sexta-feira, agosto 31, 2018

Como sabemos como eram os dinossauros ?

Se fosse possível isolar artistas em uma sala privada do resto do mundo e pedir para que representassem graficamente animais que existem baseados em partes dos seus esqueletos, que resultado teríamos? Como será que representariam animais como rãs, alces, cangurus ou até mesmos tartarugas? Será que acertariam os aspectos ímpares dos camelos, ou de cabras alpinistas, ou de leões marinhos gigantes? Por meio da paleoarte os artistas misturam diversas técnicas artísticas, como a escultura e a pintura, com a paleontologia, de forma a dar vida a animais de um mundo "pré-histórico" que, de outra forma, permaneceriam abstratos demais para os leigos, existindo apenas na imaginação dos cientistas que os estudam. 

Desenho inspirado em animais contemporâneos

As réplicas e ilustrações são construídas a partir de ossos que geralmente têm marcas que indicam onde havia a inserção de músculos e ligamentos. Montando o esqueleto chega-se mais ou menos a uma semelhança de como era a musculatura do animal. O problema é que raramente o esqueleto está completo. Dessa forma, os paleoartistas utilizam-se de esqueletos de bichos semelhantes para completar por comparação o animal. A pele é reconstituída com os registros fósseis e então comparada com alguns animais atuais, como répteis que têm o mesmo padrão de pele. Finalmente é feita a coloração, por meio da dedução do ambiente onde o bicho viveu. 


Por meio de pinturas em cavernas, conseguimos identificar
que mamutes tinham uma corcova para reserva de gordura semelhante à dos camelos
Apesar de termos muitas informações para a reconstrução de como eram os animais "pré-históricos", muitas lacunas ainda permanecem e muitos erros estão sendo corrigidos à medida que as descobertas paleontológicas se sucedem. O artista de Istambul CM Kosemen, que sempre teve um interesse especial por dinossauros, diz que muitas ilustrações de dinossauros podem estar sem detalhes que o tornariam com características únicas. Kosemen diz: "Nosso mundo é cheio de animais únicos que possuem corpos gordurosos e agachados, com todos os tipos de características de tecido mole que provavelmente não sobreviveram em fósseis, como bolsas, barbilhões ou retalhos de pele. Pode até haver formas que ninguém imaginou."


Elefantes, zebras e rinocerontes pareceriam bem diferentes se
fossem interpretados da mesma maneira que os dinossauros
Por exemplo, havia dinossauros comedores de plantas que tinham armaduras de pangolim ou armaduras que não eram preservadas no fóssil. Também poderia haver dinossauros com penas de porco-espinho. Raramente vemos esse tipo de variação nas representações dos dinossauros. De muitas maneiras, há uma certa uniformidade na maneira como pensamos nos dinossauros, o que cria alguns vícios de imagem nos desenhos atuais. Um de seus principais pontos de discórdia é o modo como consideramos cabeças de dinossauros. A referência sempre foi crocodilos e a coisa mais importante são os dentes e a gordura facial. Eles sempre têm um sorriso estranho com apenas alguns dentes visíveis. A maioria dos animais tem lábios, gengivas e pedaços de gordura facial que alteram o perfil da cabeça e cobrem os dentes. Mas em muitas ilustrações de dinossauros predatórios, esses detalhes geralmente estão faltando, fazendo com que pareçam com aspecto agressivo e feroz.


Cabeças de dinossauros: dentes e músculos são inspirados, na
maioria das vezes, em répteis como o crocodilo
Alguns fósseis mostram sinais de pelos, o que, segundo Kosemen, pode levar artistas a ilustrar suas criaturas com pelos apenas nas partes em que foram encontradas em um fóssil. No entanto, é possível que alguns dinossauros tivessem muito mais pelos do que geralmente é mostrado. "Imagine se você encontrasse um guaxinim, e apenas metade da cauda estivesse coberta de pelos; então você leva isso para uma reconstrução viva." 


Como um esqueleto de babuíno poderia ser interpretado pelos futuros paleoartistas
Um problema semelhante ocorre com a tendência relativamente recente de dar penas aos dinossauros. Embora seja uma boa maneira de adicionar um pouco de cor e talento a uma ilustração, a localização e a extensão das penas de dinossauro geralmente se baseiam mais na fantasia do que em qualquer realidade passada. Sobre isso Kosemen diz: "Temos penas de asa cheia em erupção de lugares distintos na cabeça. Ou coisas como um dinossauro de raptor pulando como um ninja e suas penas estão saindo de seus cotovelos ou articulações do joelho ou aquelas coisas estranhas."


Ilustração de um hipopótamo baseada em seu esqueleto
Há também a prática em que um artista transfere a paleta de cores das penas de um pássaro vivo para um dinossauro. Dada a diversidade e as colorações únicas que pertencem a variedades únicas de aves, é improvável que qualquer dinossauro compartilhasse os mesmos matizes. As penas da cabeça de um pato-real só existem uma vez na natureza. Não há como, no mundo, a roupa de um pássaro ser replicada em um dinossauro no passado.


Cisnes ilustrados como se fossem dinossauros sem penas
Outro problema está na área da proporção. Há uma tendência de exagerar a cabeça e as garras dos dinossauros. Certamente muitos dinossauros tinham grandes garras e temíveis cabeças, mas em muitas fotos parecem ser quase um cartoon. Claro que o desenhista usa de sua "licença artística" para tornar o desenho mais "comercial" e mais atrativo. Afinal, dinossauros são legais. Mas sempre temos que ter um pé atrás com essas representações. Como vimos, estamos sujeitos a erros e não temos todos os elementos desse quebra-cabeça. Quem sabe, um dia conheceremos esses maravilhosos animais e enfim saberemos de fato como eles eram...

