segunda-feira, setembro 24, 2018

Um convite especial para você

Tenho um convite especial para você que mora na região de São Paulo. Anote aí na sua agenda: no próximo domingo, dia 30, às 10 horas da manhã, estarei no auditório Elis Regina, no Anhembi, e vou apresentar uma palestra durante o Encontro Literário IDE, evento que faz parte da ExpoCristã. Serão vários os palestrantes renomados do mundo gospel que ocuparão o palco entre os dias 27 e 30, e eu fui o único adventista convidado a falar ali. O tema? “Razões para Crer: jornalista ex-evolucionista investiga os argumentos sobre a existência de Deus”. Em uma época de tanta incredulidade, de tanto relativismo e de uma fé superficial, os desafios ao cristianismo são cada vez mais fortes e frequentes. Você saberia argumentar em favor da existência de Deus apresentando razões filosóficas e científicas? Conseguiria manter um diálogo respeitoso com um ateu com base em fatos concretos? Acredito que minha palestra poderá muni-lo de ideias e informações úteis para o desenvolvimento de uma boa apologética cristã. Afinal, eu sempre acreditei, como Newton, Galileu e outros pioneiros da ciência, que fé e razão podem e devem andar de mãos dadas.

Você conhece os argumentos cosmológico, teleológico, ontológico, arqueológico e profético? Não? Então, se fosse você, eu não perderia essa palestra!

Faça sua inscrição agora mesmo aqui e garanta sua vaga. A entrada é gratuita. O auditório tem 800 lugares e eu gostaria que todos eles estivessem ocupados por pessoas interessadas em crescer na fé e no verdadeiro conhecimento. Logo após a palestra estarei no estande best-sellers apresentando meus livros e conversando com leitores e interessados no assunto.

Vejo você lá!  

Michelson Borges

Em face da morte: no abismo do nada ou nos braços de Deus?

Conta-se que “no início de setembro de 1869, Leon Tolstoi escreveu uma carta à esposa Sonya, que começava assim: ‘Uma coisa extraordinária me aconteceu em Arzamas. Eram duas e meia da manhã [...]. De repente, fui tomado de um desespero, um medo, um terror tal que nunca tinha conhecido antes. Depois lhe contarei os detalhes.’” O filósofo Kerry Walters, comentando esse estranho episódio, relata: “Quando passou sua noite terrível em Arzamas, Tolstoi tinha quarenta e poucos anos, excelente forma física e era marido e pai feliz. Era rico e aclamado em toda a Europa, como um dos maiores escritores de seu tempo. Além disso, acabara de dar os últimos retoques em sua obra-prima, Guerra e Paz. Estava no auge da vida. Tolstoi decidiu dar-se umas férias, viajando centenas de quilômetros até uma propriedade que estava interessado em comprar. A caminho, no meio da estepe russa, parou para passar a noite em uma tosca estalagem no vilarejo isolado de Arzamas. Jantou e se retirou para o quarto, completamente em paz consigo mesmo e com o mundo. Mas, nas horas escuras antes do amanhecer, Tolstoi acordou em pânico, com a certeza de que havia uma presença sinistra no quarto com ele. Tentando se acalmar, murmurou: ‘Isto é ridículo [...]. Do que estou com medo?’ Então ouviu uma resposta: ‘De mim’, respondeu a Morte. ‘Estou aqui.’”

O próprio Tolstoi narrou posteriormente que “um tremor frio percorreu-me a espinha. Sim, a Morte. Ela virá, já está aqui, embora nada tenha a ver comigo agora [...]. Todo o meu ser padecia com a necessidade de viver, o direito de viver e, no mesmo instante, senti a morte em ação. E foi horrível ser partido por dentro. Tentei afastar meu terror. Achei um toco de vela em um cadelabro de bronze e o acendi. A chama avermelhada, a vela mais curta que o castiçal, tudo me dizia a mesma coisa: não há nada na vida, não existe nada a não ser a morte e a morte não deveria existir!” Sobre a experiência esquisita e apavorante do escritor russo, Kerry Walters conclui: “Tolstoi iniciou a viagem de volta para casa completamente mudado. Essa horrível noite de pânico da morte no fim do verão de 1869 marcou-o para o resto da vida. O conto de Tolstoi ‘A morte de Ivan Ilych’, um dos retratos ficcionais mais absorventes e autênticos do processo de morrer, surgiu dessa experiência”.

Certa vez me perguntaram se eu tinha medo de morrer. Respondi que não gostaria de morrer; por isso, há dentro de mim o receio da morte. Tal como Tolstoi, eu só poderia encará-la com amedrontamento. No entanto, em maior ou menor grau, embora o medo da morte seja um sentimento universalmente experimentado, existiria a possibilidade de a “indesejada das gentes” ser enfrentada com certa coragem e até mesmo com esperança? Ou seria muita pretensão só cabível na ficção poética de Manuel Bandeira?

“Quando a Indesejada das gentes chegar / (Não sei se dura ou caroável), / Talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: / — Alô, iniludível! / O meu dia foi bom, pode a noite descer. / (A noite com seus sortilégios.) / Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, / A mesa posta, / Com cada coisa em seu lugar.”

Quem não se lembra daquele ente amado pelo qual são derramadas lágrimas de saudade? Eu mesmo já perdi para a morte – recentemente até – algumas pessoas preciosas. A consciência da perda (saber que meus queridos passaram para a inexistência antes de mim) aumentou ainda mais minhas reflexões acerca do processo de morrer, o qual já começa com o nascimento. Pois, diferentemente dos animais, o homem morre e sabe que morre. Esse conhecimento instiga seu temor e curiosidade a ponto de questionar: “O que acontecerá comigo quando eu me for? Desaparecerei para sempre ou haverá alguma forma de sobrevivência do meu eu?”

Constitui a vida uma trajetória para o nada, a completa dissolução a ponto de virarmos “poeira das estrelas”? Ou morrer significa a “passagem” para um suposto mundo pós-morte, de acordo com algumas crenças religiosas? Morrendo, entramos de fato na extinção total ou passamos para outro estado de “vida”? São ideias antagônicas apresentadas à humanidade, as quais nos desafiam a investigar a natureza da morte e a buscar um meio de escapar dela.

Comecemos pela proposta niilista. Livros como Nos Cumes do Desespero (1932), Breviário de Decomposição (1949), A Tentação de Existir (1956) e Do Inconveniente de Ter Nascido (1973), todos do filósofo romeno Emil Cioran, exalam um pathos nauseante como se quisessem mostrar que a vida é mero acidente, sendo a morte a regra inexorável da existência, que sempre existiu e sempre existirá. Tudo morre e morrerá. Diz Cioran: “É porque ela não repousa sobre nada, porque carece até mesmo da sombra de um argumento que perseveramos na vida. A morte é demasiado exata; todas as razões encontram-se de seu lado. Misteriosa para nossos instintos, delineia-se, ante nossa reflexão, límpida, sem prestígios e sem os falsos atrativos do desconhecido.” Por outro lado, “com efeito, se o homem vem do nada para, no fim, retornar ao nada, por que, então, não ficou no nada de vez? Seria a parábola da vida um desvio breve, inútil e absurdo? É o que exprime a inscrição de um epitáfio romano antigo: In nihil ab nihilo quam citius recidimus (‘Quão rapidamente caímos do nada para o nada’)”. Para os mortalistas modernos, “os homens não passam de futuros mortos”, ou no verso pessimista de Fernando Pessoa, “cadáveres adiados que procriam”.

