quinta-feira, novembro 29, 2018

Gênesis radical

O livro bíblico de Gênesis apresenta um gênero literário interessante. Do capítulo 1 ao capítulo 2, verso 3, mostra um tipo de prosa-poética, e no capítulo 2, versos 4 em diante, prosa. Nós, criacionistas, estamos familiarizados com a leitura literal desse livro, muitas vezes cometendo alguns erros de anacronismos, isto é, lendo o texto com olhos de um leitor ocidental, tentando extrair e/ou atribuir significados ao texto de acordo com a nossa cultura e tempo. Porém, o livro de Gênesis não foi escrito de modo a permitir que ocidentais pudessem fazer análises literais do “que” e “como” aconteceu o início do Universo, do sistema solar e do planeta Terra. O autor do texto, cuja autoria é atribuída a Moisés, não estava interessado em fornecer essa informação para nós. Por isso que, em Gênesis 1:1, o autor não faz apologética, ou seja, não tenta justificar ou defender a fé hebraica, mas já parte do pressuposto de que “No princípio criou Deus os céus e a Terra”. O texto é mais complexo, maravilhoso e interessante do que nossa mentalidade ocidental por vezes consegue entender.

Gênesis é radical

1. Camada de significado literal. A frase “No princípio criou Deus os céus e a Terra” se encaixa como uma luva quando entendemos que Gênesis possui várias camadas de significado. A primeira delas é a camada mais superficial (dotada de muitos aspectos literais) com a qual estamos mais familiarizados e que é suportada por meio de elementos linguísticos, padrões de correspondências e demais convenções e estruturas literárias de Gênesis. (Quer saber mais? Veja os vídeos a seguir.)

Estrutura literária e correspondências entre o preparo (terraformação) e preenchimento dos habitats nos dias literais (de 24h) da semana da criação.
                              
   
Edson Magalhães Nunes Jr é professor de Antigo Testamento (I e II), Língua Hebraica (I, II, III e IV), narrativa bíblica e Gênesis no Unasp. É formado em Letras (Unasp) e Teologia (Unasp), mestre em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica (USP), doutor em Estudos Judaicos e Arabes (USP) e pós-doutor em Literatura Hebraica pela University of California (EUA)
                                                            
Reinaldo Wenceslau Siqueira é diretor da faculdade de Teologia do Unasp e professor de Bíblia Hebraica, línguas bíblicas (hebraico, aramaico, grego), exegese bíblica, judaísmo e raízes judaicas do Novo Testamento. É formado em Teologia pela Faculté Adventiste de Théologie (FAT, França) e em Teologia Bíblica (Unasp), mestre em Teologia (FAT, França), doutor em Teologia pela Andrews University (EUA) e pós-doutor em Literatura Hebraica (USP)

2. Camada de significado histórico-cultural. A segunda camada está relacionada a uma mensagem muitas vezes “criptografada” para nós ocidentais, mas bem clara e compreensível para as pessoas da cultura do Oriente Médio, devido a seus costumes e sistema de crenças.

Com um objetivo em mente exclusivamente apologético, muitas vezes nós, criacionistas, buscamos extrair apenas informações científicas a fim de deixar o texto claro para poder apoiar a verdade que entendemos ter ao nosso lado. Mas, embora o livro de Gênesis em si tenha sido escrito a partir de um ponto de vista apologético, ele não está argumentando a favor de algo, mas contra algo. E a argumentação contra esse algo em específico não é uma coisa tirada de ou que pode ser facilmente compreendida em nossa cultura ocidental do século 21.

Gênesis está dialogando com uma cultura do seu próprio tempo, porque toda boa teologia é feita em diálogo com o mundo em que vivemos. Os primeiros onze capítulos de gênesis, portanto, eram uma mensagem intensa, porém, indireta de quem era o verdadeiro Deus Criador. Como sabemos disso? Especialistas em Antigo Testamento (nos vídeos a seguir) analisam a estrutura e a ordem dos trechos e elementos literários que nos possibilitam entender de forma mais profunda essas outras camadas de significado que o texto possui.

Um ponto bem interessante se encontra logo no início do primeiro capítulo. A expressão “No princípio”, que poderíamos de forma literal entender como sendo no início da criação do Universo, possui outra camada interna de significado que poucos sabem que existe. Nessa camada interna, essa expressão não gira em torno do “tempo”, mas, sim, de uma pessoa. Quem seria essa pessoa? Quando utilizamos outras referencias, tais como a de João 1:1 e Colossenses 1:15-23, que fazem bons paralelos com Gênesis 1:1, vemos que a palavra B’reshit, em hebraico, diz respeito ao Verbo (Jesus Cristo). O texto, então, poderia ser lido da seguinte forma: “Por meio de Jesus Cristo, Deus criou os céus e a Terra” (veja o vídeo abaixo).


Rodrigo Pereira da Silva é professor de Teologia e Arqueologia no Unasp e curador do Museu Paulo Bork de Arqueologia do Oriente Médio. É formado em Teologia (FADBA) e Filosofia (Unifai), especialista em Hebraico pela Universidade Hebraica (Israel), mestre em Teologia (Faje), doutor em Teologia (Unifai), doutor em Arqueologia Clássica (USP) e pós-doutor em Arqueologia Bíblica pela Andrews University (EUA)

Abaixo estão descritas as principais mensagens “criptografadas” para nossa mentalidade ocidental, e a intenção, encontrada na camada mais interna, que o autor de Gênesis teve nos onze primeiros capítulos ao comunicar às pessoas de seu tempo e cultura.

1. Deus transcende o espaço e o tempo. A sentença “No princípio criou Deus os céus e a Terra” já inicia com uma declaração de universalidade de Deus e nos leva aos limites do tempo (“no princípio”), ou seja, você não consegue voltar antes disso, e aos limites do espaço (“céus e a Terra”), pois o que Deus estabelece ali, do ponto de vista literário hebraico, é o ponto mais alto acima da terra (céus) e, em seguida, o ponto mais baixo. Portanto, os pontos mais alto e baixo são os extremos em termo de totalidade de espaço (tudo o que existe). Em outras palavras, Deus é o soberano do tempo e do espaço. Isso implica a eternidade dEle.

