sexta-feira, julho 27, 2018

Quem são os ornitorrincos para os cientistas evolucionistas?

Ao observar a foto de um ornitorrinco, o que vem à sua mente? Animal que bota ovos como aves e répteis, tem bico de pato, pelos como os mamíferos e cauda achatada parecida com a de um castor. Essas são apenas algumas de suas características. Você já deve imaginar que esse animal inusitado causa muito alvoroço no mundo científico, deixando todos confusos e curiosos. No fim do século 18 alguns de seus espécimes chegaram à Grã-Bretanha. No início os naturalistas pensaram que ele seria uma falsificação e procuraram por marcas de costuras que poderiam ter sido feitas por um taxidermista no intuito de fraudar uma nova espécie. Os ornitorrincos são monotremados – mamíferos que botam ovos e pertencem à subclasse Prototheria. Eles não são os únicos que botam ovos entre a classe Mammalia; temos também algumas espécies de equidna. Eles vivem principalmente na Austrália, sendo encontrados em córregos em Nova Gales do Sul, centro e sudeste de Victoria, dentre outras regiões. Alimentam-se dentro da água.

E seu “bico”? Diferentemente do bico das aves, ele não é tão rígido; é seu principal órgão sensorial, com muitos nervos e poros sensíveis na superfície, respondendo a impulsos produzidos por criaturas subaquáticas.

Durante os mergulhos, seus olhos e ouvidos fecham automaticamente, a cabeça se movimenta de um lado para o outro captando sinais de campo elétrico que são gerados por suas presas. O bico auxilia grandemente na busca por alimento e localização embaixo d’água.

Os ornitorrincos não são animais grandes, geralmente apresentam o tamanho de um gato pequeno, medem de 40 a 50 cm e os machos são maiores que as fêmeas. Possuem esporões nas patas traseiras, sendo estes conectados a um ducto que chega a uma glândula de veneno.

As fêmeas, assim como os demais mamíferos, possuem glândulas mamárias que se estendem por toda a barriga no período de lactação, mas não possuem tetas – os filhotes mamam o leite que é rico em ferro direto dos poros da mãe.

Esses animais possuem um esqueleto aerodinâmico, bem adaptado ao seu estilo de vida. Ele é suficientemente pesado para suportar a musculatura grande que auxilia tanto na natação quanto na escavação realizada pelos membros anteriores.

Os mamíferos que pertencem ao grupo dos marsupiais (como os cangurus e gambás) e eutérios (que compõe a maior parte dos mamíferos - possuem placenta) têm na sua maioria cintura peitoral composta por dois pares de ossos - escápulas e clavículas. Nos ornitorrincos os cientistas observaram que “os ossos das cinturas peitoral e pélvica são bastante semelhantes aos de certos répteis, mas o resto de seu esqueleto é definitivamente [como o dos] mamíferos. O ouvido interno também é mamífero, tendo três ossículos de condução sonora: o martelo, a bigorna e o estribo” (p. 12).[3] A diferença na cintura peitoral dos ornitorrincos está na presença de procoracóide e ossos interclaviculares, como nos répteis.

Exemplo de cintura peitoral presente nos mamíferos – escápula e clavícula

Mais abaixo, exemplo de cintura peitoral de um réptil com a indicação dos ossos que também são encontrados nos ornitorrincos: procoracoide e interclaviculares.[3]

O posicionamento das pernas também é semelhante ao dos répteis, mas o movimento na sua base é típico de um mamífero - possuem ligamentos muito fortes entre a musculatura e os ossos. Fora da água as pernas posteriores se estendem horizontalmente promovendo um andar arrastado como o dos lagartos.

Nas vertebras cervicais (do pescoço) eles possuem costelas rudimentares como em alguns répteis. Mas a mandíbula inferior é formada por um par de ossos – assim como a de outros mamíferos, além de sete vertebras cervicais que também são características do grupo ao qual pertence. 
            
O esqueleto é adaptado para sustentar o nado, a caminhada e a escavação - atividades necessárias para a sobrevivência dele.

A calda achatada contém tecido gorduroso (sendo um meio de armazenamento de energia); cerca de metade da reserva de seu corpo encontra-se acumulada nela; é uma importante fonte de alimento extra durante o inverno. Também é utilizada pela espécie no transporte de folhas para a produção do ninho e a proteção dos ovos - mantendo-os aquecidos além de promover a estabilização do nado.

