sexta-feira, dezembro 22, 2017

A hermenêutica protestante e o surgimento da ciência moderna

Esse texto se propõe a estudar a relação entre as mudanças hermenêuticas avançadas pelo protestantismo durante os séculos 16 e 17 e o surgimento da ciência moderna. Mediante a rejeição de interpretações místicas e alegóricas da Bíblia e a adoção de uma leitura literal, simples e racional, a ciência foi indiretamente influenciada a abandonar propostas filosóficas e indutivas e adotar uma linguagem mais precisa, técnica, dedutiva e matemática.

[Clique aqui e leia esse ótimo artigo do meu colega pastor, editor e mestre em Ciências da Religião Glauber Araújo]

Nota do físico Eduardo Lütz: Como sempre, excelente artigo do pastor Glauber. Descreve muito bem o cenário no qual a maior parte do entulho intelectual medieval foi removido para que se abrisse caminho para a descoberta da Ciência, bem como a adição do princípio positivo de conferir e testar ideias. A questão de motivação para estudar a natureza literalmente também é fundamental do ponto de vista humano. Mas há um detalhe fundamental que não foi mencionado no artigo. Sem esse detalhe, ainda estaríamos andando de charrete, sem eletricidade. Coisas como o DNA seriam apenas hipóteses impossíveis de testar diretamente. Que detalhe é esse? O fundamento funcional da Ciência, que são os métodos matemáticos. Todos os grandes avanços no conhecimento são consequência direta ou indireta disso. Essa é a chave que realmente abriu as portas ao conhecimento do mundo natural e revelou maneiras mais profundas e eficientes de estudar a própria Bíblia.

A ideia de ler a natureza como um livro, conforme muito bem explicado no artigo, foi um passo importantíssimo seguido por outro que completou o fundamento: para ler o livro da natureza, é necessário aprender a linguagem na qual foi escrito, a qual é composta de elementos matemáticos, como disse Galileu. Esses elementos podem ser estudados na própria natureza. Foi o que Newton fez ao descobrir o Cálculo Diferencial, sem o qual não teríamos maneiras de estudar as leis físicas com um mínimo de profundidade, uma vez que esse estudo depende do conhecimento de equações diferenciais, que dependem do Cálculo Diferencial e Integral.

Muitíssimas outras estruturas matemáticas foram descobertas com o tempo, mas nada disso seria possível sem a descoberta do Cálculo no contexto de ser uma parte fundamental da “linguagem” com que a realidade está escrita. E a maioria dos métodos matemáticos da Ciência são dedutivos, não apenas indutivos como os do experimentalismo.

Lembrando que Matemática, quando corretamente entendida, é algo transcendental (transcende o tempo, por exemplo), sobrenatural. São esses elementos matemáticos que Deus nos revelou por meio da natureza que representam o fundamento e o corpo da Ciência.


Nota da bioquímica Graça Lütz: Acabei de ler o livro The God Delusion [Deus, um Delírio], do Richard Dawkins. Nesse livro ele constrói todo um raciocínio bem montado para demonstrar como a religião é algo irracional e como religiosos são impermeáveis a ciência por manterem uma fé sem evidências. Que quando algo é absurdo, os religiosos não questionam e dizem que é uma questão de fé e não pode ser investigado porque não está revelado. Ele acredita que pessoas religiosas são impermeáveis ao raciocínio, atrasam e são um obstáculo ao progresso e aos bem-estar da humanidade. O livro, do começo ao fim, cita exemplos de coisas que cristãos dizem e fazem. O mais doloroso é que esses exemplos são reais e são argumentos e atitudes com que nos defrontamos todos os dias. O problema do Dawkins é que ele confunde Filosofia e raciocínio qualitativo, observação, coleta de dados, dados estatísticos e coisas do gênero com Ciência. Graças a isso, ele faz as perguntas erradas, que não se aplicam, e tira conclusões equivocadas sobre Deus. Ele também avalia o que lê na Bíblia a partir da linguagem, cultura e pensamento atuais. Lendo o livro dele, percebi que ele teceu uma rede bem construída (não apenas por ele, pois aproveitou ideias que já existiam também) que forma aquele escudo de pensamento que encontramos entre os acadêmicos e que faz com que eles fiquem impermeáveis a argumentos criacionistas. E percebi o porquê. Ele aborda praticamente todos os argumentos criacionistas que são usados, incluindo muito do que é ouvido em encontros e seminários criacionistas. O que ele não aborda nem entende é justamente Matemática. E ele não entende nada de origem da vida também. Ele quase não apresentou um argumento válido nesse sentido.