O ponto interessante é que essa ideia se choca imediatamente com a visão de mundo (cosmovisão) da época em que Gênesis foi escrito. No mundo de Gênesis, os deuses de outras culturas não eram eternos. Se analisarmos o mito de criação babilônico Enuma Elish, por exemplo, o início do seu conto narra os tempos em que os deuses (Tiamat, para citar um) ainda não existiam. Esse é um grande contraste entre Gênesis e os mitos de criação. Enquanto o primeiro está preocupado em descrever o início do tempo e do espaço (tudo o que existe do ponto de vista material), o segundo se preocupa em contar como os deuses babilônicos surgiram (os deuses tiveram um início).

Mas essa diferença em relação a Gênesis não se encontra apenas no mito de criação babilônico. Se analisarmos os mitos de criação egípcios encontrados em pirâmides, perceberemos também que os deuses Atum e Kheprer criaram a si mesmos (também tiveram um início). Em contraste, Gênesis não menciona qualquer especulação sobre a origem de Deus e Sua existência.

Outra declaração autoevidente pode ser percebida em No princípio criou Deus os céus e a Terra”. O Criador é externo à Sua criação, o Criador traz à existência a criação. Isso parece bobagem aos olhos ocidentais, mas essa era uma noção estranha na época em que Gênesis foi escrito, porque a maioria dos deuses no mundo antigo, com suas visões panteístas, eram manifestações do mundo natural. Portanto, se uma pessoa dentre esses povos gentios lesse as declarações apenas da primeira sentença de Gênesis 1:1 ficaria bastante confusa.

Gênesis se caracteriza como um argumento contra a polêmica da teologia do seu tempo, e particularmente contra a mitologia do seu tempo.

2. Deus cria tudo sem esforço. No primeiro dia da criação, em Gênesis capítulo 1, verso 3, é dito: “Disse Deus: 'Deixe ser a luz [Haja luz!], e a luz veio a existir.” Você pode perguntar: Para quem Deus estava ordenando que “deixasse ser a luz”? Para alguns especialistas, Deus estava falando com o Verbo (Jesus Cristo). Para outros, Deus não estaria falando a uma pessoa em particular. E o fato de Ele não estar falando a alguém mostraria que Deus tem poder/controle sobre a matéria, mostraria que a criação foi feita sem esforço algum. Mostraria também que a criação não exigia nada mais do que o desejo de Deus ou um simples comando para produzi-la. Essa mesma falta de esforço é observada nos comandos emitidos nos versos 6, 7, 9, 11, 14, etc.

Bem, o problema é que todos os mitos de criação de culturas que cercavam Israel eram narrativas que exigiam muito esforço por parte dos deuses ou como resultado de batalhas sangrentas. No conto babilônico, por exemplo, tem-se a figura de Marduk, o grande deus maior da cidade de Babilônia, e Tiamat, uma deusa das profundezas do oceano, e eles guerrearam um contra o outro por muito tempo até que Marduk teria matado Tiamat e, com partes de seu corpo, teria criado os céus e a terra. Além disso, existe ainda o fato de Deus criar a partir do nada (ex nihilo), enquanto os outros deuses criavam a partir de elementos que já existiam.

Um último detalhe é que a criação de Gênesis não exigiu batalha porque só existia um único Deus que criou tudo. Aqui vemos o monoteísmo sendo mais um detalhe estranho aos olhos das culturas ao redor de Israel. Um Deus, um comando, um resultado. Detalhes radicais de Gênesis para o contexto politeísta da época em que esse livro foi escrito.

3. Astros são criaturas, não deuses. No quarto dia da criação descrito em Gênesis nos é dito que Deus criou os corpos celestes (luzeiros). Embora possamos extrair informações a partir de uma leitura literal, como todo bom criacionista faz, uma segunda camada de significado nos mostra um desinteresse do autor pelos astros em si. O que isso quer dizer? Que esse trecho, em particular, não tinha especial interesse em descrever cientificamente detalhes sobre os astros, mas, sim, de mencionar as principais funções de cada astro como, por exemplo, de separar o dia da noite, possibilitando a contagem de um dia literal, e marcar períodos e estações também literais.

Quando comparamos essa intenção de Gênesis com narrativas de astrologia babilônicas percebemos uma grande diferença. Essa narrativa bíblica seria um escândalo para os antigos babilônios que consideravam os quatros corpos celestes não apenas como “luzes”, conforme a narrativa bíblica afirma, mas como sendo deuses. A lua, por exemplo, era considerada a personificação do deus Sin. É por isso que eles deveriam ficar de olho nessas luzes porque esses deuses e sua posição no céu determinariam eventos na vida humana. Em outras palavras, o destino humano era determinado por aqueles deuses.

Por isso que quando Gênesis diz que Deus criou apenas luzes, o livro não apenas rejeita qualquer forma de adoração ao Sol ou à Lua, mas também rejeita o fatalismo, ou seja, aquela ideia de que as pessoas não tinham nada que pudessem fazer, uma vez que seus destinos já estavam traçados pela posição dos astros (deuses) no céu. Gênesis diz “não” a isso. Não são os astros que decidem coisa alguma, eles apenas são elementos criados.

Outro detalhe está no fato de já existir luz no primeiro dia antes do quarto dia da criação. Como assim? O autor bíblico errou? Não! Isso também demonstra a qualquer leitor, ou pessoa de culturas diferentes da do Gênesis, que aqueles astros não eram deuses. Mais uma vez a intenção nessa camada é a de ensinar uma lição teológica ou antimitológica. Os astros apenas iluminavam ou refletiam a verdadeira fonte de luz (o próprio Deus). Deus apenas entrega, no quarto dia, a responsabilidade da luz àqueles portadores de luz. Assim como, após o pecado, Ele entrega a responsabilidade para o ser humano da “criação” de si mesmo.