Os pelos do corpo são ótimos isolantes térmicos e ajudam a reter a água mesmo dentro dos lagos. Além dos pelos grossos, possuem também uma camada interior de pelos mais finos que aprisionam uma camada de ar sobre os pelos mais externos, e com isso ele mantém certo nível de impermeabilidade que possibilita que o animal permaneça aquecido mesmo em águas frias. Em apenas um milímetro quadrado do seu corpo há uma média de 600 a 900 pelos.

Quando jovens apresentam dentição; conforme entram na fase adulta eles vão sendo substituídos por almofadas queratinizadas.

Possuem um sistema circulatório duplo/fechado e glóbulos vermelhos anucleados; estas são mais algumas características de mamíferos.

Em um artigo publicado pela revista Nature,[1] o sequenciamento do DNA de uma fêmea de ornitorrinco foi realizado e comparado com o genoma de outros mamíferos e do frango. O interesse estava em encontrar famílias de genes envolvidos na biologia que ligaria os monotremados aos répteis através de características como postura de ovos e visão, além de atributos típicos dos mamíferos (lactação, por exemplo) e outras específicas dos ornitorrincos como o forrageamento subaquático. Como resultado, nas sequências do genoma encontraram traços de répteis e de mamíferos - “os ornitorrincos possuem características ancestrais reptilianas e derivadas de mamíferos”. Seu genoma seria considerado um amálgama (mistura de características de diferentes classes em um mesmo indivíduo).

Os ornitorrincos são classificados como mamíferos primitivos. De acordo com um documentário da Discovery Channel[5] eles são “criatura[s] altamente sofisticada[s] em fina sintonia com seu meio ambiente”, além disso “teria[m] sobrevivido por tanto tempo não apesar das suas estruturas arcaicas, mas justamente por causa delas”.

De acordo com a bióloga Rebecca Young, da Universidade do Texas[2]: “[...] eles estão em algum lugar entre um lagarto e o que pensamos ser um mamífero placentário semelhante a um humano, mantendo algumas características reptilianas e mamíferas.”

Em 2010, em um estudo liderado por Warren,[2] encontraram 83 toxinas no veneno do ornitorrinco. Eles possuem genes “que se assemelham aos genes de veneno de outros animais, incluindo cobras, estrelas-do-mar e aranhas. É provavelmente um exemplo de evolução convergente, em que espécies não relacionadas evoluem características semelhantes.”

“O ornitorrinco [seria] o único remanescente de um ancestral que divergiu de todos os outros mamíferos há cerca de 150 milhões de anos [sic].”[6]

Essas são as considerações feitas por cientistas evolucionistas, obtidas a partir da interpretação e especulação de resultados de pesquisas. Tais interpretações também podem ser influenciadas pela cosmovisão do pesquisador – seja ela evolucionista ou criacionista. Qual seria a maneira correta de interpretar os resultados obtidos pelas análises do fenótipo do indivíduo e também do sequenciamento do seu DNA? Não são questões simples.

Há muito para ser explorado e aprendido sobre essa temática; é necessário conhecer além do exposto para tirarmos algum tipo de conclusão.

Partindo da citação retirada do documentário da Discovery Channel (“Criatura[s] altamente sofisticada[s] em fina sintonia com seu meio ambiente”) e analisando tudo o que foi colocado sobre a espécie, é nítido que os ornitorrincos são extremamente bem adaptados ao seu ambiente. Possuem corpo completamente funcional e complexo, com diversas peculiaridades. São animais singulares e muito curiosos.

Embora possuam uma aparência diferente daquela com a qual estamos acostumados, eles são eficientes e muito bem estruturados. Qual a probabilidade de esse “indivíduo” com toda a sua complexidade ter se originado sem qualquer direcionamento ou designer?

Moema Rubia Patriota

Referências:
[1] Genome analysis of the platypus reveals unique signatures of Evolution
[2] How the Venomous, Egg-Laying Platypus Evolved
[3]Fauna of Australia: ORNITHORHYNCHIDAE. https://www.environment.gov.au/system/files/pages/a117ced5-9a94-4586-afdb-1f333618e1e3/files/16-ind.pdf
[4] Australian Natural History Serie – Platypus, fourth edition, 2008, Tom Grant 
[5] Ornitorrinco: Um Sobrevivente Silencioso (Dublado) Documentário Discovery Channel
[6] Which Animals Have Barely Evolved?