sexta-feira, fevereiro 21, 2020

Os buldogues tupiniquins de Darwin (partes 1 e 2 de 3)


Parafraseando Marcelo Leite, me perdoe o leitor a imagem violenta do título, mas é por motivo nobilíssimo e tem apenas um sentido figurado – a lâmina afiada deste blogueiro se volta contra os argumentos exarados nos artigos de três buldogues tupiniquins de Darwin publicados na Folha de S. Paulo contra a indicação do Dr. Benedito Aguiar para a presidência da CAPES, e negando a cientificidade e robustez epistêmica da Teoria do Design Inteligente: 

Buldogue tupiniquim de Darwin 1: Diogo Meyer

Diogo Meyer começa seu artigo respondendo à pergunta do que tornaria uma explicação científica – ela deve ser testada contra observações do mundo natural, ser consistente com o conhecimento vigente e ter passado pelo crivo da comunidade científica, e destacou que nos seus congressos, livros e revistas, cientistas examinam, avaliam, endossam ou refutam explicações.

Convenhamos, a resposta de Meyer, segundo a Filosofia da Ciência, é muito demarcacionista, pragmaticamente seletiva e desatualizada, pois há proposições científicas que não podem ser testadas. Por exemplo, as de longo alcance histórico que lidam com a origem e evolução do universo (Big Bang) e da vida, ou a de multiversos, buracos negros que, apesar de não ser possível testá-las, têm sido aceitas quase unanimemente (consenso!) pela comunidade científica. Meyer, na biologia evolucionária a descendência com modificação, entre outras hipóteses, passaria por esse crivo epistemológico rigoroso? Não passa. É reprovada magna cum laude!

Meyer afirmou existir formas não científicas de explicar o mundo, sendo a religião uma delas, mas que a ciência e a religião oferecem explicações profundamente diferentes, porém legítimas, e que refletem aspectos distintos da nossa cultura. Mas, apesar de ter dourado a pílula da legitimidade da explicação religiosa, isso ficou somente nesse parágrafo tipo uma no cravo, outra na ferradura.

Meyer destacou existirem duas explicações para a diversidade (e complexidade) dos seres vivos na Terra: uma científica e a outra religiosa. Na explicação científica, a teoria da evolução explicaria que toda a vida na Terra resulta de um processo de descendência comum com modificação, e os seres vivos são conectados uns aos outros por elos de ancestralidade comum. E que a teoria da evolução sobreviveu aos testes contra observações e passou pelo controle de qualidade da comunidade científica. 

Nada mais falso! Eugene Koonin, do Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, afirmou na Trends in Genetics que, devido a falhas nos princípios neodarwinistas centrais, como o “conceito tradicional da árvore da vida” ou a visão de que “a seleção natural é a principal força motriz da evolução” indicam que “a síntese moderna desmoronou, aparentemente, além do reparo”, e “todos os principais princípios da síntese moderna foram, se não totalmente revertidos, substituídos por uma visão nova e incomparavelmente mais complexa dos aspectos principais da evolução”. Koonin concluiu: “Para não medir as palavras, a síntese moderna já era” (E. V. Koonin, “The Origin at 150: Is a New Evolutionary Synthesis in Sight?” Trends in Genetics, 25:473-474 [2009]).

Não quero ser deselegante com Meyer, um cientista respeitado na USP, uma das universidades bem-conceituadas no mundo, mas a afirmação seria desonestidade acadêmica seletiva – ele sabe, mas não quer dar o braço a torcer – ou desconhecimento profundo de literatura científica com revisão paritária questionando algum aspecto sobre toda a vida na Terra ser resultado do processo de descendência comum com modificação. 


Buldogue tupiniquim de Darwin 2: Marcelo Leite

A la Leite, pois o título melhor para esta LONGA réplica seria: Navalhada na NOMA.

O subtítulo do artigo afirma que o design inteligente (DI) não é teoria, mesmo sabendo que não existe A teoria científica, mas VÁRIAS teorias científicas, pois diversas são as áreas científicas com suas características epistemológicas exclusivas, e que, a la Gould, ciência e religião são magistérios que não se sobrepõem, sem contudo considerar os problemas sabidos na aplicação do NOMA: navalha que corta dos dois lados! Mais um café requentado que já rebatemos ad nauseam!

A definição de teoria científica na mente de Leite deve ser esta: “Uma explicação bem fundamentada de algum aspecto do mundo natural que pode incorporar fatos, leis e hipóteses testadas” (National Academy of Sciences, “Science and Creationism: A view from the National Academy of Sciences”, p. 2 [2nd ed., National Academy Press, 1999]).

“Uma explicação abrangente de algum aspecto da natureza que é apoiada por um vasto corpo de evidências” (National Academy of Sciences, “Science, Evolution, and Creationism”, p. 11 [National Academy Press, 2008]).

Leite, jornalista renomado, especializado em ciência, deveria saber que quando os cientistas usam a palavra TEORIA, nem sempre significa uma ideia bem estabelecida, apoiada por uma ampla gama de evidências. Até mesmo nos seus escritos profissionais os cientistas às vezes a usam para se referir a uma conjectura ou hipótese ainda não confirmada pela evidência.

Por exemplo, Bruce G. Charlton, um pesquisador médico, escrevendo em uma revista científica, usou a palavra TEORIA para se referir a uma ideia que ainda pode ou não ser estabelecida na ciência