Encontramos um relato na Bíblia de que um grande animal engoliu o profeta Jonas. Ele ficou vivo no ventre do monstro marinho e depois de clamar a Deus chegou à cidade de Nínive. Será que esse relato pode ser levado a sério? Será que é possível um animal marinho engolir um ser humano adulto? Existem vários relatos e histórias de animais colossais que foram vistos e registrados na história da humanidade. Essas histórias vêm principalmente de navegadores que descrevem feras marítimas, monstros com tentáculos que eram capazes de afundar embarcações inteiras. É muito difícil saber onde fica a fronteira entre a realidade e a ilusão nesses casos.
Munidas desses relatos curiosos, muitas pessoas têm enviado perguntas acerca do animal que engoliu o profeta Jonas. Muitos têm duvidado do caráter histórico do relato pelas características singulares que encontramos no livro de Jonas. Mas o que entendemos quando lemos esse livro? Antes de discutir o relato nas áreas de conhecimento biológicas, uma análise teológica nos mostra que o Deus da Bíblia é poderoso para fazer o sobrenatural acontecer. Assim, sem fideísmo, podemos concluir que o relato é verdadeiro porque Deus é poderoso para fazer o sobrenatural acontecer. No texto bíblico vemos que Deus preparou uma situação para cumprir Seu propósito.
"Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe." Jonas 1:17
Consta no pensamento popular e nos desenhos de crianças que uma grande baleia teria engolido o profeta. Mas o texto não diz qual animal engoliu Jonas. O termo hebraico דג גדול (dag gadôl) diz que foi um grande animal marinho, não exclui as baleias, mas também não afirma qual animal foi. Já no grego usado no Antigo Testamento as palavras dag gadôl são traduzidas como kêtei megalô, significando “ketos de tamanho mega”.[1]
Jesus trata o relato de Jonas como literal e histórico. Em Mateus 12:39-41 lemos:
Ele respondeu: "Uma geração perversa e adúltera pede um sinal miraculoso! Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas. Pois assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra. Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração e a condenarão; pois eles se arrependeram com a pregação de Jonas, e agora está aqui o que é maior do que Jonas.
Serpente do mar engoliu Jonas?
O historiador Bill Cooper ajudou recentemente a responder essa pergunta em seu livro lançado em 2012, A Autenticidade do Livro de Jonas.[2] A pista principal que o Dr. Cooper seguiu foi simplesmente a palavra grega então comum que o Senhor Jesus usou em Mateus 12:40 para o monstro de Jonas, transliterado ketos. O Dr. Henry Morris escreveu: “Poderia ter sido […] um grande tubarão-baleia ou possivelmente algum réptil marinho hoje extinto.”[3]
Heracles lutando contra o Ketus - monstro marinho de Troia. |
Cooper identificou um conjunto de fontes de fora da Bíblia que identificam os ketos como um "dragão do mar." Pesadas evidências históricas mostram que aqueles que mais bem conheciam o Mar Mediterrâneo consistentemente usavam ketos para descrever “uma serpente do mar”.
Estes e outros autores e historiadores antigos mencionaram os ketos:
- Homero (do século IX ao VIII a.C.)
- Eurípides (ca. 480-406 a.C.)
- Aristófanes (448-380 a.C.)
- Lychophron (285-247 a.C.)
- Marcus Terentius Varro (116-27 a.C.)
- Diodoro da Sicília (cerca de 60 a.C.-30 d.C.)
- Manilius (século I d.C.)
- Pausanias (século II d.C.)
- Cláudio Aeliano em seu De Natura Animalium (ca. 175-235 d.C.)
- Oppian de Apamea (ca. 200 d.C.)
- Eustáquio (ca. 300-377 d.C.)
- Hesíquio (século 5 d.C.)
- Johannes Moschus (6º século d.C.)
Evidências adicionais de artes visuais identificam os ketos como uma serpente marinha. Artistas de Roma, África, Turquia, Ásia e Inglaterra pintaram, esculpiram e modelaram os ketos com anatomia consistente. De novo e de novo, eles descreviam sua cabeça semelhante a um cachorro com dentes proeminentes e abas ou babados semelhantes a penas acima da cabeça e do pescoço. Eles também consistentemente descreveram seu corpo enorme como esguio e muitas vezes enrolado.
A iconografia do ketos grego foi estabelecida no período arcaico (ca. 600-480 a.C.) e permaneceu incrivelmente consistente durante séculos, durante os tempos do Império Romano |
O livro A Autenticidade do Livro de Jonas descreve uma pintura do século I de uma catacumba romana mostrando Jonas sendo jogado para um monstro marinho. Este ketos tinha cabeça de cachorro e pescoço flexível. Numerosos artefatos mostram um animal semelhante, incluindo mosaicos de azulejos, madeira, pedra, esculturas de marfim e até mesmo moedas. Os cetos parecem nada comuns hoje em dia, mas isso não significa que os répteis marinhos não tenham sido comuns no passado. Afinal, os livros de Jó e Salmos se referem ao grande leviatã que era um réptil marinho provavelmente extinto.
