sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Gordura fossilizada é encontrada pela primeira vez em ictiossauro


Os ictiossauros constituem uma ordem de répteis marinhos, já extintos, que retratam certa semelhança morfológica com os golfinhos.[1] Esses animais, possuidores dos maiores olhos de todos os vertebrados, às vezes excedendo 25 cm de diâmetro, habitaram os mares no mesmo período em que os pterossauros e os dinossauros viveram na terra. O primeiro esqueleto de ictiossauro foi descoberto em 1811, em Lyme Regis, uma das mais ricas localidades fósseis da Inglaterra por Mary Anning. Na época, o enigmático crânio foi relacionado a um “monstro marinho”. Mais tarde, em 1819, o esqueleto foi vendido para Karl Dietrich Eberhard Koenig, do Museu Britânico de Londres, que sugeriu o nome Ichthyosaur (“lagarto peixe”) em 1817.[2] A ordem foi nomeada em 1835, por Henri Blainville, zoólogo francês que cunhou o termo “paleontologia” em 1822. Desde então, vários fósseis bem preservados foram encontrados, ajudando-nos a entender um pouco mais acerca desses misteriosos animais. Hoje conhecem-se cerca de 50 gêneros desse vertebrado marinho, encontrados em diferentes continentes. Apesar disso, ainda existem alguns fatores que têm dividido opiniões no meio científico, especialmente quando o assunto é a ancestralidade desses répteis.

Repensando teorias

Anteriormente, os paleontólogos pensavam que apenas um subconjunto de ictiossauros havia sobrevivido ao período Cretáceo, de 145 milhões a 66 milhões de anos atrás (segundo propostas evolucionistas).[4] Até recentemente pensava-se que os ictiossauros houvessem declinado gradualmente na diversidade por causa de múltiplos eventos de extinção durante o período Jurássico. Segundo darwinistas, esses eventos sucessivos mataram todos os ictiossauros, exceto aqueles fortemente adaptados à vida de natação rápida em mar aberto. Devido a esse padrão, supunha-se que os ictiossauros estivessem em constante e rápida evolução para se tornar nadadores de águas abertas cada vez mais rápidos.

Porém, uma equipe internacional de pesquisadores divulgou recentemente uma nova espécie de ictiossauro que revoluciona a compreensão da evolução e extinção desses antigos répteis marinhos. Essa descoberta foi publicada na renomada revista científica Nature, em dezembro de 2018, na qual um fóssil de ictiossauro de 185 milhões de anos (conforme a cronologia evolucionista) foi encontrado e, para a surpresa dos pesquisadores, apresentava tecidos moles excepcionalmente preservados.[1]

Stenopterygius foi encontrado “primorosamente” fossilizado nas pedreiras de Holzmaden, no sul da Alemanha.[2] Grande foi a surpresa dos pesquisadores ao perceberem a presença de ondulações e pregas na pele do fóssil desse vertebrado marinho. Não bastasse isso, verificaram, também, células contendo parte da pigmentação do animal e vestígios químicos de gordura fossilizada. A alegação mais polêmica do estudo está no fato de os cientistas relatarem que o conteúdo possui traços de suas proteínas originais.[3]




Representações fotográficas (superior) e diagramáticas (inferior) exibem detalhes do Stenopterygius examinado no novo estudo. O crânio do animal está à esquerda.

A equipe analisou as amostras em um laboratório onde tecidos de animais modernos são proibidos, para evitar qualquer tipo de contaminação. “Podemos diferenciar os locais de ligação desses anticorpos, e as ligações não são aleatórias”, diz Schweitzer. “Você não vê [anticorpos] de queratina se ligarem a qualquer coisa. Eles apenas se ligam àquilo que interpretamos como pele”.[3]     “Não só é possível olhar para essas estruturas e identificá-las em nível celular, como também encontrar traços das proteínas originais – essa é a ponta do iceberg”, relata Benjamin Kear, paleontólogo da Universidade de Uppsala e coautor do estudo.[3] Os cientistas têm encontrado fósseis de ictiossauros contendo tecidos moles há mais de um século. Para eles, isso é possível tendo em vista o local onde esses animais ficaram enterrados: no fundo do mar, em sedimentos com pouco oxigênio.[3] Nesse ponto, me vem à mente, automaticamente, “certo evento aquático”, catastrófico que seria capaz de promover esse rápido soterramento, envolvendo tanta lama e elevada pressão, e que por ter ocorrido em uma Terra “jovem”, justificaria coerentemente a presença dos tecidos moles encontrados em excepcional estado de preservação.

