terça-feira, novembro 10, 2009

Projeto Atlanta 2010: Colômbia (parte 2)

Após ter cruzado a Cordilheira dos Andes Oriental, depois de ter atingido seu pico na cidade de Berlim, com 3.310 metros acima do nível do mar, iniciei uma descida de uns 50 km. Em nenhum país até o momento enfrentei subidas e descidas tão longas. Neste caso, quando a descida é longa e a partir de uma altitude elevada, momento em que os braços e pernas executam pouco movimento, a sensação de frio é algo critico. O ideal é descer em pé sobre a bicicleta e realizar o máximo de movimentos possíveis a fim de aquecer um pouco o corpo. Principalmente no meu caso, que não levo nenhum abrigo especial. Mas, como me considero uma “máquina humana”, penso que suportarei esses desafios.

É necessário informar que me exponho a essa situação tão somente por não dispor de um carro de apoio. Caso tivesse, agora estaria com um abrigo bem quentinho. Mas, como considero o que faço uma missão e não um trabalho, tenho prazer mesmo nas piores condições de viagem.

Ter conseguido atravessar a Cordilheira Oriental bem fisicamente e sem nenhum contato com a guerrilha colombiana, me animou a prosseguir. Todavia, ando com um alerta vermelho o tempo todo. Cada carro parado na estrada, cada transeunte a pé, cada grupo de homens reunidos em locais desertos e cobertos por florestas, me faz bater forte o coração e buscar proteção dos Céus. Isso é sempre preocupante e viajaria com mais alegria caso não tivesse que levar na mente essa situação.

Em realidade, penso que à medida que se aproxima a volta do Senhor mais o mundo se tornará violento. Além de tantos sinais claros na natureza do retorno breve de Jesus, um dos que mais se nota na raça humana é o “amor se esfriando em quase todos”.

Observe a sua volta o quanto as pessoas estão cada vez mais insensíveis a expressões de cordialidade, amor e compaixão para com o próximo. Por isso esses sequestros na Colômbia, os homens suicidas nos países árabes, crianças morrendo de fome na África e uma série interminável de corrupção, violência e degeneração mental, fruto de tabaco, bebidas e drogas.

Enquanto isso passa, estou aqui, subindo as Cordilheiras dos Andes Central da Colômbia em uma bicicleta a 10 km/h. Acho que todo ser humano deveria parar o que está fazendo, montar numa bicicleta e vir para cá. Seu corpo ia se regenerar, sua mente flutuar rumo ao céu e sua concepção da existência de um Deus Criador de todas as coisas chegaria ao ponto máximo. Aqui você sente o Todo-poderoso mirando Suas obras espetaculares.

O bom é que há subidas de mais de 50 km e que não se tem como passar correndo. O tempo gasto viajando em caracol a baixa velocidade permite pensar em tudo. Posso ir ao espaço sideral, buscando mistérios ocultos nas estrelas ou penetrar em imensas divagações sobre a miséria em que se encontra o ser humano. Mas o que me conforta é saber que enquanto estiverem nascendo flores no campo e crianças geradas em ventre materno, Deus ainda não perdeu a esperança na raça humana. Sim, já ouvi isso em algum lugar.

Prova disso é que Seu Santo Espírito me ordenou a deixar meu país, minha casa, esposa e filhos e sair errante, como peregrino e missionário, para chamar a atenção de alguns e ajudar a salvá-los para o reino eterno.

Isso ocorreu em Bucaramanga, aqui na Colômbia, onde tive oportunidade de testemunhar em várias igrejas e fazer apelos e ver pessoas realmente se entregando a Jesus de todo coração e alma.

Enquanto corria provas de maratonas, ciclismo e natação no Brasil, às vezes ganhava alguma medalha ou troféus. Agora, tudo mudou. Fui chamado por um milagre a fim de levar o evangelho eterno a todo o mundo por meio do esporte. Alguns veem, se emocionam. Creem e se convertem. Deus é honrado e eu receberei de Jesus, no lugar de medalhas e troféus, uma estrela em minha coroa por cada ser que conduzir aos Seus pés.

Penso em meu coração que vale a pena trocar esta vida mortal, sofrida vida mortal, pela imortalidade ao lado de Cristo. Dar uma volta ao mundo, como faço agora, não é nada comparado ao galardão que me espera.

