Existem ideias que são defendidas como se fossem bíblicas, mas que, na verdade, acabam atentando contra as próprias bases do cristianismo, criando verdadeiras “quimeras” filosóficas, unindo péssima ciência com péssima teologia, como diz o químico Marcos Eberlin. Entre essas ideias, podemos destacar o evolucionismo teísta, também chamado de “evoteísmo”. Os defensores dessa e de outras ideias afirmam que estão alicerçados na Bíblia e na ciência. Será que é assim mesmo? Nesta entrevista, concedida ao jornalista Michelson Borges, o astrofísico e engenheiro de softwareEduardo Lütz esclarece esse assunto.
[Clique aqui para ler a entrevista.]
terça-feira, fevereiro 27, 2018
sexta-feira, fevereiro 23, 2018
A notoriedade de Ellen White e suas contribuições para a ciência
Enquanto eu ainda estava deitado pela manhã,
me veio à mente a ideia de escrever sobre um assunto um tanto quanto polêmico:
a famigerada escritora norte-americana Ellen G. White (EGW). Quem acompanha meu
trabalho sabe que eu nunca me interessei em escrever especificamente acerca
dessa ilustre mulher. Aliás, vou abrir meu coração para você: eu não sou exatamente
um “estudioso” das obras de Ellen tanto quanto devem ser os outros colunistas
deste blog; não sei muito de sua biografia, conheço pontualmente assuntos
tratados por ela em apenas alguns campos. Por isso acredito que eu seja a
pessoa ideal, pelo menos entre os colunistas deste blog, para analisar o tema a
ser discutido neste artigo.
Exemplos
de preconceito ao se mencionar Ellen
Tenho observado de perto o preconceito
gerado quando se menciona o nome de Ellen White em grupos e comunidades
criacionistas nas redes sociais. Só para citar alguns poucos exemplos, são
frequentes comentários do tipo: “Ellen White, é sério isso? Nem pretendo ler”,
“Ellen White falou um monte de baboseira”, “Você acha que vou usá-la como base
científica? Nunca!”, ou: “Usar Ellen White como base científica é forçar a
barra.” E por aí vai.
Isso sempre me causou estranheza e despertou
curiosidade. Aqui vai uma pergunta retórica: Se em grupos como esses são
mencionadas fontes bibliográficas de autores cristãos diversos a fim de apoiar
argumentos criacionistas, por que a simples menção aos escritos de EGW gera
tanta revolta? Bem, essa foi a curiosa comoção causada, em um grupo de assuntos
criacionista, por uma recente matéria postada neste blog, intitulada “Pesquisas com híbridos reforçam o que Ellen White escreveu no século 19”.
O autor da matéria, jornalista Michelson
Borges, teve que se justificar quando confrontado por criacionistas não adventistas,
fazendo a seguinte réplica:
“Não a coloquei como ‘base’ de nada. Apenas
disse que uma afirmação que ela fez no século 19 aparentemente foi confirmada
pela ciência, como muitas outras. Em anos recentes, os cientistas estão fazendo
experiências de hibridização de espécies diferentes, coisa impensável poucos
anos atrás, antes da era da engenharia genética. Curiosamente, uma escritora do
século 19 tocou nesse assunto e, obviamente, foi mal compreendida na época.
Hoje se constata que ela tinha razão. Só isso. Não a usei como ‘referência
científica’ de nada. Pelo contrário: parti da descoberta científica e apontei
para um texto antigo em que ela falava a mesma coisa. Se em lugar de ter sido
EGW fosse Agostinho, ou Calvino, ou Lutero, ou mesmo, vá lá, Nostradamus, qual
teria sido a reação ao post? Um dos
conselhos importantes de Paulo é este: ‘Não desprezem as profecias. Analisem
tudo, retenham o que for bom’ (1Ts 5:20, 21). A atitude de um pesquisador
honesto da verdade é sempre conceder o benefício da dúvida e seguir as
evidências, levem aonde levar.”
Contudo, é importante fazer aqui uma
ressalva a fim de não cairmos em generalizações desnecessárias: nem todo
criacionista não adventista apresenta essa postura de repulsa e preconceito. Dois
bons exemplos podem ser vistos nos seguintes comentários equilibrados e de bom
senso, escritos naquele mesmo grupo:
“O que importa é se a fonte é passível de
verificação científica, seja ela Ellen White ou qualquer outro. Se ela é
passível de observação, experimentação, formulação de hipóteses ou
previsibilidade. Não sou adventista, mas vejo o quanto a Igreja Adventista tem
contribuído no campo científico” (Zenaldo Marinho, secretário de Agricultura de
Campina Grande).
“Não
sou adventista, porém acho que podemos usar qualquer autor iluminado por Deus
em nossas citações. Se eu postar algo citado por Max Lucado, ficará melhor?
Temos que ver se o problema é com a autora ou com a denominação a qual ela representa.
O segundo é preconceito” (Alexandre Kretzschmar, pentecostal, autor do livro Onze de Gênesis).
Como afirma o professor adjunto do
Departamento de Química da Universidade
Estadual Vale do Acaraú, Dr. Draulio Sales, “independentemente de ser
Ellen White ou qualquer outro escritor, faz parte de um pesquisador,
independentemente de ser criacionista ou evolucionista, ler qualquer material
para opinar sobre ele. Às vezes, queremos que os evolucionistas respeitem
nossas leituras e posições (muitos também não querem ler), mas agimos com
preconceito da mesma forma”.
Para Glauber Araújo, pastor, mestre em
Ciências da Religião e editor de livros na Casa
Publicadora Brasileira, “todo
criacionista (adventista ou não) precisa conhecer e ter os escritos de Ellen
White, considerando a forma como ela influenciou o surgimento desse movimento
do qual hoje participamos. O historiador da ciência Ronald Numbers discute a
questão da história e do surgimento do criacionismo, especialmente em seu
esforço moderno de conciliar o livro de Gênesis com as teorias científicas. No
capítulo em que ele fala sobre George McCready Price, é discutido o papel
influenciador de Ellen White sobre Price, e a forma como ele tentou comprovar a
posição criacionista de White usando o conhecimento que ele tinha de geologia.
Embora Ellen White não seja aceita como profetisa por todos os criacionistas,
se o link que Numbers faz entre Price
e White é realmente válido, devemos colocar Ellen White como uma das principais
influenciadoras do criacionismo moderno. Embora a produção literária de White
não seja ‘científica’, no sentido estrito da palavra, seu poder de influência
sobre o criacionismo americano não pode ser simplesmente descartado. Se a tese
de Numbers realmente se confirma, um
criacionista que nunca leu o que White falou sobre criacionismo seria a mesma
coisa que um metodista que nunca leu John Wesley, ou um presbiteriano que nunca
leu João Calvino”.
Talvez o problema esteja no preconceito em
relação a ela ser ou não uma profetisa, e não em relação as suas declarações
pertinentes que contribuíram com as diversas áreas do conhecimento humano.
Segundo Leonardo Souza, estudante de Teologia do Instituto Adventista Paranaense
(IAP), “não há nada de errado em demonstrar que a ciência atual confirma coisas
que ela [Ellen White] já havia falado. Precisamos ter cuidado para que o
preconceito contra as declarações proféticas dela não nos faça confundir as
coisas como se ela fosse menos que qualquer outro autor devocional, com
declarações extremamente pertinentes para várias áreas do conhecimento e
reconhecidas por varias entidades não adventistas”.
A
influência de Ellen nas diversas áreas do conhecimento
Influência
na sociedade - Foi
divulgada em novembro uma inusitada lista com os nomes dos 100 norte-americanos
mais influentes de todos os tempos. A listagem é um trabalho da Smithsonian Magazine, uma publicação que
pertence ao Smithsonian Institute, e inclui a escritora adventista Ellen White.
(Saiba mais na matéria “Ellen White na lista de americanos mais influentes”.) Inclusive a Universidade de Oxford,
uma renomada instituição de ensino, publicou uma obra sobre Ellen White
intitulada Ellen Harmon White: American prophet.
Educação
e saúde - “O sistema educacional adventista, as inúmeras clínicas e
os hospitais de referência (como o de Loma Linda), bem como a ênfase criacionista que a IASD mantém, você acha que vêm em
grande parte a partir dos conselhos de quem? No mínimo um pouquinho de respeito
em relação a estas contribuições seria bem-vindo”, pediu Michelson Borges no
referido debate no grupo criacionista.
“Principalmente em matéria de saúde e
qualidade de vida, a igreja foi pioneira graças a ela, numa época em que se
fechavam as janelas e se trancavam no quarto para curar gripe, ou praticavam
sangria para curar s febre. É surpreendente todo esse conhecimento sendo
escrito por uma mulher que não terminou a quarta série do primário”, disse
Isaias de Almeida, bacharel em Teologia Faculdade Adventista da Bahia.