Outro estudo com ictiossauro, “nadador fora do tempo”, sugere uma revisão das teorias sobre a “evolução” e extinção das espécies desse gênero. Valentin Fischer, da Universidade de Liège, na Bélgica, e seus colegas descreveram em 2013 uma espécie com características arcaicas: Malawania anachronus, um fóssil de 1,5 metro de comprimento.“O reconhecimento dessa ‘linhagem fantasma’ revela que dois grupos distantes de ictiossauros viviam no Cretáceo. Isso desafia os pressupostos de que o baixo número e a diversidade de ictiossauros durante esse período contribuíram para sua extinção.”[6] Os resultados dessa pesquisa contradizem teorias anteriores, as quais sugerem que os ictiossauros do período cretáceo foram os últimos sobreviventes de um grupo em declínio.

A novidade é que Malawania representa o último membro conhecido de um tipo de ictiocossauro que os cientistas acreditavam ter sido extinto durante o início do Jurássico (mais de 66 milhões de anos antes, via cronologia darwinista). 

A grande revolução que envolve esse ictiossauro arcaico relaciona-se à sua estática evolucionária: “Eles parecem não ter mudado muito entre o início do Jurássico e o Cretáceo, um feito muito raro na evolução dos répteis marinhos”, relata o Dr. Fischer. “A descoberta de Malawania é semelhante à do celacanto nos anos 1930: representa um animal que parece estar fora do tempo para a sua idade. Este ‘fóssil vivo’ de seu tempo demonstra a existência de uma linhagem que nunca tínhamos sequer imaginado”, acrescenta o pesquisador.

Isso indica que o suposto fim do evento de extinção jurássico (via linha evolutiva) nunca ocorreu para os ictiossauros, conjuntura que torna seu registro fóssil bem diferente do de outros grupos de répteis marinhos. Quando visto em conjunto com a descoberta de outro ictiossauro pela mesma equipe em 2012 e denominado Acamptonectes densus, a descoberta do Malawania constitui uma “revolução” no modo como os cientistas imaginam a suposta “evolução” e a extinção do ictiossauro. 

“Existe em todas as coisas visíveis uma totalidade oculta” (Thomas Merton).
             
Nota: Diante dos estudos recentemente publicados, fica evidente que a extinção final dos ictiossauros é ainda mais confusa para a ciência do que se supunha previamente. Os resultados relatados pelos cientistas fazem o dilúvio global, relatado em Gênesis, ser um acontecimento ainda mais evidente. Ele responde de forma harmônica à questão da formação desses fósseis, possibilitando o rápido soterramento e ausência de oxigênio, além de ser compatível com uma cronologia não tão remota, em que seria coerente encontrar nos registros fósseis tecidos moles contendo constituintes celulares, sub-celulares e biomoleculares – verdadeiramente incompatíveis com a cronologia proposta pela linha evolutiva, especialmente tendo em vista o tempo estimado para a degradação dessas estruturas celulares e biomoleculares.

Até quando pesquisadores vão se deparar com a verdade sem reconhecer os fatos expostos diante de seus olhos?

Gostaria de acreditar num futuro em que os pesquisadores fossem compromissados com a verdade, seguindo as evidências aonde quer que elas possam levá-los.

Concluo com o pensamento de um saudoso cientista: “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano” (Sir Isaac Newton).

(Liziane Nunes Conrad Costa é formada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do Núcleo cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])

Referências:

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