quarta-feira, setembro 08, 2021

Não! Vocês não fazem parte da família

A ideia de que o homem moderno (Homo sapiens sapiens) compartilha um ancestral comum com grandes macacos (e.g. orangotangos, gorilas e chimpanzés) tem sido difundida como uma verdade inquestionável desde a ampla adoção da teoria darwinista nos círculos acadêmicos no fim do século 19 e início do século 20. A temática da evolução humana engloba várias disciplinas, como antropologia, arqueologia, primatologia e genética. No entanto, com o advento de tecnologias de sequenciamento genômico, as análises genéticas passaram a ter proeminência em estudos filogenéticos humanos, pois elas fornecem dados objetivos e mensuráveis, tanto no âmbito quantitativo quanto qualitativo. Dentre essas análises, destacam-se as relacionadas ao campo de pesquisa biológico denominado de genômica comparada.

Como o próprio nome sugere, a genômica comparada é um campo de pesquisa biológica em que as características genômicas de diferentes seres vivos são comparadas. Infelizmente, na prática, esse campo de pesquisa acabou sendo mesclado com a teoria evolucionista de tal forma que todas as diferenças genéticas verificadas entre os organismos são interpretadas como havendo surgido durante a história evolucionária. Nesse contexto, a premissa da ancestralidade comum muitas vezes se sobrepõe à objetividade dos dados analisados. Os dados genéticos que têm sido utilizados de forma mais recorrente para respaldar nosso suposto parentesco evolutivo com os grandes macacos e justificar a inserção deles na família hominidae são os oriundos da comparação do genoma humano (Homo sapiens sapiens) com o genoma do chimpanzé (Pan troglodytes).[1]

As primeiras análises de comparação genômica realizada pelo Chimpanzee Sequencing and Analysis Consortium apontaram uma diferença de apenas 1,23% para o genoma humano.[2] Entretanto, essa porcentagem refletia apenas as substituições de bases e não considerava os muitos trechos de DNA que estavam ausentes ou presentes em apenas um genoma. Posteriormente, uma análise computacional dirigida pelo cientista Matthew Hahn considerou as diferenças do número de cópias gênicas e chegou a uma diferença de 6,4% entre os genomas do Homo sapiens sapiens e Pan troglodyte.[3]

Ou seja, a diferença genômica de 1 a 2%, ensinada e difundida por diversas instituições de ensino ao redor do mundo até os dias de hoje, não passa de um mito. Além disso, a apresentação dessa diferença em termos de porcentagem acaba mascarando sua real magnitude. Há por volta de 40-45 milhões de bases presentes em humanos que estão ausentes em chimpanzés, e aproximadamente o mesmo número presente nos chimpanzés e ausentes em humanos; 689 genes são encontrados apenas no genoma humano e 86 genes são exclusivos do genoma do chimpanzé.[3] As diferenças incluem diferenças no tipo e número de DNA genômico repetitivo e transposons, abundância e distribuição de retrovírus endógenos, presença e extensão de polimorfismos alélicos, polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), diferenças de sequência gênica, duplicações gênicas, diferenças de expressão gênica e variações de splicing de RNA mensageiro.[4]

Além disso, ao se realizar uma análise comparativa da estrutura e do número de cromossomos das duas espécies, as seguintes diferenças são verificadas: (a) a região dos telômeros (sequências repetitivas de DNA no final dos cromossomos) é muito maior em chimpanzés do que em humanos;[5] (b) os genes e marcadores nos cromossomos 4, 9 e 12 não estão na mesma ordem em humanos e chimpanzés;[6] (c) a análise do mapa do cromossomo 21 permite identificar várias regiões que são específicas do genoma humano;[7] (d) o cromossomo Y possui tamanhos diferentes e muitos marcadores que não se alinham entre humanos e chimpanzés;[8] (e) o chimpanzé tem 24 pares de cromossomos, enquanto os humanos têm apenas 23 pares.

No entanto, essas muitas diferenças não bastam para que os cientistas darwinistas questionem o paradigma da ancestralidade comum entre humanos e chimpanzés. Como exemplo dessa recusa pode ser citada a explicação dada para a diferença de 48 para 46 cromossomos verificada entre chimpanzés e humanos, respectivamente. Segundo os evolucionistas, o cromossomo humano 2 teria sido formado pela fusão de dois cromossomos pequenos em um ancestral simiesco da linhagem humana. No entanto, essa explicação levanta os seguintes questionamentos: (a) Qual seria o mecanismo pelo qual uma anormalidade cromossômica poderia se tornar universal em uma linhagem tão grande como a humana?; (b) Qual seria a vantagem seletiva de se possuir um cromossomo resultante de uma fusão?