Geologia
e paleontologia - Para os amantes de Geologia, Paleontologia e
ciências naturais, existe um livro gratuito intitulado Geologia e Ciências Naturais: Declarações de Ellen White, editado
pela Unaspress.
“O interessante é que cientistas
criacionistas não adventistas chegaram às mesmas conclusões que Ellen White, inspirada
por Deus, ao escrever sobre como se formou o petróleo, como se deu a formação praticamente
instantânea de fósseis no dilúvio, a questão da geologia da Terra antes e após o
dilúvio, etc.”, disse também Isaias.
Física,
Cosmologia e mais saúde - Vejamos alguns comentários bem
interessantes de pesquisadores acerca desse tema. O astrônomo Josué Cardoso dos
Santos, embaixador
da Osiris-Rex Sample Return Mission, coordenada pela Universidade do Arizona,
diz:
“É importante ressaltar também outros
aspectos, tais como o espaço aberto em Órion [ver a matéria “A beleza e os mistérios de Órion”], o sistema nervoso e tumores causados por
determinados tipos de alimento que só foram descobertos nos séculos 20 e 21. No
tempo dela, muitas dessas coisas eram loucura e impossíveis de se verificar.
Por isso, é importante ressaltar e valorizar as contribuições dela e de tantos
outros para a causa criacionista. Só podemos enxergar mais longe estando sobre
os ombros de gigantes! Entendo quão relevantes foram as respostas e informações
que a cosmovisão biblico-criacionista dela nos deram. Sem dúvida, proveu assim
um embasamento e suporte para todos nós, de que é essa a mais fidedigna visão
de mundo. Esse é um ponto sobre o qual qualquer criacionista pode concordar
razoavelmente bem.”
O físico Dr. Cleomacio da Silva, professor adjunto da
Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (UPE), faz a seguinte
declaração: “As afirmações de Ellen White sobre Deus não violam Suas
leis naturais, estão de acordo com estudos realizados por físicos, como Tipler.
Como foi Tipler que disse, o mundo aplaudiu, mas, quando Ellen White fala, as
críticas surgem. Estudei e estudo os escritos de Ellen White, e todas as suas
afirmações são verdadeiras. Afirmo que, aos 53 anos, tenho vitalidade de um
jovem, por seguir seus conselhos sobre saúde.”
Para finalizar, deixo mais um comentário
pertinente do idealizador e mantenedor deste blog acerca da importância de
lermos e pormos à prova, antes de rejeitarmos a priori por preconceitos, as informações úteis de Ellen White: “Precisamos
conhecer bem o que rejeitamos, antes de rejeitar, e conceder o benefício da dúvida,
especialmente quando as evidências são fortes. O fato é que, se ela realmente
foi inspirada por Deus e eu a rejeitar sem conhecer seus escritos, estarei
perdendo grandes oportunidades de ter contato com um conhecimento útil; se ela
não foi inspirada, estudar o que ela escreveu representará apenas perda de
tempo (ou não...). O que se exige do cristão é que, antes de descartar qualquer
pretenso profeta, o submeta aos testes bíblicos, a fim de evitar dois
problemas: (1) rejeitar um verdadeiro profeta ou (2) aceitar um falso. Para
finalizar, algo que me chama a atenção: especialmente nossos irmãos
pentecostais dão muito valor às profecias (o que não está errado,
evidentemente) e aceitam muitas pessoas como sendo profetas hoje em dia (mesmo
pessoas cujas profecias falham, o que é uma reprovação óbvia no primeiro
requisito/teste). Mas, para alguns desses, quando se fala em Ellen White, é um
Deus nos acuda! Não entendo isso, a não ser por uma coisa: preconceito. Meu
conselho aos duvidosos é: em lugar de ficar assistindo a vídeos com críticas
infundadas aos adventistas e a Ellen White ou reproduzindo ataques, vão à
fonte. Leiam o que ela escreveu. Se estiver em desacordo com a Bíblia e a
ciência, descarte. Mas, se estiver de acordo, agradeça a Deus pelo presente.”
(Everton Alves)
Descoberta pode comprovar existência do profeta bíblico Isaías
O profeta Isaías é um importante personagem bíblico,
tendo um livro próprio no Antigo Testamento e centenas de citações no Novo
Testamento. De acordo com os textos sagrados, ele viveu no reino de Judá entre
os séculos 8 e 7 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e
teve participação na defesa de Jerusalém contra o cerco do rei assírio
Senaqueribe. Entretanto, nenhuma evidência arqueológica de sua existência era
conhecida. Até agora. “Aparentemente nós descobrimos a impressão de um selo que deve ter
pertencido ao profeta Isaías, numa escavação científica, arqueológica”,
celebrou Eilat Mazar, pesquisadora do Instituto de Arqueologia da Universidade
Hebraica de Jerusalém. “Nós encontramos a marca de um selo do século 8 a.C. que
deve ter sido feita pelo próprio profeta Isaías a apenas três metros de onde
havíamos descoberto uma impressão de selo do rei Ezequias de Judá.”
A descoberta foi revelada nesta quinta-feira, em artigo publicado
na revista Biblical Archaeology Review.
O artefato foi encontrado num sítio arqueológico em Ophel, uma área entre o
Monte do Templo e a Cidade de Davi, usada na antiguidade como complexo
residencial da família real. Em escombros numa área adjacente a um edifício que
funcionou como padaria real, os arqueólogos encontraram 34 pequenas peças de
argila com impressões de selos, com os nomes de seus donos.
Os pedaços de argila tinham apenas um centímetro de diâmetro e
alguns estavam bastante danificados. Entre as peças, uma traz o nome do rei
Ezequias, cuja descoberta fora anunciada em dezembro de 2015. Os pesquisadores
também conseguiram identificar sete impressões pertencentes a familiares de uma
pessoa chamada Bes, provavelmente alguém importante na administração de Judá no
período. Mas o artefato mais intrigante tinha a inscrição “Yesha’yah“, o nome
em hebraico de Isaías, seguido pelas letras “N”, “V” e “Y”, as três primeiras
para a palavra “profeta” em hebraico (Navi, soletrada como nun-beit-yod-aleph).
“Porque a peça está levemente danificada no fim da palavra NVY,
não sabemos se originalmente ela terminava com a letra hebraica Aleph”,
afirmou Mazar. “O que resultaria na palavra em hebraico para “profeta” e
identificaria de forma definitiva como uma assinatura do profeta Isaías. A
falta dessa última letra, entretanto, deixa em aberto essa possibilidade. O
nome de Isaías, entretanto, está claro.
Segundo os textos sagrados, o reino de Judá era vassalo do reino
assírio, mas Ezequias se rebelou. Para conter a revolta, Senaqueribe cercou
Jerusalém com centenas de milhares de soldados em 701 a.C. Ezequias, então,
procurou o conselho do profeta, que recomendou resistir ao cerco, seguindo as
palavras de Deus.
“E quanto ao rei da Assíria, o seu exército não chegará a entrar
em Jerusalém, nem disparará as suas armas ali, nem mesmo desfilará perante as
suas portas, nem sequer construirá uma torre a partir da qual poderia atacar as
suas muralhas. Regressará à sua terra pelo caminho por onde veio sem ter
penetrado na cidade, diz o Senhor. Pela minha própria honra a defenderei, e
pela memória do meu servo David”, conta o livro de Isaías. “Nessa noite o anjo
do Senhor veio até o campo dos assírios e matou 185.000 soldados. Os que
ficaram vivos, quando se levantaram pela manhã, ficaram estupefatos perante
todos aqueles mortos na sua frente.”
O Antigo Testamento conta outros episódios em que Ezequias
procurou Isaías, indicando que o profeta era bastante próximo e um dos
principais conselheiros reais. “Se for o caso de a peça ser realmente do
profeta Isaías, então não seria surpresa encontrá-la perto de uma pertencente
ao rei Ezequias dada à relação simbiótica entre o profeta Isaías e o rei
Ezequias descrita na Bília”, disse Mazar.
(O Globo)
quarta-feira, fevereiro 21, 2018
A Atlântida e a migração para as Américas após o período do gelo
Ao
longo destes anos, tenho investigado alguns relatos históricos e evidências
arqueológicas relativos ao período pós-diluviano, inclusive tenho apresentado
algumas dessas evidências em minhas palestras. No livro Revisitando as Origens, mais especificamente no capítulo intitulado
A “Era do Gelo”: uma perspectiva bíblico-científica, encontram-se os seguintes dados quanto ao início e à duração da época do gelo: “De acordo com o
naturalista Harry Baerg, ‘a formação e o desaparecimento dos lençois de gelo
devem ter ocorrido entre o tempo do dilúvio e o começo da história registrada’.