(Alex Kretzschmar, Onze de Gênesis)

terça-feira, agosto 28, 2018

Hipóteses pós-modernistas sobre gênero prejudicam mulheres


Até o ano passado mulheres nos EUA estavam inadvertidamente tomando overdoses de pílulas para dormir. Em janeiro de 2013, a American Food and Drug Administration (FDA) ordenou que as companhias farmacêuticas cortassem as doses de Zolpidem (uma droga para insônia chamada Ambien) pela metade. Os efeitos colaterais da overdose de Zolpidem incluem pensamento debilitado, tempo de reação diminuído (na direção de veículos) e problemas alimentares. A FDA ordenou que os fabricantes providenciassem instruções de dosagem diferentes para homens e mulheres. Antes de tal decisão, as instruções para homens e mulheres eram as mesmas. Por quê? Porque ainda não sabemos o suficiente sobre como homens e mulheres metabolizam drogas de maneira diferente. Phyllis Greenberger, CEO da Sociedade para Pesquisa sobre Saúde da Mulher nos EUA, descreveu no mês passado para o Huffington Post: “A realidade é que não sabemos se uma droga vai prejudicar as mulheres até que elas comecem a tomar.”

Estamos em 2014 e as mulheres estão sob o risco de erros biomédicos preveníveis. Como chegamos até aqui? Primeiro, as drogas são testadas em animais antes que cheguem até testes em humanos. Os testes em animais fêmeas são mais difíceis de ser realizados, devido ao perfil hormonal mais complexo. O neurocientista Larry Cahill afirma que nosso entendimento da neurobiologia da mulher é escasso. Ele afirma que 93% dos animais usados em pesquisa neurocientífica são machos, simplesmente porque é mais fácil de estudá-los. Segundo, pesquisadores de medicina e saúde, incluindo neurocientistas e psicólogos, evitam estudar diferenças sexuais por medo de serem rotulados de “sexistas”. Uma psicóloga consistentemente rotula neurocientistas que publicam trabalhos em diferenças sexuais, rejeitando os trabalhos como “neurosexismo” ou “neurolixo”. Pesquisadores que desejam carreiras livres de controvérsias evitam tais áreas de pesquisa.

No campo da Medicina, doenças cardíacas, o assassino número um de mulheres na Austrália afeta homens e mulheres de maneira diferente. Mais mulheres morrem de ataques cardíacos do que machos, e fêmeas estão sob um risco maior de sangramento depois de uma cirurgia cardíaca. O cérebro das mulheres também é mais sensível à deterioração neuronal. Isso faz com que o Alzheimer seja mais prevalente entre mulheres se comparadas com homens. Segue-se que pesquisas focando nas diferenças sexuais entre homens e mulheres em nível neuronal é um problema da saúde da mulher. Insinuar que é um nicho de interesse de “neurosexistas”, em 2014, é simplesmente repreensível.

A rejeição de pesquisas em diferenças sexuais deriva de uma hipótese falsa profundamente arraigada  - de  que machos e fêmeas são os mesmos quando se trata de biologia. Para entendermos essa hipótese, temos que ir até Rousseau [sic][1] e sua ideia de tabula rasa. A "tabula rasa", em latim, significa "tábua raspada" ou, para nós, que um bebê nasce sem ideias preconcebidas, que sua mente é uma página em branco. De acordo com tal hipótese, a cultura escreve sobre essas páginas em branco, moldando o indivíduo até ele se conformar de acordo com normas sociais. O pensamento da tábua rasa está entre nós há muito tempo, mas alcançou seu zênite entre 1970 e 1980, quando a filosofia pós-moderna se tornou popular. O pós-moderno Michel Foucault encarou a Biologia e a Medicina com suspeição. Ele caracterizou instituições produtoras de conhecimento, como a clínica médica, como potenciais ferramentas de opressão. De acordo com os pós-modernistas, agendas de pesquisas tradicionais eram racistas, classistas, sexistas (às vezes não intencionalmente).

Tais ideias têm sido incrivelmente influentes. Em muitos cursos de graduação de Humanas  –  como estudos de Inglês ou de Gênero  –  estudantes aprendem que o método científico é enviesado para o fato de que “se você fizer certas perguntas você terá certas respostas”. Simplesmente pesquisar sobre diferenças sexuais reforça uma dicotomia cultural opressiva.

Hoje em dia ativistas antivacinação citam argumentos pós-modernistas em suas suspeitas sobre a indústria farmacêutica. A antropóloga Anna Katta escreveu: “Manifestantes antivacinação fazem argumentos pós-modernos que rejeitam fatos científicos e biomédicos em favor de suas próprias interpretações. Esses discursos pós-modernos precisam ser reconhecidos antes que o diálogo comece.”

Ideias pós-modernistas são apresentadas em uma linguagem complicada. Em seu coração, no entanto, está um manifesto implícito questionando "binários", dicotomias até então pensadas como autoevidentes, como masculino versus feminino, normal versus anormal, ou biologia versus cultura. Pós-modernistas nos falam que esses binários são arbitrários, que o gênero é fluído, por exemplo, e ao fazerem isso ajudam muitos homens e mulheres que não se encaixam em ideias estritas de masculinidade e feminilidade a explorar o sexo e o gênero com uma mente aberta.

Infelizmente, no entanto, a filosofia pós-modernista e a bagagem cultural da tábula rasa não ajudaram mulheres nas áreas da Medicina. De fato, as prejudicou. Simplesmente porque há muito mais no sexo biológico do que autonomia reprodutiva. E quando se trata de testes de hipóteses biomédicas ou intervenções, precisamos aplicar binários. Precisamos testar grupos de controle contra grupos experimentais, homens contra mulheres, para eliminar ruídos e vieses, para fazer inferências causais.

Ativistas zelosos podem argumentar que incorporar diferenças sexuais em estudos pode prover munição para aqueles que fazem generalizações sexistas sobre mulheres. No entanto, precisamos estar cientes também da atitude desdenhosa para com as pesquisas sobre as diferenças sexuais como um binário artificial. Se pesquisas sobre diferenças sexuais são automaticamente vistas como vilãs enquanto provas de similaridade são vistas como boas, então estamos falhando no pensamento crítico. (Se Foucault tivesse visto o quão rígido seus seguidores se tornaram, ele se reviraria no túmulo.)

A conclusão é que a saúde da mulher precisa ser vista com seriedade. Enquanto diferenças sexuais devem ser tratadas com ceticismo saudável (como qualquer outra agenda de pesquisa), se nós tivermos medo para fazer perguntas, terminaremos sem respostas.

[1] A tábula rasa foi um método proposto por John Locke, não por Rousseau.

Fonte: Claire Lehmann. Post-modern Assumptions About Gender Harm Women. 2014.