É claro que esse mesmo trecho pode ser analisado a partir de uma leitura literal, utilizando-se dos termos originais em hebraico para tentar concluir se a luz no quarto dia surgiu/apareceu do ponto de vista do autor bíblico ou se os astros realmente foram criados nesse dia. Mas essa é uma discussão criacionista que permanece em outra camada de significado mais superficial da leitura do Gênesis. Nessa camada interna, o interesse é marcar uma oposição à mitologia da época. Você consegue perceber como Gênesis possui várias camadas de significado sem, no entanto, serem autoexcludentes? É como livros dentro de outros livros a espera de ser investigados. É enigmático e revelador!

Outro detalhe é que em Gênesis não é dado nome para o Sol e a Lua. Em vez disso, são usados os termos “luz maior” e “luz menor”. Por que o autor não usou as palavras hebraicas que existiam para nomear o Sol e a Lua? É possível que o autor evitasse o uso, pois a palavra hebraica para Sol, Shemesh, também era o nome do deus sol na cultura pagã, assim como o nome para “lua” também era o mesmo nome para a deusa da lua. Em outras palavras, o uso teria sido evitado para que ninguém confundisse que o texto estivesse mencionando o deus sol e a deusa lua.

A ordem dos astros também foi pensada com estratégia por Moisés. Ao fim do verso 16 é mencionado que “fez também as estrelas”. As estrelas são colocadas sem importância alguma na ordem da criação, como uma reflexão tardia. Isso entra em direta oposição ao pensamento das culturas que rodeavam Israel. Para eles, existia uma hierarquia em ordem de importância. Os astros celestes mais importantes eram primeiro as estrelas, porque isso designava o zodíaco deles, e só depois vinham o Sol e a Lua. O que Gênesis faz, então, é confrontar mais uma ideia teológica deles.

4. Seres humanos têm muito valor e representam Deus na Terra. No sexto dia da criação, em Gênesis 1:25-30, durante a criação dos animais e seres humanos, existe um fato autoevidente, mas que, para as culturas pagãs, eram algo estranho: o fato de Deus ter (1) criado animais e seres humanos no mesmo dia, para (2) viver no mesmo ambiente e (3) comer a mesma comida. Isso mostrava às pessoas da época que a humanidade e o reino animal tinham uma relação muito próxima (similaridade); contudo, ainda mostrava que a humanidade tinha algo a mais que os animais (dessemelhança). 

No verso 26, é mencionado que a humanidade foi criada à imagem e semelhança do próprio Deus. No contexto cultural pagão em que Gênesis foi escrito, reis estabeleciam imagens de si mesmos e, assim, definiam territórios em vários lugares. Para alguns especialistas em Antigo Testamento, um dos significados do fato de os seres humanos terem sido feitos à imagem e semelhança de Deus está em dizer que os seres humanos eram representantes de Deus na Terra, estabelecendo o território de Deus em todo o planeta.

Mais uma vez Gênesis faz um ataque à cosmovisão mitológica da época com uma visão de esperança diante do fatalismo, uma vez que nessas culturas os seres humanos possuíam pouca dignidade e valor, e foram criados para ser apenas escravos dos deuses para atender às necessidades deles, inclusive as de comida.

5. O clímax da criação é o tempo sagrado e imaterial. No sétimo dia da criação (capítulo 2) mostra-se, ao contrário de outras culturas, que o clímax da criação não é o ser humano ou os outros elementos da criação, mas, sim, um templo dentro de um tempo sagrado e abençoado, que mostra que a criação é um empreendimento divino e santo.

Portanto, quando lemos Gênesis 1, não em um contexto do século 21, mas em seu próprio contexto, isso ajuda a revelar que o ponto principal dessa camada de Gênesis 1 é sobre como podemos ser capazes de nos apropriar de Gênesis no século 21. Gênesis 1 é uma declaração radical que voa na face da “sabedoria” recebida no período em que Gênesis veio a existir. E é uma pena quando criacionistas fazem apenas uma leitura literal, uma leitura de apenas uma única camada de significado, dentre as muitas que Gênesis possui, em vez de uma declaração de fé radical.

Todas essas cinco principais argumentações acima foram extraídas da palestra de um especialista criacionista em Antigo Testamento (ver vídeo completo abaixo).


Laurence Turner é professor emérito de Antigo Testamento e chefe do departamento de Estudos Teológicos do Newbold College of Higher Education (instituição de ensino superior adventista da Inglaterra). É formado em Teologia pela Columbia Union College, mestre em Divindade pela Andrews University (EUA), doutor em Teologia pela Universidade de Princeton (EUA) e doutor em Filosofia pela Universidade de Sheffield

Nota: Portanto, esse texto foi baseado em palestras e aulas de especialistas criacionistas bíblico-literais afiliados a instituições de ensino superior da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

(Fernando Alves)

Convenção de terraplanistas define que gravidade “não existe”


Mais de 200 pessoas se reuniram entre os dias 27 e 29 abril em um hotel em Birmingham, na Inglaterra, para discutir a “teoria” da Terra plana. Cobrando ingressos que custam até 128 libras (cerca de R$ 620), os participantes da convenção definiram, entre outras coisas, que a gravidade não existe. “Minha pesquisa destrói a cosmologia do Big Bang. Ela apoia a ideia de que a gravidade não existe e a única grande força da natureza é o eletromagnetismo”, disse David Marsh, que no dia a dia trabalha como gerente em um posto de saúde, durante a convenção. Segundo o jornal The Telegraph, Marsh fez experimentos no seu jardim analisando o movimento da Lua com uma máquina fotográfica e um aplicativo no celular e chegou à conclusão que refuta a teoria elaborada por Isaac Newton em 1686. “As pessoas estão acordando", disse Gary John, organizador do evento, ao jornal inglês. “Estamos vendo uma explosão de interesse na teoria da Terra Plana e uma desconfiança generalizada direcionada aos governos, e esse é um lugar onde as pessoas podem expressar suas ideias sem medo de ser ridicularizadas”, continuou.