Na obra O Livro do Sentido: Crise e busca de sentido hoje (volume I), o teólogo católico Clodovis Boff enuncia as raízes ontológicas da vontade de viver. Em outra perspectiva, a da esperança firmada no Transcendente, ele expõe convicção contrária ao pensamento de Emil Cioran: “Se o sentimento de finitude e, portanto, de insegurança e angústia é elementar, especialmente em relação à morte, não constitui, contudo, o stimmung primeiro e mais profundo, como querem as atuais filosofias pessimistas. [...] A disposição mais originária do ser humano é a da criaturalidade, esse sentimento positivo e maravilhoso de viver, que é o sorver a vida em sua própria fonte criadora. Ora, é aí que se encontra a origem última da ‘vontade de viver’, e de viver cada vez mais. Portanto, a disposição existencial de estar voltado para a vida é mais radical do que a de estar voltado para a morte. O apetite de viver é mais arcaico e mais poderoso do que o de morrer. A pulsão de morte tem raízes psicológicas e mesmo existenciais, mas só a pulsão de vida tem raízes verdadeiramente ontológicas. [...] O Homo religiosus, por sentir a existência como um dom do alto, vive a experiência de finitude não só de modo conformado, mas na gratidão, na confiança e na coragem. Como finito, o homem sente-se ‘dado’, e dado por Alguém. [...] Exclama então: ‘Como é maravilhoso existir, quando se poderia não ter vindo à existência. E se existo, não precisando existir, é porque existo de graça e por graça. Gozo de uma vida que me é dada, sem tê-la em absoluto merecido.’ [...] Portanto, a experiência exultante da criaturalidade, a experiência de ser criado, propicia afirmar-se diante de um mundo precário e perigoso a partir da vinculação ontológica com a fonte de tudo.” 

Por mais desalentador que seja, eu tenho de concordar com o pensamento niilista num único aspecto: ao morrer, o homem adentra o reino do esquecimento e da inexistência completa. Morte é morte mesmo, em que tudo se desfaz e nada sobrevive. Contudo, discordo do espírito absoluto do niilismo, porque acredito no triunfo da vida mediante a esperança escatológica. O que isso significa? Partindo do pressuposto bíblico, assim como a vida surgiu por intervenção sobrenatural, quando, no princípio, a Terra “sem forma e vazia” (em estado caótico e morta, por assim dizer) foi organizada e embelezada por Deus, semelhantemente esse mesmo Ser intervirá na situação trágica atual do planeta para trazer de volta aquela condição de existência original da qual a morte não fazia parte. Essa fé no ato divino de recriação, que o ateu niilista considera utopia e consolo enganoso, para o crente é sólida certeza baseada na promessa da ressurreição e restauração total de todas as coisas, consoante a revelação cristã (1 Coríntios 15).

Voltemo-nos agora para outra compreensão radical acerca da morte, defendida pelas correntes religiosas que tomam os termos “espírito” e “alma” como entidades conscientes que sobrevivem ao desfazimento do corpo. Alicerçado sobre a crença equivocada de que o homem é inerentemente imortal, o espiritualismo, em todas as suas vertentes, apregoa o seguinte: “Morrer não é morrer”, mas entrar num plano alternativo de “existência”.  À primeira vista, tal fé parece manter certo ponto de contato com a máxima do químico francês Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Logo, a morte seria apenas um tipo de transição, e o corpo físico mero invólucro da alma que nunca perece. Essa ideia persuasiva, que vem desde a antiguidade, herdada da mentalidade grega e incorporada a crenças cristãs contemporâneas, tornou-se a “esperança” de grande parte da humanidade não conformada com o aniquilamento do ser. Entretanto, a concepção espiritualista é totalmente estranha e antagônica ao pensamento judaico-cristão pautado nas Escrituras, uma vez que na antropologia bíblica o homem, ser vivente, não tem uma alma, ele é uma alma que morre. Portanto, a dicotomia separatista espírito/corpo encontra no testemunho bíblico seu mais forte oponente. Nesse aspecto, o espiritualismo constitui um engano religioso de primeira linha, sustentado na grande mentira dita à mulher no Éden: “Certamente não morrereis” (Gênesis 3:4).

Confrontados com o ensinamento bíblico, tanto o niilismo, que nos empurra para o nada absoluto, quanto o dogma espiritualista, que não reconhece a natureza essencialmente mortal do ser humano, apresentam-se como propostas poderosas e cativantes, mas são profundas distorções da verdade no plano filosófico e religioso. O primeiro, com seu olhar extremamente pessimista, contempla a precariedade humana e as tragédias do mundo e deduz que a vida, imersa no escuro, será desfeita no nada total; já o segundo – sendo uma forma elaborada de negação da morte – assume feição enganosa ao aproveitar-se do nosso desejo de imortalidade e da intuição elementar e legítima de que não fomos criados para cair definitivamente no esquecimento, já que “Deus pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (Eclesiastes 3:11). Nesse caso, o espiritualismo coloca uma máscara na face da morte, escondendo a fealdade dela por meio da contrafação. A “solução” advinda desse sistema religioso, embora atraente para muitos, é fábula na forma de doutrina que, no fim, acabará decepcionando quem nela acredita.

Retomando a experiência de Tolstoi, reflete Kerry Walters: “Muitos de nós tivemos nossa própria noite escura de Arzamas, na qual fomos atingidos no estômago pela percepção de que um dia a morte vai nos aniquilar completamente, que o mundo vai continuar e nós não vamos. Nesses momentos de desorientação, não adianta apelar ao antigo argumento de Epicuro, de que ‘onde a morte está eu não estou e onde eu estou a morte não está: então, por que temer a morte?’” Penso eu que só temos condição de não temê-la, escapando de sua soberania, por meio da fé bíblica – “uma afirmação triunfante da vida” –, na qual vislumbramos tanto a explicação do enigma quanto a saída final desse cativeiro. Dessa forma, só existe uma proposta – nem fatalista nem ilusória – capaz de nos trazer a solução desejada: o drama histórico da crucifixão de Cristo, cujo significado assume proporções que transcendem as fronteiras do nosso mundo para repercutir por todo o Universo.