Nota: Gostaria de ter a oportunidade de cumprimentar pessoalmente a psicóloga australiana Claire Lehmann por esse excelente artigo. Infelizmente o mundo científico não está alheio às chafúrdias as quais acometem todo o resto dos mortais. Medo de ser rotulado, comportamento de manada, viés ideológico na pesquisa. A ciência é uma grande dádiva para a humanidade, mas precisa ser considerada como um fenômeno no qual a interferência humana produz resultados seguros no sentido de diminuir sua objetividade.

No caso específico do tópico do artigo, vemos mais uma vez conceitos anteriormente formulados sendo tomados como "verdade" e enviesando a pesquisa. Assim como o que acontece com a teoria da evolução, muitas vezes dados são descartados e moldados para se adaptar a uma "verdade" preconcebida. Curiosamente, é justamente disso que os céticos muitas vezes acusam aqueles que se atrevem ainda hoje a acreditar em Deus e na ciência que não procura destruir a Bíblia. Ironicamente, se a Bíblia fosse estudada com mais seriedade, poderíamos esperar resultados diferentes para essas pesquisas, pois nesse Livro há a compreensão de que homens e mulheres são inerentemente diferentes. Não homem melhor que mulher nem mulher melhor que homem. Apenas diferentes. Enquanto a Bíblia continua sendo ridicularizada, erroneamente considerada um compêndio de histórias sexistas, mais mulheres continuam sofrendo e morrendo. Talvez o maior sexismo seja o de prejudicar as fêmeas da espécie justamente por não reconhecê-las como tal e tratá-las na sua particularidade e complexidade. [AS]

sexta-feira, agosto 24, 2018

Definições oficiais de conceitos criacionistas

É fundamental saber o que significam os termos que abordamos em nossas conversas ou em nossos textos. O fato de não definirmos um termo da maneira correta implica em não conseguir transmitir a ideia correta em favor de nossas discussões. Muito se tem discutido sobre o que é criacionismo e quais as suas variações. Basta uma breve busca para nos depararmos com uma série de "definições" diferentes e confusas. Diante desse problema, a equipe de editores da Origem em Revista decidiu dedicar um tempo considerável para reunir os melhores especialistas em ciência da criação no Brasil, ligados à Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), a fim de que, juntos, pudessem desenvolver conceitos simples e diretos sobre cada um desses modelos das origens, para facilitar sua compreensão, bem como o conceito de ciência que norteará toda a linha de publicação da revista (e também deste blog).

Ciência é um conjunto infinito de métodos matemáticos que pode ser usado coerentemente em investigações sobre qualquer assunto. Esse conjunto de métodos é como uma caixa de ferramentas. Nela, encontramos os mais variados tipos de ferramentas para cada tipo de tarefa, desde as mais simples até as mais sofisticadas. Os pioneiros da ciência reconheciam a Matemática como estando na base de todas as demais áreas do conhecimento humano. Também entendiam que Matemática não se inventa, se aprende na natureza.

Evolucionismo é uma estrutura conceitual segundo a qual os seres vivos surgiram por processos naturais, casuais e a partir de um ancestral comum, e se diversificaram ao longo do tempo geológico por meio de pequenas e grandes mudanças, sem direção nem propósito definidos.

Criacionismo é uma estrutura/modelo conceitual que adota para o estudo da natureza a possibilidade da existência de um Criador. A vida teria sido criada inicialmente complexa, completa e funcional, em tipos básicos de seres vivos dotados do aporte necessário para sofrer diversificação limitada ao longo do tempo. Existem três principais ramificações distintas dentro do criacionismo: a religiosa, a bíblica e a científica.

Normalmente, quando falamos de criacionismo, as pessoas tendem a associar apenas aos dois primeiros e se esquecem de que existe uma terceira ramificação, que vem sendo divulgada desde 1970 nos Estados Unidos, chamada de “criacionismo científico”. Mas antes de falar sobre o criacionismo científico, vamos definir as duas propostas criacionistas mais conhecidas.

Criacionismo religioso é uma estrutura/modelo conceitual que, apenas pela fé, aceita como verdadeiros certos escritos de determinada religião, tais como exemplo o hinduísmo e o islamismo, que tratam da origem do universo e da vida. Não tem necessariamente a intenção de comprovar ou testar cientificamente suas afirmações. Também abrange os mitos da criação (tais como os chineses, hinduístas ou de tribos indígenas, por exemplo)

Criacionismo bíblico é uma estrutura/modelo conceitual que defende a Bíblia como a infalível Palavra de Deus. Leis, evidências, processos naturais e testes científicos são perfeitamente compatíveis com as revelações e os conceitos bíblicos. A vida é criada complexa e vai degenerando em decorrência dos efeitos deletérios do pecado, processo intensificado pelo dilúvio global, descrito na Bíblia e em outros documentos antigos.

Em relação à idade da terra, os criacionistas bíblicos utilizam a expressão “menos de 10.000 anos” para se referir ao tempo decorrido desde a criação. Isto porque o texto massorético da Bíblia hebraica sugere uma idade em torno de 6.000 anos, enquanto a versão Septuaginta sugere cerca de 7.500 anos, e a versão Samaritana ainda outro valor. O calendário judaico aponta também uma idade diferente.

Mas a grande confusão realmente está no “criacionismo científico”. Muitas pessoas confundem o criacionismo científico com o criacionismo bíblico, quando, na verdade, ambas são propostas distintas. O criacionismo científico não se preocupa em defender uma Terra jovem, de cerca de 6 a 10 mil anos de idade, tal como faz grande parte dos adeptos do criacionismo bíblico. Portanto, neste modelo, a Terra poderia ter 20 mil, 30 mil anos, caso as evidências atuais da ciência apontassem nessa direção (o que não é o caso)...

Muitas pessoas também confundem o “criacionismo científico” com o design inteligente. Segundo a definição oficial, o criacionismo científico é uma linha de pesquisa que utiliza métodos da ciência para identificar e analisar evidências de que o universo e a vida foram criados. O ‘criacionismo científico’ apenas avalia evidências de que processos naturais e leis da natureza não teriam trazido à existência o universo, a vida, nem a complexidade neles encontrada. Dessa forma, vemos que o criacionismo científico trabalha somente com processos naturais, leis da natureza e métodos matemáticos.

