sexta-feira, agosto 16, 2019

Cientistas acreditam que possa haver vida na Lua


Sim, a possibilidade é real de que neste exato momento possa haver milhares de “invasores” minúsculos sobre a superfície lunar. Apesar de a aparência causar muita estranheza, esse ser de oito patas, que aparenta usar um traje espacial, é, na verdade, um animal terrestre chamado tardígrado, e essa “invasão” foi decorrente de um acidente espacial.

Tardígrados, também conhecidos como “usos-d’água”, são animais microscópicos segmentados, relacionados com os artrópodes. Foram inicialmente descritos por J.A.E. Goeze em 1773. O nome do filo, Tardigrada, foi dado por Spallanzani em 1776. A maioria é fitófaga, mas alguns espécimes são predadores, como o Milnesium tardigradum. Com aproximadamente um milímetro de comprimento, são famosos no meio científico por sua elevada capacidade de resistência. Há quem os considere “indestrutíveis” por suportarem condições extremas, como alta radiação, frio e calor intensos, do zero absoluto (-272,15 °C) até os 150 °C, a pressões de seis mil atmosferas e 5000 Gy de radiação, cerca de mil vezes mais que um ser humano pode suportar, além de conseguir sobreviver anos sem alimentos e água.

Justamente por isso, conseguem viver nos mais diversos ambientes – do deserto do Saara ao topo de uma montanha coberta de neve, ou nos musgos do jardim da sua casa.

Apesar de apresentarem todas essas “vantagens”, os animais descobertos no século 18 apresentam como característica mais interessante, de fato, uma habilidade incrível: quando secos, retraem a cabeça e as oito patas, encolhendo-se em uma minúscula “bola”; produzem um revestimento extra no corpo que os protege de elementos que poderiam matá-los, entrando num estado profundo de “animação suspensa” ou latência, que se assemelha à morte. Eles perdem quase toda a água do corpo e seu metabolismo diminui para 0,01% da taxa normal; mas se reintroduzidos na água, mesmo décadas mais tarde, eles podem ser reanimados. Cientistas já reviveram tardígrados que passaram até dez anos nesse estado desidratado, embora em alguns casos possam sobreviver por muito mais tempo sem água.
           
A sonda Beresheet carregava a primeira biblioteca lunar da Arch Mission Foundation, organização sem fins lucrativos cujo objetivo é criar “um backup do planeta Terra”. O carregamento continha um arquivo com 30 milhões de páginas de informações. Para conseguir juntar todo esse material num “arquivo”, Spivack, o fundador da fundação escolheu Bruce Ha, cientista que desenvolveu uma técnica para gravar em níquel imagens em nanoescala, de alta resolução. A técnica usa lasers para gravar uma imagem em vidro e depois deposita níquel, átomo por átomo, em uma camada no topo. As imagens no filme de níquel resultante parecem holográficas e podem ser visualizadas usando um microscópio com capacidade de ampliação de 1000 x – tecnologia que está disponível há várias décadas.

Assim, o carregamento consistia em 25 camadas de níquel, cada uma com apenas alguns mícrons de espessura. As primeiras quatro camadas contêm aproximadamente 60 mil imagens de alta resolução de páginas de livros, que incluem iniciadores de linguagem, manuais e chaves para decodificar as outras 21 camadas. Essas camadas contêm quase toda a Wikipédia em inglês, milhares de livros clássicos e até mesmo os segredos dos truques de mágica de David Copperfield.

Spivack tinha planejado enviar amostras de DNA para a Lua em versões futuras da biblioteca lunar, não nessa missão. Entretanto, algumas semanas antes de ter que entregar a biblioteca lunar aos israelenses, ele decidiu incluir algum DNA na carga útil.

Bruce Ha e um engenheiro da equipe de Spivack, então, adicionaram uma fina camada de resina epóxi entre cada camada de níquel, um equivalente sintético ao âmbar. Nessa resina eles incluíram folículos pilosos e amostras de DNA humano e tardígrados desidratados. Ainda, além de fixados na resina citada, alguns milhares de tardígrados desidratados extras foram espalhados em uma fita que foi anexada à biblioteca lunar.

