quinta-feira, dezembro 28, 2017

O mistério do trilobita simpático que “fala” de criacionismo

Veja só que e-mail legal recebi hoje da leitora Julia Viana: “Boa noite, Michelson. Tudo bem? Fomos passar o Natal na casa de meu pai e olha o que encontrei na mesa do cantinho da sala, junto com outros fósseis! [foto ao lado] Meu pai ama tudo que é antiguidades, mas acho que não sabia o nome desse fóssil. Quando eu disse: ‘Olha, um fóssil de trilobita!’, ele brincou: ‘A baratinha de antigamente!’ rsrs Expliquei sobre seu blog. Ele já conhecia de tanto eu encaminhar artigos seus para ele ler. Mas queria só compartilhar contigo esse ‘achado’ na sala de meu pai! Aproveito para parabenizar mais um ano do blog cheio de notícias importantes e atuais. Obrigada por seu trabalho tão importante. Boas festas. Deus abençoe.”

Fiquei muito feliz com mais esse “e-mail que nos alegra” (e-mails que nos motivam a prosseguir com este trabalho voluntário, sem fins lucrativos e às vezes solitário) e com as palavras gentis da Julia. Bom ver que o logo do blog é reconhecido e que ele continua “falando” das minhas convicções criacionistas. Aproveito para repostar aqui um texto em que explico por que escolhi um trilobita para ser o símbolo do meu blog e das minhas redes sociais, como a página no Facebook, no Twitter e o canal no YouTube:

Escolhi o trilobita como símbolo deste blog por, pelo menos, três motivos – os quais chamo de “o mistério do trilobita”. Em primeiro lugar, por se tratar de uma criatura e, como tal, ter sido dotado de tremenda complexidade. Os trilobitas, como todos os seres vivos, dependiam de uma quantidade absurda de informação complexa e específica (e não se conhecem mecanismos capazes de originar esse tipo de informação a partir do nada). Cada uma das muitas células de que os trilobitas eram constituídos possuía todas as complexidades reveladas pelos modernos microscópios e instrumentos de pesquisa: DNA enovelado num glóbulo fractal, membrana seletiva, nanomáquinas moleculares e muitos outros constituintes que fazem da célula uma verdadeira fábrica repleta de “setores” e funções.

Em segundo lugar, porque o trilobita está na base da coluna geológica, no período conhecido como Cambriano (onde ocorre o chamado “big bang da vida”). Abaixo desse estrato geológico não existem seres complexos que possam ser considerados ancestrais (ou elos transicionais) do trilobita. Por isso mesmo – por causa desse “surgimento súbito” de um animal tão complexo –, o trilobita se constitui num enigma de complexidade, sob a ótica evolucionista.

E, em terceiro lugar, porque os trilobitas são animais extintos conhecidos apenas por sua forma fóssil. Ou seja, algum evento catastrófico no passado sepultou os trilobitas (e milhões de outros seres vivos) sob toneladas de lama, preservando-os na forma de rocha. Assim, o trilobita aponta, também, para a grande catástrofe conhecida como dilúvio de Gênesis. [MB]

Nota: Recentemente, com a ajuda do meu amigo designer Alexandre Kretzschmar, remodelei e modernizei o logo do blog. Os traços estão mais “orgânicos”, mais sólidos, e a linha formada pelos olhinhos cria um sorriso subentendido, o que deixa o logo mais “simpático”. Espero que você tenha gostado!

Cientistas concluem que o Universo não deveria existir

Matéria e antimatéria são dois tipos de material presentes na composição do Universo que agem como “gêmeos idênticos” e, ao mesmo tempo, opostos: para cada partícula de matéria, de carga positiva, haveria uma antipartícula exatamente igual, mas de carga negativa, que formaria a antimatéria. Um estudo divulgado [...] na revista científica Nature afirma que esses dois tipos de material teriam surgido em quantidades idênticas durante o Big Bang, há 13,8 bilhões de anos. Isso significa que, teoricamente, as partículas e antipartículas deveriam se anular, impedindo o surgimento do Universo. Mas, como sabemos que isso não aconteceu, cientistas estão intrigados com o fato de que simplesmente não conseguem explicar por que o Universo existe.

A única hipótese levantada é que um misterioso desequilíbrio entre a quantidade desses materiais tenha acontecido em algum momento, explicando a predominância de partículas de matéria. A última esperança dos cientistas para encontrar a fonte dessa assimetria estava no estudo das propriedades magnéticas de prótons (partícula positiva que pode ser encontrada nos átomos) e antiprótons (sua versão na antimatéria) – e foi exatamente isso que a equipe de pesquisadores do laboratório europeu CERN, na Suíça, tentou fazer. Mesmo assim, nenhuma discrepância na proporção dessas partículas foi encontrada.

“Todas as nossas observações encontraram uma completa simetria entre matéria e antimatéria, e é por isso que o Universo, na verdade, não deveria existir”, diz o líder da equipe, Christian Smorra, pesquisador do CERN. “Uma assimetria deve existir aqui em algum lugar, mas simplesmente não conseguimos entender onde está a diferença, qual é a fonte da ruptura dessa simetria.”

Como a antimatéria não pode ser fisicamente contida, Smorra e sua equipe usaram um dispositivo chamado “armadilha de Penning”, que usa campos magnéticos e elétricos para armazenar partículas carregadas (como, no caso, antiprótons) a temperaturas incrivelmente baixas. Com essa experiência, a equipe conseguiu quebrar o recorde de armazenamento de antimatéria – as partículas ficaram contidas por 405 dias, no total.

A força do campo magnético dos prótons e antiprótons foi medida com uma precisão de nove dígitos, oferecendo uma exatidão 350 vezes maior do que medições anteriores. Ainda assim, nenhuma diferença entre a matéria e antimatéria pode ser encontrada.

O plano, então, é continuar investigando com precisões cada vez maiores, segundo o CERN. Experimentos futuros já estão sendo planejados para estudar mais detalhadamente as propriedades magnéticas dos antiprótons e verificar se a gravidade pode ser a diferença entre matéria e antimatéria que está intrigando os cientistas.