Já o design inteligente (DI) é uma proposta diferente. Oficialmente, ele é definido como “uma teoria científica que defende que certas características do universo e dos seres vivos são mais bem explicadas por uma causa inteligente ao invés de processo não direcionado, como a seleção natural”. O DI utiliza métodos da ciência a fim de demonstrar se o design observado na natureza é real ou um produto das leis naturais, necessidades ou do acaso. Logo, o design inteligente trabalha apenas com a detecção de design. Ou seja, seu campo investigativo é bem mais delimitado e específico em relação ao criacionismo científico.

Vai escrever um artigo científico, livro, matéria ou montar uma palestra sobre a controvérsia criacionismo versus evolucionismo? Bem, agora você já sabe que ao utilizar essas definições acima você estará divulgando de forma correta e honesta a ciência de nossas reais origens.

(Origem em Revista)

quinta-feira, agosto 23, 2018

“Orifício frontal”? Vagina é bem diferente de ânus


Parece não haver limites para as sandices cometidas pelos defensores da ideologia de gênero e da inclusividade. Desta vez foi o portal de informações norte-americano sobre saúde Healthline que forçou um pouco mais os limites do politicamente correto ao afirmar que o uso do termo médico/biológico “vagina” não é “linguagem inclusiva de gênero”, e então usa intercambiavelmente a expressão “orifício frontal”. “É imperativo que guias sexuais seguros se tornem mais inclusivos para as pessoas LGBTQIA e não binárias”, afirma o guia da Healthline. “Para os fins deste guia, vamos nos referir à vagina como o ‘orifício da frente’, em vez de usar apenas o termo médico ‘vagina’”, continua o documento. “Essa é uma linguagem inclusiva de gênero que considera o fato de que algumas pessoas trans não se identificam com os rótulos que a comunidade médica atribui aos genitais.”

O guia diz ainda que algumas pessoas trans e não binárias designadas como femininas ao nascer podem gostar de ser participantes do “sexo penetrativo”, mas não se sentem confortáveis quando essa parte de seu corpo é mencionada usando uma palavra que a sociedade e as comunidades profissionais associam com feminilidade. “Uma alternativa que está se tornando cada vez mais popular em comunidades trans e queer é o ‘buraco’ ou ‘orifício’ da frente.”

E então, renomeando-a, a vagina deixa de ser vagina e passa a ser comparada ao “orifício de trás”.  

O cérebro, o embrião, a mente e o aborto

Tudo começou em uma tarde de segunda-feira, com uma imagem enviada pelo Whatsapp. A imagem fazia refletir se fetos eram humanos ou não. A partir de quando o feto se torna um ser vivo [humano]? Qual a relação disso com a Bíblia e o aborto? Realmente, tratar dessas questões é encontrar uma série de problemáticas envolvidas. E para falar de aborto pautaríamos a nossa discussão usando a cosmovisão cristã. Nossos valores seriam expostos na mesa como se fossem cartas de um baralho e logicamente como 1 + 1 é 2 chegaríamos a um consenso sobre todas as perguntas que o tema envolve. Porém, o problema é mais “cabeludo” do que perece ser. Entendemos aborto como qualquer ação que vise a pôr fim a uma gravidez já estabelecida. Nesse sentido, é diferente de controle de natalidade, em que a intenção é de impedir a gravidez. Compreendemos que tudo que foge da ordem natural [criação original] deve ser observado com atenção. Aborto, em nossa cosmovisão, é errado e, consequentemente, taxado como pecado perante Deus. Sexo fora do casamento, sem exceções, também está fora do modelo bíblico. Seria muito mais fácil usar métodos contraceptivos do que encarar um aborto. E a gravidez indesejada acontece, na maioria das vezes, pelo ato sexual inconsequente. Claro que não estamos esquecendo os casos de estupro, problemas de malformação cerebral ou abortos que envolvem a saúde da mãe [E não estamos discutindo a validade do aborto nesses casos, apesar de sermos contra]. Porém, estupro ou sexo fora do casamento são moralmente errados pelos nossos valores bíblicos. O que queremos enfatizar é que o aborto é o resultado de uma prática longe dos preceitos naturais do Criador.

[Continue lendo.]

quinta-feira, agosto 16, 2018

Marcas de ondas e o que elas revelam


Segundo a cosmovisão criacionista, o planeta Terra passou por uma catástrofe hídrica que o cobriu totalmente. Hoje encontramos indícios nas mais altas montanhas da ocorrência desse evento cataclísmico. Por exemplo, no monte Everest (que segundo o modelo criacionista não existia), há ocorrência de fósseis de animais marinhos. Também é possível encontrar fósseis em desertos, sugerindo que esse ambiente um dia já foi coberto pela água, e marcas de erosão subaérea em várias partes do planeta sugerem o recuo das águas diluvianas.[1] Ou seja, nosso planeta é a "cicatriz" de uma catástrofe hídrica. Uma das mais intrigantes marcas do dilúvio são as marcas de ondas. Marcas de ondulação são estruturas sedimentares e indicam agitação por água (corrente ou ondas). Os vales e as cristas de marcas de ondulações fossilizadas em arenito e siltitos são versões endurecidas das ondulações de curta duração na areia solta de um riacho, lago, mar ou dunas de areia modernas. Ondulações podem ser feitas por água ou, em dunas de areia, pelo vento. A simetria das marcas onduladas da corrente de água indica se elas foram formadas por ondas suaves ou correntes de águas mais agitadas.


As marcas de ondulação formadas pela água consistem resumidamente em dois tipos básicos: simétrico e assimétrico.[2]

1. Simétricas - São produzidas por ondas ou água oscilante. Têm um perfil quase sinusoidal. Essas marcas onduladas indicam um ambiente com correntes fracas onde o movimento da água é dominado pelas oscilações das ondas (grãos de areia estão se movendo em ambas as direções, para frente e para trás).

2. Assimétricas - São produzidas com um suave declive de corrente ascendente e uma inclinação mais acentuada para baixo. Devido a essa geometria única, as ondulações assimétricas no registro de rochas podem ser usadas para determinar antigas direções atuais ou direções de paleocorrentes. Essas marcas onduladas são formadas em ambientes deposicionais fluviais e eólicos (os grãos de areia estão se movendo apenas em uma direção).
(A) - Simétricas   (B) - Assimétricas

Tradicionalmente, os geólogos supõem que os depósitos são tipicamente resultados dos processos calmos e graduais e uniformitários atualmente em operação. Por outro lado, os modelos geológicos mais recentes reconhecem que os processos do passado agiram em taxas, escalas e intensidades muito superiores às de hoje. Eram os mesmos processos básicos, mas atuavam em níveis catastróficos, realizando muito trabalho deposicional em pouco tempo, em alguns casos. A continuação de uma ação catastrófica depositaria rapidamente uma segunda camada e, depois, mais. A questão permanece: Qual o tempo de duração para a formação desses depósitos sedimentares? 

