quarta-feira, julho 29, 2020

Nuvens de gafanhoto: praga bíblica?

De fato, o ano de 2020 tem se tornado pano de fundo para uma diversidade de “memes” em virtude da quantidade de catástrofes naturais que vêm ocorrendo. Agora, considerando a aproximação de nuvens de gafanhotos com o Brasil, há quem diga que as pragas do Egito estão de volta. Outros, porém, questionam sua relação com as pragas apocalípticas. Mas, afinal, o que é essa nuvem de gafanhotos? Como ela surgiu e será que existe relação com alguma praga ou profecia bíblica? Antes de tudo, vamos entender o que são esses animais e por que podem ser considerados uma ameaça.

O que são os gafanhotos?
           
São animais que possuem patas articuladas e exoesqueleto quitinoso, chamados de artrópodes.  Dentro desse Filo, a Classe dos insetos difere das demais porque seus integrantes possuem três pares de pernas, um par de antenas e três divisões do corpo (tagmas): cabeça, tórax e abdome.
           
Os gafanhotos pertencem à subordem Caelifera e à ordem Orthoptera (insetos com asas em linha reta), e estão classificados dentro da Família Acrididae em virtude de seu terceiro par de pernas saltatórias. Além dos gafanhotos, integram esse grupo as esperanças, os grilos, as paquinhas e as taquarinhas. Dentro dessa família Acrididae, a espécie Schistocerca cancellata, a mesma que está na Argentina, é considerada a mais robusta e de maior comprimento. Os machos geralmente têm quatro centímetros e as fêmeas, seis.

Aparelho bucal e alimentação
           
O aparelho bucal dos insetos foi minuciosamente projetado de acordo com o tipo de alimento que consomem. Os gafanhotos possuem um aparelho bucal do tipo mastigador, com uma mandíbula enorme, capaz de devorar um galho em segundos.
 
Labro
: forma o “céu” da boca dos insetos, articulando-se sobre o clípeo. Relaciona-se a uma função gustativa.
Mandíbulas: são duas peças dispostas lateralmente abaixo do labro, articuladas e resistentes. Sua função é mastigar, triturar ou dilacerar os alimentos
Maxila: articuladas na parte lateral inferior da cabeça, são peças auxiliares durante a alimentação.
Lábio: representa a parte inferior da boca.  
           
Em relação aos hábitos alimentares, esses insetos são polífagos (comem mais de uma variedade de alimento) geralmente consomem folhas de vários tipos de plantas tais como: citrosarrozsojapastagensalfafaeucalipto e outras. Estima-se que a quantidade diária de alimento ingerido seja equivalente ao seu peso. Em se tratando de um único inseto, não se percebem grandes alterações no ambiente, mas o problema é que algumas espécies de gafanhotos são gregárias (vivem em grupos) e podem representar uma grande ameaça para a agricultura e, indiretamente, para a agropecuária, uma vez que os rebanhos se alimentam dos vegetais.

A formação da nuvem e o deslocamento dos gafanhotos
           
A formação de uma nuvem de gafanhotos está diretamente relacionada com questões ambientais específicas. Um dos motivos para a formação dessas nuvens é o clima. Outro fator importante é a diminuição dos inimigos naturais desses insetos (sapos, pássaros, fungos e bactérias), em parte decorrente do uso abusivo e incorreto de inseticidas e agrotóxicos. Dessa forma, ao encontrarem condições favoráveis pelo caminho, como tempo quente e seco, vento e alimento, esses insetos vão se reproduzindo rapidamente, avançando pelas lavouras enquanto devoram tudo o que encontram pela frente.
           
Estima-se que haja cerca de 40 milhões de indivíduos por quilômetro quadrado da “nuvem”. Nesse caso, como não há alimento suficiente para sustentar todos os insetos do bando, o grupo se desloca em busca de comida, o que pode incluir plantações e áreas agrícolas. Das 400 espécies conhecidas, cerca de 50 são nômades, podendo percorrer uma média de 150 quilômetros por dia. Embora não transmitam doenças, o prejuízo econômico de uma nuvem de gafanhotos pode ser enorme.


As atuais nuvens de gafanhotos têm alguma relação com as pragas do Egito?

