segunda-feira, janeiro 27, 2020

Imprensa e academia mais uma vez manifestam preconceito contra o criacionismo e a TDI

Aconteceu de novo, na mídia e na academia. Ano passado, a revista Época, da Globo, levantou suspeitas sobre o advogado Maurício Braga quando de seu convite para chefiar a pasta da secretaria de Direitos Autorais do Governo Federal. Conheço o Maurício pessoalmente. Antes de se mudar para Brasília, foi membro da mesma igreja que eu frequento em Tatuí, SP. Profissional experiente com 30 anos de carreira, honesto e qualificado, foi “condenado” pelo simples fato de ser adventista e guardar o sábado (saiba mais aqui e aqui).

Em 2013, por pressão de grupos anticriacionistas, a reitoria da Unicamp cancelou o que teria sido o primeiro Fórum Unicamp de Filosofia e Ciências das Origens (saiba mais aqui). Sete anos depois, a mesma coisa acontece na mesma universidade: um evento sobre design inteligente foi cancelado, tendo como um dos palestrantes, novamente, o químico Marcos Eberlin.

Em nota publicada em suas redes sociais, o Núcleo Curitibano da Sociedade Criacionista Brasileira (NC-SCB) repudiou a atitude de censura promovida pela Unicamp ao evento de lançamento da 2a Liga Acadêmica da TDI-Brasil. “As universidades, sobretudo as públicas, constituem ambiente de debate científico onde ideologias não devem ser utilizadas como motivo para impedir as discussões acadêmicas. A atitude fere, ainda, o direito constitucional de livre expressão, sendo o evento proposto completamente adequado ao ambiente universitário. A Teoria do Design Inteligente (TDI) é livre de induções filosóficas em seus postulados, os quais são unicamente sustentados e também falseáveis através da aplicação das leis científicas conhecidas aos dados encontrados na natureza”, diz a nota.

O texto informa ainda que o Dr. Eberlin é comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, autor de milhares de artigos científicos publicados e de dezenas de milhares de citações, detentor da medalha Thomson da Sociedade Internacional de Espectrometria de Massas (IMSF) e ex-presidente da IMSF, tendo atuado como vice-diretor do Instituto de Química e professor titular MS-6 da Unicamp, onde fundou e coordenou o Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas durante 25 anos.

Mesmo com esse currículo e com toda essa contribuição prestada à universidade, Eberlin foi desrespeitado, assim como foi o advogado Maurício Braga. Mas as manifestações de preconceito e parcialidade não param aí. O que aconteceu com Braga se repetiu com Benedito Guimarães Aguiar Neto [foto acima]. Anunciado como o novo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito foi reitor da prestigiada Universidade Mackenzie, é graduado e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), doutor na área pela Technische Universität Berlin, na Alemanha, e pós-doutorado pela University of Washington, nos Estados Unidos (veja a nota no site da Capes).

Em sua página no Facebook, Marcos Eberlin, hoje funcionário da Mackenzie e diretor do Discovery Mackenzie, se manifestou assim: “Homem que honra a calça que veste, ele é um ilustre defensor do ponto x contraponto na Academia. No Mackenzie, instalou com bravura o debate sobre nossas origens criando o Discovery Mackenzie. Lá temos hoje defensores do design inteligente, da evolução e até daquele casamento ‘espúrio’ do evolucionismo teísta. Isso é academia, é universidade! Laica! Mas Benedito inseriu ‘goela abaixo’ o DI na grade? Instalou o DI como politica acadêmica? Todo mundo agora só ensina DI lá? Claro que não! [...] Tranquilizei [o repórter da Globo] sobre se Benedito iria adotar o design inteligente como ‘política de Estado’. Eu disse: ‘Claro que não, ele é um homem sensato, honesto e sábio. Não quererá com certeza impor sua opinião. Mesmo porque nem é atributo da Capes fazer tal discussão, ou diretriz. E até a TDI é contra qualquer imposição, como o ensino de DI nas escolas. Somos todos contra seu ensino enquanto a Academia e os acadêmicos não aceitarem a TDI como digna de se contrapor à evolução. Aí, sim, será justo e correto ensiná-la nas escolas. Mas o que o repórter escreveu? Leia abaixo e veja se devo chamar o homem de repórter ou surdo, disléxico, deturpador, ou somente ‘tendencioso’? Você decide:

“‘O Benedito tem o direito de manifestar a sua opinião, mas o criacionismo não deve ser considerado uma política de Estado. Sabemos que a academia é darwinista e quase totalmente contrária a essa teoria. No dia em que ela for reconhecida como digna, aí sim, podemos debatê-la.

Isso tudo me fez lembrar também da ocasião em que a revista semanal Veja publicou uma reportagem altamente elogiosa sobre a educação adventista. A certa altura do texto, porém, adicionaram um “mas”: são escolas com bons índices acadêmicos, ótimas instalações, bons profissionais, mas... são criacionistas.

Essa academia e essa mídia preconceituosas talvez escrevessem de Newton, Galileu, Copérnico e outros o seguinte: “Sim, eles são os pioneiros da ciência e fizeram avançar tremendamente o conhecimento, mas... criam em Deus e na Bíblia.”

O correto não é “mas”, mas exatamente “por causa de”.

Pode não parecer, mas já houve tempo em que filósofos e cientistas, ateus e/ou evolucionistas eram mais honestos na defesa das suas visões de mundo. A citação a seguir, traduzida por Eliezer Militão e retirada do livro Darwin’s Century, do antropólogo, educador, filósofo e escritor sobre ciências naturais Loren Eiseley (1907-1977), é um exemplo disso. Conforme Eiseley, essas mesmas ideias também foram expressas por Alfred North Whitehead (1861-1847), matemático e filósofo inglês, membro da Real Sociedade Britânica e da Academia Britânica, e autor do livro Science and the Modern World:

“Embora possamos reconhecer as fragilidades do dogma cristão e deplorar a inquestionável perseguição do pensamento, que é um dos aspectos menos apetitosos da história medieval, também devemos observar que em uma das estranhas permutas em que a história ocasionalmente dá raros exemplos, está o mundo cristão que, afinal, deu à luz, de uma forma clara e articulada, o próprio método da ciência experimental. 

“[A] filosofia da ciência experimental [...] começou suas descobertas e fez uso de seus métodos por meio da fé, não no conhecimento, de que estava lidando com um universo racional controlado por um Criador que não agia por capricho nem interferia nas forças que Ele havia posto em operação. O método experimental foi bem-sucedido além dos sonhos mais loucos dos homens, mas a fé que o criou deve algo à concepção cristã da natureza de Deus. É certamente um dos curiosos paradoxos da história que a ciência, que profissionalmente tem pouco a ver com fé, deve suas origens a um ato de fé em que o Universo possa ser racionalmente interpretado, e que a ciência hoje é sustentada por essa suposição” (1959, p. 62; PDF aqui). 

Muitos historiadores e filósofos da ciência na última década discordariam de Eiseley por terem percebido que a quase totalidade das narrativas que descrevem a perseguição ao pensamento na era medieval trata-se de ficção ou deturpação proposital para denegrir quaisquer elementos relacionados à igreja. Uma bem tramada e executada campanha de propaganda anti-religião. A despeito disso, Eiseley tem toda razão quando fala que o método científico tem essa dívida para com o pensamento judaico-cristão (leia mais sobre isso aqui). 

Ao passo que existem lendas e mitos sobre a perseguição religiosa aos cientistas, infelizmente o contrário é fato: muitos cientistas e acadêmicos têm perseguido a religião. Assim, estão cuspindo no prato em que comem há séculos e do qual dependem para viver. 

Michelson Borges