Na experiência do “bom ladrão”, naquela tarde de sexta-feira crucial, a morte defrontou-se com a esperança última, perdendo a supremacia ontológica. Em seu momento decisivo, nem o niilismo nem o enganoso consolo espiritualista de vida pós-morte ofuscaram a confiança do homem moribundo na Pessoa divina de Jesus. Seu olhar encontrara a Verdade, o Doador da vida que também estava morrendo pelos pecados dos seres humanos, segundo as Escrituras. Por meio da fé, o pobre mortal teve a garantia de voltar a viver não naquele mesmo dia, mas na grande e futura “manhã da ressurreição”. Apostando numa existência eterna, o ladrão arrependido se lança nos braços de Deus com a súplica final: “Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino.” A resposta veio imediata: “Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:42, 43).

Diante da “ameaça do não ser”, serão lembrados por Deus os mortais deste planeta? Se a morte não deveria existir, mas entrou intrusamente em nosso mundo, governando com mão de ferro a vida, então a esperança da raça humana é estar guardada na lembrança de Deus. Seja qual for o momento – quando tudo vai bem ou quando somos assombrados pelo espectro da morte –, cada pessoa precisa suplicar a Jesus por existência eterna. Ele, que desceu à sepultura, mas, saindo dela, afirmou triunfantemente “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25), não deixará de ouvir o pedido daqueles cuja escolha em segui-Lo pode se dar mesmo nos momentos derradeiros de vida.

Todos os que desceram à sepultura, “dormindo em Jesus”, levaram consigo a promessa divina de que serão vitoriosos sobre a morte para usufruir vida sem fim ao lado do Criador. Eles partiram apossando-se das palavras ditas por Cristo ao suplicante na cruz: “Estarás comigo no paraíso.” Vivendo ou morrendo, que a oração do “bom ladrão” seja também a nossa: “Senhor, lembra-Te de mim!”

Frank de Souza Mangabeira

segunda-feira, setembro 17, 2018

Interpretação literalista e o surgimento da ciência moderna


Por muitos séculos o método mais popular empregado por intérpretes da Bíblia era o alegórico. No livro Tratado sobre os Princípios, publicado por Orígenes (185-253 d.C.), é desenvolvida uma teoria hermenêutica advogando que todo texto bíblico possui três sentidos: o literal, o moral e o alegórico, sendo que o último deveria ser o mais almejado por intérpretes cristãos. Assim, objetos, animais, lugares ou pessoas relatadas na Bíblia representam verdades espirituais além delas mesmas. O conhecimento da natureza era estimulado pela Igreja na medida em que existissem similitudes entre a Bíblia e o mundo natural. Os fenômenos naturais que não são mencionados na Bíblia recebiam pouco interesse. Por esses motivos, a ciência medieval não era empírica como nos dias de hoje. Os “cientistas” – melhor dizendo, os filósofos naturais – daquela época realizavam suas pesquisas nas bibliotecas de suas universidades. Quando se queria saber algo sobre oceanos, as espécies de plantas ou as estrelas, era para os livros de Aristóteles ou Platão que os especialistas recorriam. Ciência era entendida como uma atividade de “preservação e transmissão” do conhecimento obtido por autoridades passadas.

Com o advento do protestantismo, o método de interpretação alegórica proposto por Orígenes foi abandonado. Lutero, ao propor uma leitura literal do texto bíblico, rompeu com séculos de interpretação alegórica e passou a defender uma hermenêutica literalista da Bíblia. Para Lutero e muitos protestantes, o que importava era o sentido óbvio que brota do texto. Portanto, ao contrário da hermenêutica medieval, o sentido literal das palavras encontradas na Bíblia se tornou o alvo principal de exegetas protestantes.

À semelhança de muitas outras áreas, as ciências foram especialmente afetadas pelas mudanças hermenêuticas propostas por Lutero. Sua abordagem literalista do texto bíblico mudou a forma como cientistas interpretavam fenômenos naturais. A migração de uma exegese alegórica para uma literal permitiu que estudiosos olhassem para o texto e, consequentemente, para a natureza, não como algo simbólico, mas como entidades concretas, possuidoras de valor e significado próprio. A insistência protestante de que o sentido óbvio das coisas fosse adotado contribuiu para que a sociedade procurasse maneiras “científicas” de explicar e de encontrar utilidades práticas para os diferentes fenômenos naturais observados.

De maneira especial, a leitura literalista do livro de Gênesis mudou a forma de se relacionar com o mundo natural. Uma vez que a Bíblia foi expurgada de todo misticismo e mistério que lhes foram conferidos por intérpretes medievais, os eventos, as pessoas e os lugares relatados na Bíblia passaram a ser vistos como reais e históricos. As referências à criação, ao jardim do Éden, à queda de Adão e Eva e ao dilúvio, que em tempos medievais estavam carregados de significados alegóricos e teológicos, passaram a ser tratados como literais, atraindo esforços de curiosos para identificar a verdadeira localização desses lugares e eventos.

Como forma de redenção, os cientistas protestantes passaram a ver na empreita científica uma forma de restaurar a humanidade à sua condição original. Essa restauração do ser humano (e da criação, por consequência) deveria se dar em duas frentes. Na primeira, a mente humana restauraria todas as coisas à sua unidade original pelo conhecimento do mundo natural. Na segunda, o ser humano assumiria o controle da natureza e subjugaria todo o domínio natural, retomando sua posição como vice-regente de Deus na Terra. Ao conhecer seus mistérios, o ser humano se tornaria como Adão – mestre da criação.

Em suma, além de muitos outros fatores, a forma como o cristianismo interpretou o texto sagrado teve uma influência direta na forma como cientistas passaram a interpretar os fenômenos naturais. O protestantismo contribuiu com o surgimento das ciências modernas não somente oferecendo um ambiente favorável à realização da atividade científica, mas fornecendo as ferramentas interpretativas para estudarmos a natureza. A partir do momento em que o cristianismo começou a adotar uma leitura literalista, a ciência foi capaz de olhar para a natureza com outros olhos e buscar o sentido óbvio dos processos e objetos do mundo natural. É uma ironia pensar que, em nossos dias, o literalismo hermenêutico está sendo acusado de obstruir o avanço científico e as relações entre a ciência e a religião. Entretanto, quando estudamos a história do relacionamento entre religião e ciência, percebemos que a hermenêutica literalista foi exatamente o fator que forneceu as lentes interpretativas para a revolução científica e o surgimento das ciências modernas.

(Glauber Araújo é editor na Casa Publicadora Brasileira, bacharel em Teologia e mestre em Ciências da Religião)

Quer conhecer mais? Acesse goo.gl/uQL9XB 

Como era a geografia do supercontinente pré-diluviano?