Definitivamente NÃO! O fato de uma nuvem de gafanhotos ter sido a 8ª praga do evento bíblico relacionado à libertação do povo de Israel do jugo egípcio tem dado “asas” à imaginação de muitos internautas. Porém, as dez pragas foram um evento pontual, específico, e não vão acontecer novamente. Qualquer semelhança é mera coincidência. Mantenha distância de sites que abordam tais especulações que visam atrair “likes” de curiosos e desinformados. Você pode ler a história dessa fantástica atuação de Deus para livrar seu povo no livro de Êxodo, nos capítulos 7 a 12.

Invasões de gafanhotos são novidade?
           
Não estamos acostumados a ouvir noticiários sobre “bandos” de gafanhotos invadindo lavouras, mas o fenômeno tem se tornado cada vez mais frequente. Na América do Sul, há registros de nuvens de gafanhotos atacando cultivos de mandioca na província de Buenos Aires em 1538. Em 2004, uma nuvem de gafanhotos chegou ao Cairo e as imagens dos insetos tapando a visão das Pirâmides de Gizé correram o mundo. Em janeiro de 2016 houve uma infestação no noroeste da Argentina, sendo considerado o maior ataque em 50 anos.

Infestações por gafanhotos no Brasil já causaram grandes perdas às lavouras de arroz na região Sul do País, nas décadas de 1930 e 1940. Desde então, o controle tem sido eficiente, mantendo-os em sua fase “isolada”, evitando a formação “nuvens”. Atualmente a única espécie nômade que vive regularmente no País e causa problemas é a Rhammatocerus schistocercoides, encontrada no Mato Grosso. Recentemente vemos uma ameaça em virtude de manifestações dos insetos no Paraguai e na Argentina.
           
Por outro lado, a praga está há meses assolando parte da África, do Oriente Médio e Sudeste Asiático, regiões já vulneráveis. Entre o fim de 2019 e o início de 2020, gafanhotos geraram alertas da FAO a países do leste da África para as piores infestações dos últimos 70 anos. A situação foi pior no Quênia, na Somália e na Etiópia, e fazendeiros relataram preocupação com a fome depois que os insetos comeram plantações inteiras de produtos como milho e feijão.

De fato, os noticiários mencionam que as atuais infestações são as piores em décadas. Diante disso, muitos têm voltado os olhos para o livro do Apocalipse, considerando que esse livro também faz menção a pragas no fim dos dias da Terra. Vimos que as infestações de gafanhotos nada têm que ver com as dez pragas do Egito, mas pode haver alguma relação com as pragas do Apocalipse ou com suas profecias?
           
Gafanhotos e o Apocalipse
           
Quando analisamos o cenário mundial, temos a percepção de que tudo ao nosso redor parecer estar em convulsão, prestes a ruir. Os noticiários do mundo todo estão repletos de rumores de guerras, manifestações públicas cheias de intolerância e ódio, causando depredação de patrimônios culturais, públicos e privados, incêndios que esforços humanos custam para controlar e apagar, terremotos, ciclones, disseminação de doenças (pestes) que causam danos físicos, sociais, econômicos e emocionais, além da crescente preocupação com pragas, como a dos gafanhotos. Cenários comuns em locais distintos, acontecendo em períodos próximos e cuja intensidade tem sido classificada como “a pior em décadas” nos fazem pensar se estamos mesmo vivendo o “fim dos tempos”, assim como descrito em Mateus 24.
           
Não bastasse isso, alguns recorrem à Bíblia e se deparam com o texto em que João também vê as guerras e pragas derramadas durante o sétimo selo, em Apocalipse 9:1-3: E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma grande fornalha, e com a fumaça do poço escureceram-se o sol e o ar. E da fumaça saíram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado poder, como o poder que têm os escorpiões da terra.”
           
Apesar disso, é preciso atentar para o fato de o livro do Apocalipse ser simbólico, e a única relação com as atuais nuvens de gafanhotos se dá pela característica voraz desse animal, e não ao inseto propriamente dito.  Você pode ler mais sobre os gafanhotos do apocalipse aqui.
             
Embora não seja uma das sete pragas apocalípticas, a Bíblia menciona que a maior frequência no aparecimento das “pragas” seria um dos sinais de que o mundo estaria, sim, chegando ao fim. E agora?