Darren Nesbit, outro pesquisador que se apresentou na convenção, afirmou ter descoberto a razão de ninguém cair das bordas da Terra plana: o ‘efeito Pac-Man’. Segundo ele, quando alguém chega na borda, é automaticamente transportado para o outro lado como no famoso jogo dos anos 1980. “Uma possibilidade lógica para aqueles que pensam sem restrições é que o espaço-tempo se envolve em si mesmo e nós temos um efeito Pac-Man”, disse ele na convenção.

Um dos pontos mais debatidos nos três dias do encontro e que não se chegou a um consenso é o formato da Terra. Alguns afirmam que ela é um círculo envolto em paredes de gelo; outros, que é um domo fechado; e uma terceira corrente acredita que a Terra é formada por uma série de anéis interligados. O único consenso é que a Terra redonda, proposta inicialmente por Pitágoras no século 6 antes de Cristo, é uma mentira globalista.


Nota: Se eu acreditasse em vida após a morte antes da ressurreição dos mortos, diria que o criacionista Isaac Newton estaria se revirando no túmulo. Anos de pesquisas e avanços científicos para essas pessoas voltarem a um mito pré-medieval supostamente baseado na Bíblia. “Efeito Pac Man”?!? Ainda que essa mágica fosse verdadeira, por que até hoje ninguém trouxe uma foto da tal borda ou por que nenhum piloto de avião falou sobre ela? Por favor, se alguns desses terraplanistas lhe disser que é criacionista, não lhe dê crédito. Além de a tese deles ser indefensável a partir de uma boa compreensão da Bíblia, nenhuma entidade criacionista séria (como a SCB) defende a ideia absurda da Terra plana. [MB]

quarta-feira, novembro 21, 2018

Ateus não são tão racionais quanto pensam


O ateísmo, por via de regra, é associado à racionalidade. Muitos ateus afirmam que não acreditam em uma entidade superior, mas sim na ciência, como se isso fosse uma garantia de que essas pessoas pensam de forma mais racional do que aquelas que têm uma religião. Porém, a própria ciência mostra que as coisas não são bem assim. Em um artigo publicado no site The Conversation, a professora Lois Lee, do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Kent, na Inglaterra, desconstrói essa imagem e mostra como a ciência prova que ateus não são mais racionais que pessoas religiosas. “Muitos ateus pensam que o ateísmo é produto do pensamento racional. Eles usam argumentos como ‘eu não acredito em Deus, acredito na ciência’ para explicar que a evidência e a lógica, em vez da crença e do dogma sobrenatural, sustentam o pensamento deles. Mas só porque você acredita em pesquisa científica baseada em evidências – que está sujeita a verificações e procedimentos rigorosos – não significa que sua mente funcione da mesma maneira”, afirma no texto.

“O problema que qualquer pensador racional precisa resolver, no entanto, é que a ciência mostra cada vez mais que os ateus não são mais racionais que os teístas. De fato, os ateus são tão suscetíveis quanto qualquer pessoa a ‘pensar em grupo’ e outras formas não racionais de cognição. Por exemplo, pessoas religiosas e não religiosas podem acabar seguindo indivíduos carismáticos sem questioná-los”, argumenta a pesquisadora.

Ela diz que a própria crença ateísta não tem a ver com o pensamento racional, mas sim com outros fatores. “Sabemos agora, por exemplo, que filhos não religiosos de pais religiosos rejeitam suas crenças por razões que têm pouco a ver com o raciocínio intelectual. A mais recente pesquisa cognitiva mostra que o fator decisivo é aprender com o que os pais fazem e não com o que eles dizem. Então, se um pai diz que é cristão, mas perdeu o hábito de fazer as coisas que dizem que devem importar – como rezar ou ir à igreja – os filhos simplesmente não acreditam que a religião faz sentido”, aponta.

“Isso é perfeitamente racional em certo sentido, mas as crianças não estão processando isso em um nível cognitivo. Ao longo da nossa história evolutiva [sic], os humanos muitas vezes não tinham tempo para examinar e avaliar as evidências – precisando fazer avaliações rápidas. Isso significa que as crianças, até certo ponto, apenas absorvem as informações cruciais, que nesse caso é que a crença religiosa não parece importar da maneira como os pais estão dizendo”, relaciona no texto.

Lee afirma que mesmo crianças mais velhas e adolescentes, ainda que reflitam sobre o tema, não possuem um contato tão independente quanto pensam. “Pesquisas estão demonstrando que os pais ateus (e outros) transmitem suas crenças aos filhos de maneira semelhante aos pais religiosos – compartilhando sua cultura tanto quanto seus argumentos”, afirma a pesquisadora. Ou seja, os filhos de pais que não possuem nenhuma religião são tão influenciados quanto aqueles que são filhos de religiosos. “Alguns pais entendem que seus filhos devem escolher suas crenças por si mesmos, mas o que eles fazem é passar (aos filhos) certas maneiras de pensar sobre religião, como a ideia de que religião é uma questão de escolha e não de verdade divina. Não é de surpreender que quase todas essas crianças – 95% – acabem ‘escolhendo’ ser ateias”, acredita ela.