Com que o mundo pré-diluviano se parecia? Onde estava o jardim do Éden? Em quais regiões do mundo os dinossauros habitavam? Essas são algumas perguntas que a Bíblia não responde, por isso, partindo da história registrada na Bíblia, e indo à natureza a fim de complementar as respostas, nós nos deparamos com uma área do conhecimento humano muito importante para entender o episódio bíblico do dilúvio: a Geologia. O problema é que por muito tempo os cientistas criacionistas se utilizaram de interpretações geológicas evolucionistas em seus estudos em relação às configurações continentais e à geografia pré-diluviana, mas graças a verbas direcionadas a boas pesquisas criacionistas, tal como as do Departamento de Geologia do Institute for Creation Research (ICR), que recentemente desenvolveu e publicou um estudo revisado por pares, publicado no periódico Answers Research Journal, de autoria do geólogo Dr. Tim Clarey e do estudante de Geologia Davis J. Werner.

Esse estudo é o primeiro a desafiar essa questão ao usar dados estratigráficos de rochas de todo o mundo, analisando as espessuras dos vários intervalos de megasequências, a fim de fazer inferências razoáveis ​​sobre a topografia relativa do mundo pré-diluviano.1,2 

Em relação ao conjunto de dados utilizados na metodologia do estudo, foram analisados mais de 1.500 colunas estratigráficas da América do Norte, África, Oriente Médio e América do Sul. Cada coluna de rocha foi compilada a partir de dados de afloramentos publicados, poços de petróleo, núcleos, secções transversais e/ou dados sísmicos ligados a furos. Os dados de tipo de rocha e megassequência foram colocados em um banco de dados, permitindo a geração de mapas de espessura para todos os seis intervalos de megassequência. 

Esses dados foram usados ​​para criar um modelo estratigráfico tridimensional em cada um dos três continentes estudados até o momento. Quando foram examinadas megassequência por megassequência, esses modelos permitiram visualizar de forma parcial o relevo geográfico pré-diluviano. Portanto, é uma pesquisa ainda em andamento. As próximas descobertas trarão mais luz sobre essa questão.

Mas o interessante é que por meio dessa pesquisa inicial os autores puderam visualizar como era o único supercontinente pré-diluviano que os autores do estudo chamam de Pangea (outros, porém, o chamam de Rodínia;3 saiba mais na entrevista realizada com o geólogo Dr. Marcos Natal).

Figura 1 - Mapa pré-diluviano mostrando a proposta Península dos Dinossauros, uma massa de terra de baixa altitude que se estende de Minnesota ao Novo México, provavelmente habitada por plantas de vegetação de várzea pré-diluvianas e animais, incluindo dinossauros

Em 2015, no início do estudo, os pesquisadores identificaram uma massa pré-diluviana em todos os Estados Unidos da América que se estendeu de Minnesota para o Novo México, a qual eles chamaram de “Península dos dinossauros” (Figura 1).4 Essa região era provavelmente habitada por vegetação de várzea (de planícies inundáveis) e animais, incluindo os dinossauros. Eles descobriram que a deposição dos primeiros sedimentos do dilúvio (as Megassequências Sauk, Tippecanoe e Kaskaskia) era mais espessa no leste e distante no oeste dos EUA, incluindo o Grand Canyon. Em contraste, os primeiros depósitos de inundação em grande parte do centro do país têm geralmente menos de algumas centenas de metros de profundidade e, em muitos lugares, não houve depósito algum. Eles concluíram:

"Parece que os dinossauros foram capazes de sobreviver através do início do dilúvio no Ocidente simplesmente porque eles foram capazes de se reunir e se arrastar para os elevados terrestres remanescentes – lugares onde os depósitos sedimentares relacionados não são tão profundos – enquanto as águas da inundação avançavam. Dessa forma, os dinossauros conseguiram escapar do enterro no início do dilúvio."

Outro ponto interessante diz respeito à existência de mares rasos. Os resultados indicaram que mares rasos existiram em grande parte do leste e sudoeste dos EUA (incluindo o Grand Canyon) e no norte da África e no Oriente Médio, onde as três primeiras megassequências foram depositadas.2 As áreas mostram uma extensa deposição de sedimentos precoces e contêm quase exclusivamente a fauna marinha rasa. Não há praticamente árvores ou animais terrestres nessas megassequências. Aparentemente, apenas quantidades limitadas de terra foram inundadas nesse estágio no dilúvio. Além disso, o estudo ainda descreve as áreas de terras baixas e as áreas de planalto (como pode ser visto na Figura 2), bem como sobre a posição do jardim do Éden nessa configuração geográfica pré-diluviana.2 Vale a pena a leitura completa do estudo!

Figura 2 - Mapa de geografia pré-diluviana para a América do Norte, África e América do Sul combinado em uma configuração semelhante ao Rodínia. É provável que as massas de terra continuaram a leste, perto da Groenlândia (Europa) e da África (Índia). Observe que a borda oeste da América do Norte não inclui a maioria dos estados da Costa Oeste, já que esses terrenos foram adicionados mais tarde durante o movimento da placa como parte do dilúvio. Além disso, grande parte da América Central não é mostrada, uma vez que foi formada a partir da atividade durante o dilúvio

Em suma, o mapa acima (Figura 2) reflete a pesquisa mais recente liderada pelo Dr. Clarey que dá um vislumbre inicial sobre o que o resto da América do Norte e do Sul, África e oriente médio podem ter parecido antes do dilúvio de Noé.


(Fernando Alves)

Referências:
1.  Clarey TL, Werner DJ. The Sedimentary Record Demonstrates Minimal Flooding of the Continents During Sauk Deposition. Answers Research Journal 2017; 10:271-283.
2.  Clarey TL. Assembling the Pre-Flood World. Acts & Facts 2018; 47(4):11-13. Disponível em: http://www.icr.org/i/pdf/af/af1804.pdf
3.  Snelling AA. Geological Issues: Charting a scheme for correlating the rock layers with the Biblical record. In: Boyd SW, Snelling AA. (Eds.). Grappling with the Chronology of the Genesis Flood. Green Forest, AR: Master Books, 2014, pp. 77-109.
4.  Clarey TL. Dinosaur Fossils in Late-Flood Rocks. Acts & Facts 2015; 44(2):16. Disponível em: http://www.icr.org/i/pdf/af/af1502.pdf

domingo, setembro 16, 2018

Temos um ancestral comum ou um designer comum?

Olhando para os traços surreais de muitas pinturas, alguns conseguem enxergar o pincel do Pablo Picasso entre centenas de outras obras. O pintor tem uma linha artística bem definida e por meio deste design único do artista espanhol conseguimos reconhecer o traço dele. Segundo alguns darwinistas, uma das provas da ancestralidade comum entre humanos e símios são as similaridades na aparência. Detalhes de homologia seriam uma evidência de que em algum ponto do passado teríamos tido o mesmo ancestral.
Comparação entre um homem e o chimpanzé sem pêlos Jambo, que vive no Twycross Zoo, no Reino Unido
Recebemos uma foto em nossa redação tirada no jardim zoológico de Twycross, na qual é retratado um chipanzé que perdeu os pêlos com músculos visivelmente parecidos com músculos humanos. Segundo o leitor, seria uma evidência evolutiva.