É, portanto, razoável admitirmos que o início da idade do gelo coincida com a
história da Torre de Babel, construída no vale do Sinar (atual Iraque) entre
100 e 130 anos após o dilúvio. E o que dizer da Bíblia? Existem relatos
bíblicos sobre essa época do gelo? Podemos perceber na narrativa do livro de
Jó, nos capítulos 6:16; 38:22, 29 e 30, um clima mais frio no princípio da
história bíblica, datado entre 300-500 anos após o dilúvio.
“De
acordo com os cálculos feitos pelo mestre em Ciências Atmosféricas Michael
Oard, a época do gelo pode ter durado menos de mil anos, mais especificamente
500 anos de acúmulo de gelo e 70 anos para derreter as camadas ao longo
da borda, e cerca de 200 anos no interior do Canadá e da Escandinávia. Existem
evidências históricas relativas ao ano 1454 a.C. em que Partholan, líder do
segundo grupo a conquistar a Irlanda, teria desembarcado nessa região e
registrado o número de lagos e rios existentes. Pouco tempo depois, na segunda
colonização, havia um número bem maior de lagos e rios. Provavelmente, os
registros irlandeses antigos evidenciaram o derretimento das camadas de gelo do
norte europeu. Segundo Ussher, o dilúvio ocorreu em 2348 a.C. Portanto, a era
glacial teria terminado mil anos após a grande inundação” (Alves, 2018, p. 74, 75).
Ao
compararmos as evidências bíblico-científicas acima com registros da cultura de
povos pré-colombianos, percebemos que as peças vão se encaixando nesse enorme
quebra-cabeça acerca de nossas origens. O problema é que pesquisas nos
registros originais dessas culturas têm sido pouco valorizadas em nossos dias.
Porém, aceitamos o desafio e estamos trazendo para você, leitor, alguns relatos
que dificilmente você encontraria, tanto na língua inglesa quanto na língua
portuguesa.
Aparentemente,
parte da imigração para a América aconteceu por meio dos descendentes de Cam
durante o segundo milênio, devido a alterações climáticas, passando por ilhas
no Atlântico que devem ter submergido durante ou após o derretimento dos glaciais
no norte, ao fim da época do gelo.
Por
que descendentes de Cam? Alguns anos atrás, durante uma pesquisa sobre os
antigos povos celtas da Irlanda, nos deparamos com um texto que chamou nossa
atenção no livro AD 500: A journey
Through the Dark Isles of Britain and Ireland: “Por muito estranho que
possa soar, seus sábios insistem que os Celtas chegaram à Irlanda, em épocas
passadas, ao final de uma grande jornada que se iniciou na Ásia e passou pela
terra das pirâmides.” (Young, 2006, p. 67).
Textos
como esse nos deram uma noção de quanto as migrações poderiam ter se estendido, após o dilúvio, na Europa e no mundo a partir da Ásia. Mas será que teriam razão
os antigos celtas da Irlanda?
Já
nos séculos 15 e 16, pesquisadores percebiam as grandes migrações que ocorreram
nos primeiros séculos da história conhecida/registrada, inclusive mencionando
literalmente Cam: “Observa-se que Cam e seus descendentes foram os únicos que
viajaram e se espalharam por diversas regiões desconhecidas, pesquisando,
explorando e se estabelecendo nelas” (Hogen, 1971, p. 262).
Porém,
temos alguma prova de que essas migrações aconteceram? O autor Bill Cooper, em
seu livro Depois do Dilúvio, menciona
algo sobre a origem do povo chamado Mizraim que habitou a região do Egito: “Mizraim:
nome do povo que se localizou no Egito. Os modernos israelenses ainda usam esse
nome para aquele país. O nome está preservado como Msrm nas inscrições
ugaríticas; como Misri nos tabletes de Amarma, e nos registros assírios e
babilônicos respectivamente como Musur e Musri. Os árabes modernos ainda o
conhecem como Misr” (Cooper, 2008, p. 152).
Mas quem era esse povo, Mizraim? O mesmo autor nos dá a reposta e apresenta uma tabela mostrando a genealogia de Cam. Assim, respondemos à pergunta: “Será que essa convicção dos antigos celtas da Irlanda estaria certa?”, com outra: "Há alguma outra fonte histórica que registre a rota de migração do Egito para a Europa?"
No
Tratado único y singular del origen de
los indios del Perú, Méjico, Santa Fe y Chile, do autor Andrés Diego Rocha,
vemos a seguinte declaração: “O rei Osíris, senhor do Egito, que alguns dizem
ser este neto de Noé, e que viveu cerca de [...] veio do Egito (para a Espanha)
e matou a Gerion em uma batalha junto a Tarifa, e alguns dizem que Osíris
seguiu governando a Espanha durante muito tempo. No tempo em que viveu Osíris parece
que começaram a vir para esta América passando pela ilha da Atlântida” (Rocha,
1891, p. 141-142).
Em
que ano teria vivido Osíris, e de que forma o ano em que viveu estaria
relacionado com o período da época do gelo? Sobre esse personagem, Osíris,
encontramos o seguinte comentário no livro A
Torre de Babel e seus mistérios, de autoria de Guilherme Stein Jr.: “Osíris
foi um dos mais importantes deuses do Egito antigo. A origem de Osíris é
obscura, não sendo certo ter sido ele inicialmente um deus local de Abydos, no
Alto Egito, ou de Busíris, no Baixo Egito, ou se foi a personificação da
fertilidade, ou simplesmente um herói deificado. Em torno de 2400 a.C.,
entretanto, Osíris desempenhava um duplo papel – era ele tanto um ‘deus da
fertilidade’ quanto a personificação do ‘rei morto’” (Stein Jr., 2017, p. 63).
A
data aproximada em que Osíris viveu (2400 a.C.) coincide com o início do período
do gelo mencionado no início deste texto. Ademais, podem-se encontrar relatos
acerca do percurso e da passagem pelo Egito que, assim como Osíris, outros
povos teriam feito antes de alcançar seu destino final.
Aliás, evidências científicas atuais reforçam o argumento de que o povo do Egito fazia com facilidade a rota transatlântica antiga, mais de 2000 anos após a criação (veremos sobre isso no próximo texto da série). Em 1992, uma pesquisa inicial alemã encontrou vestígios de cocaína em múmias egípcias, e a autora do estudo foi muito criticada. (Balabanova, Parsche e Pirsig, 1992) Em 2009, porém, outro estudo reforçou os achados prévios alemães (Musshoff, Rosendahl e Madea, 2009) Sendo que a coca é uma planta original da América do Sul, isso evidencia que os antigos egípcios já percorriam essa rota, via oceano Atlântico. (Mallette et al., 2016) Em 2016, por sua vez, um estudo encontrou novos traços de cocaína em múmias e, desta vez, anunciando a possibilidade de migração humana via rota transatlântica antiga. (Görlitz, 2016)
Aliás, evidências científicas atuais reforçam o argumento de que o povo do Egito fazia com facilidade a rota transatlântica antiga, mais de 2000 anos após a criação (veremos sobre isso no próximo texto da série). Em 1992, uma pesquisa inicial alemã encontrou vestígios de cocaína em múmias egípcias, e a autora do estudo foi muito criticada. (Balabanova, Parsche e Pirsig, 1992) Em 2009, porém, outro estudo reforçou os achados prévios alemães (Musshoff, Rosendahl e Madea, 2009) Sendo que a coca é uma planta original da América do Sul, isso evidencia que os antigos egípcios já percorriam essa rota, via oceano Atlântico. (Mallette et al., 2016) Em 2016, por sua vez, um estudo encontrou novos traços de cocaína em múmias e, desta vez, anunciando a possibilidade de migração humana via rota transatlântica antiga. (Görlitz, 2016)
Isso
pode ajudar a entender as possíveis rotas de migração dos povos à América antes
e depois da Era do Gelo, já que existem antigos relatos de uma movimentação em
direção à América do Sul, os quais são bem anteriores aos mencionados pelos historiadores modernos. A propósito, recentemente se descobriram evidências, não apenas
de relatos, mas sim da arqueologia encontrada por imagens de satélites que
identificaram antigos geoglifos (terraplenagem provavelmente usada para
cerimônias), mostrando que a Amazônia pré-colombiana já foi uma grande
metrópole que abrigou uma população muito maior do que se imaginava
anteriormente, chegando-se a dezenas de milhões de pessoas. (de Souza et al.,
2018; Clement, 2015) Inclusive, a distribuição dos sítios arqueológicos em
potencial sugere que eles eram interconectados, vilarejos avançados e
fortificados.
A seguir, temos o relato de uma antiga imigração, via transatlântica, feito pelo cronista Francisco Lòpez de Gòmara, em 1555 (em espanhol antigo, mas a tradução está logo abaixo): “Tambien dizen algunos Indios ancianos, q se llamaua Uiaracocha, que quiere dezir gralla del mar, y quer trajo su gente por la mar. Zopalla en conclusión, afirman q poblo y allendo en el Cuzco, de dõde começarõ los Yngas a guerrear la comarca, y aun otras tierras muy lejos, y pusierõ allí la filla y corte de su império.” (Gòmara, 1555, Fo. 55).
