sábado, dezembro 23, 2017

A Palavra que virou gente

O que é uma palavra? Vários conceitos poderiam ser levantados pelos estudiosos da linguagem. Na língua portuguesa, a Nomenclatura Gramatical Brasileira elenca dez classes nas quais as palavras estão agrupadas. Revisando: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Dentre elas, destaca-se o verbo, que exprime ação, estado ou fenômeno da natureza, conforme as definições básicas expostas nas gramáticas tradicionais.

Saindo do universo gramatical, adentremos as Escrituras. O que é a palavra na Bíblia? Unidade pertencente a uma das grandes classes gramaticais? Unidade mínima com som e significado que pode, sozinha, constituir enunciado? Esses são conceitos dicionarizados. Na Bíblia, a palavra extrapola a dimensão linguística para se tornar uma pessoa. Assume a forma de um ser humano, atuando no espaço e no tempo histórico. Como pode ser isso? “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós” (João 1:14). A Palavra é o EU SOU que Moisés viu em cena majestosa revelando-Se, despretensiosamente, no homem Jesus. A Palavra eterna aproximou-Se deste mundo e, com sotaque humano, assumiu um rosto familiar.

Executor do plano da redenção, Jesus é o Ente santo gerado de forma milagrosa no ventre de Maria. Cristo nasce - divino Filho -, o Criador dos mundos, Salvador!   Acontecimento misterioso, maravilhoso, pois “sendo o que era, tornou-Se o que não era”! Não há explicação. Há, sim, “um mistério em torno do nascimento de Cristo que não pode e não precisa ser explicado. [...] Contemplando a encarnação de Cristo como humano, ficamos estupefatos diante de um incomensurável mistério, o qual a mente humana não pode compreender. [...] De forma misteriosa, divindade e humanidade foram combinadas, e homem e Deus tornaram-se um. É nessa união que encontramos a esperança para nossa raça caída. Ao olharmos para Cristo em nossa humanidade, olhamos para Deus, e nEle vemos o resplendor de Sua glória, a imagem expressa da Sua pessoa” (Ellen White). Realmente, meditando no nascimento de Cristo “deparamo-nos aí com um pensamento que aguça o intelecto. Um bebê nascido em Belém, um jovem de Nazaré, um mestre itinerante crucificado aos 33 anos de idade também era Aquele que fez os mundos girarem em suas órbitas e formou a estrutura moral do Universo. Tudo isso é muito difícil de se acreditar, caso se resolva aceitar somente o que possa ser provado pela experiência humana”. Contudo, embora seja difícil de acreditar, é necessário crer, porquanto tal experiência no tempo e no espaço foi a incrível saída encontrada por Deus para todos os nossos dilemas pessoais e universais. Se, para ser salva de suas tragédias, a história humana sempre necessitou de milagres, definitivamente eis o sublime milagre da História: Jesus! 

Chegando ao mundo como Palavra encarnada, o Verbo teve uma força de ação maravilhosa, inserindo o reino de Deus no reino dos homens. As causas pelas quais lutou culminaram em Seu sacrifício expiatório, entre as quais:

A causa da verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).

A causa da liberdade física, moral e espiritual: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-Me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos” (Lucas 4:18, 19).

A causa da justiça e da moralidade, mas também do perdão e da misericórdia: “Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais” (João 8:10 e 11).

A causa da paz: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).

A causa do amor a Deus e aos homens: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12:30, 31).

“Como gente humilde Ele nasceu, mais humilde que você e eu.” O Natal, época encantadora, é a lembrança de que um dia a Palavra virou gente. Independentemente de data, é o Fato dos fatos que marcou os séculos e dividiu a História. Até mesmo alguns historiadores céticos reconhecem: “Como historiador preciso admitir que este pobre pregador da Galileia é o centro da história” (Herbert George Wells). O Natal também constitui uma oportunidade para abraçarmos as causas de Jesus, das quais o mundo tanto necessita para ser um lugar menos sofredor e injusto, até que Ele “nasça” nos céus em Seu segundo advento ao mundo.

Em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2:9). Sendo Verbo divino, Suas ações mostraram quem Ele era: Deus, Homem, Amigo da humanidade e Salvador. Assim, diante da história do Deus-Homem, uma canção natalina nos convida a receber Jesus: Natal é história mais linda, a lembrança do amor divinal; / Jesus em Belém tão humilde nasceu, o grande Dom celestial / A estrela de Deus ainda brilha no céu, anjos estão a cantar / Proclamam que Cristo este mundo amou, veio aqui pra salvar. / Abra agora o seu coração, o Filho de Deus quer nascer; / Manjedoura humana seremos então e eterno Natal vamos ter.

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)