“Ao aprimorar o experimento com várias inovações técnicas, sentimos que ainda poderemos fazer algumas melhorias”, diz Smorra. Segundo ele, com os novos equipamentos de ponta que devem ser instalados no CERN até 2021, será possível conseguir uma precisão pelo menos dez vezes maior nas medições.


Nota: O fato é que a velha pergunta “Por que existe tudo isto ao invés de nada?” sempre intrigou e continuará intrigando os cientistas. Em termos de probabilidades, a existência do Universo é praticamente (para não dizer exatamente) um milagre. Tempo, espaço e matéria passaram a existir no momento da criação (ou do Big Bang, se preferirem), portanto, o natural passou a existir do sobrenatural, e o único ser sobrenatural (acima e transcendendo o natural, pois o criou) é Deus. A existência do Universo depende de leis finamente ajustadas, a tal ponto que alguns utilizam a analogia do fio da navalha: estamos nos equilibrando no fio de uma navalha. Sim, o Universo não deveria existir, mas, contra todas as probabilidades, estamos aqui. E se ele passou a existir, precisa ter tido uma causa – uma causa primeira não causada. E se ele revela ordem e design, precisa ter tido uma causa inteligente. O Universo não deveria existir, mas existe e revela design inteligente e intencional. Durma-se com um “barulho” desses... [MB]

Nota 2: Para o físico Eduardo Lütz, trata-se do “velho problema de não ligar os pontos (teorema de Nöther com leis de conservação) e pensar que as atuais leis de conservação estavam em vigor no momento da criação do universo e que, portanto, matéria e antimatéria deveriam existir em quantidades iguais. Esse problema é daqueles que não existem, parecido com o pseudoproblema da singularidade no momento da criação".



sábado, dezembro 23, 2017

A Palavra que virou gente

O que é uma palavra? Vários conceitos poderiam ser levantados pelos estudiosos da linguagem. Na língua portuguesa, a Nomenclatura Gramatical Brasileira elenca dez classes nas quais as palavras estão agrupadas. Revisando: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Dentre elas, destaca-se o verbo, que exprime ação, estado ou fenômeno da natureza, conforme as definições básicas expostas nas gramáticas tradicionais.

Saindo do universo gramatical, adentremos as Escrituras. O que é a palavra na Bíblia? Unidade pertencente a uma das grandes classes gramaticais? Unidade mínima com som e significado que pode, sozinha, constituir enunciado? Esses são conceitos dicionarizados. Na Bíblia, a palavra extrapola a dimensão linguística para se tornar uma pessoa. Assume a forma de um ser humano, atuando no espaço e no tempo histórico. Como pode ser isso? “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós” (João 1:14). A Palavra é o EU SOU que Moisés viu em cena majestosa revelando-Se, despretensiosamente, no homem Jesus. A Palavra eterna aproximou-Se deste mundo e, com sotaque humano, assumiu um rosto familiar.

Executor do plano da redenção, Jesus é o Ente santo gerado de forma milagrosa no ventre de Maria. Cristo nasce - divino Filho -, o Criador dos mundos, Salvador!   Acontecimento misterioso, maravilhoso, pois “sendo o que era, tornou-Se o que não era”! Não há explicação. Há, sim, “um mistério em torno do nascimento de Cristo que não pode e não precisa ser explicado. [...] Contemplando a encarnação de Cristo como humano, ficamos estupefatos diante de um incomensurável mistério, o qual a mente humana não pode compreender. [...] De forma misteriosa, divindade e humanidade foram combinadas, e homem e Deus tornaram-se um. É nessa união que encontramos a esperança para nossa raça caída. Ao olharmos para Cristo em nossa humanidade, olhamos para Deus, e nEle vemos o resplendor de Sua glória, a imagem expressa da Sua pessoa” (Ellen White). Realmente, meditando no nascimento de Cristo “deparamo-nos aí com um pensamento que aguça o intelecto. Um bebê nascido em Belém, um jovem de Nazaré, um mestre itinerante crucificado aos 33 anos de idade também era Aquele que fez os mundos girarem em suas órbitas e formou a estrutura moral do Universo. Tudo isso é muito difícil de se acreditar, caso se resolva aceitar somente o que possa ser provado pela experiência humana”. Contudo, embora seja difícil de acreditar, é necessário crer, porquanto tal experiência no tempo e no espaço foi a incrível saída encontrada por Deus para todos os nossos dilemas pessoais e universais. Se, para ser salva de suas tragédias, a história humana sempre necessitou de milagres, definitivamente eis o sublime milagre da História: Jesus! 

Chegando ao mundo como Palavra encarnada, o Verbo teve uma força de ação maravilhosa, inserindo o reino de Deus no reino dos homens. As causas pelas quais lutou culminaram em Seu sacrifício expiatório, entre as quais:

A causa da verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).

A causa da liberdade física, moral e espiritual: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-Me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos” (Lucas 4:18, 19).

A causa da justiça e da moralidade, mas também do perdão e da misericórdia: “Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais” (João 8:10 e 11).

A causa da paz: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).

A causa do amor a Deus e aos homens: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12:30, 31).

“Como gente humilde Ele nasceu, mais humilde que você e eu.” O Natal, época encantadora, é a lembrança de que um dia a Palavra virou gente. Independentemente de data, é o Fato dos fatos que marcou os séculos e dividiu a História. Até mesmo alguns historiadores céticos reconhecem: “Como historiador preciso admitir que este pobre pregador da Galileia é o centro da história” (Herbert George Wells). O Natal também constitui uma oportunidade para abraçarmos as causas de Jesus, das quais o mundo tanto necessita para ser um lugar menos sofredor e injusto, até que Ele “nasça” nos céus em Seu segundo advento ao mundo.