Uma boa notícia
           
Parece impossível conciliar os atuais eventos com qualquer boa nova, não é mesmo? Mas acredite, é exatamente o que tudo isso representa: o fim do sofrimento e da dor e a proximidade de uma vida eterna e feliz. Como assim? Tudo faz parte do plano de salvação elaborado por Deus para nos livrar da morte decorrente do pecado.
           
Cristo selou Seu pacto com a humanidade na cruz do calvário, mas o fim do pecado se dará somente com a segunda vinda de Cristo. Ele prometeu e vai cumprir. É aí que se encaixam as peças de toda desgraça que temos visto. Cristo sabia que o ser humano se esqueceria do “manual de instruções” deixado por Ele nos dez mandamentos, e consequentemente os hábitos destrutivos humanos refletiriam no caos que vemos hoje.
           
Por isso ele deixou na Bíblia os sinais de Sua volta para que pudéssemos nos preparar e poder ter “paz em meio à tempestade”. Um desses sinais é que a frequência de pagas e pestes iria aumentar com o passar do tempo, e estamos vendo isso diante de nossos olhos. Os sinais são muitos, mas o cenário da gloriosa volta de nosso Criador está quase completo.
           
Você sabe quais são os sinais da volta de Jesus? O que ainda falta acontecer? Não se deixe enganar por fontes duvidosas e especulativas. As respostas estão na Bíblia e vamos deixar links de estudo abaixo. Ore, peça orientação divina, estude e reparta essas boas-novas com as pessoas que você ama.
           
Quando tudo parecer ruir, lembre-se das palavras de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.”

(Liziane Nunes Conrad Costa é formada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])

Referências:
MARTINEZ, Natasha Macias; ROCHA-LIMA, Ana Beatriz Carollo. A importância dos insetos e as suas principais ordens. Unisanta BioScience, v. 9, n. 1, p. 1-14, 2020.
MEDINA, HECTOR E.; CEASE, A.; TRUMPER, E. The resurgence of the South American locust (Schistocerca cancellata). Metaleptea, v. 37, n. 3, p. 17-21, 2017.
Canal Rural

LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO EM:

SÉRIE “AS PROFECIAS DE DANIEL”:

ESTUDOS SOBRE O APOCALIPSE:

domingo, julho 19, 2020

O ataque ao destróier HMS Sheffield e a curvatura da Terra

Há 38 anos, na manhã de 4 de maio de 1982, o sofisticado destróier Tipo 42 HMS Sheffield (D80) da Royal Navy, foi atingido mortalmente pouco acima da linha d’água por um míssil AM39 Exocet, lançado por um jato Super Étendard da Armada Argentina. O navio de escolta britânico atuava como “piquete-radar” e era responsável pela defesa antiaérea de área de unidades maiores da FT britânica, cujo principal objetivo era a retomada das Falklands com um desembarque anfíbio. Mesmo sendo equipado com um radar de busca aérea de longo alcance e mísseis antiaéreos Sea Dart capazes de atingir um alvo a pelo menos 20 milhas de distância (37 km), o Sheffield não conseguiu detectar a aproximação de dois jatos Super Étendard, nem se proteger do míssil Exocet.

O fantasma da vulnerabilidade de navios de escolta ainda está presente hoje, quase 40 anos depois daquele ataque, apesar dos avanços tecnológicos. A causa disso é uma limitação natural: a curvatura da Terra. Devido a essa curvatura, a partir da linha do horizonte, forma-se uma zona cega à baixa altura, não atingida pelo radar. Assim, o alcance do radar de um navio é limitado pela linha do horizonte, contra alvos voando rente ao mar. Essa vulnerabilidade também está presente nos radares terrestres e é usada por pilotos de aviões do tráfico de drogas, por exemplo, para escapar à detecção.


A tática argentina para atingir embarcações importantes da RN empregava aeronaves de patrulha marítima, como o P-2 Neptune, que repassavam por rádio os contatos às aeronaves de ataque. [...]

Os jatos prosseguiram para as coordenadas, sempre “colados” na água, elevando-se a poucos metros a mais para realizar algumas varreduras com seu próprio radar de busca, a fim de localizar os alvos, sem alertar os equipamentos MAGE/ESM britânicos. Ambos os pilotos detectaram um alvo grande e três medianos, travaram seus Exocet no alvo maior e, quando estavam a cerca de 50 km de distância, lançaram os mísseis. [...]

