quinta-feira, agosto 01, 2019

Cinco absurdos e um desafio aos terraplanistas


[Leia até o fim para conhecer o desafio.]

Uma das coisas que depõem contra o terraplanismo são seus argumentos. Durante vários anos, tenho observado argumentos terraplanistas e uma das coisas que eles mais têm evidenciado é falta de conhecimentos básicos de Geometria e Física. Por um lado, selecionam alguns pontos que, aos olhos deles, parecem devastadores contra o “globalismo”, mas são simples demonstrações de desconhecimento de temas com os quais deveriam ter sido familiarizados já no Ensino Médio. Por outro lado, ignoram grande quantidade de fatos incompatíveis com as propostas terraplanistas, fatos esses que incluem até mesmo fenômenos que observamos quase todos os dias.

Em seus argumentos divulgados em vídeos e textos, eles tendem a se concentrar em fazer afirmações sem cálculos nem testes correspondentes ou, quando fazem cálculos, o fazem com erros de vários tipos, sempre na tentativa de mostrar como o modelo “globalista” erra em fatos observáveis. 

Terraplanistas costumam cometer diversos erros elementares, como considerar os olhos do observador colados ao solo ao aplicar o teorema de Pitágoras para calcular se a curvatura da Terra ocultaria ou não um objeto, assim como ignorar leis físicas bem conhecidas e testadas.

Por outro lado, convenientemente, esquecem de usar seu próprio modelo para calcular coisas que mostram o quanto o terraplanismo está distante da realidade, como posição do Sol no céu em cada momento do dia e como isso se relaciona com as áreas iluminadas da Terra e com o formato observado do Sol, exatamente em que posição o Sol nasce e se põe em cada dia do ano, a trajetória dos raios luminosos (usando leis bem conhecidas e testadas da óptica) desde o Sol até o observador para explicar o pôr do sol, o movimento aparente das estrelas no céu (oposto em hemisférios opostos), e assim por diante.

Os problemas do terraplanismo são inúmeros, mas vamos listar abaixo apenas cinco pontos nos quais há incompatibilidade entre o terraplanismo e a realidade observada. Obviamente haverá terraplanistas negando essas coisas, mas isso não tem relevância alguma, a menos que mostrem cálculos corretos prevendo os detalhes numéricos dessas coisas a partir de seu modelo.

1. Pôr do sol. Existência (não deveria haver pôr do sol na Terra plana), horário e posição em cada parte do mundo. Não se pode criar um algoritmo terraplanista que gere esses resultados sem violar leis físicas e geométricas bem conhecidas e testadas, e sem supor condições incompatíveis com o que se observa. 

2. Movimento aparente das estrelas no céu. Ao norte do hemisfério norte as estrelas giram no céu em sentido anti-horário (na perspectiva de quem está no solo e olha para cima). No Equador, elas se movem de leste para oeste. No sul do hemisfério sul, as estrelas giram em sentido horário. Isso significa que o giro do céu em relação à Terra tem sentidos opostos nos hemisférios norte e sul, sem que em algum ponto se veja qualquer descontinuidade nesse movimento. Isso é o que se observa e se espera no modelo “globalista”, mas não faz sentido algum no terraplanismo.

3. Ilhas, cidades e navios que parecem parcialmente submersos pela água quando vistos de uma distância suficientemente grande. Se levarmos em conta as leis da óptica, um objeto só poderia ficar parcialmente oculto pelo nível da água dessa maneira se estivermos a uma altitude maior do que a da parte mais baixa observada, e necessariamente veremos um obstáculo (como nuvens) ou um reflexo invertido do próprio objeto observado. Não seria possível ver o limite da água como se estivesse em contato com o objeto se a Terra fosse plana.

4. Pêndulo de Foucault. Esse experimento, disponível à observação pública em diversas partes do mundo, mostra que o sistema de referência da Terra não é inercial, mas gira. Isso por si só ainda seria compatível com o terraplanismo se todos os pêndulos de Foucault girassem da mesma forma em todo o mundo. Estaríamos simplesmente sobre um disco giratório, que completa uma volta por dia, sendo que sua borda gira a uma velocidade de uns 5.200 km/h. Mas o que se observa é que o movimento desse pêndulo depende da latitude e tem sentidos opostos em hemisférios diferentes, o que é incompatível com o terraplanismo.

5. Movimento do Sol do ponto de vista de quem está na Antártida no verão. Regularmente há expedições à Antártida feitas por pesquisadores com diversas especialidades. Alguns chegam ao próprio pólo sul. Naturalmente, eles preferem ir até lá no verão. Nessa época, o Sol não se põe, da mesma forma como ocorre no pólo norte. Veja, por exemplo, este vídeo de lapso de tempo gravado durante cinco dias rastreando o Sol, de 8 a 13 de março de 2017: https://youtu.be/4av1CD8smII Como seria possível o Sol girar em torno do observador na Antártida se a Terra fosse um disco e o Sol fosse um objeto que anda em círculos acima desse disco ao redor do pólo norte? Não seria viável.

Como os terraplanistas lidam com essas coisas? Da mesma forma como fazem com tudo mais que não se encaixa em seu modelo: dizem que o fenômeno não existe, que todas as testemunhas estão mentindo e que fotos e filmes são montagens, computação gráfica, etc., ou, quando isso é impossível, como no caso do pôr do Sol e do movimento das estrelas, apenas afirmam que o fenômeno é compatível com o terraplanismo sem apresentar cálculos que mostrem como, exatamente, o terraplanismo prevê aqueles fenômenos conforme são observados. A julgar pelo teor dos argumentos, os divulgadores não saberiam calcular essas coisas. Se soubessem e colocassem isso em prática, teriam de escolher entre acreditar nos próprios sentidos e nas consequências do que veem ou no terraplanismo.

(Eduardo Lütz é astrofísico e engenheiro de software)

AQUI VAI O DESAFIO: O físico Eduardo Lütz, autor do texto acima, preparou em resposta a um engenheiro terraplanista um documento de 118 páginas com detalhes muito interessantes sobre um assunto que tem dado o que falar na internet: o terraplanismo. Se você tem dúvidas sobre isso ou conhece alguém que tem, estude esse material riquíssimo e envie para essa pessoa. Não fundamente sua opinião apenas em videozinhos na internet e conteúdos sensacionalistas. Estude, construa conhecimentos sólidos e pregue a verdade. Clique aqui para baixar o aquivo em PDF. [MB]
  
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