terça-feira, fevereiro 06, 2018

Como seria o mundo se a Terra fosse realmente plana?

Essa pergunta pode parecer ridícula para muitas pessoas, e sua resposta, óbvia. Ou talvez não? A teoria de que a Terra é plana ganhou adeptos nos últimos anos, com a primeira conferência de “terraplanistas” realizada no fim do ano passado nos Estados Unidos. Há inclusive celebridades de Hollywood que a defendem. E, apesar de haver muitas provas (gráficas e físicas) de que o nosso planeta é redondo, o debate ressurge com frequência. Por isso, a fim de acabar com as especulações, o geofísico James Davis, da Universidade de Columbia, em Nova York, membro do Observatório Terrestre Lamont-Doherty, idealizou um cenário de como seria a Terra se ela fosse de fato plana, tendo como base pressupostos dos terraplanistas.

1. A gravidade. Quem acredita que a Terra tem a forma de um disco parte do pressuposto de que a gravidade exerceria sua força diretamente para baixo, mas não é assim que funciona esse fenômeno. Davis esclarece que, segundo o que sabemos sobre a força gravitacional, ela puxa tudo para o centro. Então, quanto mais longe do centro do disco, mais a gravidade puxaria as coisas horizontalmente. Isso teria efeitos estranhos, como sugar toda a água do mundo para o centro do disco, e fazer com que árvores e outras plantas crescessem diagonalmente, já que elas se desenvolvem na direção oposta à da gravidade. Caminhar também seria uma tarefa complicada, com uma força que nos empurraria rumo ao centro quando tentássemos chegar à borda do disco. Seria como subir uma encosta muito inclinada. [Para resolver esse sério problema, os terraplanistas preferem negar o óbvio e dizer que a gravidade simplesmente não existe. E se dissermos que desde Isaac Newton esse é um assunto resolvido, eles dirão que Newton não existiu ou que era louco ou alquimista ou... O negócio é agir como os evolucionistas e salvar a teoria dos fatos. – MB]

2. O Sistema Solar. O modelo de Sistema Solar que prevalece hoje situa o Sol no centro desse conjunto, onde a Terra circula ao redor da estrela – graças a uma órbita que nos aproxima e nos distancia desse astro de acordo com a época do ano. Os terraplanistas colocam a Terra no centro do Universo, onde o Sol opera como uma lâmpada que irradia luz e calor de lado a outro do planeta, mas não falam de uma órbita. Davis acredita que, sem essa órbita ou a força gravitacional do Sol, nada impediria que o planeta fosse expelido para fora do Sistema Solar. Uma Terra plana teria outra incongruência. Se o Sol e a Lua circulam sobre o planeta, seria possível haver dias e noites, mas não as estações, eclipses e outros fenômenos astronômicos que dependem do formato esférico da Terra. Além disso, o Sol teria que ser menor do que a Terra, caso contrário poderia nos queimar ou cair sobre nós. Davis destaca, no entanto, haver medições suficientes que mostram que o Sol tem 100 vezes o diâmetro da Terra. [Caso o Sol flutuasse dentro da nossa atmosfera – e não sei como ele não teria queimado todo o nosso oxigênio – outra coisa que não haveria aqui é pôr do sol.]

3. Campo magnético. As leis da física que conhecemos hoje em dia estabelecem que o núcleo da Terra gera seu campo magnético. Em um planeta plano, segundo os defensores desse modelo, esse campo não existe. Sendo assim, diz o especialista, não haveria uma atmosfera, o que faria com que o ar e os mares fossem parar no espaço. É o que ocorreu em Marte quando o planeta perdeu seu campo magnético [quanto a Marte, já é especulação]. [Sem campo magnético estaríamos mortos, pois é ele quem nos protege das intensas e letais radiações solares. Ah, esqueci: essas radiações também não existem...]

4. Atividade tectônica. O movimento das placas tectônicas e os movimentos sísmicos são explicados apenas com uma Terra redonda. “Só em uma esfera as placas se encaixam de uma forma sensata”, diz Davis. Os movimentos das placas de um lado da Terra afetam os movimentos no outro lado. As áreas da Terra que criam formações para cima da crosta terrestre, como a Cordilheira dos Andes, são contrabalançadas por outras que formam depressões, como os vales. Nada disso seria explicado adequadamente com uma Terra plana. Não seria possível entender por que existem montanhas ou terremotos. Também teria que haver uma explicação para o que acontece com as placas na borda do mundo. Poderíamos imaginar que elas cairiam, mas os terraplanistas defendem que existe um “muro de gelo” na borda, criado pela Antártida, algo muito difícil de acreditar, opina Davis. [Aliás, não sei por que depois de tantos anos ninguém ainda trouxe uma foto dessa borda e por que nenhum avião bateu lá. Até hoje não conheci nenhum piloto de aviação comercial que se declarasse terraplanista...]

Para concluir, diz o especialista, se vivêssemos em uma Terra plana, não teríamos nenhuma dúvida disso, porque tudo seria muito diferente de como conhecemos hoje.



Saiba mais sobre terraplanismo aqui e aqui.



Streaming oficial para o lançamento do foguete Falcon Heavy, da SpaceX, hoje, às 16h30.