Mosaico com um ketos encontrado em Caulonia (Monasterace) na Casa del Drago, terceiro século a.C. |
Megaladonte engoliu Jonas?
O Carcharodon megalodon é um excelente candidato para o peixe que engoliu Jonas. A boca dele é certamente grande o suficiente para engolir um homem e os tubarões são capazes de controlar o sistema digestivo. Às vezes a comida que eles engolem permanece não digerida por muitos dias. Por outro lado, o megalodonte tem dentes afiados, então Jonas teria que passar exatamente no meio da boca do bicho para evitar ser machucado. A permanência de Jonas no grande peixe foi definitivamente um evento milagroso; não apenas natural, mas extremamente incomum. Se quiser saber mais sobre o megalodonte, confira o nosso vídeo sobre o assunto.
Um cachalote engoliu Jonas?
No SeaWorld, em Orlando, na Flórida, conversamos com dois biólogos responsáveis pelos animais. Keith Robinson e Donna Parham concordaram em especular sobre o mistério. Dificilmente uma baleia poderia engolir um homem, pois o esôfago delas é muito pequeno. Um homem seria triturado antes de chegar ao estômago. Uma espécie de "baleia" que tem o esôfago grande o suficiente é o cachalote, que atormentou o capitão Ahab na obra-prima do século 19 chamada Moby Dick. Sabemos que o cachalote não é uma baleia, mas de forma geral todos chamamos assim. O mesmo ocorre com as "baleias" orcas.
Robinson disse que grandes cachalotes têm esôfago que mede até 50 centímetros, e podem ser encontrados no Mediterrâneo. Cachalotes não precisam mastigar a comida; eles podem movê-la para o estômagos por ação peristáltica ou muscular - então Jonas poderia ter sido engolido inteiro. O cachalote, portanto, é um grande "candidato".
Imagem rara mostra uma fêmea de cachalote carregando os restos de uma lula gigante das Ilhas Bonin, cerca de mil quilômetros ao sul de Tóquio, em 15 de outubro de 2009. Estas lulas gigantes podem medir 13 metros e pesar mais de 270 Kg |
Era o ano de 1891, quando o baleeiro Estrela do Oriente cruzava o Atlântico Sul, próximo às Ilhas Maldivas, carregando pela primeira vez um jovem marinheiro inglês chamado James Bartley, de apenas 21 anos. O baleeiro inglês saía à caça de um cachalote, muito precioso, na época, pelo azeite extraído dele, que era usado para fazer perfumes. Quando os caçadores do Estrela do Oriente encontraram um cachalote no mar, lançaram e acertaram-lhe um arpão em cheio. A fim de concluir a caça, desceram ao mar dois botes. No entanto, mesmo preso pelo arpão, o cachalote ainda lutava pela vida e se debatia nas águas. A força do monstro marinho foi tão grande que virou os botes. Os marinheiros conseguiram resgatar seus tripulantes, porém, dois deles haviam sumido, entre eles, o jovem inglês James Bartley.
Finalmente, os caçadores conseguiram abater o cetáceo gigante. Trouxeram o animal para perto da embarcação e começaram a abri-lo. Em busca do azeite precioso, retiraram o estômago, e logo perceberam uma figura estranha dentro dele. Quando abriram o estômago, lá estava o jovem James Bartley, ainda vivo, mas desacordado.
Cachalote que engoliu James Bartley |
Bartley ficou cerca de 15 horas dentro do cachalote. Para o acordarem, jogaram água nele, mas tiveram de mantê-lo preso em uma cabine, atado a uma cama por algumas semanas, pois ele tinha perdido momentaneamente o juízo. Ele se debatia enlouquecidamente. O marinheiro inglês sofreu danos. Dizem que o encontraram com a pele pálida, devido ao suco gástrico do cetáceo. Ele também tinha perdido todos os pêlos do corpo e permaneceu cego pelo resto da vida. James Bartley relatou que, após ser engolido, se lembra apenas de deslizar por um canal branco e viscoso, sentir muito calor, e rapidamente desmaiar, devido ao odor quente e fétido do estômago do animal.
“Quando fui lançado para fora do barco, vi uma imensa boca aberta diante de mim. Gritei e me engasguei. Eu sentia fortes dores enquanto escorregava entre os dentes e para um tubo viscoso que me levou para dentro do estômago da baleia. Eu podia respirar, mas o odor quente e fétido me deixou inconsciente. E a última coisa de que me lembro é que eu chutava o mais forte que podia nas paredes do estômago, até que fiquei inconsciente e só acordei quase um mês depois.”