Mas será que ateus não são mais propensos a aceitar a ciência do que as pessoas religiosas? Lee afirma que a resposta para essa pergunta depende da crença e que, em alguns casos, ateus tendem a se afastar do conhecimento científico mais do que pessoas religiosas. “Muitos sistemas de crenças podem estar mais ou menos intimamente integrados ao conhecimento científico. Alguns sistemas de crenças são abertamente críticos em relação à ciência, enquanto outros estão extremamente preocupados em aprender e responder ao conhecimento científico. Mas essa diferença não mapeia nitidamente se você é religioso ou não. Algumas tradições protestantes, por exemplo, veem a racionalidade ou o pensamento científico como centrais em suas vidas religiosas. Enquanto isso, uma nova geração de ateus pós-modernos destaca os limites do conhecimento humano e vê o conhecimento científico como altamente limitado, problemático até, especialmente quando se trata de questões existenciais e éticas. Esses ateus podem, por exemplo, seguir pensadores como Charles Baudelaire na visão de que o conhecimento verdadeiro é encontrado apenas na expressão artística”, relaciona no texto. [...]

O papel da ciência para muitos ateus não é exercido apenas no campo da racionalidade. Lee diz que o conhecimento científico pode fornecer as realizações filosóficas, éticas, míticas e estéticas que as crenças religiosas fazem pelos teístas. “A ciência do mundo biológico, por exemplo, é muito mais do que um tópico de curiosidade intelectual – para alguns ateus, fornece significado e conforto da mesma maneira que a crença em Deus pode fazer para os teístas. Os psicólogos mostram que a crença na ciência aumenta em face do estresse e da ansiedade existencial, assim como as crenças religiosas se intensificam para os teístas nessas situações”, compara.

A estudiosa argumenta que não ser racional, porém, não precisa ser necessariamente algo ruim. “Claramente, a ideia de que ser ateu depende apenas da racionalidade está começando a parecer claramente irracional. Mas a boa notícia para todos os envolvidos é que a racionalidade é superestimada. A engenhosidade humana repousa em muito mais do que no pensamento racional. [...] A capacidade de tomar decisões rápidas, seguir nossas paixões e atuar na intuição também são qualidades humanas importantes e cruciais para o nosso sucesso”, aponta.

Lee finaliza seu texto falando sobre a importância da ciência, mas argumenta que nós, seres humanos, precisamos de um pouco de irracionalidade, independentemente do que acreditamos ou não. “É útil que tenhamos inventado algo que, ao contrário de nossas mentes, é racional e baseado em evidências: a ciência [aqui há um erro conceitual, já que a ciência não foi inventada pelo ser humano, foi descoberta por ele]. Quando precisamos de provas adequadas, a ciência pode muitas vezes fornecer isso – desde que o tópico seja testável. Importante, a evidência científica não tende a apoiar a visão de que o ateísmo é sobre o pensamento racional e o teísmo é sobre realizações existenciais. A verdade é que os humanos não são como a ciência – nenhum de nós vive sem ações irracionais, nem sem fontes de significado e conforto existencial. Felizmente, porém, ninguém precisa.”

sexta-feira, novembro 16, 2018

Supercomputador TENTA imitar cérebro humano


[Leia com atenção as partes grifadas e tire suas conclusões.] Cientistas criaram um supercomputador com um milhão de núcleos de processamento e 1.200 placas de circuito interconectadas que operam juntas como um cérebro humano. Apelidado de “Spiking Network Architecture”, ou SpiNNaker, o computador está localizado na Universidade de Manchester, no Reino Unido, e levou dez anos para ser desenvolvido. Atualmente, é o maior computador neuromórfico do mundo – um tipo de máquina que imita o disparo de neurônios. Isso significa que o Spinnaker não apenas “pensa” como um cérebro, mas cria modelos de neurônios em cérebros humanos e simula mais neurônios em tempo real do que qualquer outro computador na Terra. Desde abril de 2016, o SpiNNaker vinha simulando a atividade dos neurônios usando 500.000 processadores. A máquina atualizada tem o dobro dessa capacidade. Com o apoio do Projeto Cérebro Humano da União Europeia, um esforço para construir um cérebro humano virtual, o SpiNNaker deve permitir que os cientistas criem modelos detalhados desse complexo órgão.

No momento, a máquina tem capacidade para realizar 200 quatrilhões de ações simultaneamente. Enquanto alguns outros computadores podem rivalizar com o SpiNNaker no número de processadores que contêm, o que diferencia essa plataforma é a infraestrutura que conecta esses processadores. No cérebro humano, 100 bilhões de neurônios disparam e transmitem sinais simultaneamente para milhares de destinos. A arquitetura do SpiNNaker suporta um nível excepcional de comunicação entre seus processadores, comportando-se muito como uma rede neural.

“Os supercomputadores convencionais têm mecanismos de conectividade muito menos adaptados à modelagem cerebral em tempo real”, explicou Steve Furber, professor de engenharia da computação da Universidade de Manchester, ao portal Live Science. “O SpiNNaker é, acredito, capaz de modelar redes neurais de maior alcance em tempo real biológico do que qualquer outra máquina.”

Mesmo com todo esse poder de computação e capacidade neural, o SpiNNaker está longe de se comportar como um cérebro humano real. “Sua principal tarefa é apoiar modelos cerebrais parciais: por exemplo, modelos de córtex, de gânglios da base ou múltiplas regiões expressas tipicamente como redes de ativação ou disparo de neurônios”, disse Furber.

Anteriormente, quando o SpiNNaker operava com apenas 500.000 processadores, modelou 80.000 neurônios no córtex, a região do cérebro que gerencia as informações dos nossos sentidos, como visão e audição. Outra simulação do SpiNNaker foi de uma área do cérebro afetada pela doença de Parkinson, o que sugere seu potencial como uma ferramenta para estudar distúrbios neurológicos. Por fim, o SpiNNaker também pode controlar um robô móvel chamado SpOmnibot, que usa o computador para interpretar dados dos sensores de visão do robô e fazer escolhas de navegação em tempo real.

Por enquanto, simular exatamente um cérebro humano simplesmente não é possível. Uma máquina avançada como o SpiNNaker pode gerenciar apenas uma fração da comunicação realizada por um cérebro humano, e os supercomputadores têm um longo caminho a percorrer antes de poderem pensar por si mesmos. “Mesmo com um milhão de processadores, podemos nos aproximar apenas de 1% da escala do cérebro humano, e isso é com muitas suposições simplificadoras”, afirma Furber.