Em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2:9). Sendo Verbo divino, Suas ações mostraram quem Ele era: Deus, Homem, Amigo da humanidade e Salvador. Assim, diante da história do Deus-Homem, uma canção natalina nos convida a receber Jesus: Natal é história mais linda, a lembrança do amor divinal; / Jesus em Belém tão humilde nasceu, o grande Dom celestial / A estrela de Deus ainda brilha no céu, anjos estão a cantar / Proclamam que Cristo este mundo amou, veio aqui pra salvar. / Abra agora o seu coração, o Filho de Deus quer nascer; / Manjedoura humana seremos então e eterno Natal vamos ter.

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)

sexta-feira, dezembro 22, 2017

A hermenêutica protestante e o surgimento da ciência moderna

Esse texto se propõe a estudar a relação entre as mudanças hermenêuticas avançadas pelo protestantismo durante os séculos 16 e 17 e o surgimento da ciência moderna. Mediante a rejeição de interpretações místicas e alegóricas da Bíblia e a adoção de uma leitura literal, simples e racional, a ciência foi indiretamente influenciada a abandonar propostas filosóficas e indutivas e adotar uma linguagem mais precisa, técnica, dedutiva e matemática.

[Clique aqui e leia esse ótimo artigo do meu colega pastor, editor e mestre em Ciências da Religião Glauber Araújo]

Nota do físico Eduardo Lütz: Como sempre, excelente artigo do pastor Glauber. Descreve muito bem o cenário no qual a maior parte do entulho intelectual medieval foi removido para que se abrisse caminho para a descoberta da Ciência, bem como a adição do princípio positivo de conferir e testar ideias. A questão de motivação para estudar a natureza literalmente também é fundamental do ponto de vista humano. Mas há um detalhe fundamental que não foi mencionado no artigo. Sem esse detalhe, ainda estaríamos andando de charrete, sem eletricidade. Coisas como o DNA seriam apenas hipóteses impossíveis de testar diretamente. Que detalhe é esse? O fundamento funcional da Ciência, que são os métodos matemáticos. Todos os grandes avanços no conhecimento são consequência direta ou indireta disso. Essa é a chave que realmente abriu as portas ao conhecimento do mundo natural e revelou maneiras mais profundas e eficientes de estudar a própria Bíblia.

A ideia de ler a natureza como um livro, conforme muito bem explicado no artigo, foi um passo importantíssimo seguido por outro que completou o fundamento: para ler o livro da natureza, é necessário aprender a linguagem na qual foi escrito, a qual é composta de elementos matemáticos, como disse Galileu. Esses elementos podem ser estudados na própria natureza. Foi o que Newton fez ao descobrir o Cálculo Diferencial, sem o qual não teríamos maneiras de estudar as leis físicas com um mínimo de profundidade, uma vez que esse estudo depende do conhecimento de equações diferenciais, que dependem do Cálculo Diferencial e Integral.

Muitíssimas outras estruturas matemáticas foram descobertas com o tempo, mas nada disso seria possível sem a descoberta do Cálculo no contexto de ser uma parte fundamental da “linguagem” com que a realidade está escrita. E a maioria dos métodos matemáticos da Ciência são dedutivos, não apenas indutivos como os do experimentalismo.

Lembrando que Matemática, quando corretamente entendida, é algo transcendental (transcende o tempo, por exemplo), sobrenatural. São esses elementos matemáticos que Deus nos revelou por meio da natureza que representam o fundamento e o corpo da Ciência.


Nota da bioquímica Graça Lütz: Acabei de ler o livro The God Delusion [Deus, um Delírio], do Richard Dawkins. Nesse livro ele constrói todo um raciocínio bem montado para demonstrar como a religião é algo irracional e como religiosos são impermeáveis a ciência por manterem uma fé sem evidências. Que quando algo é absurdo, os religiosos não questionam e dizem que é uma questão de fé e não pode ser investigado porque não está revelado. Ele acredita que pessoas religiosas são impermeáveis ao raciocínio, atrasam e são um obstáculo ao progresso e aos bem-estar da humanidade. O livro, do começo ao fim, cita exemplos de coisas que cristãos dizem e fazem. O mais doloroso é que esses exemplos são reais e são argumentos e atitudes com que nos defrontamos todos os dias. O problema do Dawkins é que ele confunde Filosofia e raciocínio qualitativo, observação, coleta de dados, dados estatísticos e coisas do gênero com Ciência. Graças a isso, ele faz as perguntas erradas, que não se aplicam, e tira conclusões equivocadas sobre Deus. Ele também avalia o que lê na Bíblia a partir da linguagem, cultura e pensamento atuais. Lendo o livro dele, percebi que ele teceu uma rede bem construída (não apenas por ele, pois aproveitou ideias que já existiam também) que forma aquele escudo de pensamento que encontramos entre os acadêmicos e que faz com que eles fiquem impermeáveis a argumentos criacionistas. E percebi o porquê. Ele aborda praticamente todos os argumentos criacionistas que são usados, incluindo muito do que é ouvido em encontros e seminários criacionistas. O que ele não aborda nem entende é justamente Matemática. E ele não entende nada de origem da vida também. Ele quase não apresentou um argumento válido nesse sentido.

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Óvulo faz seleção e controle de qualidade de espermatozoides

Até agora, a ciência tratou o papel do óvulo na fertilização como o de uma atriz de figuração que só espera a fala do protagonista para responder: “Sim, senhor.” Um estudo realizado no Instituto de Pesquisa Pacific Northwest, em Seattle, nos Estados Unidos, entretanto, descobriu que o óvulo não é uma célula passiva; pelo contrário, ele é capaz de escolher ou rejeitar os espermatozoides de acordo com a carga genética do gameta masculino. É como se o óvulo fizesse uma avaliação da identidade do espermatozoide e estivesse ativamente pronto para decidir entre “hoje, não” ou “hoje, sim”. A corrida de espermatozoides, pequenos e ágeis, para fecundar o óvulo é uma das figuras mais frequentemente estampadas nos livros de Biologia e no nosso imaginário.