Numerosos depósitos de tempestades recentes, dominados pela estrutura sedimentar, foram investigados em um ambiente natural. Observou-se que em poucos meses toda a estrutura sedimentar foi destruída, sendo intensa a bioturbação em sedimentos moles. Enquanto os sedimentos ainda permanecem inconsolidados, são facilmente propensos a bioturbação, ocasionando, muitas vezes, a perda das estruturas primárias. No entanto, o registro geológico é rico em tal estrutura sedimentar. Isso nos mostra que elas são muito frágeis e suscetíveis a deformações por causa do ambiente. E isso está de acordo com a ideia criacionista de que essas formações poderiam ter ocorrido rapidamente. 

Desse modo, podemos sugerir que praticamente todos os sedimentos necessitaram apenas de um curto período de tempo para se acumular em vários eventos de alta energia. A estrutura sedimentar é frágil e de curta duração, mas essas características são abundantes em quase todas as camadas de rochas sedimentares encontradas no planeta. Cada camada foi colocada em um curto período de tempo. O depósito não poderia ter sido exposto por muito tempo antes que o próximo o cobrisse, isolando-o da bioturbação destrutiva. Assim, o período de tempo entre as camadas não poderia ter sido extenso. Isso sugere que o tempo total envolvido na formação de toda a sequência provavelmente foi curto.

Nesse contexto, modelos criacionistas sugerem que essas marcas sedimentares se formaram em um curto período de tempo, e algumas delas apontam para uma catástrofe hídrica global.

San Rafael Swell, Utah

Parque em Utah
Lago Missoula

Cordilheira Anti-Atlas de Marrocos

National Park in Montana
West Virginian Valley


Conclusão

Nem todas as marcas encontradas se referem ao dilúvio; muitas se formaram em períodos diferentes e em ambientes deposicionais distintos. Porém, esses indícios apresentados nos dão uma luz sobre a ocorrência dessa grande inundação ocorrida em toda a Terra. O dilúvio global descrito em Gênesis ainda nos intriga e ano após ano novos indícios apontam para a veracidade do relato bíblico. Certamente nosso planeta nos revela, cada vez mais, peças desse grande “quebra-cabeça” cataclísmico.

(Alex Kretzschmar, com revisão de Herlon Costa)

Referências
[1] Artigo publicado na
"TheRoyal Society" sobre fósseis de baleias no deserto do Atacama.
[2] UHLEIN. A. et al. Apostila de Sedimentologia e Petrologia Sedimentar. UFMG.

sexta-feira, agosto 10, 2018

Estromatólitos: evidências da hidrologia pré-diluviana (parte 2)

Recentemente, a equipe de pesquisa do ICR apresentou uma interpretação da geografia pré-diluviana baseada em estudos de sedimentos do Dilúvio e suas relativas camadas estratigráficas. Montamos o mapa usando dados de mais de 1.500 colunas estratigráficas de três continentes.[10] Escolhemos uma configuração semelhante à do supercontinente Pangeia, pois se encaixa melhor nos dados empíricos. Usando esse mapa, a equipe plotou a localização de muitos dos locais conhecidos com fósseis de estromatólitos ao redor do mundo (figura ao lado). Nosso estudo estratigráfico cobre apenas áreas da América do Norte, América do Sul e África, até o momento, mas esperamos que as localizações dos estromatólitos sejam semelhantes no restante do globo. Uma análise do mapa mostra que os estromatólitos não parecem seguir nenhum padrão ambiental específico. Suas localizações são encontradas em regiões pré-diluvianas que são interpretadas como mares rasos, terras baixas e terras altas. 

Antes da recente descoberta de estromatólitos em terra, essa interpretação teria se mostrado incoerente. Mas agora, com registros de estromatólitos encontrados vivendo em água doce, água salgada e também em terra, não é nenhuma surpresa pensar que os estromatólitos antes do dilúvio existiam em todos os tipos de ambientes. 

Deus nos revela em Gênesis 2:6 que antes da grande inundação “brotava água da terra e irrigava toda a superfície do solo” (Nova Versão Internacional). Se nossa interpretação baseada nos dados estiver correta, a presença de estromatólitos fósseis confirma a hidrologia pré-diluviana, como descrita no livro de Gênesis. O planeta devia ter grande abundância de nascentes, para permitir o florescimento de estromatólitos em todos os continentes e em todos os ambientes. As nascentes regavam tanto as terras baixas quanto as terras altas, provendo águas ricas em minerais nas quais os estromatólitos prosperavam. 

Deus também criou o ambiente perfeito para o crescimento das bioconstruções, nos mares rasos pré-diluvianos. Estes eram provavelmente alimentados pelas fontes de água que proveram condições hipersalinas semelhantes às encontradas atualmente em Shark Bay, na Austrália. 

A história dos estromatólitos se encaixa melhor em uma criação recente e um posterior dilúvio, como descrito na Bíblia. A maioria dos cientistas criacionistas concorda que Deus fez os estromatólitos como parte da criação original, provavelmente no terceiro dia da semana da criação, quando Ele fez as plantas. Os estromatólitos aparentemente se proliferaram em ambientes pré-diluvianos e cresceram extensivamente durante os cerca de 1.650 anos que separaram a criação e o dilúvio. Além disso, os criacionistas propõem que a natureza catastrófica do dilúvio redesenhou a superfície da Terra, e destruiu os ambientes pré-diluvianos onde os estromatólitos anteriormente se proliferavam.[11]

Atualmente, são apenas ambientes específicos que permitem o desenvolvimento e crescimento das esteiras microbianas, seja em terra ou no oceano. O dilúvio também destruiu a maior parte do registro estratigráfico anterior a ele, que continha a maioria dos estromatólitos. Apenas algumas exposições de rochas dessa época são encontradas ao redor do mundo, nas rochas do Arqueano e Proterozóico. É claro que muitas provavelmente permanecem cobertas pelos sedimentos pós-diluvianos, e outras foram, sem dúvida, destruídas pelas altas pressões e temperaturas associadas ao movimento rápido das placas e aos eventos de vulcanismo que ocorreram durante o evento da grande inundação. Mas, mesmo assim, há restos suficientes preservados para indicar sua abundância. 