No entanto, Spinnaker poderia teoricamente imitar a função do cérebro de um rato, que é mil vezes menor do que um cérebro humano. “Se tudo o que for necessário são neurônios suficientes ligados na estrutura certa (o que é em si um ponto discutível), então talvez possamos agora atingir esse nível de pensamento num modelo em execução no SpiNNaker”, acrescentou o pesquisador.


Leia mais sobre esse órgão maravilhoso chamado cérebro. Clique aqui.

terça-feira, novembro 13, 2018

A evolução é um fato? Análise de três “evidências”


[Nossos comentários seguem entre colchetes. – MB/EL] Nestes tempos de dúvida e desconfiança em relação à ciência e ao conhecimento, é importante reafirmar verdades absolutas adquiridas através de muita pesquisa e trabalho duro de cientistas. A evolução, por exemplo, não é uma hipótese. É um fato. Por mais de 150 anos, desde que Charles Darwin propôs a teoria que o tornaria uma das pessoas mais conhecidas da história da humanidade, a Teoria da Evolução passou por mais escrutínio e investigação rigorosa do que qualquer outra afirmação científica – e isso só a fortaleceu. [Pois bem, já no primeiro parágrafo tentam associar teoria da evolução com ciência, conhecimento e verdade absoluta (imagino que quem escreveu isso não seja relativista). E, para variar, são bastante generalistas, ao afirmar que a evolução – que evolução? – não é uma hipótese, é um fato. De todas as áreas da pesquisa acadêmica, essa está entre as que utilizam os métodos menos rigorosos conhecidos. Afirmar o contrário é demonstrar total desconhecimento de como se faz pesquisa rigorosa avançada. Por exemplo, podemos afirmar com 5 ou 6 sigmas de certeza que todas as espécies da Terra vieram de um acestral comum? Como exatamente os dados foram avaliados quantitativamente para afirmar isso? Que famílias de modelos matemáticos suportam essa conclusão e quais são seus limites de validade?]

Embora muitas pessoas queiram fazer parecer que a evolução não é amplamente aceita dentro da comunidade científica, isso não é verdade. Em todas as universidades, instituições de pesquisa e organizações científicas, a evolução não é apenas aceita quase que universalmente, é também a base sobre a qual estão sendo feitas pesquisas importantes. [A macroevolução naturalista ou aspectos da teoria da evolução que, de fato, são científicos, como a seleção natural? A mesma generalização de sempre.] A evolução é a base da maior parte da ciência conhecida como biologia. [A evolução é irrelevante para desvendar os mecanismos que realmente fazem funcionar os organismos vivos; ficar imaginando cenários de como eles podem ter evoluído até a presente situação tem desviado o foco do desenvolvimento de métodos de pesquisa realmente avançados, causando um atraso desnecessário; principalmente a partir da década de 1990, físicos têm começado um trabalho para ajudar a compensar esse atraso, mostrando como usar métodos matemáticos na pesquisa em Biologia.]

Caso você precise argumentar sobre o fato da evolução ser, bem, um fato, e não uma hipótese, o portal Futurism listou três evidências que podem ajudar nessa empreitada: [Evidências são usadas para provar um fato? Parece haver um problema conceitual fundamental aqui.]

Traços comuns, ancestrais comuns

“Pense na sua família. Você e seus parentes mais próximos são mais parecidos do que você e seus primos. Da mesma forma, você se parece mais com seus primos do que com parentes mais distantes e mais com parentes distantes do que com pessoas do outro lado do globo. Quanto mais próximo você estiver relacionado, em geral, mais semelhanças você compartilha. É claro que essas semelhanças se estendem muito além do nível da superfície, alcançando nossa genética”, afirma o texto.

Esse padrão de semelhanças entre parentes mais próximos se estende por toda a vida na Terra. Essas semelhanças são conhecidas como “sinapomorfias”. São características que estão presentes em espécies ancestrais e são compartilhadas exclusivamente (em forma mais ou menos modificada) pelos descendentes evolutivos dessa espécie. As sinapomorfias vêm em hierarquias aninhadas relacionadas à variedade e intensidade das semelhanças.

Isso acontece porque as semelhanças foram herdadas de ancestrais comuns, e quanto mais atrás no tempo quaisquer duas espécies compartilham um ancestral comum, mais distantes as semelhanças se tornam. Você e seus primos compartilham os mesmos ancestrais comuns nos seus avós, mas você e seus irmãos compartilham ancestrais mais próximos – seus pais. [Ancestralidade humana comum está plenamente de acordo com o que afirmam os criacionistas bíblicos, afinal, descendemos mesmo de uma família ancestral, a de Noé.]

O texto destaca que espécies com um grande número de semelhanças tendem a viver perto umas das outras. Pinguins vivem apenas no Hemisfério Sul, marsupiais vivem quase exclusivamente na Austrália, cactos quase exclusivamente nas Américas, lêmures em Madagascar, etc. “Se a evolução não fosse verdadeira, esse padrão geográfico não faria absolutamente nenhum sentido. Além disso, essas semelhanças muitas vezes parecem ser completamente arbitrárias, em vez de terem alguma vantagem seletiva.” A imagem abaixo é um bom exemplo das semelhanças adquiridas por um ancestral em comum: embora sejam incrivelmente diversos, os insetos têm seis patas. Há provavelmente várias centenas de milhares de espécies de insetos e todas têm praticamente o mesmo plano corporal. [O criacionista argumenta que essas semelhanças são a assinatura do Projetista, não evidência de macroevolução. Criacionistas não são fixistas. Acreditam que as espécies mudam e se diversificam com o tempo, até de maneira muito rápida por meio de mecanismos epigenéticos. O que os criacionistas contestam é que todos os organismos vivos possuem um ancestral comum, assim como as escalas de tempo.]