A seguir, temos o relato de uma antiga imigração, via transatlântica, feito pelo cronista Francisco Lòpez de Gòmara, em 1555 (em espanhol antigo, mas a tradução está logo abaixo): “Tambien dizen algunos Indios ancianos, q se llamaua Uiaracocha, que quiere dezir gralla del mar, y quer trajo su gente por la mar. Zopalla en conclusión, afirman q poblo y allendo en el Cuzco, de dõde começarõ los Yngas a guerrear la comarca, y aun otras tierras muy lejos, y pusierõ allí la filla y corte de su império.” (Gòmara, 1555, Fo. 55).
Tradução:
“Também dizem alguns anciãos dos índios que ele se chamava Viracocha, que quer
dizer gralha do mar, e que trouxe seu povo pelo mar. Zopalla conclui e afirma
que o povo foi até o Cuzco, e de lá os incas guerrearam na comarca e ainda por terras
mui longínquas, e puseram nesse lugar a corte do seu império.” (Gòmara, 1555, Fo.
55).
O
autor Andrés Diego Rocha, no seu livro Origen
de los Indios defende a ideia de que os antigos espanhóis teriam migrado à
América em tempos remotos e, assim, seu retorno em 1492 seria somente uma retomada daquilo que já lhes havia pertencido no passado. Para isso ele usa até argumentos
linguísticos: “Do que acabamos de dizer, encontram-se na língua dos índios
muitas palavras semelhantes à antiga língua castelhana, tais como: Aca, alla,
ama, anca, ancho, casa, cacha, cala [...].” (Rocha, 1891, p. 78, 79).
E
a tal ilha, chamada pelos autores de Atlântida, ficava onde? É possível que essa "ilha" tivesse sido um pequeno continente ou um grupo de ilhas no Atlântico sobre a
dorsal mesoceânica. Segundo Platão, foi destruída por um desastre natural (possivelmente um terremoto ou Tsunami) em um único dia e noite. Teriam elas sido cobertas durante ou após o derretimento
dos gelos do norte?
Ela
não é mais mencionada após o segundo milênio antes de Cristo. Isso é
evidenciado num relato feito pelo cronista Andrés Diego Rocha, quando se refere
a um acontecimento durante o primeiro século, e os navegantes fenícios - um dos últimos povos a chegarem às Américas - não
mencionam mais a existência dessa(s) ilha(s): “Na época dos cartagineses [civilização que viveu entre os séc. IX e II a.C], um
grande argonauta chamado Hannon, e Plinio, no livro 2 de sua Historia Natural, capítulo 67, menciona
as largas viagens que fez este Hannon, desde Gibraltar até o último da Arábia,
passando duas vezes a Equinocial, e também menciona Arriano, de origem grega,
autor antigo, no livro 8 de seu comentário, indicando que o referido Hannon fez
outra navegação quase semelhante a que em nossos tempos fez Colombo, e de estas
últimas navegações, escreve o padre Maluenda em seu livro De AntiCristo, livro
3, capítulo 16 e Gòmara na Historia de
las Indias, na primeira parte.” (Rocha, 1891, p. 21).
Conforme continua o relato, ao
chegarem à América, eles comentam aspectos interessantes sobre
o que viram: “Chegaram a uma ilha muito ampla, abundante de pastagens, de
grande frescura e bosques, e muito rica, irrigada por rios, delimitados por montanhas
muito íngremes, tão largos e bordais que poderiam ser navegados” (Rocha, 1891,
p. 22).
Notemos
que o relato acima descreve “montanhas muito íngremes” - no plural -, o que nos
mostra que o escrivão não estava se referindo a uma ilha, mas provavelmente aos
Andes avistados pela navegação via rio Amazonas. E foi provavelmente dessa forma que aconteceu o
povoamento das Américas, após a dispersão de Babel e o fim do período do gelo,
não por povos primitivos e atrasados, mas sim por pessoas inteligentes capazes de grandes
construções arquitetônicas como os zigurates em forma de pirâmide.
Como foi mencionado, essa ilha chegava até às ilhas Barlovento: “E tendo então
transitado pela ilha Atlântida, que se continuava até as ilhas de Barlovento [...]”
(Rocha, 1891, p. 141, 142).
Essas
ilhas estão localizadas na região do Caribe. Assim, temos fortes indícios de
que uma das rotas naturais dos imigrantes teria sido em direção à América do
Sul.
(Everton Alves e Irwin Susanibar)
Referências:
Alves,
Everton Fernando. A "Era do Gelo": uma perspectiva
bíblico-científica. In:________. Revisitando as Origens. Maringá: Editorial
NUMARSCB, 2018, p.68-78.
Balabanova S, Parsche F, Pirsig W. First identification of drugs in Egyptian
mummies. Naturwissenschaften
1992; 79(5):358.
Clement CR, et al. The domestication of Amazonia before European conquest. Proc Biol Sci. 2015 Aug 7;282(1812):20150813.
Cooper B. Depois do dilúvio. 1. Ed. Brasília: SCB, 2008.
de Souza JG et al. Pre-Columbian earth-builders settled along the entire southern rim of the Amazon. Nat Commun. 2018 Mar 27;9(1):1125.
Görlitz D. The Occurrence of Cocaine in Egyptian Mummies - New research provides strong evidence for a trans-Atlantic dispersal by humans. Diffusion Fundamentals 2016; 26(2):1-11.
Clement CR, et al. The domestication of Amazonia before European conquest. Proc Biol Sci. 2015 Aug 7;282(1812):20150813.
Cooper B. Depois do dilúvio. 1. Ed. Brasília: SCB, 2008.
de Souza JG et al. Pre-Columbian earth-builders settled along the entire southern rim of the Amazon. Nat Commun. 2018 Mar 27;9(1):1125.
Görlitz D. The Occurrence of Cocaine in Egyptian Mummies - New research provides strong evidence for a trans-Atlantic dispersal by humans. Diffusion Fundamentals 2016; 26(2):1-11.
Gòmara,
Francisco Lòpez de. La historia general de las Indias y nuevo mundo, con mas la
conquista del Peru y de Mexico. Çaragoça, 1555; a abreviação “Fo. Lv” significa
fólios, o livro era como pergaminhos, portanto não tinha folhas.
Hogen
M. Early Anthropology in the Sixteenth and Seventeenth Centuries. Philadelphia:
Univ. Pensylvania, 1971.
Mallette JR, et al. Geographically Sourcing Cocaine’s Origin – Delineation of the Nineteen Major Coca Growing Regions in South America. Sci Rep. 2016; 6: 23520.
Musshoff F, Rosendahl W, Madea B. Determination of nicotine in hair samples of pre-Columbian mummies. Forensic Sci Int. 2009 Mar 10;185(1-3):84-8.
Mallette JR, et al. Geographically Sourcing Cocaine’s Origin – Delineation of the Nineteen Major Coca Growing Regions in South America. Sci Rep. 2016; 6: 23520.
Musshoff F, Rosendahl W, Madea B. Determination of nicotine in hair samples of pre-Columbian mummies. Forensic Sci Int. 2009 Mar 10;185(1-3):84-8.
Rocha,
Diego Andrés. Tratado único y singular del origen de los indios del Perú,
Méjico, Santa Fe y Chile. V. 1. Madrid: [Impr. de Juan Cayetano García], 1891.
Fondo Antiguo
Stein
Júnior, Guilherme. A Torre de Babel e seus mistérios. 2. Ed. Brasília: SCB,
2017.
Young,
Simon. A.D. 500: a journey through the dark isles of Britain and Ireland.
London: Phoenix, 2006.
terça-feira, fevereiro 20, 2018
Pesquisas com híbridos reforçam o que Ellen White escreveu no século 19
Pesquisadores
norte-americanos produziram um novo tipo de embrião híbrido de ovelhas com
humanos. O objetivo desse estudo não é criar um animal quimérico meio ovino
meio humano que saia andando por aí, mas, sim, doação de órgãos – ou seja, usar
partes cultivadas do corpo humano dentro de animais para transplante. Os
cientistas introduziram células-tronco humanas em embriões de ovelhas,
resultando em uma criatura híbrida que é mais de 99% ovelha. Todos os embriões
criados no experimento foram destruídos após 28 dias. “A contribuição das
células humanas até agora é muito pequena. Não é nada como um porco com rosto
humano ou cérebro humano”, disse o biólogo Hiro Nakauchi, da Universidade de
Stanford, em uma apresentação da pesquisa realizada em Austin, no Texas. Os
pesquisadores explicaram que, por contagem de células, apenas cerca de uma em
cada 10.000 (ou menos) nos embriões de ovinos são humanas. O experimento se
baseou em estudos anteriores da mesma equipe. Esses estudos envolveram colocar
células humanas em embriões de porcos em laboratório, com sucesso.
