quinta-feira, maio 06, 2021

Morcegos nascem sabendo a velocidade do som

Foi em 1793 que o cientista criacionista Lazzaro Spallanzani[1] concluiu que a percepção e localização do voo dos morcegos não estava ligada à visão. Alguns meses depois, um colega cientista repetiu os experimentos de Spalanzani e concluiu que morcegos com os olhos vendados eram guiados pela audição.[2] Atualmente, chamamos essa capacidade dos morcegos e de outros animais que também a possuem, como baleias e golfinhos, de ecolocalização. 
A ecolocalização dos animais consiste no fenômeno de reflexão das ondas sonoras, ou o que chamamos de eco. Os morcegos são animais de hábitos noturnos. Ao se movimentarem durante a noite ou em lugares escuros, eles emitem sons de alta frequência. As ondas sonoras, então, são refletidas por obstáculos que estiverem em seu caminho. Dependendo da intensidade com que elas chegam até o morcego, ele consegue ter ideia da distância e do tamanho do objeto. É o mesmo princípio de funcionamento do sonar. Por isso, os morcegos dependem da velocidade do som para se localizar.

Atualmente, sabemos que os animais desenvolvem e aprendem habilidades ao se adaptarem ao meio em que vivem. Aves aprendem o canto específico de sua espécie, onças aprendem a caçar e a subir em árvores, mas alguns pesquisadores se perguntaram se os morcegos aprendiam a usar a ecolocalização ou se essa característica era inata. E descobiram que os morcegos já nascem sabendo se ecolocalizar.

O experimento

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da universidade de Tel Aviv verificaram como os morcegos adaptam sua ecolocalização usando a velocidade do som. Eles treinaram oito indivíduos da espécie morcego-de-kuhl (Pipistrellus kuhlii) para voar para uma plataforma dentro de uma câmara, enriquecida com gás hélio o suficiente para aumentar a velocidade do som em 15%. Como o hélio é menos denso que os outros gases do ar atmosférico, o som viaja nele em uma velocidade maior. Logicamente o que se poderia esperar é que o reflexo do eco iria retornar aos morcegos mais rapidamente, o que significaria ao morcego que o objeto está mais perto do que ele deveria estar.[3] 

Ao fim do experimento, os pesquisadores verificaram que o hélio interferiu no ritmo (ou “timing”) da ecolocalização dos morcegos, no entanto, eles conseguiram chegar e se acomodar na plataforma. Isso já era esperado, mas os pesquisadores ficaram surpresos porque esses morcegos não foram ensinados a se ajustar a diferenças na velocidade do som.

Em uma nova fase do estudo, os pesquisadores usaram 11 filhotes da mesma espécie de morcego, criando cinco deles, desde o nascimento, em uma câmara enriquecida com hélio e o restante deles, o outro grupo, foi criado em condições normais. Quando os filhotes estavam grandes o suficiente para aprender a voar, os pesquisadores os treinaram para que eles voassem até a plataforma.

Os pesquisadores então trocaram os grupos de morcegos de lugar. Os que foram criados num ambiente com mais hélio, foram colocados em uma câmara com concentração normal da atmosfera; os que estavam em um ambiente normal, foram colocados na câmara com concentração maior de hélio. Ao fim do experimento, os dois grupos de morcegos se comportaram da mesma forma, perceberam a plataforma mais perto no ambiente rico em hélio, e mais distante no ambiente com ar em condições normais. Isso mostrou que não importa em qual ambiente os morcegos tenham crescido, sua percepção da velocidade do som foi idêntica. Isso sugere que a localização e a forma como os morcegos identificam a velocidade do som é inata, ou seja, eles nascem sabendo.

A ecolocalização é uma característica essencial à vida dos morcegos e a outros mamíferos marinhos também. Muitos afirmam que o fato desses animais compartilharem características tão complexas mostra a ancestralidade comum dessas espécies. Isso já foi discutido aqui. Mas é interessante pensar que Deus, ao planejar Sua criação, usou padrões para criar os seres vivos, aproveitando o mesmo recurso, mas em espécies diferentes, que vivem em habitats diferentes. Agora, faça um exercício e imagine as chances de animais de linhagens diferentes evoluírem um recurso, várias vezes, ao longo de milhões de anos, de forma independente. Parece muito improvável, até mesmo sob a cosmovisão naturalista. Essas informações fazem muito mais sentido sob a ótica da Teoria do Design Inteligente: há um ser inteligente que planejou e desenhou essas características que ficaram impressas no DNA de Sua criação.

(Maura Brandão é bióloga e doutora em Ciências)

1. O cientista Lazzaro Spallanzani (1729-1799) foi um padre católico, naturalista, professor de física e matemática que viveu no século 18. Ele é muito conhecido nos livros de biologia do ensino médio por demonstrar, por meio de seus experimentos no século 18, que não há como vida surgir espontaneamente, abrindo caminho para um brilhante cientista, conhecido como Louis Pasteur.

2. DIJKGRAAF, S. Spallanzani’s unpublished experiments on the sensory basis of object perception in bats. Isis; an international review devoted to the history of science and its cultural influences, v. 51, p. 9–20, 1960. 
 
3. YOVEL, E. A. Y. Echolocating bats rely on an innate speed-of-sound reference. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 118, n. 19, 2021. 

https://www.newscientist.com/article/2276404-bats-dont-have-to-learn-the-speed-of-sound-theyre-born-knowing-it/