A simples aparência não constitui argumento a favor de nada. Dessa forma, podemos inferir que as semelhanças existentes na natureza só apontam para um projetista que utiliza mecanismos semelhantes para construir obras diferentes. Semelhanças são fortes evidências de um projetista comum que usa uma plataforma de base funcional para desenvolver seus projetos a partir dela.

A similaridade (homologia) não é evidência de ancestralidade comum (evolução) contra um designer comum (criação). Pense em um carro Porsche e um Volkswagen Beetle. Ambos têm motores de quatro cilindros, planos horizontalmente opostos, arrefecidos a ar na suspensão traseira independente, duas portas, porta-malas na frente e muitas outras semelhanças (homologias). Por que esses dois carros muito diferentes têm tantas semelhanças? Porque eles tinham o mesmo designer! Se a semelhança é morfológica (aparência) ou bioquímica, não há nenhuma consequência para a falta de lógica nesse argumento para a evolução.

Se os seres humanos fossem completamente diferentes de todas as outras coisas vivas, ou se todos os seres vivos fossem completamente diferentes, isso revelaria o Criador para nós? Não! Nós logicamente pensamos que deve haver muitos criadores em vez de um. A unidade da criação é testemunho do Único e Verdadeiro Deus que fez tudo. Veja o que diz  Romanos 1:18-23:

"Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis."

Sabemos que o DNA nas células contém grande parte da informação necessária para o desenvolvimento de um organismo. Em outras palavras, se dois organismos parecem semelhantes, esperaríamos que houvesse alguma similaridade também em seu DNA. O DNA de uma vaca e uma baleia, dois mamíferos, deveria ser mais parecidos com o DNA de uma vaca e uma bactéria. Se não fosse assim, então toda a ideia de que o DNA fosse o portador de informações nos seres vivos teria que ser questionada. Da mesma forma, humanos e macacos têm muitas semelhanças morfológicas; então esperamos que haja semelhanças em seu DNA. De todos os animais, os chimpanzés são mais parecidos com os humanos,[1]  portanto, esperaríamos que o DNA deles fosse mais parecido com o DNA humano.

Certas capacidades bioquímicas são comuns a todos os seres vivos, de modo que existe um grau de similaridade entre o DNA da levedura, por exemplo, e o dos humanos. Como as células humanas podem fazer muitas das coisas que a levedura pode fazer, nós compartilhamos semelhanças nas sequências de DNA que codificam as enzimas que fazem o mesmo trabalho em ambos os tipos de células. Algumas das sequências, por exemplo, aquelas que codificam as proteínas do MHC (Major Histocompatibility Complex), são quase idênticas.

Esse argumento é pobre e com várias complicações do ponto de vista darwinista. Os porcos compartilham uma série de características que os assemelham surpreendentemente aos humanos. Por exemplo, ambos temos peles sem pelos,  uma espessa camada de gordura subcutânea, olhos claros, narizes salientes e cílios pesados. Partes da pele dos porcos e de suas válvulas cardíacas podem ser usadas em pesquisas médicas por causa de sua semelhança com o corpo humano. Alunos de Medicina Humana frequentemente praticam sutura em patas de porcos. O polvo tem os olhos com um grau alto de similaridade com o olho humano. Até cientistas têm alegado que o ser humano compartilha 50% de seus genes com as bananas.[2] Nessa linha de pensamento, não podemos dizer que somos ancestrais de uma vasta quantidade de animais nem podemos explicar o surgimento de certas “coincidências”. 
Olho de um porco, mostrando a semelhança com humanos
As semelhanças entre humanos e outros mamíferos são grandes, somos todos baseados em carbono, água, todos temos ossos, todos nós temos músculos, todos temos dentes, olhos, nariz, pulmões, coração, cabelo, glândulas mamárias (seios, portanto, mamíferos), todas as fêmeas produzem leite. Cães e lobos são 99% o mesmo animal. Um chihuahua é geneticamente idêntico a um grande dinamarquês e mesmo assim a aparência deles não indica similaridade.

(Alexandre Kretzschmar)

Referências:
[1] However, Jeffrey Swartz, an evolutionary anthropologist at the University of Pittsburg, maintains that man is closer to orangutans in gross morphology. Acts and Facts, 16(5):5, 1987.
[2] Robert McCredie May, citado por Coglan A, Boyce N. “The End of the Beginning: The first draft of the human genome signals a new era for humanity.” New Scientist magazine (1 Jul 2000), 167:5.

segunda-feira, setembro 10, 2018

Ter filhos transforma o cérebro das mulheres


Mais evidências de que homens e mulheres não são intercambiáveis

Homens e mulheres são tão diferentes assim? A resposta presumida por muitos de nossa cultura é “não”. Mas qualquer mulher que já teve um bebê pensa diferente. A ideia, inserida em nossa cultura por força da revolução sexual, de que homens e mulheres são basicamente iguais, com muito poucas diferenças externas, é agora amplamente considerada correta. O que eu chamo de movimento “revisionista de gênero” está a todo vapor. Alguns pais estão agora tentando até criar seus bebês como “theybies” [termo em inglês que junta o pronome eles/elas, porém sem definir o gênero, ao substantivo bebês], o que significa não “atribuir” um gênero masculino ou feminino a seus filhos até que eles tenham idade suficiente para escolher por si próprios.

O problema com a nova onda de gênero é que a ciência continua nos relembrando de que homens e mulheres são profundamente diferentes. E que devemos ser gratos por isso. Uma recente pesquina no Boston Globe ressaltou o quão visível é essa diferença em nível neurológico. Utilizando moderna tecnologia de imagem, pesquisadores conseguem observar o cérebro de grávidas e mães recentes, e testemunhar as mudanças de vida ímpares que ocorrem.

Essa extraordinária nova “descoberta” não é tida como surpresa por mulheres que experimentaram a gravidez. Chelsea Conaboy, por exemplo, confessou no artigo do Globe que sua tendência de ser preocupada em demasia aumentou muito após ter seu filho. Claro, para algumas mulheres, essas mudanças podem ser extremas e levar à depressão, e requerem tratamento. Mas para a vasta maioria a metamorfose da maternidade é saudável e essencial. Ela ajuda a moldar mulheres, como explica Conaboy, de forma mais “impetuosamente protetora, motivadas”, cuidadoras, “focadas na... sobrevivência do bebê e no bem-estar de longo prazo”.

Estamos agora descobrindo que o que está na origem dessa transformação é uma reestruturação radical do cérebro, que ocorre em praticamente todas as mulheres quando elas se tornam mães. Chamar a maternidade de um “grande evento” para a mãe é usar o termo atenuado do século. Mas a pesquisadora da Universidade de Rennes Jodi Pawluski esclarece que é também um “grande evento” para o cérebro.

Um artigo de 2016 publicado na Nature detalha como imagens do cérebro têm revelado mudanças dramáticas no volume de massa cinzenta em cérebros de mães recentes. Essas mudanças estão concentradas em regiões envolvidas em interação social e “teoria da mente”, que é a habilidade mental de “se colocar no lugar de outras pessoas”. Em outras palavras, o cérebro de mães recentes literalmente se reconfigura no sentido da empatia e da compreensão.