A pesquisa feita pelo cientista Joe Nadeau acrescenta, porém, uma novidade fundamental nesse cenário: o fato de que o óvulo não é uma célula dócil e submissa durante o processo de reprodução. A esse quadro, o cientista deu o nome de “fertilização geneticamente tendenciosa”.

Em entrevista ao site especializado em ciência Quanta Magazine, o pesquisador que desafia a Lei de Mendel explicou que, de acordo com as evidências do estudo, o óvulo faz as vezes de um recrutador e elimina da corrida os espermatozoides com genes inadequados – tudo para que a fecundação seja o mais saudável possível. Ou seja, a fecundação não é aleatória, e, nessa teoria, o óvulo pode dar preferência ou afastar espermatozoides. Tudo eleva a seleção sexual no nível celular a um patamar ainda mais complexo – assim como a escolha entre as pessoas (e é o cientista quem afirma isso). “É o equivalente a escolha de um parceiro”, explica Joe.

Para chegar aos resultados, o cientista colocou camundongos machos com genes normais para cruzar com dois grupos de fêmeas: parte com genes normais e parte carregando artificialmente genes com chances de desenvolver câncer de testículo, uma das formas mais hereditárias de tumor. Nos primeiros cruzamentos, nasceram ratinhos com genes aleatórios, de acordo com as leis de Mendel. Em uma segunda fecundação, Joe inverteu o jogo, colocando fêmeas com genes normais para cruzar com machos com a cópia do gene mutante. Conclusão: apenas 27% dos filhotes apresentavam o gene mutante do pai; a estimativa era de que 75% nascessem com a variação genética.


Leia mais sobre as maravilhas impressionantes envolvidas no processo de reprodução (clique aqui). E sobre o design inteligente de óvulos e espermatozoides (clique aqui).

terça-feira, dezembro 19, 2017

Instituto de Pesquisa de Geociência sul-americano e SCB têm novo diretor

A Comissão Diretiva da Igreja Adventista para a América do Sul elegeu, na manhã desta terça-feira, 19, o geólogo Marcos Natal como o diretor do Instituto de Pesquisa de Geociência (GRI, na sigla em inglês) para oito países do continente. Ele também estará à frente da Sociedade Criacionista Brasileira. Natal concluiu a graduação em Geologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no início dos anos 1980. Obteve o título de mestre em Geologia em 1999 pela mesma instituição e doutorou-se em Geologia Regional pela Universidade Estadual Paulista em 2006. Até então, atuava como professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo, onde trabalhou por 18 anos, lecionando disciplinas como Geologia, Paleontologia, Levantamento de Recursos Naturais e Ciência e Religião. Também coordenou o Núcleo de Estudos das Origens (NEO), do Unasp, voltado a pesquisas ligadas ao criacionismo. É membro do Geoscience Research Institute Committee (Gricom) – criado pela sede mundial adventista e responsável por planejamento estratégico e oferta de recursos na área de criacionismo para membros leigos – e da Sociedade Criacionista Brasileira. Antes de chegar à instituição adventista, foi geólogo prospector na Companhia Mineradora de Minas Gerais durante 12 anos, o que lhe deu experiência em exploração de recursos minerais.

Fundado em 1958 nos Estados Unidos, o Geoscience Research Institute (GRI) é um órgão da sede mundial adventista e foi criado para examinar evidências científicas e teológicas sobre a origem da vida. Para isso, usa as ciências naturais aliadas ao texto bíblico para produzir pesquisas que deem suporte às crenças da Igreja Adventista.

Uma das filiais do instituto está localizada no campus Engenheiro Coelho do Unasp, e atua como um centro de estudos, produção e divulgação de materiais de interesse científico, teológico e filosófico, contribuindo com o debate sobre criacionismo e evolucionismo. Agora, o escritório estará localizado em Brasília.

A Sociedade Criacionista Brasileira desempenha um papel semelhante. Com mais de 40 anos de atuação, é responsável por publicar dezenas de livros e artigos que ajudam a reforçar a visão adventista sobre as origens. Com um time de especialistas de diversas áreas, também ministra palestras e seminários sobre o assunto para professores em território nacional e no exterior.

Embora até hoje fosse uma sociedade privada, a pedido de seu fundador, doutor Ruy Vieira, a Igreja dará prosseguimento ao trabalho iniciado e consolidado por ele. Natal acredita que terá um grande desafio pela frente, considerando que o interesse pelo criacionismo está se expandindo. “Vamos ampliar a difusão do assunto. Me sinto muito honrado por assumir esse gigante do criacionismo no Brasil, assim como o GRI. Não tenho dúvidas de que é um chamado de Deus, e ele nos capacitará”, pontua.

“Nós queremos que o trabalho da Sociedade Criacionista Brasileira seja potencializado e tenha mais apoio da Igreja. Afinal, nesses mais de 40 anos, ela tem exercido um papel extremamente importante para os adventistas: defender uma de nossas doutrinas fundamentais. Juntas, ela e o GRI darão mais evidências e base para que cada membro tenha ainda mais respaldo científico e teológico para defender sua fé”, sublinha o pastor Erton Köhler, presidente da Igreja Adventista para oito países sul-americanos.

Na nova função, Natal também trabalhará em parceria com a Casa Publicadora Brasileira, editora que tem um papel ativo no preparo de conteúdos didáticos para a Educação Adventista.


Clique na apresentação em Prezi a seguir e saiba mais sobre o fundador e ex-presidente da SCB:

segunda-feira, dezembro 18, 2017

Terra: centro do universo

“Que é o homem para que dele Te lembres?” (Salmo 8:5)

Como é que é?! Você defende o modelo cosmológico ultrapassado do geocentrismo, o qual afirmava que o nosso planeta estava no centro do universo? Ora, essa compreensão equivocada foi derrubada há muito tempo pelos estudos da ciência moderna. Todos já sabem que a Terra é um planeta de dimensões astronomicamente diminutas: “pálido ponto azul” localizado num dos braços espirais da Via Láctea, uma galáxia “singela” dentre tantos bilhões de galáxias espalhadas pelo Universo. Você parece estar desinformado cientificamente.