Afinal, por que tardígrados? A escolha vai muito além da capacidade de resistência dos animais: a ideia fundamenta-se na hipótese de que eles possam ser “revividos” futuramente.

A sonda israelense deixou a Terra em 22 de fevereiro, mas, quando se aproximou da superfície lunar em 11 de abril, uma falha no computador causou o mau funcionamento do motor principal da espaçonave e caiu na Lua, viajando a aproximadamente 500 km por hora.

Apesar disso, Beresheet conseguiu ejetar a biblioteca lunar da Arch Mission Foundation durante o impacto e provavelmente esteja em alguma parte da Lua, próximo do local do acidente. Spivack diz que, mesmo que a biblioteca se partisse em pedaços, a análise mostraria que esses fragmentos seriam grandes o suficiente para recuperar a maioria das informações analógicas nas primeiras quatro camadas. 

Os tardígrados podem estar intactos? A verdade sobre isso é uma incógnita, mas Lukasz Kaczmarek, especialista em tardígrados e astrobiólogo da Universidade Adam Mickiewicz, disse, em entrevista ao The Guardian, que a queda de um módulo espacial não é suficiente para matar esses animais: “Os tardígrados podem sobreviver a pressões comparáveis ​​àquelas criadas quando os asteróides atingem a Terra, então um pequeno acidente como esse não é nada para eles.”

Mesmo assim, Spivack ressalta que não há razão para se preocupar com os “ursos-d’água” tomando conta da Lua. Todos os tardígrados lunares encontrados pelos seres humanos futuros terão de ser trazidos de volta à Terra ou levados a algum lugar com uma atmosfera, a fim de reidratá-los. Se isso será o suficiente para trazê-los de volta à vida, no entanto, é um mistério.

Em 2007, diversos exemplares de duas espécies de tardígrados foram enviados ao espaço e expostos não apenas ao vácuo, onde a respiração é impossível, mas também a níveis de radiação capazes de incinerar qualquer ser humano. Por incrível que pareça, ao regressarem à Terra, um terço deles ainda estava vivo, mostrando-se assim os únicos animais nativos do planeta, de que se tem conhecimento, capazes de sobreviver às condições do espaço extraterrestre sem o auxílio de equipamentos. Ainda verificou-se que cerca de 10% dos animais sobreviventes foram capazes de se reproduzir com sucesso. 

Já em maio de 2011, os tardígrados foram incluídos na missão STS-134 do ônibus espacial Endeavour, em seu último voo ao espaço.

Como a Lua é considerada sem vida, as autoridades mundiais não desaprovam missões que “contaminem” a superfície desse satélite com organismos da Terra. Inclusive os astronautas da Missão Apollo 11 deixaram para trás seus próprios micróbios: 96 sacos de plástico contendo “lixo humano” ainda estão na Lua, mesmo após 50 anos.

Canais especializados em vida animal, como o Animal Planet, abordam esses animais esporadicamente, porém, até recentemente, esse filo era pouco conhecido pelo público em geral. O auge do “sucesso”, por assim dizer, foi verificado no filme “Homem-Formiga e a Vespa”, de 2018, em que esses animais aparecem com detalhes em algumas cenas. Afinal, não é de se estranhar que o aspecto peculiar da morfologia dos tardígrados atraia a atenção dos roteiristas cinematográficos. Ainda ouso dizer que as recentes notícias são um solo fértil para a mente criativa dos cineastas de ficção científica, não sendo improvável que nos próximos anos vejamos a estreia de filmes intitulados como: “A invasão dos tardígrados mutantes”, ou algo assim.

Nota: Quanto mais observo a natureza e a capacidade de adaptação dos seres vivos aos mais diversos ambientes, percebo a intencionalidade de Deus no planejamento de cada detalhe da criação. De fato, ainda temos muito a conhecer sobre os mecanismos que conferem às criaturas microscópicas, como os tardígrados, características tão fantásticas de sobrevivência.

(Liziane Nunes Conrad Costa é presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB], bacharel e licenciada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE])

Referencias:


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