Espécies mudando com o tempo

A Teoria da Evolução de Darwin se tornou possível através da descoberta de fósseis de animais que habitavam a Terra milhões de anos atrás [segundo a cronologia evolucionista], mas que deixaram de existir. Os primeiros paleontólogos perceberam que espécies que viviam no passado são muitas vezes drasticamente diferentes de qualquer coisa viva hoje. Trilobites, dinossauros, preguiças gigantes, entre outros, sugerem que a vida na Terra mudou com o tempo. [Não é correto usar como exemplo de animais atuais animais extintos. A ideia do parentesco é forçada. Quanto aos preguiças gigantes, são exatamente iguais aos seus parentes modernos, só que... gigantes.]

Quanto mais voltamos no tempo, mais diferentes as espécies são quando comparadas com as espécies de hoje. [Não é o que se vê quando são encontrados seres vivos que têm correspondentes atuais. Tirando algumas características morfológicas e o tamanho, insetos, peixes, anfíbios, aves de “milhões de anos” são praticamente idênticos aos descendentes modernos.] Essas tendências gerais também podem ser vistas no nível individual, já que as linhagens podem ser vistas mudando com o tempo. [Diversificação de baixo nível é um fenômeno defendido pelos criacionistas.]

Como sabemos, no entanto, que as progressões de fósseis não representam apenas espécies separadas e não relacionadas? Primeiro, eles têm semelhanças que sugerem que eles estão relacionados. [Assim como uma moto, um avião, um carro e uma bicicleta mostram semelhanças...] Em segundo lugar, essas progressões representam uma tendência, também conhecida como progressão de mudança. Por exemplo, ao longo do tempo, as espécies vão da baixa expressão de uma determinada característica à expressão intermediária e à alta expressão. Como a evolução das pernas, por exemplo. Não há elos perdidos na evolução. [Óbvio que não há elos perdidos! Mas queria que me explicassem como uma escama de réptil deu um salto evolutivo e se transformou em algo tão especificamente complexo como uma pena.]

“Os fósseis não são a única maneira de vermos a mudança de espécies. Podemos ver isso em um laboratório, através da distribuição geográfica como uma espécie se espalha, ou através de seleção artificial realizada por seres humanos”, ressalta o texto. [Repito: evidências de diversificação de baixo nível não provam jamais a macroevolução, a menos que se façam extrapolações filosóficas.]

Falhas genéticas

As espécies carregam marcas de onde vieram. Esses sinais de origem podem vir na forma de traços reaproveitados, características que prejudicam as chances de uma espécie sobreviver ou se reproduzir. Simplificando, as espécies são falhas, e são essas falhas que contam claramente a origem natural delas.

A maioria dos mamíferos pode produzir vitamina C. Eles não precisam se alimentar de frutas ou outros alimentos com vitamina C em sua dieta. Não é o caso para os humanos. Nós tivemos ancestrais que comeram frutas ricas em vitamina C por tanto tempo que nossos genes produtores de vitamina C sofreram mutações há muito tempo. [Olha a hipótese sem comprovação aí...] Nós, no entanto, ainda possuímos seu remanescente na forma de pseudogenes. [Quem disse que “involução”, perda de uma característica seria evidência de evolução ascendente? Pelo contrário: trata-se de evidência do criacionismo.]

Com estes três fatos [sic] em mente, temos a habilidade de olhar para qualquer espécie e perguntar algumas coisas. Por exemplo: ela compartilha semelhanças com outras espécies que podem sugerir que elas estão intimamente relacionadas? Podemos perguntar também se existem mudanças progressivas nessa espécie que podem ser vistas no registro fóssil, na história registrada ou na geografia, ou mesmo se a espécie em questão tem algum traço que seja remanescente das suas gerações passadas.
As respostas para essas perguntas mostram como a evolução é uma realidade da natureza – e uma de suas maiores belezas.

“Essas três simples perguntas podem, se você permitir, transformar a maneira como você olha para o reino biológico ao seu redor. Continue. Pergunte à vontade. A biologia nunca será a mesma”, conclui o texto do Futurism. [Sim, devemos sempre perguntar, a começar por esta pergunta: Quanto há de verdadeiramente científico nos argumentos evolucionistas e quanto disso é mera hipótese baseada em evidências mínimas? Observar coisas e ficar imaginando explicações ad hoc é um processo de pensamento pré-científico e não confiável. Quando se faz isso, frequentemente escolhe-se arbitrariamente uma entre milhares de explicações possíveis mas trata-se a possibilidade escolhida como se fosse a única. E o pior é que se tem observado uma tendência afirmar aquela possibilidade como fato em casos assim, incluindo o da hipótese da ancestralidade comum. Nas pesquisas avançadas, o processo tem sido o inverso: parte-se da expressão matemática de leis conhecidas, as quais, combinadas, formam uma teoria científica, com escopo geral. Ao ser aplicada a casos particulares, essa teoria gera modelos matemáticos que têm feito previsões que têm surpreendido os próprios pesquisadores envolvidos na elaboração dos modelos. Essas previsões têm-se confirmado por experimentos rigorosamente desenvolvidos e avaliados por métodos estatísticos que atestam alta confiabilidade. É assim que se faz pesquisa científica. O contrário disso é exatamente o que o texto propõe: conclusões ad hoc baseadas em observações interpretadas por um viés. E esse viés passa a ser chamado de “fato” e de “verdade absoluta”.]

[Se essas são as melhores evidências de que os evolucionistas dispõem, isso significa que a “coisa” está feia!]

