A
Conferência Internacional da Terra Plana (FEIC, na sigla em inglês) decidiu
fretar um navio de cruzeiro no ano que vem com o absurdo propósito de chegar
aos limites da Terra. Segundo uma parte dos seguidores dessa corrente, que defende que a Terra não é esférica, o planeta acaba num muro de gelo que nos separa do
espaço exterior, aonde pretendem chegar nesse cruzeiro. Será “a maior, mais
audaz e melhor aventura já feita”, alardeia o site da organização. A FEIC
anunciou o projeto em sua conferência anual, conforme noticiou o jornal
britânico The Guardian. O ex-capitão naval
Henk Keijer lembrou a esse jornal que todas as cartas náuticas e os sistemas de
navegação foram desenvolvidos sob a premissa de que a Terra é esférica, a que
navegação desse cruzeiro deverá ser “muito complicada” se a tripulação
discordar disso.
“Os navios navegam baseando-se no princípio de que a
Terra é redonda. As cartas náuticas são desenhadas com isso em mente: que a
Terra é redonda”, recorda o ex-capitão, acrescentando que os navios usam “um
moderno sistema de navegação que se chama ECDIS, que proporciona uma grande
melhora na segurança da navegação”. A própria existência do GPS é outra prova
de que a Terra é esférica, indica Keijer, já que o sistema se baseia em 24
satélites que orbitam a Terra. “Se fosse plana, três satélites seriam
suficientes para proporcionar os dados”, argumenta.
Existem
várias teorias entre os que acreditam que a Terra é plana, embora a
principal, apresentada após “uma extensa experimentação, análise e
investigação”, diz que a Terra é um disco gigante, com o polo norte no centro e
rodeado de “um paredão de gelo: a Antártida”, segundo a sociedade
terraplanista. “Até onde sabemos, ninguém conseguiu ir muito além do muro de
gelo e voltou para contar. O que sabemos é que ele cerca a Terra, serve para
conter os oceanos e ajuda a nos proteger do que possa haver além dele”,
assegura a Flatpedia, a Wikipedia dos terraplanistas.
Os
organizadores do cruzeiro advertem, portanto, que não garantem chegar ao muro,
mas asseguram que os viajantes encontrarão “evidências” suficientes para dar a
viagem como proveitosa. Além de navegar na beira do precipício, os
terraplanistas poderão desfrutar de restaurantes e piscinas de ondas aptas para
a prática do surfe. Não foi informado o custo de fretar o cruzeiro nem os
preços dos camarotes. Questionada a respeito pelo The Guardian, a FEIC não respondeu.
Para
começar, a organização terá que encontrar uma tripulação que não acredite que a
terra é esférica, uma missão altamente complicada, segundo Keijer. “Naveguei
dois milhões de milhas, mais ou menos, e nunca encontrei um capitão de navio que
acreditasse que a Terra é plana”, diz, do alto de seus 23 anos de experiência
nos lemes.
Nos
fóruns terraplanistas já foram publicadas fotos que “demonstram a existência
desse muro”. Na verdade, são grandes lâminas de gelo ártico que, ao se
desprenderem de forma cada vez mais frequente devido ao aquecimento global,
deixam grandes cortes verticais que se assemelham a muralhas.
A
Sociedade da Terra Plana afirma que “as agências espaciais do mundo”
conspiraram para falsificar “a viagem espacial e a exploração”. “Provavelmente
começou durante a Guerra Fria. A URSS e os Estados
Unidos estavam obcecados em serem os melhores quanto a chegar
ao espaço, a tal ponto que cada um fingia seus feitos numa tentativa de seguir
o ritmo dos supostos feitos do rival”, afirmam.
(ElPaís)