Cientificamente, os astrônomos têm razão ao descartar o antigo erro ptolomaico do geocentrismo. Porém, noutro ponto de vista que não o da ciência com sua visão nua e crua, pode-se convictamente dizer: a Terra, este “grão de areia” solto no espaço, encontra-se no “centro” de toda a criação. Explico.

Na perspectiva cristã, “este mundo é apenas um átomo no vasto domínio sobre que Deus preside” (Ellen White). Espantado, “quando olha para os mistérios do Universo, o ser humano, reduzido a suas reais proporções, sente toda a humildade diante da dificuldade de compreender aquele infinito conjunto de luz e sombras. Nele o que vê é o nada, o vácuo escuro e frio. Em alguns pontos infinitamente pequenos do Universo, na realidade espalham-se centenas de milhões de galáxias semelhantes à nossa, com dezenas de trilhões de planetas e estrelas. Em escala cósmica, o conhecimento humano é extremamente limitado e fragmentário. Tão grande é o universo visível que se torna geometricamente impossível ligá-lo através de diagramas a um objeto familiar, a menos que se introduzam aumentos crescentes em escala”.

De fato, quando resolvemos contemplar o céu sideral, a olho nu ou com auxílio de instrumentos, percebemos que estamos isolados num dos muitos sistemas estelares do espaço. Perante tamanha grandeza, somos acometidos, ao mesmo tempo, de admiração e temor. De tais emoções surgem perguntas retóricas na mente de quem tem a percepção de sua insignificância ante a realidade cósmica: “Quem sou eu diante do Universo? Você é capaz de ficar sozinho e encarar o Universo?” Temos aparelhos de investigação capazes de não só nos revelar algo das gigantescas estruturas do céu estelar, mas também de imprimir em nós um senso esmagador de pequenez, como se nada fôssemos perante o tudo acima de nossa cabeça. Mais: “Nem todos se maravilham ao contemplar o céu estrelado. Para alguns, os solitários pontinhos de luz no veludo negro da noite falavam de solidão e falta sentido. [...] As estrelas podem, portanto, ser um melancólico lembrete da vastidão do Universo e de nossa extrema insignificância nele. [...] O céu, portanto, eleva nosso senso de efemeridade.”

Blaise Pascal já dizia que a mente humana é totalmente ofuscada pela imensidão do Universo: “O eterno silêncio desses espaços infinitos me aterroriza.” Esse terror pascaliano desperta o pensamento do ser humano questionador e curioso, servindo também de oportunidade para ouvir a voz do Criador: “Levantai ao alto os vossos olhos: Quem criou todas estas coisas?” (Isaías 40:26)

Diante da grandiosidade do cosmos, brotam sensações comuns no coração do ateu e no do crente: sentimentos de finitude, pequenez e impotência; todavia, ambos os espectadores do Universo têm percepções diferentes acerca dele. Para o incrédulo Richard Dawkins, “por trás do Universo não existe nenhum plano, nenhuma intenção, nenhum bem ou mal, nada além da cega e impiedosa indiferença”.

É inútil tirar sentido das pedras, defende o cético contumaz. Já o homem religioso, ao contrário, sensível à mensagem oculta por trás da escuridão e dos objetos cósmicos, anseia pelo sentido transcendente e o procura por toda a vida; é atraído para ele como neste poema de Shelley: “O desejo da mariposa pela estrela, / Da noite pelo amanhecer, / A devoção a algo longe / Da esfera do nosso sofrer.” Ele clama ao Universo: “Mostre-me Deus!” O teólogo Alister McGrath confirma essa fome humana de sentido, que não pode ser suprimida pela fria e desencantadora cosmovisão materialista: “Em nosso âmago reside uma inexorável busca de sentido. Talvez alguns digam que isso não passa de um mecanismo de defesa erguido pela mente humana para nos proteger da insuportável dor de saber que a vida carece de propósito. Sonhamos com um universo em que tenhamos sentido e propósito, e preferimos habitar esse país imaginário a enfrentar a aridez fria e implacável do mundo real. [...] E se essas tentativas de invalidar nosso anseio por sentido estiverem equivocadas? E se o senso de desejo e anseio evocado pelo céu noturno se destinasse a nos guiar numa viagem de descoberta? E se a natureza estiver repleta de pistas para nosso sentido e nosso destino verdadeiros, e marcada pela presença de Deus?”

Albert Einstein considerava que “o cientista é controlado pelo senso da causa universal [...] Sua percepção religiosa toma a forma de um assombro magnífico diante da harmonia da lei natural, a qual revela uma inteligência de tamanha superioridade que, comparada a ela, todo o pensamento sistemático e a atitude dos seres humanos se tornam uma reflexão totalmente insignificante”.

Quando li Contato, do aclamado Carl Sagan, um trecho do livro me chamou a atenção – aquele em que o autor faz uma observação acerca da personagem Eleanor (Ellie), uma cientista do Projeto SETI: “Em toda a sua carreira de astrônoma, ela tentou fazer contato com os mais remotos e exóticos mundos, enquanto em sua própria vida não fez contato com praticamente ninguém. Mostrou-se feroz em desmascarar os mitos de criação de outras pessoas, esquecida da mentira que constituía a essência do seu próprio mito. Durante toda a vida, estudou o universo, mas desprezou sua mais clara mensagem: para criaturas pequenas como nós, a vastidão só é suportável através do amor." Eu completo: do amor de Deus, maior que o Universo.

