quinta-feira, dezembro 07, 2017

Cientistas avistam o superburaco negro mais distante

No dia 6 de dezembro, a revista Nature publicou um artigo (doi:10.1038/nature25180) que traz uma descoberta interessante: um quasar a uma distância tão grande de nós que a imagem que recebemos dele precisa ter partido de lá poucas centenas de milhões de anos após a época atualmente estimada como sendo a da criação do universo. O que há de tão interessante nisso? Bem, quasares são fenômenos que emitem quantidades gigantescas de energia em certas direções. Trata-se essencialmente de gigantescos buracos negros atraindo material ao seu redor e acelerando uma parte desse material, expelindo-o a grandes velocidades a partir de seus polos. O problema pode ser colocado na forma da seguinte pergunta: De onde veio esse superburaco negro? A resposta típica é: estrelas muito grandes entram em colapso eventualmente, formando buracos negros relativamente pequenos. Eventualmente, esses buracos negros podem colidir entre si e formar outros cada vez maiores. Mas não haveria tempo para tudo isso desde a criação do universo.

Esse tipo de problema tende a gerar diferentes reações, dependendo da visão de mundo de cada um. No meio criacionista, esse tipo de achado é frequentemente utilizado como parte de uma cadeia de raciocínio cujo objetivo final é reforçar a ideia de que o universo é jovem (6 a 10 mil anos de idade). Essa linha inclui apresentar essas coisas como evidências de que o modelo do Big Bang é muito incorreto (geralmente se pensa que a ideia de que o universo é antigo vem do modelo do Big Bang, mas na verdade essa informação vem de observações) e que faria mais sentido imaginar que Deus já criou todo o universo grande, pronto e recentemente. Entretanto, essa ideia corresponde a uma inflação com velocidade infinita no início do tempo e entra em conflito com um sem-número de observações e até textos bíblicos.

Outras possibilidades menos problemáticas: (1) E se o universo for bem mais velho do que o estimado? (2) E se esses superburacos negros pudessem ser formados de outras maneiras mais rápidas?

A opção (1) é possível, mas improvável em função de uma série de detalhes que observamos no universo. A opção (2) corresponde a algo que se conhece, na verdade. Infelizmente, é bem comum entre os astrônomos não ter fluência em Relatividade Geral. Uma das coisas que se estudam nessa área é a diferença entre buracos negros criados essencialmente junto com o universo e buracos negros criados por colapso estelar.

A existência de um superburaco negro nos primórdios do universo não deveria representar qualquer problema, apenas indica que esses objetos não foram criados por colapso gravitacional de estrelas. Além disso, os poderosos jatos de material ejetado em seus polos podem criar condições para a formação de sistemas estelares.

Em uma visão criacionista que não seja de universo jovem, isso pode fazer parte de um mecanismo criado por Deus para gerar sistemas estelares. No criacionismo, admite-se que Deus cria algumas coisas de forma especial (ex.: os primeiros seres vivos) e outras como consequência de mecanismos que Ele criou (como descendentes dos primeiros seres vivos, lagos, rios, pedras, objetos astronômicos).

No caso de uma visão naturalista, um pouco de conhecimento de Relatividade Geral também resolve o quebra-cabeças gerado por esse superburaco negro.

A rigor, essa descoberta não representa grandes problemas nem para criacionistas nem para naturalistas. Acaba sendo apenas mais uma evidência da existência de algo sugerido pela Relatividade Geral.

(Eduardo Lütz é físico e engenheiro de software)