A
ideia do estudo é que esses embriões possam um dia fornecer uma solução única
para milhares de pessoas em listas de espera de doação de órgãos, sendo que a
maioria morre antes de conseguir um compatível. “Mesmo hoje, os melhores
órgãos, exceto se vierem de gêmeos idênticos, não duram muito tempo, porque o
sistema imunológico continuamente os ataca”, disse o biólogo reprodutivo Pablo
Ross, da Universidade da Califórnia.
Embora
isso ainda esteja muito distante de ser prático, órgãos produzidos em quimeras poderiam
ser uma forma de criar um estoque suficiente para atender à demanda de
transplantes. Poderíamos, por exemplo, colocar um pâncreas hibridizado de uma
ovelha ou porco em um paciente em necessidade.
Para
que o transplante funcione, contudo, os pesquisadores pensam que pelo menos 1%
das células do embrião precisariam ser humanas, o que significa que os
primeiros passos demonstrados nesse estudo ainda são preliminares.
Apesar
de não representar um perigo imediato, experiências como essa são sempre
controversas. Aumentar a proporção humana na mistura de uma quimera também
aumenta inevitavelmente as críticas éticas sobre o tipo de criatura que está
sendo criada, com o único propósito de ter seus órgãos essenciais colhidos. “Digamos
que, se nossos resultados indicarem que as células humanas vão ao cérebro do
animal, talvez nunca possamos levar isso em frente”, explicou Ross.
Não
há respostas fáceis para os tipos de questões que a pesquisa levanta, mas tendo
em vista que a lista de espera por órgãos é preocupante no mundo todo, não
devemos descartar de cara as possibilidades que as quimeras nos proporcionam.
“Todas essas abordagens são controversas, e nenhuma delas é perfeita, mas
oferecem esperança às pessoas que morrem diariamente”, conclui Ross.
(ScienceAlert, via Hypescience)
Nota:
No século 19, a escritora inspirada Ellen G. White escreveu algo sobre
experiências de “amalgamação” (hibridização) levadas a cabo pelos
antediluvianos e/ou pelo próprio Satanás (leia mais sobre isso aqui). Isso gerou muita discussão na época, justamente porque se desconheciam
maneiras de fazer isso que não fosse pela via sexual, por reprodução simples.
Nesse caso, “amalgamar” espécies diferentes como ser humano e ovelha realmente era
impossível. Pelo teor polêmico do assunto, ela foi orientada por um anjo a não
mais falar sobre isso. Naquela época, as possibilidades oferecidas pela
engenharia genética eram desconhecidas, no entanto, nada impede que os
inteligentíssimos, inventivos e longevos seres humanos que viveram antes do
dilúvio e mesmo os anjos caídos possam ter feito experiências genéticas de
hibridização, o que, também, levou Deus a dar um basta, tendo Ele considerado
essas misturas, essas “brincadeiras” com a vida um pecado gravíssimo. Claro que
as experiências de Hiro Nakauchi e outros têm como objetivo salvar vidas, mas
sabe-se lá o que pesquisadores menos éticos podem estar fazendo em laboratórios
por aí...
No
tempo de Ellen White, “amalgamação” genética realmente era algo impossível.
Hoje não mais. Pelo visto, essa simples mulher sem educação formal acertou mais
uma vez, o que deve, no mínimo, despertar respeito e curiosidade pelas coisas
que ela escreveu. E esse acerto dela acaba se constituindo em mais um sinal da
breve volta de Jesus, pois a Bíblia diz que os pecados que marcaram o período
imediatamente anterior ao dilúvio se repetiriam antes da volta de Jesus –
pecados como o de “brincar” com algo sagrado como a vida. [MB]
sexta-feira, fevereiro 16, 2018
Vida ao extremo seria vida “ancestral”?
Pensar
em formas de vida independentes de oxigênio até há algum tempo foi considerado
um evento absurdamente improvável. Mais improvável, por assim dizer, é que nós
e a grande maioria dos seres vivos sobrevivamos em alguns tipos de ambientes,
como em lugares onde as temperaturas são extremamente elevadas ou em depressões
nas quais não há oxigênio, o elemento base para a nossa respiração acontecer.
Entretanto, alguns organismos nos surpreendem, e fazem desse impasse uma
solução. É
o caso do Sulfolobus solfataricus, um microrganismo que habita fontes
termais localizadas ao lado de vulcões, onde a temperatura chega a 88 °C. Mas
não se compadeça, essa é a temperatura “ótima” para esse organismo viver. Em um
ambiente onde muitos literalmente cozinhariam, o Sulfolobus desfruta de
momentos de lazer como se estivesse a nadar tranquilamente em uma piscina
térmica. E, por viver nessas condições, esse curioso micróbio utiliza o enxofre
como sua fonte de energia, diferentemente dos outros seres.[1] Já o Pyrococcus
furiosus, outro “esquentadinho” da lista, tolera até 100 °C,[2] superando
seu colega citado acima. Mas ainda mais surpreendente é o Pyrolobus fumarii,
uma espécie de arqueobactéria, que habita as paredes das fendas termais no
fundo do oceano Atlântico, onde as temperaturas chegam a incríveis 113 °C.[3]
Por
outro lado, especificamente no outro extremo da situação, as coisas não
divergem, pois em 2012 uma equipe de cientistas encontrou um apanhado de
bactérias vivendo sob condições congelantes na Antártida,[4] em um lago salgado
sem luz e sem oxigênio, onde a temperatura chega a marcar -13 °C. Esse lago,
chamado Vida, possui concentrações elevadas de elementos nocivos para a maioria
dos organismos, como amoníaco, nitrogênio, hidrogênio, enxofre e óxido nitroso.
A
temperatura, todavia, não é a única condição de ambiente célebre (e extremo)
que chama a atenção. Mesmo o Mar Morto só é “morto” no nome, porque, contrário
ao que muitos pensam, há vida nele. Embora seja um ambiente onde as taxas de
salinidade são absurdas e onde os organismos expostos são violentamente
desidratados, a bactéria Haloarcula marismortui excede o padrão.[5]
Embora
esses microrganismos sejam minúsculos, o impacto de sua descoberta foi enorme:
houve uma revolução a partir de 1970 no modo como os organismos eram
classificados (as arqueobactérias, anteriormente incluídas no domínio Bacteria,
foram desmembradas para formar um novo domínio, o das Archaea[6]); a indústria
da biotecnologia ganhou campo e lugar com o achado desses novos seres com DNAs
capazes de suportar temperaturas elevadas de cozimento, necessárias para as
pesquisas obterem sucesso; e os evolucionistas se empolgaram com seres vivos
habitando ambientes extremos, aumentando as esperanças deles de que poderia existir
vida em outro lugar do Universo, intensificando assim as pesquisas
“astrobiológicas”.[7]
Mais
estreito foi o caminho que tomaram alguns cientistas, ao assumir a crença de
que, no suposto passado primitivo, a origem da vida tenha acontecido ao redor
de fontes hidrotermais, semelhantes aos habitats desse grupo especial de
organismos: os extremófilos.[8] A vida nos primórdios da Terra (como alguns
acreditam) possuía pouca luz solar, não havia fotossíntese e, portanto, pouco
ou quase inexistente oxigênio.[9, 10]
A
revelação da existência dos extremófilos foi muito bem recebida pela comunidade
científica que antecipadamente comemorou a vitória sobre os criacionistas,
pois, afinal de contas, por que Deus criaria organismos para viver em ambientes
extremos? Por que o Criador, em sua infinita inteligência, criou seres tão
diferentes aos habituais? Apesar desse entusiasmo, os extremófilos levantam
novas dificuldades para os evolucionistas. Se eles tinham perguntas a fazer,
também têm a responder: como se explica o motivo para um organismo ter evoluído
a fim de sobreviver em ambientes extremos tão especializados como as chaminés
de rocha nas profundidades dos oceanos que, se alcançarem os 350 °C, entram em
erupção? Alguns cientistas alegam que foi exatamente em tais circunstâncias que
a vida no planeta se originou – em um ambiente quente e com pouco oxigênio,
banhado nos fluidos ricos em minerais que brotam das aberturas hidrotermais.
Assim vivem os archaea, como (talvez) poderiam ter vivido há 3,5 bilhões de
anos.[11] Mas nada mais nada menos que o pai das experiências modernas sobre a
origem da vida, Stanley Miller, apontou que os “blocos de construção” da vida
são muito instáveis para um início de vida quente.[12]
E,
de qualquer forma, não existem microrganismos vivendo somente em ambientes de extremo calor. Como explicar a evolução
das archaeas que vivem nas calotas polares, em ambientes hipersalinos ou
ácidos, em ambientes desérticos ou mesmo na densa atmosfera?[13] E ainda mais
curioso e desafiador é o fato de que alguns extremófilos são capazes de
suportar extremos físicos além de qualquer coisa presente no ambiente natural.