Recentemente um mergulhador foi engolido por uma baleia enquanto filmava animais marinhos. Rainer Schimpf, defensor do meio ambiente, relatou que mergulhava em Port Elizabeth, cidade da África do Sul, quando tudo aconteceu. "Eu estava filmando golfinhos, tubarões, pinguins e aves que se alimentam de sardinhas, quando, das profundezas, uma baleia Bryde surgiu, engolindo tudo em seu caminho", contou ele.
Segundo Schimpf, ele sentiu a pressão ao redor da cintura e soube de imediato o que estava acontecendo. "Foi apenas uma questão de segundos antes que a baleia percebesse seu erro e abrisse a boca para me cuspir". A esposa do mergulhador e um fotógrafo estavam presentes e, embora estivessem assustados, registraram o acontecimento.
Rainer Schimpf fotografado na boca da baleia Bryde |
Tubarão-baleia engoliu Jonas?
Este é um grande candidato, pois um homem poderia tranquilamente passar pela abertura de boca desse enorme peixe. A boca dele pode chegar a um metro e meio de comprimento e sugar 600 metros cúbicos de água a cada hora. Parham disse que a barriga de um peixe é uma possibilidade muito mais hospitaleira para uma habitação humana do que a de uma baleia. O metabolismo da baleia "é muito mais rápido para digerir sua comida" do que o dos peixes, disse Parham. "Os peixes são de sangue frio, então as coisas se movem a uma taxa diferente".
Tubarão-baleia |
Robinson contou ter visto a fotografia "de um grande tubarão branco abrindo a boca, e tinha dentro da garganta um tubarão azul inteiro. "Você podia ver a cabeça de um tubarão azul de dois metros, para que ele pudesse engolir facilmente um homem." Parham acrescentou que "na água fria, com o metabolismo de um tubarão, o corpo de um homem pode durar três dias sem se deteriorar."
Dagon, o homem peixe
Os críticos duvidam do arrependimento dos habitantes de Nínive, descrito no livro de Jonas. Mas se analisarmos no contexto mitológico faz todo o sentido, quando levamos em consideração a chegada extraordinária de Jonas nas costas do Mediterrâneo e a proeminência da adoração de Dagon nessa área em particular do mundo antigo. Dagon era um deus-peixe que gostava de popularidade entre os panteões da Mesopotâmia e da costa oriental do Mediterrâneo. Ele é mencionado várias vezes na Bíblia em relação aos filisteus (Jz 16:23, 24; 1Sm 5:1-7; 1Cr 10:8-12). Imagens de Dagon têm sido encontradas em palácios e templos em Nínive e por toda a região. Em alguns casos, ele foi representado como um homem vestindo um peixe. Em outros, ele era parte homem, parte peixe - um tipo de tritão.
Dagon, Deus dos Filisteus |
Alguns estudiosos têm especulado que a aparência de Jonas, sem dúvida branqueada devido à ação dos ácidos digestivos do peixe, teria sido de grande ajuda para a sua causa. Se tal fosse o caso, os ninivitas teriam sido recebidos por um homem cuja pele, cabelos e roupas tinham sido branqueados a algo fantasmagórico - um homem acompanhado por uma multidão de seguidores frenéticos, muitos dos quais alegavam ter presenciado Jonas sendo vomitado na praia por um grande peixe (mais quaisquer exageros coloridos que talvez tenham acrescentado).
Milagre
O milagre maior não foi ser engolido por um grande animal marinho. Isso é fisicamente possível. O milagre foi ter sobrevivido três dias dentro da criatura. Se houver algum gás dentro de uma baleia, provavelmente seja metano, e isso não vai ajudar muito. Sabemos que as baleias podem ser flatulentas, então existe algum gás. Elas têm bolsos vazios, mas não é ar, não é bom para respirar.
Deus preparou a situação em todos os sentidos para que esse fato pudesse ocorrer. Houve uma intervenção divina e o milagre ocorreu. Como o texto não nos aponta o animal que engoliu Jonas, só podemos especular e imaginar qual o melhor candidato.
Alex Kretzschmar
Referências
[1] Jonas 1 (King James Version). A Bíblia da letra azul. Postado em blueletterbible.org, acessado em 11 de abril de 2013.
[2] Cooper, B. 2012. A Autenticidade do Livro de Jonas. Amazon Digital Services, Inc.
[3] Morris, H. 2012. A Bíblia de Estudo Henry Morris. Green Forest, AR: Master Books, 1319.
[4] Thomas, B. 2013. O que realmente engoliu Jonas? Atos e Fatos. 42 (6): 16.