Essas descobertas recentes ajudam a demonstrar a exatidão e a confiabilidade da Palavra de Deus. Algumas pessoas argumentam que existem erros na Bíblia e que sua representação sobre a história da Terra não deve ser levada a sério, por não se tratar de um livro científico. Mesmo assim, vez após vez a ciência verdadeira vem demonstrando a verdade contida no relato bíblico. Quando a Bíblia trata sobre cência, sempre se mostra correta, até o mínimo detalhe. 

(Texto original: Tim Clarey, PhD. Tradução e adaptação: Hérlon Costa e Thiago Soldani)

Referências:
1) Neuendorf, K. K. E., J. P. Mehl, Jr., and J. A. Jackson, eds. 2005. Glossary of Geology, 5th ed. Alexandria, VA: American Geological Institute, 636. 
2) Proemse, B. C. et al. 2017. Stromatolites on the rise in peat-bound karstic wetlands. Scientific Reports. 7: 15384. 
3) Wicander, R., and J. S. Monroe. 2016. Historical Geology: Evolution of Earth and Life Through Time, 8th ed. Boston, MA: Cengage Learning. 
4) Lowe, D. R. 1994. Abiological origin of described stromatolites older than 3.2 Ga. Geology. 22 (5): 387-390. 
5) Hladil, J. 2005. The formation of stromatactis-type fenestral structures during the sedimentation of experimental slurries—a possible clue to a 120-year-old puzzle about stromatactis. Bulletin of Geosciences. 80 (3): 193-211. 
6) Mueller, P. A., and A. P. Nutman. 2017. The Archean-Hadean Earth: Modern paradigms and ancient processes. In The Web of Geological Sciences: Advances, Impacts, and Interactions II. M. E. Bickford, ed. Boulder, CO: Geological Society of America Special Paper 523, 75-237. 
7) Tomkins, J. P. and T. Clarey. Cellular Evolution Debunked by Evolutionists. Creation Science Update. Posted on ICR.org September 29, 2016, accessed March 10, 2018. 
8) Awramik, S. M. and K. Grey. 2005. Stromatolites: biogenecity, biosignatures, and bioconfusion. Proceedings of the SPIE. 5906: 1-9. 
9) Frazer, J. Stromatolites Defy Odds by A) Living B) on Land. Scientific American. Posted on blogs.scientificamerican.com December 21, 2017, accessed January 4, 2018. 
10) Clarey, T. 2018. Assembling the Pre-Flood World. Acts & Facts. 47 (4): 11-13. 
11) Purdom, G. and A. A. Snelling. 2013. Survey of Microbial Composition and Mechanisms of Living Stromatolites of the Bahamas and Australia: Developing Criteria to Determine the Biogenicity of Fossil Stromatolites. In Proceedings of the Seventh International Conference on Creationism. M. Horstemeyer, ed. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship. *Dr. Timothy Clarey é pesquisador associado ao Institute for Creation Research e obteve seu Ph.D em Geologia pela Western Michigan University. Para citar este artigo: Tim Clarey, Ph.D. 2018. Stromatolites: Evidence of Pre-Flood Hydrology. Acts & Facts. 47 (5).

Instituição evoteísta faz ataque silencioso ao criacionismo


Este blog reconhece o esforço de todas as entidades e organizações que estão defendendo a fé cristã bíblica por meio de uma apologética consistente e racional. Reconhecemos também o grande trabalho que essas mesmas entidades têm feito nos campi seculares tão desafiadores. Precisamos mesmo mostrar a uma sociedade cada vez mais relativista e “desigrejada” que o cristianismo oferece, sim, respostas apropriadas para as grandes questões, e que a Bíblia pode e deve ser o fundamento de uma cosmovisão útil para o entendimento da realidade que nos rodeia. Autores como William Lane Craig, Ravi Zacharias, Alvin Plantinga, Lee Strobel e outros têm dado tremenda contribuição nesse sentido. Ocorre que alguns desses autores e algumas dessas entidades acabam “escorregando” aqui e acolá. Talvez a maior “pisada de bola” seja o ensino da evolução teísta e a alegorização dos primeiros capítulos de Gênesis. Já tratamos aqui no blog das sérias implicações desse tipo de ensino (confira aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). No texto a seguir, originalmente postado no blog “Raciocínio Cristão”, Everton Alves expressa educadamente sua preocupação com uma dessas entidades. [MB]

Recentemente, escrevi a matéria “O avanço do evolucionismo teísta no Brasil” para fins de esclarecimento quanto ao perigo real do intento de harmonizar o evolucionismo com a Bíblia e de que forma essa cosmovisão evoteísta acaba por minar todas as afirmações bíblicas. Ademais, abordei o avanço dessa proposta no Brasil, principalmente por meio da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2).

É válido mencionar, antes de adentrarmos o tema, que a ABC2 vem fazendo um bom trabalho quando o assunto é explorar as ciências humanas. Poucas organizações cristãs no Brasil têm focado o historicismo nessas áreas. A ABC², então, tem se tornado referência sobre esse problema grave para a fé cristã, uma vez que esse tema está relacionado a ideias que vão contra as crenças cristãs dentro da Academia. Portanto, para quem tem interesse em filosofia e epistemologia, a ABC² se torna destaque devido às suas contribuições para esses campos de estudo.

O problema, como o próprio título da matéria diz, é em relação à aceitação e divulgação do modelo evolucionista teísta, por meio de materiais bibliográficos e audiovisuais que a associação tem produzido que, por outro lado, deturpam claramente a Palavra de Deus. Há uma tendência crescente de infiltrar esse tema cada vez mais no meio protestante, uma vez que o catolicismo já o abraçou de vez. Ademais, as publicações da ABC2 têm cada vez mais sido usadas para atacar o criacionismo bíblico literal. É aí que mora o perigo!