O grande aumento de hormônios associados com a gravidez e o nascimento parece disparar essas mudanças, e pode até equipar as mulheres para suportar melhor a privação do sono e as multitarefas que sempre acompanham o pequeno novo pacote de alegria.

Essa incrível transformação faz mais do que apenas manter o bebê seguro. De acordo com a neurocientista israelense Ruth Feldman, ela molda o cérebro do recém-nascido também. O conjunto de circuitos neurológicos básicos que nosso cérebro desenvolve quando nossas mães nos seguram e beijam pela primeira vez é o mesmo conjunto que posteriormente se “reconfigura” para nos conectar com amigos, esposa, e mesmo com companheiros de times esportivos. Nós literalmente carregamos as marcas do amor de nossas mães conosco por onde quer que andemos, pelo resto da vida.

Homens não experimentam essa renovação cerebral automática, induzida pelo nascimento. Ao invés disso, pesquisas sugerem que o cérebro dos pais é alterado por outra coisa: envolvimento. Quanto mais tempo um pai gasta cuidando do filho, “mais ativa se torna a rede parental em seu cérebro”. Enquanto os cérebros maternos se reconfiguram automaticamente, pais devem escolher moldar a si mesmos como pais protetores e cuidadores.

A neurociência moderna simplesmente não sustenta a ideia de dois sexos intercambiáveis e indistinguíveis que podem ser combinados de qualquer forma que quisermos. Ao invés disso, estamos tendo uma visão mais clara de dois sexos fundamentalmente diferentes, complementares, projetados para atuar em papéis exclusivos.

E agora que vemos o cérebro de mães em ressonâncias magnéticas, a imagem está mais clara do que nunca. Obrigado, mãe!

(The Christian Post, com tradução de Leonardo Serafim)

De que tipo é o nosso criacionismo?

De que tipo é o nosso criacionismo? Essa é uma pergunta importante que devemos fazer para nós mesmos antes de nos engajarmos na missão criacionista. Isso porque, como uma criacionista que acredita na Bíblia, entendo o criacionismo mais como uma missão do que como uma luta, no sentido de quem vence e de quem perde. Acredito que essa é uma causa que precisa de aliados, mas também entendo que os métodos são importantes e nem todos que dizem defender o criacionismo decidem seguir os métodos de Cristo, dificultando a possibilidade de se fazer um trabalho conjunto. Nem todos, por exemplo, se alinham com os ideais e os princípios da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), que há mais de 40 anos atua no Brasil divulgando o criacionismo.

Com muita experiência, sabedoria, tato e perseverança, a SCB tem divulgado o criacionismo como uma missão cujo objetivo é alcançar pessoas com a mensagem criacionista. Esse objetivo se cumpre em apresentar e divulgar evidências a partir de estudos e pesquisas para que as pessoas possam tomar decisões de forma inteligente e racional. Para isso, é claro, contam com o auxílio da influência do Espírito de Deus.

Que tipo de influência é essa mencionada acima? Seria como a de muitos que, literalmente, militam na causa criacionista e estão buscando uma conquista mais em termos de uma revolução do que em termos de orientação e mudanças na vida de pessoas? Seria a de uma busca por número de pessoas criando massa crítica, que desejem forçar o caminho, derrubar posições e conquistar lugar por meio de um tipo de poder “político”? De pessoas engajadas em uma luta ou competição, cujo prêmio é um lugar de honra neste mundo e a “prova” de que o “nosso time” é que estava certo?

Não é o nosso orgulho que está em jogo, mas a vida de pessoas. Nesse sentido, não nos cabe julgar quem está fora do alcance da mensagem criacionista e, portanto, deve ser combatido. Aliás, não me parece que seja obra do criacionista combater pessoas ou destruir ideias. Dessa forma, meu pensamento se alinha com o da SCB, que tem a Bíblia como norma fundamental e se preocupa em divulgar conhecimentos, deixando os resultados com Deus.

Pode ser que alguns achem necessária uma postura mais agressiva. Contudo, fariam bem em lembrar de que quando Cristo veio à Terra pela primeira vez muitos esperavam que Ele fosse um conquistador político. Esperavam que Ele depusesse o poder romano e assumisse um governo terrestre. Essa era uma expectativa dos próprios discípulos de Jesus. Provavelmente seja por isso que, quando eles passaram por uma aldeia de samaritanos que não quiseram receber o Mestre, perguntaram se deviam mandar fogo do céu para consumir aquelas pessoas! Os samaritanos não quiseram receber Jesus justamente porque Ele se dirigia a Jerusalém e havia uma disputa entre eles e os judeus. Jesus Se recusou entrar nessa disputa ou conquistar honra e poder político.

“Ele porém, voltando-Se, repreendeu-os e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.
Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las” (Lucas 9:55, 56).

Há uma tendência que se tem acentuado nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos, e em alguns outros lugares, de evangélicos mais militantes, que acreditam que a falta de apoio político ou de leis que protejam os direitos dos cristãos, sejam problemas que limitam a liberdade de consciência. O filme “God is Not Dead 2”, por exemplo, trata desse tema. Com a boa intenção de proteger os direitos dos cristãos, muitos estão engajados em conquistar espaço na política, enquanto buscam estender a influência do Cristianismo em todos os setores da sociedade (e a Academia é um deles) na forma de uma conquista em termos de números e poder, e não por meio da branda influência do Espírito de Deus. A história demonstra que isso não teve bons resultados no passado, mas acabou lançando o mundo na Idade Escura e nos braços da Inquisição (resultado da união entre Igreja e Estado, ou poder político para o Cristianismo).

Concluindo, antes de levantar qualquer bandeira em favor do criacionismo, faríamos bem em avaliar de que espírito somos. Porque, se o que nos move é o desejo de conquista e não o de nos deixar usar para permitir que outros possam ser orientados e possam tomar decisões inteligentes e voluntárias, então, a despeito de toda a nossa boa vontade, corremos o risco de estar do lado errado nas cenas finais da história da Terra.

Maria da Graça Lütz

Quer ser mais inteligente? Condicione seu corpo

Exercícios aeróbicos nos seus 20 anos podem proteger o cérebro na meia-idade, de acordo com um estudo realizado nos EUA. Atividades que mantêm o preparo cardíaco - como corrida, natação e ciclismo - levam a melhores habilidades de pensamento e memória 20 anos depois. Cientistas dizem que a pesquisa, divulgada na revista Neurology, agrega às evidências de que o cérebro se beneficia da boa saúde cardíaca. O preparo cardíaco é uma medida de quão bem o corpo absorve oxigênio durante o exercício e transporta-o para os músculos. Pesquisadores da Universidade de Minesota, Mineápolis, testaram quase 3.000 pessoas saudáveis com uma idade média de 25 anos. Eles realizaram testes em esteira para avaliar o preparo cardiovascular durante o primeiro ano do estudo e novamente 20 anos depois. Eles foram desafiados a correr o máximo possível antes de ficar exaustos ou sem fôlego. Testes cognitivos, feitos 25 anos depois do início do estudo, mediram memória e habilidades de pensamento. Pessoas que correram mais na esteira desempenharam melhor nos testes de memória e habilidades de pensamento 25 anos depois, mesmo depois de ajustes para fatores como fumo, diabete e colesterol alto.

