quinta-feira, setembro 29, 2016

O outro tipo de “abuso”

Há esperança no naturalismo?
Quem nunca ficou incomodado com as muitas histórias de abuso infantil? O que torna essas tristes sagas ainda piores é que aqueles a quem as crianças são confiadas -professores, padres, pastores - violam essa confiança ao abusarem, muitas vezes sexualmente, dos que lhes foram confiados. Só Deus e os anjos sabem o quão sórdidos são os livros de registro do Céu com a listagem desses pecados ultrajantes. Infelizmente, nos últimos anos novas alegações de “abuso infantil” surgiram. Que abuso? Bom, trata-se do ensino de religião às crianças. O biólogo evolucionista Richard Dawkins, entre outros, já disse que os ensinos de doutrina religiosa, em particular sobre o julgamento e o inferno de fogo são, de fato, formas de “abuso infantil”. Veja, não estou defendendo tudo o que é ensinado às crianças sobre religião, e certamente também não o entendimento comum do inferno como tormento eterno. Claro que não. Como Ellen White disse: “Está além do poder do espírito humano avaliar o mal que tem sido feito pela heresia do tormento eterno. [...] As opiniões aterrorizadoras acerca de Deus, que pelos ensinos do púlpito são espalhadas pelo mundo têm feito milhares, e mesmo milhões de céticos e incrédulos” (O Grande Conflito, p. 536).

No entanto, se alguém quiser expandir o uso comum da frase “abuso infantil” para incluir doutrinação, especialmente doutrinação negativa (ou seja, ensinamentos que poderão ter efeitos negativos persistentes sobre as crianças), então os ensinamentos comuns sobre a origem e evolução ateísta, propostos em quase todas as escolas públicas, certamente devem ser incluídos. Afinal, o que está implicado no modelo secularista darwinista das origens, o modelo que é regra comum na educação pública hoje? Na essência, é algo como isto:

Cerca de 13,7 bilhões de anos atrás, um ponto de densidade infinita, chamado de singularidade, existiu. Essa singularidade explodiu, no que hoje é chamado de Big Bang, e dessa explosão foram instantaneamente criados espaço, tempo e matéria. (Ninguém ainda foi capaz de explicar as origens da singularidade, embora alguns argumentem que surgiu a partir do “nada”.) Após a explosão, o próprio espaço começou uma expansão super-rápida que acabou sendo o nosso universo. Enquanto isso, dentro do espaço em expansão, nuvens gigantes de gás se formaram e, finalmente, delas, surgiram galáxias. Alguma parte dessa matéria arrefeceu e, devido à força da gravidade, fundiu-se como planetas. No nosso planeta, há bilhões de anos, surgiram químicos leves e, em seguida, de alguma forma (e ninguém sabe como, apesar de anos de pesquisa) se formaram moléculas autorreplicantes que, por meio do processo de seleção natural e mutação aleatória, evoluíram para todas as formas de vida aqui, incluindo os seres humanos.

Somos, para citar Richard Dawkins, nada mais que “macacos africanos.” Ponto final.

O ponto crucial nesse modelo das origens é que nada nos planejou, e nada previu o nosso aparecimento. Nossa vida, nossa existência - tudo sobre nós - foi o resultado do acaso. Assim, quando esse modelo é ensinado às crianças, elas aprendem que só existem por causa das forças frias e cegas que não se importam nada com elas, sua família, seu futuro, seus animais de estimação ou sua felicidade em geral.

Se essas origens não são suficientemente sombrias, pense no que elas significam para o nosso fim. Nesse tipo de cosmos, as crianças também são ensinadas que quando um amigo, ou irmão, ou avô, ou pai, ou um animal de estimação morre - é só isso! Essas crianças não têm hipótese, nem esperança, nem possibilidade de voltar a vê-los novamente, nunca mais! Seus entes queridos falecidos se foram, estão em decomposição no solo, e esse é o último destino que lhes dizem que eles irão enfrentar também.

Às crianças também se ensina que elas vão não apenas morrer, mas que vão se tornar em pó insignificante em um planeta que ele mesmo vai ser destruído, quer quando o Sol explodir ou quando o Universo se esgotar. Assim, tudo o que essas crianças podem ter a esperança de realizar, tudo o que sua própria inocência aspirar, termina na desolação sem sentido de um cosmos frio, escuro e vazio.

Essa visão certamente deveria animar as mentes infantis, não deveria? Que imagem positiva, inspiradora e encorajadora o modelo secular das origens oferece aos nossos filhos!

A visão secular das origens, da evolução e da desesperança em última análise cria uma versão intelectual de abuso, levando à perda de identidade, à perda de autoestima e à perda de qualquer propósito na vida.

Nós recuamos diante da ideia de abuso infantil, como deveríamos. E, sim, algumas coisas que certas religiões ensinam, especialmente sobre o inferno, dificilmente são positivas e inspiradoras. Mas substituindo a cosmovisão bíblica pela visão secular das origens criam-se apenas mais problemas – e mais abuso.

Pelo contrário, Sr. Dawkins: o abuso infantil pode vir de várias formas.

(Adventist Review; tradução de Filipe Reis)