o mundo, pois ele preparará a humanidade para a segunda vinda de Jesus Cristo à Terra, conforme a promessa feita pelo Salvador: “Voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também” (João 14:3).

Adotando o sistema do historicismo, os adventistas afirmam que tal sistema “prevê determinados eventos que ocorrem no transcurso da história desde o tempo em que o material profético foi veiculado até a consumação final. Portanto, em seu amplo escopo, ele abarca os postulados do preterismo e do futurismo e supre a deficiência básica desses sistemas. Não é justo supor que Deus, no cumprimento de Seu propósito de salvação, atue apenas no longínquo passado, ou no próximo futuro. A ação divina se verifica no todo da história humana, e é disso que, fundamentalmente, tratam as profecias”. Um bom exemplo do historicismo é a profecia do capítulo 2 do livro de Daniel, transformada no belo poema abaixo, cujos versos narram a história passada, presente e futura da humanidade.

Sobre as riquezas de um mistério estranho / E no esplendor imperial dourado, / Babilônia floriu e o seu tamanho era o do próprio mundo do passado.

Mas feneceu este poder de antanho; / Medo-Pérsia, temido e respeitado, / Ergueu-se pela espada, e nesse ganho, / transformou-se no reino prateado.

Surgiu a Grécia, brônzea do saber; / Depois a Roma, férrea do poder, / que em dez reinos partiu-se, e então eis isto: / Um reino de paz e de bondade, reino eterno de justiça e de verdade: / O reino que há de vir de Jesus Cristo.

A Bíblia contém uma profecia bíblica singular, que envolve um longo período de tempo: Daniel 8:14. Após estudar com oração Daniel 8:14 – “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” – o movimento adventista do século 19 chegou à significativa data de 22 de outubro de 1844, quando, por um equívoco de interpretação, ocorreu o Grande Desapontamento. Entretanto, como se diz, “desapontamento não é estranho aos cristãos, especialmente quando eles erram na interpretação do significado dos acontecimentos. A experiência dos discípulos entre a morte de Seu Mestre e Sua ressurreição foi decepcionante. Essa também foi a experiência dos mileritas em 1844”. Além do mais, “com frequência, os cientistas dizem que um resultado negativo também constitui resultado. A história nos fala de muitas descobertas originárias de erros”, e a grande descoberta decorrente desse erro interpretativo sobre Daniel 8:14 foi a verdade central acerca das duas fases do ministério de Cristo no santuário celestial.

Em 22 de outubro de 1844, de acordo com o cômputo historicista, dá-se início à obra do juízo investigativo, momento em que Jesus começa Sua atuação no segundo compartimento do verdadeiro santuário, do qual o tabernáculo da Terra era um tipo, “para comparecer, agora, por nós, diante de Deus” (Hebreus 9:24). Assim, de 1844 para cá vivemos o grande dia da expiação, em que se inicia o anúncio solene de que “é chegada a hora do Seu juízo” (Apocalipse 14:7). A partir desse momento, “já não haverá demora” (Apocalipse 10:6).

Um ponto essencial precisa ser ressaltado. Deve-se ter em mente que o elemento profético do material bíblico não constitui um fim em si mesmo, já que “qualquer interpretação profética descentralizada de Cristo é antibíblica”. Dessa forma, temas proféticos e apocalípticos como o juízo investigativo, ecumenismo religioso, decreto dominical, fechamento da porta da graça, a grande tribulação e a segunda vinda de Cristo, assuntos familiares aos adventistas do sétimo dia, necessitam de uma abordagem cristocêntrica, pois “o fato de Cristo ser o centro da História e da profecia, bem como a razão de ser e o assunto essencial da segunda, tem suas maravilhosas implicações para a compreensão do que Deus nos revela. [...] É em virtude do que ocorreu na cruz que Deus opera em todo o tempo, salvando. Passado, presente e futuro estão incorporados no processo transtemporal de salvação provido por ela. Ademais, a invisível atuação de Deus no curso da História, cumprindo seu propósito de salvação, se torna visível na manifestação do Filho de Deus na História”.        
     
“E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações” (2 Pedro 1:19). Enquanto navegamos no mar religioso do mundo, enfrentamos tormentas difíceis e perigosas. No barco – a igreja remanescente –, o leme está bem seguro nas mãos dAquele que sabe como Se desviar das tempestades, enfrentando-as e vencendo-as. Porém, alguns “tripulantes” têm procurado arrebatar o leme das mãos de Jesus para as suas próprias mãos humanas. A luz aponta para uma direção, mas estes buscam “iluminar” em outra: nos rochedos ou nos abismos, contrariando, assim, a revelação enviada. Estão se desviando da rota.

Quando a vontade do homem procura contradizer os oráculos divinos, sobrepujando o “assim diz o Senhor”, o resultado será sempre desastroso. A narrativa contida em 1 Reis 13 ilustra fielmente as consequências de se deixar a rota profética bíblica para andar em caminhos considerados mais “interessantes”, nos quais uma “nova luz” incide sobre o conhecimento já apresentado por Deus. Em questões proféticas, que nunca deixarão de ser difíceis de entender (e por isso mesmo um terreno fértil para a especulação e fantasia), a atenção e o discernimento espiritual devem estar afinados com o Céu, a fim de que um “profeta velho” não desencaminhe o “homem de Deus”.

A profecia bíblica já iluminou nossa estrada estreita até a Nova Jerusalém. Estamos sob sua luz; por isso, não tememos as densas sombras do mundo. Com a lâmpada, a Escritura, e ouvindo a instrução do Espírito Santo, o Intérprete, focaremos o olhar em Cristo, no qual todas as profecias, que um dia serão “aniquiladas” (1 Coríntios 13:8), se cumprem e encontram sentido. Podemos estar seguros de que o caminho profético do adventismo passa pelos ensinos e pela vida de Jesus, o Profeta por excelência.

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)