“Que é o homem para que dele Te lembres?” (Salmo 8:5)
Como é que é?! Você defende o modelo cosmológico ultrapassado
do geocentrismo, o qual afirmava que o nosso planeta estava no centro do universo?
Ora, essa compreensão equivocada foi derrubada há muito tempo pelos estudos da
ciência moderna. Todos já sabem que a Terra é um planeta de dimensões
astronomicamente diminutas: “pálido ponto azul” localizado num dos braços
espirais da Via Láctea, uma galáxia “singela” dentre tantos bilhões de galáxias
espalhadas pelo Universo. Você parece estar desinformado cientificamente.
Cientificamente, os astrônomos têm razão ao descartar o
antigo erro ptolomaico do geocentrismo. Porém, noutro ponto de vista que não o
da ciência com sua visão nua e crua, pode-se convictamente dizer: a Terra, este
“grão de areia” solto no espaço, encontra-se no “centro” de toda a criação.
Explico.
Na perspectiva cristã, “este mundo é apenas um átomo no vasto
domínio sobre que Deus preside” (Ellen White). Espantado, “quando olha para os
mistérios do Universo, o ser humano, reduzido a suas reais proporções, sente
toda a humildade diante da dificuldade de compreender aquele infinito conjunto
de luz e sombras. Nele o que vê é o nada, o vácuo escuro e frio. Em alguns pontos
infinitamente pequenos do Universo, na realidade espalham-se centenas de
milhões de galáxias semelhantes à nossa, com dezenas de trilhões de planetas e
estrelas. Em escala cósmica, o conhecimento humano é extremamente limitado e
fragmentário. Tão grande é o universo visível que se torna geometricamente
impossível ligá-lo através de diagramas a um objeto familiar, a menos que se
introduzam aumentos crescentes em escala”.
De fato, quando resolvemos contemplar o céu sideral, a olho
nu ou com auxílio de instrumentos, percebemos que estamos isolados num dos
muitos sistemas estelares do espaço. Perante tamanha grandeza, somos
acometidos, ao mesmo tempo, de admiração e temor. De tais emoções surgem perguntas
retóricas na mente de quem tem a percepção de sua insignificância ante a realidade
cósmica: “Quem sou eu diante do Universo? Você é capaz de ficar sozinho e
encarar o Universo?” Temos aparelhos de investigação capazes de não só nos
revelar algo das gigantescas estruturas do céu estelar, mas também de imprimir
em nós um senso esmagador de pequenez, como se nada fôssemos perante o tudo
acima de nossa cabeça. Mais: “Nem todos se maravilham ao contemplar o céu
estrelado. Para alguns, os solitários pontinhos de luz no veludo negro da noite
falavam de solidão e falta sentido. [...] As estrelas podem, portanto, ser um
melancólico lembrete da vastidão do Universo e de nossa extrema insignificância
nele. [...] O céu, portanto, eleva nosso senso de efemeridade.”
Blaise Pascal já dizia que a mente humana é totalmente
ofuscada pela imensidão do Universo: “O eterno silêncio desses espaços
infinitos me aterroriza.” Esse terror pascaliano desperta o pensamento do ser
humano questionador e curioso, servindo também de oportunidade para ouvir a voz
do Criador: “Levantai ao alto os vossos olhos: Quem criou todas estas coisas?” (Isaías
40:26)
Diante da grandiosidade do cosmos, brotam sensações comuns no
coração do ateu e no do crente: sentimentos de finitude, pequenez e impotência;
todavia, ambos os espectadores do Universo têm percepções diferentes acerca
dele. Para o incrédulo Richard Dawkins, “por trás do Universo não existe nenhum
plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada além da cega e
impiedosa indiferença”.
É inútil tirar sentido das pedras, defende o cético contumaz.