Para fins didáticos, defino “evolucionismo teísta” como sendo um modelo conceitual que reconhece, até certo ponto, que Deus é o Criador e mantenedor do Universo e da vida. No entanto, rejeita a interpretação literal do livro de Gênesis quanto à origem da vida e declara que, embora a narrativa afirme a criação especial, ela não é exata, pois os cientistas “demonstraram” que os organismos surgiram por evolução. Por isso, Deus teria criado o ser humano utilizando-Se, para tanto, não da criação ex nihilo (do nada), mas, sim, dos mecanismos evolutivos a partir de animais inferiores.

Histórico de advertências sobre o trabalho da ABC2

Ao longo dos últimos anos, proponentes do criacionismo e do design inteligente vêm expondo, publicamente, a má teologia, a má filosofia e a má ciência presentes no modelo evoteísta. Até onde sei, temos, por exemplo, o caso do professor Christiano P. da Silva Neto, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa da Criação, que em um breve artigo intitulado “Emergência: grave ameaça à fé cristã”, adverte os criacionistas a ficar vigilantes com essa proposta promovida pela ABC2:

“Durante os anos de 2016 e 2017 entramos em contato com mais de 20 igrejas que estavam recebendo a ABC2 para encontros de fins de semana. Nenhuma delas tinha conhecimento de que estavam abrigando uma organização evolucionista. Algumas, ao serem informadas a esse respeito, cancelaram a programação; outras preferiram manter o acordo que haviam firmado.

“Curiosamente, os livros utilizados pela organização, escritos por conhecidos evolucionistas teístas, foram publicados pela Editora Ultimato, de Viçosa, cujo fundador, hoje falecido, esteve na cerimônia de fundação de nossa associação, em 1979, parabenizando-nos pela realização.

“Não temos a menor ideia do que tem motivado essas pessoas para o trabalho que realizam. Sabemos, entretanto, que eles nos consideram, a nós criacionistas, como perniciosos para o desenvolvimento da fé cristã. Nós, porém, estamos convictos de que a ABPC é, no sentido teológico, um ministério, isto é, uma atividade para a qual fomos devidamente convocados pelo nosso Deus Criador. Através do trabalho que realizamos revelamos o fato de que a natureza e as Escrituras, na pureza de sua narrativa da criação, falam a mesma linguagem sobre nossas origens.”

De igual modo, em 2016, a Sociedade Criacionista Origem & Destino, por meio de seu atual presidente, Johannes Janzen, veio a público com uma matéria intitulada “A morte no mundo e a evolução teísta” criticar o evolucionismo teísta promovido pela ABC2 e o problema filosófico e teológico da entrada da morte em nosso planeta:

“Os escritos do BioLogos têm sido amplamente divulgados no Brasil, principalmente através da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência. BioLogos, através de teólogos como Tim Keller, defende a evolução teísta. [...] A Bíblia ensina que a morte entrou no mundo através de Adão (Romanos 5:12). A evolução teísta precisa argumentar que Adão entrou no mundo através da morte. Na visão bíblica, Adão é o pai da morte. Na visão do evolucionismo teísta, a morte é o pai de Adão. A diferença é fortíssima. Essa monstruosidade, de acordo com a teologia do BioLogos, não possui conexão com o pecado humano. Criaturas fofas sempre morreram, muitas delas dolorosamente. E Deus chamou isso de ‘bom’.”

Por sua vez, em 2017, Enézio de Almeida filho, pioneiro e fundador do movimento do design inteligente no Brasil, também alertou publicamente seus leitores ao postar no blog Desafiando a Nomenklatura Científica uma matéria intitulada “Contra a Associação Brasileira Cristãos na Ciência, este livro critica o teísmo evolucionista científica, filosófica e teologicamente”.

Problemas filosóficos e científicos no modelo evolucionista teísta

Quanto ao problema da suposta “harmonização” da Bíblia com o modelo evolutivo, o astrofísico e matemático Eduardo Lütz, palestrante da Sociedade Criacionista Brasileira, afirma em entrevista ao blog Criacionismo:

“É uma tentativa de união de duas coisas incompatíveis. Isso só pode ser feito pela descaracterização de uma das componentes. A componente que tem sido descaracterizada é a Bíblia. Além disso, não se trata de tentar harmonizar Bíblia e Ciência por dois motivos. Primeiro, porque desautorizar afirmações bíblicas não pode fazer parte da harmonização de qualquer coisa com a Bíblia. Segundo, porque evolução darwiniana não é Ciência. É uma estrutura conceitual específica o suficiente para ser filosoficamente atraente e vaga o suficiente para que possamos encaixar nela virtualmente qualquer coisa e depois dizer que tudo é evidência de que a ideia estava certa. Não há uma formalização matemática fundamental e geral desse modelo conceitual, apenas pequenos modelos aqui e ali para tratar de temas periféricos. Ciência é uma caixa de ferramentas matemáticas das quais Darwin não fez uso para montar seu esquema filosófico.”

De fato, Lütz tem razão quando afirma que sempre, quando há uma tentativa de “harmonizar” a Bíblia com um falso tipo de ciência, uma das componentes é descaracterizada; na verdade, quando a proposta evolucionista teísta está no cerne dessa tentativa, curiosamente é a Bíblia que acaba sendo descaracterizada. Podemos ver essa situação sendo admitida em uma matéria no site da ABC2 intitulada “Novos livros da Série Ciência e Fé Cristã”, que trata de um dos seus livros recém-lançado:

“AlisterMcGrath mostra como a fé cristã se adaptou ao darwinismo e pergunta se há um lugar para o design tanto no mundo da ciência como no mundo da teologia.”

Diante disso, fico a pensar: Que audácia, né?

Problemas teológicos no modelo evolucionista teísta

Como vimos no texto anterior, essa proposta é perigosa, pois retira a autoridade e integridade bíblicas, desfaz todo o significado da redenção em Cristo e acaba por derrubar toda a mensagem bíblica posterior; em relação a isso, podemos comparar esse processo com aquela brincadeira de empilhar peças de dominó e empurrar apenas a primeira, o que faz com que todas as demais peças caiam por terra.

Um dos pilares da doutrina da salvação é a criação especial; conforme a interpretação literal que o texto exige, qualquer interpretação que não seja essa é forçar o texto a dizer o que ele não diz. Quer um exemplo? Por que Jesus teria que morrer numa cruz pela humanidade “caída” se essa humanidade, de fato, não tivesse caído em pecado como o texto diz? Esse Jesus teria morrido em vão, certo?