A evolução do instinto animal

O que significa agir por instinto? Animais e seres humanos possuem instinto, mas é importante defini-lo. Primeiro, devemos compreender que os estudos do comportamento animal, o que inclui os instintos, são aprofundados por meio de uma área de pesquisa chamada Etologia. Ela é relativamente recente. Originou-se na Europa, na década de 1930, por iniciativa de Konrad Lorenz e Nico Tinbergen. Mas, antes dela, Charles Darwin já havia dado algumas contribuições para o campo do comportamento animal.[1]

É importante ter conhecimento de que os estudos em Etologia têm como base a cosmovisão evolucionista. Ser criacionista não tira de nós a necessidade de conhecer o modo como os evolucionistas interpretam as pesquisas científicas nas mais diferentes áreas. Inclusive sabemos que há alguns pontos em comum entre essas diferentes cosmovisões (o que inclui o processo de microevolução e a seleção natural, mas não nas mesmas intensidades). Um conhecimento sólido e crítico só é construído graças ao estudo de ambos os “lados da moeda”.

De acordo com Charles Darwin, “um ato que para nós exigiria experiência para desempenhar é em geral considerado instintivo quando é desempenhado por um animal, mais ainda se for um animal jovem sem experiência, ou por muitos indivíduos que da mesma forma não conheçam sua finalidade” (p. 321). Os instintos são importantes para o bem-estar das espécies, quando suas condições de vida são alteradas podem ocorrer pequenas modificações nelas.[2]

Podemos citar a formiga saúva. Existem mais de 200 espécies delas. Elas vivem em colônias e apresentam subdivisões de tarefas entre os membros do formigueiro. Os bitus são os machos, eles acasalam com as fêmeas e morrem logo após. As cortadeiras cortam folhas e carregam para o formigueiro; os soldados protegem a colônia contra a invasão; as enfermeiras cuidam dos ovos, dos casulos e das pupas; e a tanajura (fêmea) realiza o voo nupcial com os bitus na primavera, sendo fertilizada. Depois desse episódio ela cai no solo, arranca as próprias asas e inicia a formação de uma nova colônia.[3]

Haja organização! Com certeza, há uma quantidade imensa de informação sobre esses organismos; apenas pincelamos de leve. Como teria surgido toda essa estrutura organizada entre a colônia das formigas saúva? Cada uma sabe sua função e a faz com perspicácia. De onde veio toda essa informação? Como a tanajura teria desenvolvido a “técnica” de arrancar as próprias asas no momento certo para reiniciar o processo de construção de uma nova colônia?

Para Darwin, mesmo os instintos mais complexos surgiram a partir de pequenas variações, conforme a necessidade da espécie às modificações do ambiente. Essas variações seriam acumuladas até onde se mostrassem vantajosas pela ação da seleção natural.[2] Como ações necessárias para a sobrevivência de uma espécie poderiam surgir lenta e gradualmente (milhões de anos)?

Richard Dawkins, biólogo evolutivo e etólogo (proeminente crítico do criacionismo), defende a ideia de que o instinto tenha surgido a partir do aprendizado pela observação. Em entrevista ele cita uma família de aves – Turdidae, nela estão aquelas popularmente conhecidas como sabiás ou tordos. Para se alimentar de certos caramujos, essas aves são capazes de esmagar conchas. Conforme Dawkins, um ancestral da espécie teria aprendido a maneira correta de esmagar uma concha. Esse comportamento teria sido copiado, as aves foram aprendendo e o comportamento foi sendo repetido pelas gerações seguintes por meio da observação.[5]

Como esse comportamento aprendido teria sido transmitido para uma próxima geração? O que seria transmitido não é a informação de como quebrar a concha, mas uma tendência genética capaz de acelerar o aprendizado desse comportamento. Assim, a seleção natural selecionaria os genes por muitas gerações, criando um “pool genético” (conjunto de genes presentes em uma população).[5] No caso, não haveria origem de novos genes que expressem tais comportamentos, mas a seleção daqueles que se adaptam às condições de sobrevivência da espécie pela seleção natural.

Outro exemplo dado por Dawkins foi acerca do comportamento aprendido por observação de uma espécie de ave conhecida por “tits”, pertencente à família Paridae (que inclui muitas espécies de chapim). Ele conta que, quando era criança, época em que havia entregadores de leite de porta em porta, as garrafas de leite tinham tampas de papelão ou papel laminado. Essas aves descobriram meios de abrir as tampas e tomar o leite do interior das garrafas. Por meio da observação, outras aves foram aprendendo e adquirindo esse hábito. Com isso, as gerações que aprendessem com mais rapidez teriam mais alimento disponível, havendo mais proles desses indivíduos para transmitir esses genes às gerações seguintes. Conforme citado acima, a transmissão seria de genes que possibilitem o rápido aprendizado para essa característica [5].

A aprendizagem por experiências específicas pode gerar alterações no comportamento do organismo, mas “a capacidade para aprender depende da organização do sistema nervoso estabelecida durante o desenvolvimento, seguindo instruções codificadas no genoma [conjunto de genes presente em uma espécie]. A aprendizagem em si envolve a formação de memórias por mudanças específicas na conectividade neuronal” (p. 1.138).[6]

Caso a hipótese do instinto surgido a partir da aprendizagem pela observação seja real. Como instintos complexos presentes em organismos “mais simples” teriam se estabelecido? De onde veio a informação genética que possibilitasse o desenvolvimento de tais comportamentos? A capacidade neural de uma aranha obviamente não será a mesma que a de um mamífero ou ave, por exemplo.

Como a aranha é capaz de fabricar a seda para a sua teia com características que intrigam tanto os cientistas? Alto nível de resistência, elasticidade e mais forte que o aço (nas mesmas dimensões)?[7] Essa ação não é pensada, é instintivamente realizada. Como compreender a origem da informação complexa e especificada presente na carga genética das aranhas?

Moema Patriota

Referencias:

[1] BERTELLI, Isabella. As contribuições da Etologia paraa Psicologia. 2008.  

 

[2] DARWIN, Charles. 1809-1882. A origem das espécies; tradução Carlos Duarte e Anna Duarte. São Paulo: Martin Claret, 2014.

 

[3] SOUZA, Ricardo. Formiga saúva/Atta spp. 2010. 

 


[6] REECE, J.B... [et al.]. Biologia de Campbell. 10ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

[7] MONTENEGRO, R. V. D. A teia da aranha.