Por exemplo, a bactéria Deinococcus radiodurans foi encontrada em
latas de carne que foram esterilizadas (ou assim se pensou) com radiação
gama.[14] Enquanto milhares de rads de radiação ionizante são suficientes para
matar uma pessoa adulta, essa bactéria pode sobreviver a 12 milhões de rads! De
acordo com a teoria da evolução, um organismo possuirá apenas os atributos de que
precisa para sobreviver. Então, onde a Deinococcus vivia que precisava
suportar 12 milhões de rads de radiação gama, sendo que a radiação natural na
Terra fica numa fração muitíssima abaixo desse valor? A melhor “escapatória”
para essa interrogação foi sugerir que supostamente esse organismo evoluiu para
resistir à extrema secura e, portanto, a resistência à radiação é apenas uma
consequência fortuita desse processo evolutivo.[15]
Em
contraste, para os criacionistas que acreditam na Bíblia, a habilidade da vida
para “conquistar” e habitar ambientes extremos não deve ser tão surpreendente, já
o Senhor ordenou que os seres vivos deveriam se multiplicar e “preencher” a
Terra (Gênesis 1:28). E quando levamos em consideração esse texto, podemos compreender
outros exemplos de criaturas que ocupam os locais mais severos do planeta,
quebrando ainda mais os argumentos dos evolucionistas e eliminando qualquer
pseudoparadigma para os criacionistas. Pois não são apenas organismos
unicelulares (uma única célula) que vivem nesses ambientes hostis, mas
criaturas multicelulares (muitas células) também. Por exemplo, o verme de
Pompeia (Alvinella pompejana) vive em tubos que ele constrói ao
lado das chaminés fumegantes mencionadas anteriormente. A temperatura dentro
desses tubos foi medida em 85 °C [16] e também foi relatado um caso de um
desses vermes que abandonou seu tubo e aderiu em torno da sonda de temperatura
dos pesquisadores, mostrando 105 °C.[17] E o que dizer do Hesiocaeca methanicola
que foi encontrado vivendo no fundo do mar no Golfo do México, em uma mistura
cristalina de água, metano e outros hidrocarbonetos numa temperatura
relativamente baixa.[18] Essas criaturas se adaptaram para viver em uma parede
de gelo feita de metano, onde elas lentamente se enterram em seu habitat. Mas
não é muito esforço simplesmente para ter uma moradia? Como um pesquisador
comentou: “Por que esses vermes trocaram uma vida boa na lama por uma vida no
gelo é um enigma.”[17, tradução do autor]
Mas
de todos os organismos até agora identificados que podem viver em ambientes
hostis, os mais resistentes do planeta são, de longe, os tardígrados. Você pode
congelá-los, fervê-los, secá-los, não alimentá-los por semanas e ainda
colocá-los no vácuo – eles sobreviverão. Cerca de 700 espécies de tardígrados
já foram identificadas em lugares que vão desde os picos congelantes do
Himalaia até os desertos mais quentes e secos. Como resistem a tais extremos do
ambiente? Eles podem “desligar” seu metabolismo em condições desfavoráveis. Quando
os ambientes ficam insuportavelmente quentes, ou frios ou secos, por exemplo,
muitos tardígrados enrolam-se no formato de um barril, que é sua armadura de
resistência.[19] Eles então fazem os preparativos bioquímicos para se “fechar”
(mesmo a respiração cessa completamente). Mais tarde, quando as circunstâncias
favoráveis retornam, o tardígrado se desenrola e a vida continua como antes,
normalmente.
Até
onde está conhecido, o registro de maior sobrevivência (neste caso, sem água)
foi de 120 anos para tardígrados retirados do musgo seco de um museu na
Itália.[20]
E
os biólogos ficam espantados com o tipo de tratamento de laboratório que esses
animais são capazes de suportar (muitas vezes, muito pior do que qualquer
condição que poderiam experimentar na Terra). Por exemplo, eles “ressuscitaram”
após terem sido congelados com hélio líquido (-272 °C), apenas uma fração acima
do zero absoluto (-273 °C), a menor temperatura possível. Em outro exemplo,
eles sobreviveram sendo aquecidos a 151 °C. Também resistiram após serem
disparados raios-x com uma intensidade 250 vezes mais forte do que a frequência
que mataria um ser humano. E há muitas outras coisas impressionantes que
desconhecemos que essas criaturas conseguem realizar.[20]
Como
apontado antes, a capacidade dos tardígrados de sobreviver ao serem submetidos
a tratamentos de laboratório tão extremos (radiação, baixa temperatura, pressão
hidrostática), muito mais severos que qualquer ambiente terrestre, apresenta
uma clara dificuldade para a teoria evolutiva. E não são apenas os tardígrados.
Com um aumento na pesquisa e exploração dos microrganismos extremófilos e
outros organismos capazes de suportar condições muito mais severas do que em
qualquer lugar da Terra, o desafio para os evolucionistas torna-se ainda mais
intratável. Isso ocorre porque a seleção natural só pode selecionar as
características necessárias para a sobrevivência imediata. Consequentemente,
não se pode esperar que a evolução “invente demais”, transformando criaturas
que possam suportar uma série de ambientes que nunca enfrentaram.
Para
os cristãos, porém, o “excesso de design” dessas criaturas revela um Designer
(Romanos 1:20), e não é de se surpreender que Deus também tenha incorporado em
alguns seres vivos a capacidade de se deslocar e “preencher” o mundo inteiro,
tal como Ele havia ordenado (Gênesis 1). E, de fato, vemos hoje essa ordem se
cumprindo, ao encontrarmos vida desde os ambientes mais severos do oceano até o
topo da montanha mais densa. De polo a polo, mesmo nas extremidades da Terra, a
natureza revela seu Criador.
(Weliton Augusto
Gomes é biólogo e diretor de ensino e pesquisa do Núcleo Curitibano da Sociedade Criacionista Brasileira [NC-SCB])
Referências:
[1]
Brock, T. D. et al (1972). Sulfolobus: a new genus of sulfur-oxidizing
bacteria living at low pH and high temperature. Archiv für Mikrobiologie,
84(1), 54-68.
[2]
Fiala, G., & Stetter, K. O. (1986). Pyrococcus furiosus sp. nov.
represents a novel genus of marine heterotrophic archaebacteria growing
optimally at 100 C. Archives of Microbiology, 145(1), 56-61.
[3]
Blöchl, E. et al (1997). Pyrolobus fumarii, gen. and sp. nov.,
represents a novel group of archaea, extending the upper temperature limit for
life to 113 C. Extremophiles, 1(1), 14-21.
[4]
Murray, A. E. et al (2012). Microbial life at− 13 C in the brine of an
ice-sealed Antarctic lake. Proceedings of the National Academy of Sciences,
109(50), 20626-20631.
[5]
Oren, A. et al (1990). Haloarcula marismortui (Volcani) sp. nov., nom.
rev., an extremely halophilic bacterium from the Dead Sea. International
Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, 40(2), 209-210.
[6]
Para uma maior compreensão dessa mudança na classificação biológica e os
estudos realizados por Carl Woese, ver: Woese, C. R. et al (1990). Towards a
natural system of organisms: proposal for the domains Archaea, Bacteria, and
Eucarya. Proceedings of the National Academy of Sciences, 87(12), 4576-4579.
[7]
Des Marais, D. J. et al (2008). The NASA astrobiology roadmap. Astrobiology,
8(4), 715-730.
[8]
Rothschild, L. J., & Mancinelli, R. L. (2001). Life in extreme
environments. Nature, 409(6823), 1092.
[9]
Gilbert, W. (1986). Origin of life: The RNA world. Nature, 319(6055), 618.
[10]
Lal, A. K. (2008). Origin of life. Astrophysics and Space Science, 317(3-4),
267-278.
[11]
Willmer, P. G. (2000). Extremophiles in the raw. Nature 408(6814):771.
[12]
Miller, S. L. & Lazcano, A. (1995). The origin of life—did it occur at high
temperatures?. Journal of Molecular Evolution, 41(6), 689-692.
[13]
DeLeon-Rodriguez, N. et al (2013). Microbiome of the upper troposphere: species
composition and prevalence, effects of tropical storms, and atmospheric
implications. Proceedings of the National Academy of Sciences, 110(7),
2575-2580.
[14]
Cox, M. M., & Battista, J. R. (2005). Deinococcus radiodurans—the
consummate survivor. Nature Reviews Microbiology, 3(11), 882.
[15]
Travis, J. (1998). Meet the superbug: Radiation‐resistant bacteria may clean up the
nation's worst waste sites. Science News, 154(24), 376-378.
