terça-feira, abril 17, 2018

Por que entender o que significa Criacionismo?

A pergunta acima é relevante por dois motivos: primeiro, porque alguns criacionistas acham que não precisam saber disso; quem precisa saber é quem não é criacionista. Eles já sabem o que significa. Segundo, porque os que não são criacionistas acham que já sabem porque não são. Quem é criacionista é que precisa entender porquê o criacionismo não faz sentido. Obviamente ninguém tem o monopólio do que significa ser criacionista, pois existem muitas versões diferentes de criacionismo. Porém, muitas pessoas que se dizem criacionistas e muitas das que acham que ideias criacionistas são absurdas no mundo de hoje também não conhecem alguns fatos cruciais relacionados ao criacionismo.

O consenso acerca das bases do mundo moderno é de que houve a Antiguidade Clássica em que gregos e romanos foram sociedades prósperas que desenvolveram a filosofia, as artes, as leis e então o mundo ocidental se tornou cristão. A volta aos ideais gregos e romanos resultou em valorização da razão, em humanismo e direitos humanos e em progresso novamente. Que o cristianismo lançou o mundo nos séculos da Idade Média em que, apesar da influência da cultura greco-romana, a sociedade mergulhou no obscurantismo e na superstição. Embora, hoje, muitos tentem argumentar que a Idade Média não foi exatamente um período de trevas intelectuais em que não houve progresso, ainda há a tendência de se atribuir à religião a responsabilidade pela ignorância e pouco desenvolvimento da época.

Sabe-se que nos séculos medievais a cultura grega não estava esquecida, pois os filósofos e teólogos baseavam seus ensinos em autores gregos e temas da Bíblia. O fato é que tanto os autores gregos quanto os temas da Bíblia não eram ensinados verdadeiramente. Os livros eram escassos, tanto obras gregas e romanas quanto Bíblias, pois a imprensa não havia sido ainda inventada. Uns poucos eruditos detinham algum conhecimento para ler obras traduzidas e menos deles ainda para ler em línguas originais.

A religião do período medieval era o que resultou da fusão do cristianismo, desde o tempo de Constantino, com as práticas e crenças religiosas greco-romanas acrescidas de ideias filosóficas dessas culturas.

O Renascentismo não foi um reaparecimento e valorização da cultura grega-romana, já que, de certa forma, elas já eram valorizadas; apenas permitiu que essa cultura se tornasse mais plenamente conhecida e divulgada. Se tudo o que tivesse ocorrido fosse somente esse despertar para os valores clássicos, o mundo de hoje poderia não ter tido a Declaração Universal dos Direitos Humanos nem progresso da Ciência. Por que afirmo isso? Porque muitos dos que foram famosos renascentistas não tinham intenções de mudar o status quo (confira); quem desejava que ele mudasse eram os reformadores, pois os eruditos renascentistas eram patrocinados pelo clero e a realeza da época.

Os reformadores descobriram na Bíblia o sacerdócio de todos os crentes (1 Pedro 2:9, 15-16) e defendiam a liberdade de consciência e educação para todos (“A verdadeira riqueza de uma cidade, sua segurança e sua força, é ter cidadãos instruídos, sérios, dignos e bem-educados”, Lutero, History of the Reformation of the Sixteenth Century, Livro 10, capítulo 9. Tradução livre). Foi quando pessoas pobres e humildes começaram a descobrir que podiam pensar por si mesmas sem a mediação dos sacerdotes.

Além disso, a redescoberta dos clássicos pode ter fomentado a filosofia, mas não foi o que desencadeou a Revolução Científica. O que fez a diferença na explosão de conhecimentos foi a percepção da necessidade da matemática para estudar a natureza.

“A [verdadeira] filosofia está escrita neste grandioso livro que está sempre aberto à nossa contemplação (refiro-me ao Universo), mas que não pode ser entendido sem que primeiro se aprenda a língua, e conheçam-se os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática, e seus caracteres são triângulos, círculos, e outras figuras geométricas sem as quais é humanamente impossível entender sequer uma de suas palavras; sem estes [caracteres] fica-se a vagar por um escuro labirinto.

“Deixando de lado as sugestões, falando abertamente e tratando a Ciência como um método de demonstração e raciocínio humanamente alcançável, sustento que quanto mais isso participa da perfeição, menor será o número de proposições que prometerá ensinar, e menos ainda provará conclusivamente. Consequentemente, quanto mais perfeita é [a metodologia], menos atrativa será e menos seguidores terá” (Galileu Galilei, Il Saggiatore, 1624. Grifos acrescentados).

“Nenhuma investigação humana pode ser chamada de científica se não passar no teste das demonstrações matemáticas” (Leonardo da Vinci, citado em W. J. Meyer, Concepts of Mathematical Modeling. Grifo acrescentado).

A descoberta do Cálculo por Newton e seu estudo das leis do movimento e da ótica permitiram a “investigação do calor, da luz, eletricidade, magnetismo e química dos átomos” (confira), levando ao desenvolvimento da Química, Biologia, Medicina, Revolução Industrial, Revolução Tecnológica, etc.

Esses pais da Ciência era todos cristãos e Newton gastou tanto tempo estudando a Bíblia quanto a natureza (confira).

Maupertuis, o matemático e filósofo francês que descobriu o princípio da ação mínima, do qual todas as leis básicas da Física podem ser deduzidas, extraiu esse princípio do que ele aprendeu na Bíblia sobre as características de Deus (confira).

Dessa forma, o que teve como resultado a ideia de liberdade e igualdade dos seres humanos e o progresso científico e tecnológico do mundo atual foi o estudo da mensagem bíblica não misturada com a religião e a cultura greco-romana, como acontecia durante a Idade Média. Mas a humanidade ainda prossegue culpando o cristianismo pelo atraso moral e intelectual do período medieval.

(Graça Lütz é bióloga e bioquímica)