Aos olhos da ciência naturalista, a Terra é um planeta solitário, cercado pela indiferença e escuridão do Universo. Ainda assim, essa mesma ciência não se conforma com tal isolamento e condição, mas pergunta de si para si: “Há alguém aí em cima?” Silêncio. Na visão da fé, muito mais ousada, perspicaz e profunda, a mesma pergunta consegue ouvir os ecos de uma voz peculiar dizendo: “Sim, há Alguém aqui em cima, que também está com vocês.” A fé consegue perceber que a atenção de todos os mundos imaculados e do próprio Céu concentra-se na pequena esfera terrestre. O reconhecimento de tal fato (ou revelação) é um remédio contra a solidão, porque nos leva ao pensamento de que somos amados pelos seres que não experimentaram a miséria do pecado. Consequentemente, não somos órfãos cósmicos. É nesse aspecto que a Terra é o centro do Universo. Temos infinito valor, porquanto “Cristo, o amado Comandante das cortes celestiais, desceu de Sua alta posição, depôs a glória que possuía junto com o Pai, para salvar o único mundo perdido. Por este, deixou os mundos sem pecado nas alturas” (Ellen White). Ele acabou com a nossa solidão quando veio habitar conosco. Jesus nos trouxe o senso de importância que foi perdido no Éden. E na eternidade, quando a Terra for reintegrada ao completo domínio de Deus, continuaremos sendo o centro do Universo: “Nosso pequenino mundo, sob a maldição do pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado acima de todos os outros mundos do universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu – aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, ‘com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus’” (Apocalipse 21:4).

Muitas pessoas perambulam solitárias pela vida, sem o senso da proximidade de Deus. Esquecem que habitam o planeta que é alvo especial do interesse divino. Se você é um desses “terráqueos solitários”, no momento em que se sentir esmagado pelo sofrimento, abandono ou rejeição, apegue-se a esta verdade consoladora: você está guardado no centro do coração de Deus! Então poderá exclamar tal qual o aviador e poeta John Gillespie Magee: “Oh! Escapei dos laços ríspidos da terra / E dancei nos céus em asas de risos de prata... / Estendi a mão e toquei a face de Deus.”

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)

A dívida da ciência com a religião

Vivemos num mundo estruturado sobre a tecnologia e que, por isso, é incrivelmente dependente dela. Graças ao avanço científico, somos capazes de enviar robôs a outros planetas, carregar computadores na palma da mão ou amarrados ao pulso e até modificar o código genético de espécies. No entanto, a ciência nem sempre teve essa precisão e status. Os “cientistas” da Idade Média trabalharam em condições bem precárias, comparadas às atuais. E essa diferença não se explica somente pelo abismo tecnológico e de conhecimento que separa os dois ­períodos, mas também pelo modo com o qual as pessoas interpretavam os fenômenos naturais. Alguns estudiosos defendem a ideia de que existe uma relação íntima entre a forma com que a Bíblia (o livro da revelação especial de Deus) era interpretada e como a natureza (o livro da revelação natural de Deus) era estudada. Este artigo pretende mostrar como o método de interpretar o texto sagrado redescoberto pelos protestantes teve impacto no modo de fazer ciência. 

sexta-feira, dezembro 15, 2017

O design inteligente do tato humano: sensação em nível molecular

O fato de nós termos a capacidade de aprender braile, toda uma linguagem que consiste apenas em diferentes relevos no papel, tornando possível que leiamos com a ponta dos dedos, já é impressionante o suficiente. Mas cientistas da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD) descobriram que o tato humano é muito mais sensível do que conseguimos perceber: nós podemos sentir diferenças em nível molecular em superfícies. “Essa é a maior sensibilidade tátil que já foi demonstrada em seres humanos”, afirmou em um comunicado Darren Lipomi, professor de nanoengenharia e membro do Centro de Sensores Portáteis da Faculdade de Engenharia da UCSD. Ele liderou o projeto interdisciplinar ao lado do renomado neurocientista Vilayanur Ramachandran, diretor do Centro para o Cérebro e Cognição e professor do Departamento de Psicologia da UCSD.

De acordo com os pesquisadores, essa descoberta será extremamente importante para o desenvolvimento de peles eletrônicas, próteses que possam sentir, tecnologia háptica avançada para realidade virtual e aumentada e outros. Tecnologias hápticas não sofisticadas já existem em objetos do dia a dia, como controles de videogame e celulares que vibram. “Reproduzir sensações tácteis realistas é difícil porque ainda não entendemos completamente as formas básicas nas quais os materiais interagem com o sentido do toque”, explicou Lipomi.

No cotidiano, conseguimos sentir facilmente a diferença entre segurar um copo de vidro, um de cerâmica e um de plástico, por exemplo, porque essas superfícies têm diferentes texturas – ou seja, absorvem o calor dos dedos em ritmos diferentes. A pergunta que os pesquisadores da UCSD se fizeram foi: se mantivermos todos esses efeitos de larga escala iguais e mudássemos apenas a camada mais superior de moléculas, humanos conseguiriam sentir a diferença apenas com o tato? Se sim, como?

“Os receptores que processam sensações da nossa pele são filogeneticamente os mais antigos, mas, longe de serem primitivos, eles tiveram tempo para desenvolver estratégias extraordinariamente sutis para discernir superfícies – seja a carícia de um amante, cócegas ou a sensação tátil de metal, madeira, papel”, conta Ramachandran. Ele acrescenta que esse é um dos primeiros estudos a demonstrar a gama de “sofisticação e sensibilidade extraordinária” das sensações táteis. “Ele abre o caminho, talvez, para uma nova abordagem da psicofísica tátil.”

Segundo o artigo publicado no periódico Materials Horizons, os cientistas testaram se humanos conseguiam sentir a diferença – arrastando ou batendo o dedo pela superfície – entre bolachas de silício cuja única diferença era a camada superior de moléculas. Uma superfície tinha uma única camada oxidada feita principalmente de átomos de oxigênio. Já a outra tinha uma única camada composta de átomos de flúor e carbono, similar ao teflon. A aparência de ambas era idêntica e eram suficientemente semelhantes ao toque que alguns participantes não conseguiram diferenciar uma da outra.

O fato de que os humanos conseguiram diferenciar uma da outra somente com o tato se deve a um fenômeno conhecido como stick-slip (“grudar-deslizar”, em tradução literal), o movimento repentino que ocorre quando dois objetos em repouso começam a deslizar um contra o outro. É ele o responsável pelo som emitido quando passamos o dedo pela borda de uma taça de vinho, o ranger de uma porta ou o barulho de um trem parando, já que cada uma das superfícies tem frequências de stick-slip diferente devido às moléculas que compõem sua camada superior.