[16]
Desbruyères, D. et al (1998). Biology and ecology of the “Pompeii worm”(Alvinella
pompejana Desbruyères and Laubier), a normal dweller of an extreme deep-sea
environment: a synthesis of current knowledge and recent developments. Deep Sea
Research Part II: Topical Studies in Oceanography, 45(1-3), 383-422.
[17]
Dor, S. (1998) Extreme worms. New scientist, 159(2144), 48-50.
[18]
Fisher, C. R. et al (2000). Methane ice worms: Hesiocaeca methanicola
colonizing fossil fuel reserves. Naturwissenschaften, 87(4), 184-187.
[19]
Vecchi, M. et al (2018). The Microbial Community of Tardigrades: Environmental
Influence and Species Specificity of Microbiome Structure and Composition.
Microbial ecology, 1-15.
[20]
Durvasula, R. V., & Rao, D. S. (Eds.). (2018). Extremophiles: From Biology
to Biotechnology. CRC Press.
domingo, fevereiro 11, 2018
Histórias bíblicas na cultura dos povos pré-colombianos
Ao analisar os registros históricos preservados por nativos pré-colombianos
percebemos que eles acreditavam em um Criador Supremo e que suas lendas
registram um dilúvio global. Percebemos também que muitos detalhes dessas
lendas são estranhamente parecidos com as narrativas bíblicas do Gênesis,
sendo inevitável uma associação com as terras e os povos da Bíblia. Depois
de considerar vários povos antigos, a conclusão mais plausível é a de que boa parte dos nativos americanos herdaram da cultura mesopotâmica tradições que mostram claramente sua ligação com esta cultura e ainda a relacionam com tradições hebraicas. Esta similaridade se dá não só pela semelhança das
lendas nativas com as histórias bíblicas, como também por alguns rituais. A
seguir, apresentaremos alguns trechos bem curiosos de registros históricos que encontramos ao longo de nossa pesquisa.
A criação do Mundo - Os nativos peruanos e andinos preservaram relatos bíblicos sobre a
Criação do Mundo, Adão e Eva e sobre Noé e sua mulher: “Isto é
o que contam os índios peruanos acerca de sua origem, de acordo com a lista dos
autores mencionados acima. Do qual o que podemos vender por verdade é que, sem
dúvida, os índios tiveram notícias da Criação do mundo e da formação de Adão,
Eva, da Inundação e de Noé e sua mulher” (García, 1729, p. 334, 335).
Figura 1: Escudo inca, um símbolo que
retrata e registra a origem desse povo, mostrando que eles saíram de uma
montanha após o dilúvio (Fonte: Poma de Ayala, 1941).
Alguns conceitos de saúde do
Éden bíblico - Aqui
percebemos como os Incas viviam mais de cem anos, comiam pouca gordura e outros
alimentos, e casavam tarde: “De
como esses incas e demais senhores. Principais ou yns. As pessoas particularmente antigas fizeram e aumentaram sua
saúde e anos de vida entre 250 e 150 anos, eles duravam tanto porque tinham uma
ordem e regras de seguir e criar seus filhos. Quando garoto, não lhe deixavam
comer coisa de sebo [gordura] ou nada de mel ou pimenta, sal e vinagre, nem lhe
deixavam ter meninas nem dormir com uma mulher até ter cinquenta anos, nem se
sangrava e se purgava [expurgava, limpava] todos os meses com três pares de
bilca tauri [sementes purgativas
usadas pelos Incas, feitas em líquido, usadas como medicamento oral para induzir o
vômito em rituais] e misturado com macay [erva medicinal purgativa] que
se tomava pela boca a metade e a outra metade se fazia enema [líquido que se
introduz no ânus]; com isso, aumentaram a saúde e a vida. Até os trinta anos
não tinham mulher, nem marido, nem cargo e, assim, tinham grande força para
guerrear” (Poma de Ayala, 1941, p. 118, 119).
Figura
2:
Capa do livro El Primer Nueva Corónica y Buen Gobierno, de uma edição de 2011, porém o desenho é o mesmo da
versão original (Fonte: Poma de Ayala, 1941).
Alimentação
apenas duas vezes ao dia - Isolados na América, alguns grupos mantiveram
os costumes após o dilúvio. A refeição principal era a da parte da manhã e
sucos e líquidos durante todo o restante do dia e um lanche no meio da tarde,
exatamente como aconselha a escritora norte-americano Ellen White: “Como isso era conhecido, o Atabalipa
pediu que lhe dessem de comer, e ele ordenou que todo seu povo fizesse o mesmo.
Era costume comer pelas manhãs, e
assim todos os nativos desse reino. Os Senhores, depois de ter comido, como
digo, passavam o dia todo bebendo até a
noite que comiam poucas coisas” (Pizarro,
1917, p. 31).
Leis do
Antigo Testamento - No trecho a seguir, extraído do livro Historia General del Perú, pode-se
perceber semelhanças entre as leis dos Incas e a lei de Levítico: os incas não
comiam sangue: “Que os da cidade de Cuzco de
forma alguma comessem sangue ou qualquer coisa feita dele. Os leprosos e
aqueles que eram porcos, sujos e nojentos, que os expulsassem do meio do povo,
para que não contaminassem a outros, e o mesmo para aqueles que tinham
enterrado algum falecido em sua casa. Ele ordenou que aqueles que derramassem a
semente genital [esperma] fossem expulsos da cidade por um mês e, no início do
outro mês, retornassem à cidade e que o pontífice ou o feiticeiro fizessem
sacrifícios por ele e ou o que estivesse dormindo houvesse feito o mesmo, e
primeiro entrassem desnudo em água fria e se lavasse. Que as mulheres tivessem ou andassem com companhia
e vivessem honestamente. Os senhores ou ricos poderiam ter quantas quisessem
e pudessem sustentar desde que fosse com o consentimento do Inca” (De Murúa,
1962, [Fol. 247], p. 90).
Neste trecho é possível perceber que, mesmo
antes dos hebreus, o sangue tinha significado: “Os pontífices e os sacerdotes das huacas [santuário,
templo] sacrificavam e ofereciam uns carneiros, que tinham dedicado para esse
fim [sic], branco, sem mancha ou defeito [sic] qualquer” (De Murúa,
1962, [Fol. 256], p. 104).
Notamos também que eles vieram à América
logo depois do dilúvio, centenas de anos antes de Abraão. Naquela altura, a lei
já estava estabelecida (seja oral ou escrita) e podemos notar isso por meio da
sua guarda do sábado: “Quanto ao terceiro preceito de santificar o sábado, eles
tinham suas festas em dias designados, nos quais faziam grandes sacrifícios, e
eles descansavam, particularmente no Peru. Os índios Totones, que são da Nova
Espanha, estavam obrigados a ir ao Templo no
sábado, à cerimônia que acontecia lá e ao sacrifício que ofereciam aos seus
deuses” (García, 1729, p. 114).
Figura 3: Capa do
livro Origen de los Índios de el Nuevo Mundo, e Indias
Occidentales (Fonte:
García, 1729).
Torre
de babel - Várias tradições similares à da Torre de Babel
são encontradas na América Central. Uma em especial relacionada aos Astecas diz
que Xelhua, um dos sete gigantes salvos do dilúvio, construiu a Grande Pirâmide
de Cholula – na América central – para desafiar o Céu. Os deuses destruíram-no
com fogo e confundiram a linguagem dos construtores. No livro Ophiolatreia vemos o seguinte:
“Quando as águas diminuíram, um
dos gigantes, chamado Xelhua, apelidado de ‘Arquiteto’, foi a Cholula, onde,
como memorial do Tlaloc, que serviu para um asilo para si e para seus seis
irmãos, ele construiu uma colina artificial em forma de uma pirâmide. Ele
ordenou que os tijolos fossem feitos na província de Tlalmanalco, ao pé da
Serra de Cecotl, e, para carregá-los até Cholula, ele colocou uma fila de
homens que os passou de mão em mão. Os deuses viram, com ira, um edifício cujo
topo chegava às nuvens. Irritado pela tentativa atrevida de Xelhua, lançaram
fogo na pirâmide [na tradição asteca seriam meteoritos ‘que haviam caído do céu envolvidos em uma bola
de fogo’]. Numerosos trabalhadores morreram. O trabalho
foi interrompido e o monumento foi depois dedicado para Quetzalcóatl”
(Jennings, 1889, p. 63).
Figura
4:
Segunda Edad. (vida no segundo milênio após o dilúvio). É curioso que as
construções de pedra já estavam em pé. Isso significa que as construções megalíticas
não foram obra dos Incas (Fonte: Poma de
Ayala, 1941).
