segunda-feira, dezembro 18, 2017

Terra: centro do universo

“Que é o homem para que dele Te lembres?” (Salmo 8:5)

Como é que é?! Você defende o modelo cosmológico ultrapassado do geocentrismo, o qual afirmava que o nosso planeta estava no centro do universo? Ora, essa compreensão equivocada foi derrubada há muito tempo pelos estudos da ciência moderna. Todos já sabem que a Terra é um planeta de dimensões astronomicamente diminutas: “pálido ponto azul” localizado num dos braços espirais da Via Láctea, uma galáxia “singela” dentre tantos bilhões de galáxias espalhadas pelo Universo. Você parece estar desinformado cientificamente.

Cientificamente, os astrônomos têm razão ao descartar o antigo erro ptolomaico do geocentrismo. Porém, noutro ponto de vista que não o da ciência com sua visão nua e crua, pode-se convictamente dizer: a Terra, este “grão de areia” solto no espaço, encontra-se no “centro” de toda a criação. Explico.

Na perspectiva cristã, “este mundo é apenas um átomo no vasto domínio sobre que Deus preside” (Ellen White). Espantado, “quando olha para os mistérios do Universo, o ser humano, reduzido a suas reais proporções, sente toda a humildade diante da dificuldade de compreender aquele infinito conjunto de luz e sombras. Nele o que vê é o nada, o vácuo escuro e frio. Em alguns pontos infinitamente pequenos do Universo, na realidade espalham-se centenas de milhões de galáxias semelhantes à nossa, com dezenas de trilhões de planetas e estrelas. Em escala cósmica, o conhecimento humano é extremamente limitado e fragmentário. Tão grande é o universo visível que se torna geometricamente impossível ligá-lo através de diagramas a um objeto familiar, a menos que se introduzam aumentos crescentes em escala”.

De fato, quando resolvemos contemplar o céu sideral, a olho nu ou com auxílio de instrumentos, percebemos que estamos isolados num dos muitos sistemas estelares do espaço. Perante tamanha grandeza, somos acometidos, ao mesmo tempo, de admiração e temor. De tais emoções surgem perguntas retóricas na mente de quem tem a percepção de sua insignificância ante a realidade cósmica: “Quem sou eu diante do Universo? Você é capaz de ficar sozinho e encarar o Universo?” Temos aparelhos de investigação capazes de não só nos revelar algo das gigantescas estruturas do céu estelar, mas também de imprimir em nós um senso esmagador de pequenez, como se nada fôssemos perante o tudo acima de nossa cabeça. Mais: “Nem todos se maravilham ao contemplar o céu estrelado. Para alguns, os solitários pontinhos de luz no veludo negro da noite falavam de solidão e falta sentido. [...] As estrelas podem, portanto, ser um melancólico lembrete da vastidão do Universo e de nossa extrema insignificância nele. [...] O céu, portanto, eleva nosso senso de efemeridade.”

Blaise Pascal já dizia que a mente humana é totalmente ofuscada pela imensidão do Universo: “O eterno silêncio desses espaços infinitos me aterroriza.” Esse terror pascaliano desperta o pensamento do ser humano questionador e curioso, servindo também de oportunidade para ouvir a voz do Criador: “Levantai ao alto os vossos olhos: Quem criou todas estas coisas?” (Isaías 40:26)

Diante da grandiosidade do cosmos, brotam sensações comuns no coração do ateu e no do crente: sentimentos de finitude, pequenez e impotência; todavia, ambos os espectadores do Universo têm percepções diferentes acerca dele. Para o incrédulo Richard Dawkins, “por trás do Universo não existe nenhum plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada além da cega e impiedosa indiferença”.