Em um dos testes, 15 indivíduos receberam a tarefa de sentir três superfícies e identificar a diferente entre elas – o índice de sucesso foi de 71%. Em outro, os participantes receberam três tiras diferentes de bolacha de silício, cada uma contendo uma sequência diferente de oito pedaços de superfícies oxidadas e semelhantes ao teflon. Cada sequência tinha, por sua vez, uma cadeia de 8 dígitos de 0s e 1s, que codificava uma letra específica no alfabeto ASCII.

Os indivíduos deveriam “ler” essas sequências arrastando um dedo de uma extremidade a outra da tira e observar quais pedaços na sequência eram as superfícies oxidadas e quais eram as superfícies semelhantes ao teflon. Nesse experimento, 10 dos 11 indivíduos descodificaram os pedaços necessários para soletrar a palavra “Lab” (com as letras maiúsculas e minúsculas corretas) mais de 50% das vezes. Os participantes levaram uma média de 4,5 minutos para decodificar cada letra.

Os pesquisadores descobriram que a velocidade e a força do toque do dedo nas superfícies também colaboram para a identificação pelo tato. As experiências foram modeladas com um “dedo simulado”, um dispositivo semelhante a um dedo feito de um polímero orgânico que é conectado por uma mola a um sensor de força. Ele foi arrastado pelas superfícies usando múltiplas combinações de força e velocidade de deslocamento, o que levou à conclusão de que ambos os fatores influenciam na diferenciação.

Lipomi explica que os resultados revelam uma notável habilidade humana para escolher rapidamente as combinações certas de força e velocidade necessárias para sentir a diferença entre superfícies.

“Também é interessante que o dispositivo de dedo simulado, que não tem nada parecido com as centenas de nervos em nossa pele, tem apenas um sensor de força e ainda é capaz de registrar as informações necessárias para sentir a diferença nessas superfícies. Isso nos diz que não são apenas os mecanorreceptores na pele, mas os receptores nos ligamentos, juntas, pulso, cotovelo e ombro que podem permitir que os humanos sintam pequenas diferenças usando o toque”, acrescentou.


Nota: A matéria acima admite de ponta a ponta algo que é bastante óbvio para qualquer um: o sentido do tato (como qualquer outro dos sentidos) é de uma engenharia tremendamente complexa e de tirar o fôlego. No entanto, a doutrinação evolucionista é tão forte que Ramachandran apela para o deus tempo a fim de “explicar” a existência dos sensores ultra-avançados que nos dão a sensação tátil. Isso que não falaram dos neurônios especializados necessários para decodificar e interpretar os sinais que chegam ao cérebro por meio dos nervos (o que aponta para a complexidade irredutível). Será que, dado tempo suficiente, sensores eletrônicos poderiam surgir e se aprimorar? Se não (e a resposta só pode ser não), por que os sensores orgânicos muito mais complexos do corpo humano poderiam ter surgido? [MB]


Leia mais sobre a pele e outros sentidos aqui.

Cristãos devem celebrar o Natal? Quem é Papai Noel?

Existe muita especulação sobre isso. Um astrônomo identificou a conjunção dos planetas Vênus e Júpiter no ano 2 a.C., que teriam emitido uma forte luz que poderia ter sido confundida com uma estrela, como sendo a estrela de Belém mencionada nos evangelhos. Só que a escritora Ellen White afirma que a estrela de Belém, na verdade, era formada por anjos e não se tratava de uma “estrela” real ou cadente. Além disso, é dito que essa estrela guiou os sábios do Oriente. Portanto, por mais que alguns astrônomos se esforcem para identificar que astro era aquele, não poderão fazê-lo.

Mas, quanto ao nascimento de Jesus, de certa forma o astrônomo tem razão: Ele não nasceu a 25 de dezembro. Nessa época, dificilmente os pastores estariam ao ar livre, à noite, com seus rebanhos, pois faz muito frio naquela região.


Todas as tentativas sérias de determinar o dia em que Jesus Cristo nasceu passam longe do dia 25 de dezembro. O astrônomo Colin Humphreys, por exemplo, indicou, calculando eventos siderais, que Cristo deve ter nascido entre 9 de março e 4 de abril do ano 5 a.C.


terça-feira, dezembro 12, 2017

Axiomas podem ser falsos?

A palavra “axioma” tem sido usada com diferentes significados, dependendo da área do conhecimento e da época. Em Filosofia, tipicamente define-se axioma como sendo uma verdade autoevidente ou variantes desse conceito, como algo tão fundamental que não pode ser demonstrado logicamente. Em culturas antigas, uma conceituação semelhante também era usada em Matemática, embora essa área não fosse tratada com o rigor que utilizamos hoje, mas na forma de receitas (algoritmos) para resolver problemas práticos. Essas receitas partiam de certos pressupostos aproximados e descreviam uma série de passos para calcular algo. Euclides resumiu conhecimentos de geometria na forma de alguns princípios, os famosos axiomas da Geometria Euclidiana.

Nos últimos séculos, com o conhecimento matemático, descobriram-se maneiras poderosas e confiáveis de estudar Matemática de maneira a transcender a capacidade do raciocínio humano desarmado. E a forma encontrada de tratar axiomas e teoremas é muito importante nesse cenário.

De um lado, temos a forma organizada e sistemática de entender coisas filosoficamente, forma essa sujeita às limitações da capacidade mental humana. Podemos comparar isso à nossa capacidade de andar a pé, correr, pular, escalar montanhas, nadar, mergulhar. Coisas que podemos fazer com nossas habilidades físicas.