Em tudo louvo ao Senhor porque este conhecimento não vem de homens. São promessas escondidas nos mistérios de Sua Palavra viva, a Santa Bíblia. Nela tenho minha rocha.

Os dias foram passando nas estradas da Colômbia e tive a satisfação de terminar também a Cordilheira Central. Cheguei numa tarde ensolarada em Bogotá, cidade a 2.600 metros sobre o nível do mar. Aqui é sempre frio em qualquer época do ano, especialmente no inverno. Geralmente, todo lugar muito alto é frio.

A chegada na capital colombiana foi tranquila. É fácil percorrê-la de um extremo a outro, uma vez que ela é toda cortada por ciclovias. De todas as capitais dos países que já percorri, esta é a primeira em que vejo respeito ao ciclista. Aqui todo mundo pedala porque se tem um espaço exclusivo onde há segurança para transitar. Quisera que todas as grandes cidades oferecessem ciclovias a seus habitantes. Especialmente as capitais dos países Isso promoveria mais saúde e menos poluição ambiental e sonora pelo uso mais frequente da bicicleta. Mudaria a mente, os hábitos e a atitude das pessoas com relação à pratica regular do ciclismo. Seria um grande beneficio para todo o planeta.
Parabéns às autoridades governamentais de Bogotá. Que outras cidades e países imitem essa iniciativa.

Depois que cheguei a Bogotá e me encontrei com pastores e irmãos da igreja, voltei a ouvir os comentários sobre guerrilha. Novamente me aconselharam sobre ir de avião até a Cidade do Panamá a fim de evitar cruzar o “campo minado” do inimigo. Mas, outros que não estavam tão preocupados com minha segurança diziam: o exército colombiano está nas estradas. Aqui de Bogotá até Medellin você ainda consegue viajar seguro. Então, quando chegar a Medellin, tome o avião.

Inicialmente me disseram para nem passar pela Colômbia. Depois afirmaram que poderia viajar ate Bogotá. Agora me dizem que não posso ir até Medellin...

Segundo eles, existem grandes problemas com guerrilhas na zona conhecida como Cartel de Cali e Medellin. Conhecida no mundo, pelo FBI e sempre citada em filmes sobre o submundo do tráfico de drogas. Fato concreto é que para chegar a Medellin passaria por essa zona vermelha, como eles assim chamam as partes do país ocupadas em sua maioria pelas forças revolucionarias. Todavia, esperando uma reação dos meus conselheiros, disse-lhes outra vez que não tenho dinheiro para viajar de avião até o Panamá. Por isso, iria cruzar a Cordilheira Ocidental, a terceira do país, montado sobre a “gorducha” Atlanta. Confesso que até esperei que eles me dessem uma pequena oferta que me permitisse comprar a passagem em avião... Como não foi ocaso, no dia seguinte estava cruzando um perigoso túnel que me levaria do centro de Bogotá rumo à rodovia para Medellin.

Outra coisa que me animava a prosseguir até aquela cidade é que nela se encontra a sede da Universidade Adventista de Colombia. Quem sabe, se chegasse ali sem problemas, poderia conseguir os recursos para ir ao Panamá de avião. Deixei mais esse problema nas mãos de Deus e segui.

Depois de muito suor; depois de muitos sustos pelo caminho; depois de ver muitas vezes pela fé os exércitos do Céu pelos caminhos tortuosos, frios, desertos e intransponíveis de mais uma cordilheira, guardando-me de todo mal, consegui chegar a Medellin.

Glórias, glórias, glórias àquele que tudo pode. O Senhor é a minha forca. Ele é o meu socorro, a Rocha em que me sustento. Essa vitoria é do Senhor! Essa vitoria é do meu Rei.

Estou avançando. Venha comigo porque Deus esta aqui.

Ate a próxima.

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)

Nota: O Atleta da Fé, George Silva, está enfrentando grandes dificuldades financeiras para prosseguir nessa missão esportivo-evangelística e precisa urgentemente fazer uma revisão na bicicleta. Ele não me pediu isso, mas eu convido: se você puder colaborar de alguma maneira, escreva para ele: georgepalestras@yahoo.com.br