É inútil tirar sentido das pedras, defende o cético contumaz. Já o homem religioso, ao contrário, sensível à mensagem oculta por trás da escuridão e dos objetos cósmicos, anseia pelo sentido transcendente e o procura por toda a vida; é atraído para ele como neste poema de Shelley: “O desejo da mariposa pela estrela, / Da noite pelo amanhecer, / A devoção a algo longe / Da esfera do nosso sofrer.” Ele clama ao Universo: “Mostre-me Deus!” O teólogo Alister McGrath confirma essa fome humana de sentido, que não pode ser suprimida pela fria e desencantadora cosmovisão materialista: “Em nosso âmago reside uma inexorável busca de sentido. Talvez alguns digam que isso não passa de um mecanismo de defesa erguido pela mente humana para nos proteger da insuportável dor de saber que a vida carece de propósito. Sonhamos com um universo em que tenhamos sentido e propósito, e preferimos habitar esse país imaginário a enfrentar a aridez fria e implacável do mundo real. [...] E se essas tentativas de invalidar nosso anseio por sentido estiverem equivocadas? E se o senso de desejo e anseio evocado pelo céu noturno se destinasse a nos guiar numa viagem de descoberta? E se a natureza estiver repleta de pistas para nosso sentido e nosso destino verdadeiros, e marcada pela presença de Deus?”

Albert Einstein considerava que “o cientista é controlado pelo senso da causa universal [...] Sua percepção religiosa toma a forma de um assombro magnífico diante da harmonia da lei natural, a qual revela uma inteligência de tamanha superioridade que, comparada a ela, todo o pensamento sistemático e a atitude dos seres humanos se tornam uma reflexão totalmente insignificante”.

Quando li Contato, do aclamado Carl Sagan, um trecho do livro me chamou a atenção – aquele em que o autor faz uma observação acerca da personagem Eleanor (Ellie), uma cientista do Projeto SETI: “Em toda a sua carreira de astrônoma, ela tentou fazer contato com os mais remotos e exóticos mundos, enquanto em sua própria vida não fez contato com praticamente ninguém. Mostrou-se feroz em desmascarar os mitos de criação de outras pessoas, esquecida da mentira que constituía a essência do seu próprio mito. Durante toda a vida, estudou o universo, mas desprezou sua mais clara mensagem: para criaturas pequenas como nós, a vastidão só é suportável através do amor." Eu completo: do amor de Deus, maior que o Universo.

Aos olhos da ciência naturalista, a Terra é um planeta solitário, cercado pela indiferença e escuridão do Universo. Ainda assim, essa mesma ciência não se conforma com tal isolamento e condição, mas pergunta de si para si: “Há alguém aí em cima?” Silêncio. Na visão da fé, muito mais ousada, perspicaz e profunda, a mesma pergunta consegue ouvir os ecos de uma voz peculiar dizendo: “Sim, há Alguém aqui em cima, que também está com vocês.” A fé consegue perceber que a atenção de todos os mundos imaculados e do próprio Céu concentra-se na pequena esfera terrestre. O reconhecimento de tal fato (ou revelação) é um remédio contra a solidão, porque nos leva ao pensamento de que somos amados pelos seres que não experimentaram a miséria do pecado. Consequentemente, não somos órfãos cósmicos. É nesse aspecto que a Terra é o centro do Universo. Temos infinito valor, porquanto “Cristo, o amado Comandante das cortes celestiais, desceu de Sua alta posição, depôs a glória que possuía junto com o Pai, para salvar o único mundo perdido. Por este, deixou os mundos sem pecado nas alturas” (Ellen White). Ele acabou com a nossa solidão quando veio habitar conosco. Jesus nos trouxe o senso de importância que foi perdido no Éden. E na eternidade, quando a Terra for reintegrada ao completo domínio de Deus, continuaremos sendo o centro do Universo: “Nosso pequenino mundo, sob a maldição do pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado acima de todos os outros mundos do universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu – aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, ‘com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus’” (Apocalipse 21:4).

Muitas pessoas perambulam solitárias pela vida, sem o senso da proximidade de Deus. Esquecem que habitam o planeta que é alvo especial do interesse divino. Se você é um desses “terráqueos solitários”, no momento em que se sentir esmagado pelo sofrimento, abandono ou rejeição, apegue-se a esta verdade consoladora: você está guardado no centro do coração de Deus! Então poderá exclamar tal qual o aviador e poeta John Gillespie Magee: “Oh! Escapei dos laços ríspidos da terra / E dancei nos céus em asas de risos de prata... / Estendi a mão e toquei a face de Deus.”

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)