quarta-feira, julho 17, 2019

Como os terraplanistas explicam eclipses lunares totais

Esses dias tivemos um eclipse lunar total – mais especificamente, o fenômeno aconteceu na madrugada no dia 21 de janeiro e coincidiu com uma Superlua, evento que ocorre quando o satélite se encontra mais próximo do nosso planeta durante a fase de Lua Cheia, o que significa que também se tratou de uma Lua de Sangue. Como você sabe, os eclipses lunares se dão quando a Terra, o Sol e a Lua se alinham e o nosso planeta se posiciona entre os dois astros, impedindo que os raios solares cheguem até o satélite. Quem estava acordado para acompanhar o último eclipse pôde ver como a fiel companheira da Terra foi se tornando gradualmente mais escura conforme o nosso mundo ia ocultando o brilho solar, até a Lua apresentar um tom avermelhado, resultado de como a luz emitida por ela se dispersa na atmosfera.

Não há nada de novo na breve explicação acima, e a verdade é que a humanidade vem acompanhando e compreende como os eclipses acontecem há milênios. Mas, para os defensores da Teoria da Terra Plana, aquele pessoal que está convencido de que o nosso planeta, em vez de esférico, parece uma panqueca, não acreditam nessa explicação, não – e inventaram uma explicação pra lá de criativa (e muito louca) para o fenômeno!

De acordo com Hanneke Weitering, do site Live Science, apesar de os terraplanistas acreditarem que a Terra é plana, eles aceitam (por alguma razão) que o Sol e a Lua sejam esféricos. Só que, para os defensores dessa teoria, os dois astros orbitariam sobre o Polo Norte terrestre – que, em seu planeta em forma de disco, ficaria no centro do mundo –, o que tornaria impossível a ocorrência de um eclipse.

Mas os eclipses acontecem, né? Então, os terraplanistas, depois de questionados, explicaram que o último eclipse ofereceu aos terráqueos uma rara oportunidade de observar um objeto que orbita o Sol e que, muito de vez em quando, passa diante da Lua, lançado uma sombra sobre ela. O engraçado é que os defensores da teoria não apresentaram qualquer dado sobre a composição, dimensão ou origem dessa coisa misteriosa, e acrescentaram que, quando não está rolando nenhum eclipse, o objeto se torna invisível, já que orbitaria próximo ao Sol.

Oi?

Nem precisamos falar que, em séculos de observações por meio de telescópios e décadas de exploração espacial, nada com essa descrição foi observado nas proximidades do nosso planeta, certo? E sobre o tal objeto se tornar invisível por orbitar pertinho do Sol, como é que Mercúrio, planetinha com 40% do diâmetro da Terra e que consiste no mundo do Sistema Solar que orbita mais próximo do nosso Astro-Rei, pode ser avistado?

Ainda sobre o objeto misterioso, segundo os terraplanistas, ele apresenta um ângulo de inclinação de 5,15 graus com respeito ao plano orbital do Sol – número que “coincide” com o ângulo de inclinação da órbita da Lua com respeito à da Terra –, mas não deram maiores explicações de onde tiraram essa informação.

E mais: os defensores da Teoria da Terra Plana disseram que o tal objeto poderia ser um astro conhecido que orbita ao redor Sol, mas que seria necessário realizar mais estudos para que esse dado seja confirmado. Aguardaremos ansiosos, mas com menos entusiasmo do que sentiremos enquanto esperamos pelo próximo eclipse – fenômeno celeste que só ocorre porque a Terra é esférica!


Nota: Para ficar claro: esse fenômeno celeste em que a sombra da Terra é projetada na Lua só ocorre porque a Terra é esférica e o modelo correto é o heliocêntrico. Ponto. Ou estariam certos os terraplanistas modernos que muitas vezes não sabem a trigonometria básica sobre um triângulo esférico, quanto mais as relações e implicações entre a geometria e as leis do mundo físico? Terraplanistas negam a existência de referenciais relativos (a Terra não pode ser uma “bola molhada” girando rápido no meio do nada, caso contrário, nós perceberíamos). Quero ver pularem do vagão de um trem de luxo, onde todos os móveis aparentemente estão “parados”. Ou que pulem de um carrossel em movimento. Experimento simples.

Sobre os tais “orbis escuros” (objetos circulares e semitransparentes ou demônios vedas!) indetectáveis... Por que somente passam na frente da Lua quando ela é nova ou cheia? Se esses astros invisíveis são desconhecidos e indetectáveis, como conseguimos calcular exatamente quando ocorrem eclipses? Entendeu por que terraplanistas odeiam eclipses e matemática?

Resta ainda a carta na manga preferida deles: a culpa é da Nasa. Deve ser alguma projeção dos norte-americanos, ou algo dessa natureza. Bem, quando os terraplanistas apelam para supostas conspirações da Nasa, podemos pensar: Será que Copérnico, Galileu, Kepler, Isaac Newton (pais da ciência moderna, cristãos heliocentristas “globalistas” notáveis) e tantos outros faziam parte dessa conspiração também?

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