O HMS Sheffield sofreu um incêndio após o impacto do míssil que matou 20 tripulantes. O navio acabou afundando no dia 10 de maio de 1982 quando era rebocado.



Clique aqui e assista a vídeos que refutam a ideia da Terra plana.

quinta-feira, julho 09, 2020

Provérbios 8:26 e o tempo em que a Terra não existia

O capítulo 8 de Provérbios fala da sabedoria como uma pessoa. Embora a linguagem contenha elementos metafóricos, há grande semelhança entre o que é comentado nesse capítulo com o que autores do Novo Testamento dizem sobre Cristo. Um exemplo disso é 1 Coríntios 1:24, que retrata Cristo como personificação do poder e da sabedoria de Deus. É interessante comparar Provérbios 8:22-30 também com João 1, outra referência a Cristo de maneira bastante semelhante à de Provérbios. João afirma que absolutamente tudo foi criado por meio dEle.

Em Hebreus (1:2 e 11:3), lemos que até mesmo o tempo (eras) foi feito por Deus. Ao compararmos essas declarações com João 1, concluímos que até mesmo o próprio tempo, com sua intrincada estrutura matemática, foi feito por meio de Cristo, o que significa que Ele próprio não pode ter sido criado. “Criação do tempo” é um abuso de linguagem que requer outro nível de tratamento lógico, o que escapa ao nosso escopo atual, mas cuja pesquisa tem trazido à tona informações fascinantes sobre o funcionamento da realidade. Ainda assim, vale o conceito de que Deus está por trás até mesmo dessa estrutura matemática por meio de Cristo.

Nos versos 22 a 30 de Provérbios 8, lemos sobre o papel da Sabedoria na criação. Um dos aspectos mencionados é o de que ela já existia antes de tudo o que a humanidade conhece.

Provérbios 8:26 faz parte de uma progressão de ênfases: antes que existisse terra (a palavra hebraica aqui não se refere ao planeta, mas ao solo), ou campos (a palavra hebraica dá a ideia de espaço fora dos limites das paredes da casa; espaço exterior?), antes mesmo que existisse o que deu origem ao pó do mundo, a Sabedoria já existia.

Notemos que a linguagem do texto nos diz que houve um tempo em que a Terra não existia (nem mesmo o que deu origem ao seu pó). Mas o tempo é um dos atributos do Universo. Não existe tempo sem espaço, e espaço-tempo é o que chamamos de Universo. A matéria (pó do mundo) é apenas o conteúdo do Universo, não sua essência.

Dizer-se que havia tempo antes da criação da Terra é sinônimo de dizer-se que havia Universo antes da criação da Terra. Esse é um entre vários comentários que encontramos na Bíblia que apontam que o Universo é mais antigo do que a Terra. Isso desarma a doutrina segundo a qual a Terra e o Universo teriam sido criados ao mesmo tempo, que é o que está por trás da crença de que o Universo seria jovem. Essa doutrina tem induzido muitos criacionistas a proporem argumentos incompatíveis tanto com ensinamentos bíblicos quanto com o que observamos no mundo físico, degradando ainda mais a fama do criacionismo por meio de argumentos tecnicamente indefensáveis.

(Eduardo Lütz é bacharel em Física e mestre em Astrofísica Nuclear pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

sábado, julho 04, 2020

Morre aos 96 anos Orlando Ritter, pioneiro do criacionismo no Brasil

Devido à falência múltipla de órgãos como consequência de uma pneumonia, faleceu na noite de sábado, 27, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, o pastor e educador Orlando Ruben Ritter. Conhecido por suas contribuições à Educação Adventista e ao pioneirismo no estudo e divulgação do criacionismo no Brasil, deixa a esposa, Edda, quatro filhos, oito netos e quatro bisnetos. Ritter, que tinha 96 anos, dedicou 60 deles ao ensino e ajudou a formar gerações de profissionais que serviram e ainda servem à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Seu pai, o pastor e administrador Germano Ritter, “transferiu” para o filho a paixão pela educação. O patriarca ajudou a fundar instituições como o Instituto Adventista Paranaense (IAP) e o hoje Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Hortolândia, e levou o filho em muitas de suas viagens a trabalho.