Pessoas que tiveram menor diferença de tempo no teste na esteira 20 anos depois foram observadas como desempenhando melhor no teste de função executiva do que aquelas que tiveram maiores diferenças (N.T.: ou seja, aqueles que mantiveram melhor a forma física durante os 20 anos do estudo tiveram melhor desempenho mental.)

"Muitos estudos mostram os benefícios ao cérebro de se ter boa saúde cardíaca", disse o autor do estudo, o Dr. Davis Jacobs. "Isso é um dos estudos mais importantes que devem lembrar aos jovens adultos que a saúde cerebral se beneficia das atividades de preparo cardíaco, como corrida, natação, ciclismo ou aulas em que há preparo cardíaco."

O Dr. Jacobs afirmou que existe um conceito emergente de total fitness incorporando aspectos sociais, físicos e mentais da saúde. "É realmente um pacote completo sobre como seu corpo está, e a interligação nesse pacote completo de performance - que está relacionado com a função cognitiva muitos anos depois, na meia-idade."

O Dr. Simon Ridley, pesquisador-chefe no Instituto de Pesquisa sobre Alzheimer, no Reino Unido, disse: "Um corpo crescente de evidências sugere que exercícios podem reduzir os riscos de declínio cognitivo e demência, e muitas pesquisas mostram uma ligação entre hábitos saudáveis na meia-idade e melhor saúde na terceira idade. O investimento em pesquisa é vital para a melhor compreensão de como nós podemos proteger o cérebro enquanto envelhecemos."

(Helen Briggs, BBC News)

Nota: Estamos acostumados a ouvir que o cérebro está "evoluindo" para se adaptar às novas formas de trabalho e hábitos de vida em que há difusão das tarefas que realizamos - em grande parte ao mesmo tempo. No entanto, como muitas pesquisas têm mostrado, os hábitos naturais de saúde são vistos pelos cientistas como mais e mais necessários para nos proteger das doenças mentais e emocionais que são o flagelo do século 21. Como mostra a reportagem acima, aliada a muitas outras nesse sentido, o exercício físico, sobretudo se realizado ao ar-livre e em meio à natureza, tem o potencial de expandir as capacidades mentais e trazer bem-estar e saúde em qualquer idade, mesmo para os idosos. Portanto, se você quer ser mais inteligente, atento, disposto e relevante para o seu círculo social, exercite-se, e viva uma vida natural. Afinal de contas, esse foi o cenário que o Criador estabeleceu para a nossa saúde e felicidade.[AS]

Atualização sobre o período limite dilúvio/pós-dilúvio


Qual teria sido o exato momento em que o dilúvio terminou? O fim do dilúvio teria marcado qual período geológico correspondente a essa grande catástrofe? Durante décadas, os cientistas criacionistas têm debatido sobre o limite/fronteira em que o dilúvio teria terminado no registro geológico e dado início ao período pós-diluviano. A maioria dos cientistas criacionistas concorda que o limite entre o dilúvio e o período pós-diluviano está em uma das duas fronteiras: (1) no topo do período Cretáceo, conhecido como o limite K-Pg (anteriormente chamado de limite KT; ver figura abaixo),[1, 2] ou (2) no topo ou perto do topo do período Neógeno (Era Cenozoica Superior), em torno do nível da época Plioceno.[3, 4]

Essa época estaria próxima do período correspondente à “Era do Gelo” (conforme escala evolutiva do tempo geológico). Em termos bíblicos, a “Era do Gelo” teve lugar cerca de 120 anos após o dilúvio. O mais interessante é que uma pesquisa criacionista definiu essas camadas de rochas do Cenozoico Superior – correspondente às camadas da “Era do Gelo” – como sendo depósitos de inundação.[4]

A primeira ilustração de um modelo unificador apresentado em português, que tentou compatibilizar o limite KT como representando o fim do dilúvio e o começo do período pós-diluviano, foi publicada em 2002 no livro Uma breve História da Terra, de autoria do geólogo criacionista brasileiro Dr. Nahor de Souza Neves (ver figura abaixo).

Mas será mesmo que o limite dilúvio/pós-dilúvio estaria no período clássico chamado de KT (ou K-Pg)? Um estudo recente desenvolvido pelo geólogo Dr. Tim Clarey, financiado pelo Institute for Creation Research e publicado no periódico científico Creation Research Society Quarterly, aceitou o desafio de ir atrás dessa resposta.[5]

Em termos práticos, o geólogo descobriu que as rochas do Paleógeno e Neógeno (acima do limite K-Pg) foram depositadas - ao contrário do que se achava anteriormente - próximo do dia 150, no momento em que as águas do dilúvio estavam recuando/drenando. Portanto, a deposição e formação dessas camadas, agora, passam a fazer parte também do episódio diluviano.

Nesse artigo, o autor apresentou cinco observações geológicas principais que demonstram que o limite dilúvio/pós-dilúvio é muito maior do que o nível de K-Pg. Algumas dessas características são tão grandes e/ou incomuns em escala que as catástrofes locais pós-diluvianas não poderiam tê-las concebido (como se supunha anteriormente). Outras demonstram condições geológicas que só poderiam ter existido enquanto as águas do dilúvio ainda cobriam grandes porções dos continentes. Coletivamente, elas refutam fortemente a alegação de que o dilúvio terminou no nível estratigráfico da fronteira K-Pg.

1. O Whopper Sand. As companhias de petróleo descobriram a Whopper Sand no Golfo do México perfurando poços em profundidades de mais de dois mil quilômetros e mais de 320 km da costa (ver figuras abaixo). A única explicação razoável para esse leito de areia de mais de 30 metros de espessura que cobre grande parte das águas profundas do Golfo do México é um escoamento de água de alta energia – algo que se encaixa facilmente no modelo do dilúvio. Isso coincidiria com a mudança na direção da água descrita para o dia posterior ao dia 150 da inundação do ano do dilúvio. Taxas iniciais de drenagem, coincidindo com uma queda repentina no nível do mar no início da megassequência de Tejas, corresponderiam às camadas geológicas após o limite de K-Pg. As forças responsáveis ​​eram, provavelmente, de alto volume e altamente energéticas, fornecendo um mecanismo para transportar a espessa Whopper Sand em águas profundas.