E quanto às menções no Novo Testamento que reiteram a historicidade dos primeiros onze capítulos de Gênesis? Jesus Cristo e Seus apóstolos referiram-se ao relato de Gênesis como factual e não como alegórico. Jesus fez menção aos eventos dos primeiros capítulos de Gênesis (Mateus 19:4 e 24:37) como fato e não alegoria. Além de Cristo, o próprio Deus Pai atestou a historicidade do livro de Gênesis (Êxodo 20:11).

O apóstolo Paulo nos diz que a morte surgiu por causa do pecado (e não que a morte fosse o resultado de erros e acertos ao longo de bilhões de anos por meio de seleção natural agindo sobre mutações aleatórias e sobrevivência do mais apto). Podemos ver isso em Romanos 5:12-21, onde nos é apresentada uma descrição literal da entrada do pecado e da morte no planeta por meio de Adão e a solução para esse problema em Cristo (ver também 1 Coríntios 15:21, 22, 45; 2 Coríntios 11:3; 1 Timóteo 2:13, 14).

Pedro também foi outro apóstolo que entendia os eventos descritos em Gênesis como sendo reais (2 Pedro 2:5 e 3:6). E, para finalizar, Judas, também disse o seguinte: “Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre Suas santas miríades” (Judas 1:14).

O ataque silencioso, quase imperceptível contra o criacionismo

Em um artigo traduzido e publicado no site da ABC2, intitulado “O Deus das ondas gravitacionais”, a autora faz o seguinte comentário acerca dos criacionistas:

“Um criacionista acredita que a teoria da evolução é insidiosa porque, à sua maneira de pensar, se aceitarmos a ideia de que a vida surgiu a partir da ‘sopa primordial’ e evoluiu para os seres humanos, como podemos reivindicar que ela foi criada por um Criador divino? Esse tipo de raciocínio surge com tanta frequência que o apelidamos de o ‘Deus das lacunas’. Para os cristãos, o problema de raciocínio com o ‘Deus-das-lacunas’ é que ele coloca a ciência e a fé uma contra a outra.”

Nada mais longe da verdade. Isso porque criacionistas entendem, a partir de Romanos 1:19 e 20 e outras evidências escriturísticas, que tanto a Bíblia quanto o livro da natureza (e a verdadeira ciência) nunca entram em contradição, pelo contrário, ambos nos levam a conhecer mais sobre o Criador e Sua forma de agir neste mundo; por outro lado, a “ciência” a que ela está se referindo, um tipo falso de ciência fundamentado em pressupostos filosóficos naturalistas, baseado em um ínfimo agregado de dados frágeis e contestáveis, essa, sim, de fato, não é possível ser harmonizada com a Bíblia e, por conta disso, estará sempre em caminhos opostos à Palavra de Deus. Por outro lado, em vez de Deus-das-lacunas, poderíamos utilizar a mesma estratégia e rotular o modelo evolucionista como o “Darwin-das-lacunas” ou “milhões e milhões de anos-das-lacunas”, que é o que tem supostamente preenchido as contas acerca da origem da vida a partir da perspectiva evolutiva; porém, essa conta, na realidade, nunca fecha.

Outra matéria traduzida e publicada no site da ABC2 intitulada “Escritura, Ciência e Hermenêutica” vai além, parte para o ataque e diz o seguinte quanto à forma de interpretação literal dos criacionistas:

“Não é de se estranhar que invenções semiteológicas como o criacionismo científico são concebidas a partir desse tipo de ‘química’ teológica e frequentemente entram em contradição com o mundo acadêmico.”

Seria ingenuidade ou simplesmente desonestidade intelectual? Vale a pena lembrar-lhes, caso desconheçam realmente fatos básicos da História da Ciência, que o criacionismo científico aceito pelos pais da ciência foi o trampolim para a verdadeira revolução científica. (Para quem quiser saber mais, recomendo alguns artigos: aqui e aqui.)

Se não bastasse, em entrevista ao site da ABC2, Guilherme de Carvalho, vice-presidente da instituição, quando questionado se a teoria da evolução é incompatível com a cosmovisão cristã, afirmou:

“Eu mesmo me descrevo como criacionista evolucionário [...] e aceito a HNE [História Natural Evolucionária].”

Em seguida, quando questionado se a teoria da evolução não levaria à incredulidade e à apostasia, o vice-presidente da ABC2 não poupou palavras ao atacar o criacionismo:

“Temo que o ‘criacionismo-da-Terra-jovem’ seja não o salvador, mas o responsável pela alienação de muitos cientistas em relação à fé cristã, e de muitos jovens cristãos aspirantes à ciência. Certamente muitos falham em manter a ousadia cristã diante da oposição secular; mas para vários o problema é antes o sentimento de não poderem honestamente abandonar a ciência moderna em favor de um criacionismo científico com credenciais questionáveis. O fato é que a identificação desnecessária de uma fé genuína com o criacionismo científico torna a solução do dilema algo impossível para muitos jovens universitários. E assim eles ganham mais uma razão para abandonar a igreja. O que acontece, na minha opinião, é que o criacionismo científico torna-se involuntariamente aliado dos naturalistas e neoateístas, quando concorda com eles sobre a absoluta incompatibilidade entre a biologia evolucionária e a fé evangélica.”

No caso, percebo uma incoerência e uma manobra estranha e desesperada em virar o jogo contra os criacionistas a fim de conseguir espaço para o evoteísmo nas igrejas evangélicas. “Criacionismo com credenciais questionáveis”? De onde você tirou isso, senhor vice-presidente da ABC2? Qual é sua real intenção?

Bom, quanto à questão de o criacionismo ser aliado dos naturalistas e neoateístas, o fato é que a biologia evolucionária (ciência histórica baseada no naturalismo filosófico), conforme classificado pelo próprio biólogo evolutivo Ernst Mayr, ao contrário da biologia funcional/observacional, é caracterizada por cenários imaginários e narrativas hipotéticas nas quais a experimentação não ocorre. Portanto, neste caso específico, concordamos com o senhor vice-presidente da ABC2, ao ele afirmar que há uma absoluta incompatibilidade entre biologia evolucionária (histórica) e a fé evangélica.