As respostas práticas e viáveis para essas perguntas são um desafio para os cientistas que continuam sustentando a evolução humana. Ademais, mesmo se houvesse evidências concretas que sustentassem a origem do cromossomo 2 humano a partir de uma fusão de dois cromossomos menores, ela não poderia ser utilizada para respaldar a ideia de que humanos e chimpanzés compartilharam um ancestral comum há cinco milhões de anos. Essa fusão teria que haver surgido depois que a linhagem humana se separou da dos chimpanzés, ou seja, ela só forneceria evidências para ligar os indivíduos que a compartilhassem.

Ao me deparar com explicações meramente especulativas e falácias lógicas como a supracitada, as quais muitas vezes são utilizadas para sustentar o edifício epistemológico da teoria evolucionista, lembro-me da declaração do biólogo evolucionista Richard Lewontin:

“Nós ficamos do lado da ciência, apesar do patente absurdo de algumas de suas construções, apesar de seu fracasso para cumprir muitas de suas extravagantes promessas em relação à saúde e à vida, apesar da tolerância da comunidade científica em prol de teorias certamente não comprovadas, porque temos um compromisso prévio, um compromisso com o materialismo. Não é que os métodos e as instituições da ciência de algum modo nos compelem a aceitar uma explicação material dos fenômenos do mundo, mas, ao contrário, somos forçados por nossa prévia adesão à concepção materialista do Universo a criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzam explicações materialistas, não importa quão contraditórias, quão enganosas e quão mitificadas para os nãos iniciados. Além disso, para nós o materialismo é absoluto, não podemos permitir que o ‘pé divino’ entre por nossa porta.”[9]

A adesão de muitos cientistas a uma concepção materialista os impede de reconhecer a obviedade de que somos muito diferentes de qualquer animal e que processos evolutivos não podem originar essas diferenças. A narrativa do livro de Gênesis escancara o abismo que há entre o ser humano e outros organismos. Plantas, aves e animais terrestres e aquáticos foram criados “conforme a sua espécie” (Gênesis 1:11-25), mas o ser humano foi criado “à imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1:26). Obviamente há semelhanças entre o ser humano e outros organismos, que podem ir desde o genótipo até o fenótipo, mas essas semelhanças podem ser entendidas como padrões utilizados pelo Criador – a assinatura de um Deus criativo e todo-poderoso – e não necessariamente como evidências de ancestralidade comum. Dessa forma, tomando por base a Bíblia Sagradas e diversas evidências científicas, podemos dizer para orangotangos, gorilas e chimpanzés: “Não! Vocês não fazem parte da família Hominidae!”

(Tiago Alves Jorge de Souza é doutor em Ciências Biológicas na área de concentração em Genética)

Referências:

1. Cohen,  J.  News Focus on Evolutionary Biology, Relative Differences: The Myth of 1%, Science, v. 316., n. 5833, p. 1836, 2007.

2. Khaitovich, P., Hellmann, I., Enard, W., et al.. "Parallel patterns of evolution in the genomes and transcriptomes of humans and chimpanzees". Science, v. 309, n. 5742. p. 1850–4, 2005.

3. Demuth, J. P. , Bie, T. D., Stajich, J. E., Cristianini, N., Hahn, M.W. The Evolution of Mammalian Gene Families. PLoS ONE 1(1): e85, 2006.

4. Gagneux,, P., Varki, A.. ‘Genetic differences between humans and great apes.’ Mol Phylogenet Evol. v. 18, p. 2-13,  2001.

5. Kakuo, S., Asaoka, K.,  Ide, T. ‘Human is a unique species among primates in terms of telomere length.’ Biochem Biophys Res Commun , v. 263, p. 308-31, 1999.

6. Gibbons, A.. ‘Which of our genes make us human?’ Science, v. 281, p. 1432-1434, 1998.

7. Fujiyama, A., Watanabe, H., Toyoda, A., et al. ‘Construction and analysis of a Human-Chimpanzee Comparative Clone Map.’ Science v. 295, p. 131-134., 2002.

8. Archidiacono, N., Storlazzi, C.T., Spalluto, C., Ricco, A.S., Marzella, R., Rocchi, M. ‘Evolution of chromosome Y in primates.’ Chromosoma, v.  107, p. 241-246, 1998.

9. Lewontin R. C. Billions and Billions of Demons. The New York Review of Books, 1997.