Já o homem religioso, ao contrário, sensível à mensagem oculta por trás da
escuridão e dos objetos cósmicos, anseia pelo sentido transcendente e o procura
por toda a vida; é atraído para ele como neste poema de Shelley: “O desejo da
mariposa pela estrela, / Da noite pelo amanhecer, / A devoção a algo longe / Da
esfera do nosso sofrer.” Ele clama ao Universo: “Mostre-me Deus!” O teólogo Alister
McGrath confirma essa fome humana de sentido, que não pode ser suprimida pela
fria e desencantadora cosmovisão materialista: “Em nosso âmago reside uma
inexorável busca de sentido. Talvez alguns digam que isso não passa de um
mecanismo de defesa erguido pela mente humana para nos proteger da insuportável
dor de saber que a vida carece de propósito. Sonhamos com um universo em que
tenhamos sentido e propósito, e preferimos habitar esse país imaginário a
enfrentar a aridez fria e implacável do mundo real. [...] E se essas tentativas
de invalidar nosso anseio por sentido estiverem equivocadas? E se o senso de desejo
e anseio evocado pelo céu noturno se destinasse a nos guiar numa viagem de
descoberta? E se a natureza estiver repleta de pistas para nosso sentido e
nosso destino verdadeiros, e marcada pela presença de Deus?”
Albert Einstein considerava que “o cientista é controlado
pelo senso da causa universal [...] Sua percepção religiosa toma a forma de um
assombro magnífico diante da harmonia da lei natural, a qual revela uma
inteligência de tamanha superioridade que, comparada a ela, todo o pensamento
sistemático e a atitude dos seres humanos se tornam uma reflexão totalmente
insignificante”.
Quando li Contato,
do aclamado Carl Sagan, um trecho do livro me chamou a atenção – aquele em que
o autor faz uma observação acerca da personagem Eleanor (Ellie), uma cientista
do Projeto SETI: “Em toda a sua carreira de astrônoma, ela tentou
fazer contato com os mais remotos e exóticos mundos, enquanto
em sua própria vida não fez contato com praticamente
ninguém. Mostrou-se feroz em desmascarar os mitos de criação de outras pessoas,
esquecida da mentira que constituía a essência do seu próprio
mito. Durante toda a vida, estudou o universo, mas
desprezou sua mais clara mensagem: para criaturas pequenas como nós,
a vastidão só é suportável através do amor." Eu completo: do amor de
Deus, maior que o Universo.
Aos olhos da ciência naturalista, a Terra é um planeta
solitário, cercado pela indiferença e escuridão do Universo. Ainda assim, essa
mesma ciência não se conforma com tal isolamento e condição, mas pergunta de si
para si: “Há alguém aí em cima?” Silêncio. Na visão da fé, muito mais ousada,
perspicaz e profunda, a mesma pergunta consegue ouvir os ecos de uma voz
peculiar dizendo: “Sim, há Alguém aqui em cima, que também está com vocês.” A
fé consegue perceber que a atenção de todos os mundos imaculados e do próprio
Céu concentra-se na pequena esfera terrestre. O reconhecimento de tal fato (ou
revelação) é um remédio contra a solidão, porque nos leva ao pensamento de que
somos amados pelos seres que não experimentaram a miséria do pecado. Consequentemente,
não somos órfãos cósmicos. É nesse aspecto que a Terra é o centro do Universo. Temos
infinito valor, porquanto “Cristo, o amado Comandante das cortes celestiais,
desceu de Sua alta posição, depôs a glória que possuía junto com o Pai, para
salvar o único mundo perdido. Por este, deixou os mundos sem pecado nas alturas”
(Ellen White). Ele acabou com a nossa solidão quando veio habitar conosco.
Jesus nos trouxe o senso de importância que foi perdido no Éden. E na
eternidade, quando a Terra for reintegrada ao completo domínio de Deus,
continuaremos sendo o centro do Universo: “Nosso pequenino mundo, sob a
maldição do pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado
acima de todos os outros mundos do universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus
habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu – aqui,
quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com
os homens, ‘com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará
com eles, e será o seu Deus’” (Apocalipse 21:4).
Muitas pessoas perambulam solitárias pela vida, sem o senso
da proximidade de Deus. Esquecem que habitam o planeta que é alvo especial do
interesse divino. Se você é um desses “terráqueos solitários”, no momento em
que se sentir esmagado pelo sofrimento, abandono ou rejeição, apegue-se a esta
verdade consoladora: você está guardado no centro do coração de Deus! Então
poderá exclamar tal qual o aviador e poeta John Gillespie Magee: “Oh! Escapei
dos laços ríspidos da terra / E dancei nos céus em asas de risos de prata... /
Estendi a mão e toquei a face de Deus.”
(Frank de Souza Mangabeira, membro da
Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)