Uma
inscrição original em Nahuatl, a língua asteca, que havia sido escrita pelo
escriba nativo, abaixo de uma ilustração nativa encontrada no templo de
Cholula, dizia: “Nobres e senhores, aqui vocês têm seus
documentos, o espelho do seu passado, a história de seus antepassados, que,
fora de medo de um dilúvio, construiu este lugar de refúgio ou asilo para a
possibilidade de recorrer a tal calamidade” (Nuttall, 1901, p. 269).
Outro relato, atribuído pelo historiador
nativo Fernando de Alva Cortés Ixtilxochitl aos antigos Toltecas, diz que
depois de os homens terem se multiplicado após um grande dilúvio, eles erigiram
um alto zacuali ou torre, para se preservarem no caso de um segundo dilúvio.
Contudo, as suas línguas foram confundidas e eles foram para diferentes partes
da terra (Ixtilxochitl, 1640).
O Sol “parou”
por mais de 20 horas - Josué 10:12-14 relata um episódio que teria acontecido cerca de 1400
a.C.: “No dia em que o Senhor entregou os amorreus aos israelitas, Josué
exclamou ao Senhor, na presença de Israel: ‘Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó
Lua, sobre o vale de Aijalom!’ O Sol parou, e a Lua se deteve, até a nação
vingar-se dos seus inimigos, como está escrito no Livro de Jasar. O Sol parou
no meio do céu e por quase um dia inteiro não se pôs.”
O incidente, cuja singularidade é reconhecida na Bíblia (“Não existiu nenhum dia
como esse, antes ou depois”), ocorreu do outro lado da
Terra, em
relação aos Andes situado na América do Sul, descrevendo um fenômeno oposto, mas complementar astronomicamente
ao que ocorrera no Peru. Ao contrastarmos os dois relatos, percebemos que, em
Canaã (Oriente Médio), o Sol não se pôs por cerca de vinte horas; nos Andes, o
sol não se levantou pelo mesmo período de tempo (Sitchin, 1990).
Segundo Montesinos, quando “os bons costumes foram esquecidos e as
pessoas se entregaram a todos os tipos de vícios”, houve um dia em que “não
houve aurora por vinte horas” (Montesinos, 1882). Em outras palavras, a noite não terminou no horário de sempre e o
nascer do sol foi adiado durante vinte horas. Depois de grande comoção, confissões
de pecados, sacrifícios e orações, o sol finalmente apareceu. No livro Memorias Antiguas Historiales y Políticas
del Perú, encontra-se a seguinte citação: “Nos tempos do rei Titu Yupanqui
Pachacuti “dizem os antigos amautas, e estes aprenderam com seus patriarcas e
preservaram na memória pelos seus quipos [sistema binário ou código de leitura]
para eterna memória, que o sol se cansou de caminhar e se escondeu dos vivos, e
como castigo sua luz sumiu por mais de vinte horas. Os índios gritaram chamando
a seu pai o Sol; fizeram grandes sacrifícios para acalmá-lo, oferecendo muitos
cordeiros e donzelas e moços, e quando saiu a luz do Sol após as horas
mencionadas, lhe agradeceram pelas bênçãos recebidas” (Montesinos, 1882, p. 57,
58).
Figura 5: Um Amauta usando um “quipu”;
embora o desenho seja o da versão original, esta imagem foi retirada de uma reedição de 2011 (Fonte:
Poma de Ayala, 1941).
Houve muitas
interpretações desse fenômeno por cientistas. Em um estudo recente, os pesquisadores
atribuíram o evento a um eclipse, aliás acreditam que podem ter identificado a
data do mais antigo eclipse solar já registrado. (Humphreys e Wadington, 2017) De acordo com eles, “essa interpretação é apoiada pelo fato de que a
palavra hebraica traduzida como ‘parado’ tem a mesma raiz que uma palavra
babilônica usada em textos astronômicos antigos para descrever os eclipses”.
Eles sugerem que o evento tenha ocorrido no dia 30 de outubro de 1207 a.C. - exatamente 3.224
anos atrás. Para tanto, os pesquisadores
da Universidade de Cambridge usaram uma combinação de texto bíblico e texto
egípcio antigo para entender a data do suposto eclipse solar.
Em outro estudo, com base em dados obtidos da Nasa, cientistas da
Universidade Ben-Gurion do Neguev, em Berbesá, Israel, descobriram não apenas
que o relato bíblico descrito em Josué 10:12-14 realmente aconteceu, como
também, segundo eles, o dia e a hora exatos do fenômeno (Yitzchak, Weistaub e Avneer, 2017). A equipe de
cientistas, chefiada pelo Dr. Hezi Yitzhak, também interpretou o
acontecimento como sendo um eclipse, e que ele teria acontecido exatamente
em 30 de outubro de 1207 a.C., às
16h28.
Para tanto, os pesquisadores interpretaram a palavra
hebraica “dom” como “tornou-se escura”
em vez do que tradicionalmente significava como “ficar parado”. Com base nos dados obtidos,
eles descobriram que apenas um eclipse aconteceu entre os anos 1500 e 1000 a.C.,
o que coincide com a chegada dos israelitas ao local onde ocorreu a batalha
descrita na Bíblia. Os resultados desse estudo foram publicados na revista Beit Mikra:
Journal for the Study of the Bible and Its World.
Para mim, esse fenômeno não pode ter sido um eclipse, porque nenhum
eclipse dura tanto tempo. Além disso, os povos incas tinham conhecimento de
tais eventos periódicos. A história não diz que o Sol desapareceu. Apenas
afirma que “não houve aurora” por vinte horas. Foi como se o Sol, onde
quer que tenha se escondido, tivesse parado.
(Everton Alves e Irwin Susanibar)
Referências:
De Murúa, Martín. Historia General del Perú, Origen y descendencia de los incas. V.
1. Colección: Fondo Antiguo - Aurelio Miró Quesada. Madrid: Impr. Don Arturo
Gongora, 1962.
García,
Gregorio. Origen de los indios de el
Nuevo Mundo, e Indias Occidentales. Segunda Edición. Colección: Fondo
Antiguo. Madrid: En la imprenta de F. Martinez Abad, 1729. 336p.
Humphreys, Colin; Wadington, Graeme. Solar eclipse of 1207 BC helps to date
pharaohs. Astronomy & Geophysics 2017; 58(5):5.39–5.42.
Ixtilxochitl, Fernando de Alva Cortés. Historia Chichimeca. 1640.
Jennings,
Hargrave.
Ophiolatreia: An Account of the Rites and Mysteries Connected With the Origin,
Rise and Development of Serpent Worship. Capítulo 6. Privately Printed, 1889. 103p. Disponível em:
https://archive.org/details/ophiolatreiaacco00nppr
Montesinos, Fernando de. Memorias antiguas historiales y políticas del Perú.
Madrid : Impr. de M. Ginesta, 1882. 259p.; essa primeira obra foi copiada de um
manuscrito do ano 1644 que se encontra na biblioteca da Universidade Sevilla e
cujo título é: “Ophir de España; mémorias historiales políticas del Pirv...”
Nuttall, Zelia. The Fundamental
Principles of Old and New World Civilizations. V. 2. Cambridge, Mass.: Peabody
Museum of American archaeology and ethnology, 1901. 602p. Disponível em: https://archive.org/stream/fundamentalprin02nuttgoog#page/n14/mode/2up
Pizarro, Pedro. Descubrimiento y conquista del Perú, seguida de la relación sumaria acerca de la conquista por el Padre Fr. Luis Naharro, de la Orden de la Merced. Lima: Impr. y Libr. Sanmartí y Cía., 1917. 213p. Colección: Fondo Antiguo - Porras Barrenechea.
Poma de
Ayala, Felipe Guamán. El Primer nueva corónica y buen gobierno. (1615/1616). Colección: Fondo Antiguo. La Paz: Instituto Tihuanacu de Antropología, Etnografía
y Prehistoria, 1941. 1169p.
Sitchin, Zecharia. The Lost Realms. Livro 4
da série de Crônicas da Terra. Harper Collins, 1990, 298p.
Capítulo 7 “O dia em que o Sol parou”.
Yitzchak, Hezi; Weistaub, Daniel; Avneer, Uzi. A sun in Gibeon, and a moon in the valley of Ayalon - Solar eclipse occurred on October 30, 1207 BC? Beit Mikra: Journal for the Study of the Bible and Its World 2017; 62(1):196-238. Disponível em: http://www.boker.org.il/meida/negev/desert_biking/personal/BM_61-2_196_238.pdf
Yitzchak, Hezi; Weistaub, Daniel; Avneer, Uzi. A sun in Gibeon, and a moon in the valley of Ayalon - Solar eclipse occurred on October 30, 1207 BC? Beit Mikra: Journal for the Study of the Bible and Its World 2017; 62(1):196-238. Disponível em: http://www.boker.org.il/meida/negev/desert_biking/personal/BM_61-2_196_238.pdf