2. A enorme quantidade de sedimentos de Tejas depositados globalmente. O volume de sedimentos de Tejas perde apenas para a megassequência de Zuni que terminou com o sistema Cretáceo, o suposto ponto alto do dilúvio. A tremenda quantidade de sedimentos Paleogênicos e Neogênicos em todo o mundo, que fazem parte da megassequência de Tejas, não pode ser facilmente descartada como produto de catástrofes locais. Esses sedimentos, e os fósseis que eles contêm, são mais bem explicados pela fase de vazante do dilúvio, à medida que as cadeias de montanhas e planaltos se elevavam. 

3. As camadas de carvão mais espessas e extensas são encontradas globalmente nos sedimentos de Tejas. Os carvões da Bacia do Rio Pó (PRB), que estão todos dentro das camadas rochosas do sistema Paleógeno, contêm as maiores reservas de carvão sub-betuminoso com baixo teor de enxofre do mundo. Pelo menos seis ou mais leitos de carvão no PRB excedem 30 metros de espessura, e alguns leitos individuais foram mostrados para se estender por mais de 120 km. Alguns desses leitos de carvão podem ter mais de 60 metros de espessura, como a camada de carvão de Big George. Esses leitos de carvão fazem parte da fase de recuo do dilúvio que transportou enormes esteiras de detritos de plantas e árvores. Eles foram derivados em grande parte de angiospermas que vivem em altitudes mais elevadas e, em seguida, as águas do dilúvio rapidamente as enterraram em enormes depósitos.

4. A tremenda quantidade de crosta/expansão rápida do fundo do oceano. Esse evento continuou do outro lado da fronteira K-Pg e até o Plioceno, sem indicação de uma mudança significativa na velocidade. O modelo de subducção descontrolado para o dilúvio global, descrito pelo geofísico Dr. John Baumgardner, causou a formação de aproximadamente um terço da metade da crosta oceânica mundial durante a deposição da megassequência de Tejas (Paleoceno através do Plioceno). Além disso, os enormes terremotos gerados por esse movimento teriam sido devastadores para qualquer tipo de civilização humana após o dilúvio, se o limite dilúvio/pós-dilúvio estiver localizado no K-Pg.

5. A identificação de rochas carbonáticas depositadas em água ininterruptas do Cretáceo (abaixo do limite de K-Pg) e continuando para cima através dos estratos do Mioceno em grande parte do Norte da África e Oriente Médio, áreas ao sul do local de pouso para a arca na Turquia. As camadas contínuas de calcário do período de deposição do Cretáceo (megassequência de Zuni) até o topo do Mioceno (Upper Tejas) no Iraque são a coisa mais próxima para provar que o dilúvio ainda não havia terminado. Essas enormes regiões do Oriente Médio ainda estavam claramente submersas durante o Tejas. Se fossem depósitos pós-inundação, seria impossível os humanos se estabelecerem naquele tempo e construir a Torre de Babel.

Além disso, os esforços empreendidos pelo autor do estudo identificaram mais características geológicas que sustentam ainda mais que o limite dilúvio/pós-dilúvio está próximo do topo da megasequência Tejas, que engloba os sistemas geológicos Paleogeno e Neogeno. Um deles é o Arenito Ogallala, descrito recentemente em Acts & Facts.[6] As catástrofes locais pós-diluvianas não podem explicar esse leito de areia contínuo que cobre grande parte das Grandes Planícies. Deve ser parte da fase de recuo do dilúvio também.

Mas e quanto aos dinossauros? Há evidências de dinossauros que sobreviveram à suposta extinção da fronteira K-Pg há cerca de 65 milhões de anos (conforme escala evolutiva do tempo), correspondente ao fim do dilúvio, e foram fossilizados mais tardiamente. No livro Revisitando as Origens, de autoria do especialista em Paleontologia Everton Fernando Alves, são apresentadas algumas dessas evidências:

Em 2009, um estudo sugeriu que alguns dinossauros não aviários sobreviveram até o Paleoceno e, portanto, a extinção dos dinossauros teria sido gradual. [...] Em 2012, outro estudo usou um novo método de datação para analisar diretamente uma amostra de osso (não a rocha onde ele foi encontrado) de um dinossauro saurópode (Alamosaurus sanjuanensis) e determinou que esse osso tem 64,8 ± 0,9 milhão de anos, portanto, 700 mil anos mais jovem do que qualquer outro osso de dinossauro conhecido (relativo ao Paleoceno, primeira época do Paleógeno).[7:181-182]

Em 2015, um estudo desenvolvido pelo Dr. Tim Clarey explicou de que forma os dinossauros poderiam ter sobrevivido ao início da inundação e ter sido fossilizados em camadas mais tardias:

“Parece que os dinossauros foram capazes de sobreviver através do início do dilúvio no Ocidente simplesmente porque eles foram capazes de se reunir e se arrastar para os elevados terrestres remanescentes – lugares onde os depósitos sedimentares relacionados não são tão profundos – enquanto as águas da inundação avançavam. Dessa forma, os dinossauros conseguiram escapar do enterro no início do dilúvio.”[8]

Coletivamente, esses dados estabelecem que grande parte do Paleógeno e do Neogeno (conhecido anteriormente como Terciário) compôs a fase de recuo do grande dilúvio, colocando o limite dilúvio/pós-dilúvio no topo da megassequência de Tejas (Cenozóico Superior). Dados reais de rochas e outras evidências não apenas confirmam que houve um dilúvio global, como descrito na Bíblia, mas também nos ajudam a entender melhor seus estágios finais de deposição sedimentar. 

(Everton Alves)

Referências:
1. Austin SA, Baumgardner JR, Humphreys DR, Snelling AA, Vardiman L, Wise KP. Catastrophic plate tectonics: a global Flood model of earth history. In: Walsh RE (Ed.). Proceedings of the Third International Conference on Creationism. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, 1994, pp. 609-621.
2. Whitmore JH, Wise KP. Rapid and early post-Flood mammalian diversification evidences in the Green River Formation. In: Snelling AA (Ed.). Proceedings of the Sixth International Conference on Creationism. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, 2008, pp.449-457.
3. Oard MJ. Geology indicates the terrestrial Flood/post-Flood boundary is mostly in the Late Cenozoic. Journal of Creation 2013; 27(1):119-127.
4. Clarey T. The Ice Age as a mechanism for post-Flood dispersal. Journal of Creation 2016; 30(2):54-59.
5. Clarey TL. Local Catastrophes or Receding Floodwater? Global Geologic Data that Refute a K-Pg (K-T) Flood/post-Flood Boundary. Creation Research Society Quarterly 2017; 54(2):100-120.
6. Clarey T. Palo Duro Canyon rocks showcase Genesis Flood. Acts & Facts 2018; 47(7):10.
7. Alves EF. Revisitando as Origens. Maringá: NUMARSCB, 2018. 210p.
8. Clarey TL. Dinosaur Fossils in Late-Flood Rocks. Acts & Facts 2015; 44(2):16. Disponível em: http://www.icr.org/i/pdf/af/af1502.pdf