Do outro lado, temos uma forma especial de lidar com elementos da Matemática de maneira a refletir de perto suas respectivas propriedades definitórias na própria linguagem usada para descrevê-los. Á primeira vista, isso consiste apenas em usar uma particular abordagem do leque da Filosofia e aplicá-la a uma área bastante específica e restrita, que seria a Matemática. Ao nos aprofundarmos nessa linha, entretanto, descobrimos que essa aparente restrição corresponde, na verdade, a uma tremenda amplificação do que podemos fazer e conhecer de tal maneira a podermos transcender facilmente os limites que temos em qualquer abordagem filosófica. É como passarmos a ter acesso a veículos automotores que nos permitem andar muito mais rápido por terra, água, ar e espaço sideral. Isso inclui o que podemos fazer filosoficamente, mas vai muito além dessas possibilidades.

Nesse caminho de descobertas transcendentes proporcionado pela descoberta da Ciência como sendo um conjunto infinito de métodos matemáticos (conforme proposto por pioneiros como Galileu), descobrimos que alguns conceitos filosóficos utilizados por milênios eram equivocados e que outros baseavam-se em definições ineficientes ou enganosas.

Um dos conceitos que, no âmbito matemático, demonstra-se tanto ineficiente quanto enganoso é a versão filosófica usual de axioma como se fosse uma verdade autoevidente. Quem trabalha com estruturas algébricas e está acostumado a definir entidades matemáticas e demonstrar teoremas não deverá ter grandes dificuldades de perceber que axiomas são apenas itens de definições. Mesmo nos casos em que se poderia abusar da linguagem e considerar um axioma como uma verdade fundamental, ainda assim trata-se de um item de uma definição. Procuraremos esclarecer essa questão por meio de um exemplo que ilustra como lidamos com essas coisas em Matemática.

Definamos o conjunto dos brasileiros como sendo o conjunto das pessoas que satisfazem os seguintes axiomas:

1. Possui cidadania brasileira.
2. É do sexo masculino.

Definamos também o conjunto das brasileiras como sendo o conjunto das pessoas que satisfazem aos seguintes axiomas:

1. Possui cidadania brasileira.
2. É do sexo feminino.

Podemos criar definições semelhantes para argentinas e argentinos.

Em estudos rigorosos de Matemática, axiomas são sempre utilizados da forma como ilustramos acima. Feitas as definições, utilizam-se os axiomas correspondentes para provar teoremas sobre o que foi definido. Os axiomas podem ser usados sem medo de que estejam errados, não por serem verdades fundamentais, mas por se aplicarem por definição ao que foi definido por eles.

Faz algum sentido dizer que a afirmação “é do sexo feminino” é uma verdade autoevidente, fundamental e universal? Deveria ser óbvio que não. Os membros do conjunto dos brasileiros não satisfazem esse axioma. O axioma é verdadeiro para brasileiras e argentinas, mas é falso para brasileiros e argentinos. Uma lição disso é que um mesmo axioma pode ser verdadeiro em um contexto e falso em outro.

Além de axiomas possuírem “região de validade” limitada, existe outro fenômeno importante: uma mesma afirmação que é um axioma em uma definição pode ser um teorema (algo que pode ser provado) em outra. Isso é verdade também para postulados e princípios na pesquisa científica. Um exemplo disso é o famoso princípio da exclusão de Pauli: duas partículas não podem ocupar o mesmo estado quântico ao mesmo tempo. Isso é fundamental para que a Química exista. Mas Pauli tomou isso como ponto de partida em um de seus estudos. Mais tarde, com um melhor entendimento sobre a origem das leis do mundo quântico, passou a ser possível deduzir esse “princípio” a partir de coisas muito mais fundamentais. Hoje, a afirmação de Pauli deveria ser considerada um teorema aplicável a férmions (mas não a bósons).

Em função da forma diferente de usar palavras técnicas, é comum que filósofos interpretem de forma inadequada descobertas na Matemática e na Física, frequentemente atribuindo-lhes limitações que elas não possuem e perdendo de vista os limites reais tanto da sua conclusão quanto da descoberta em si.

De vez em quando também lemos ou ouvimos afirmações fortes como “é impossível provar isso ou aquilo”, ou “não é possível saber sobre isso ou aquilo”, sendo que as respectivas limitações são válidas no âmbito da Filosofia, mas de forma alguma refletem limitações de métodos matemáticos. Um dos detalhes interessantes desses eventos é que frequentemente há pessoas que apresentam exemplos de coisas impossíveis de se conhecer ou provar, sendo que os exemplos apresentados são de coisas bem conhecidas e muitas vezes já provadas, embora o conhecimento do assunto não tenha chegado a essas pessoas.

Com base em uma cosmovisão que precisa de alguns ajustes, pessoas fazem afirmações categóricas que negam fatos conhecidos em meios que fogem ao seu conhecimento.

(Eduardo Lütz é físico e engenheiro de software)

Richard Dawkins é ateu mas acredita na Matrix

“Matrix” é o título de uma trilogia de ficção científica que estreou em 1999 e fez grande sucesso. Os personagens vivem sem saber em um mundo virtual controlado por máquinas (a Matrix). No texto a seguir, o professor universitário Bruno Ribeiro Nascimento destaca uma crença do ateu Richard Dawkins que chega perto da fé na Matrix:

“Leia essa citação de Deus, um Delírio, de Richard Dawkins: ‘Autores de ficção científica, como Daniel E. Galouye em Counterfeit World [Mundo Simulado], chegaram até a sugerir (e não consigo pensar em como poderia descartar a hipótese) que vivemos numa simulação de computador, criada por alguma civilização muito superior’ (p. 109). Respire fundo e leia novamente: ‘(...não consigo pensar em como poderia descartar a hipótese) que vivemos numa simulação de computador, criada por alguma civilização muito superior.’ Leia de novo: ‘(...NÃO CONSIGO PENSAR EM COMO PODERIA DESCARTAR A HIPÓTESE) QUE VIVEMOS NUMA SIMULAÇÃO DE COMPUTADOR, criada por alguma civilização muito superior.’

“A idolatria científica* é tanta que tem gente que acha normal esse tipo de insanidade numa obra que, em tese, pretende falar sobre a realidade. ‘Ele está apenas conjecturando’, ‘é apenas uma hipótese’; tem gente que diz coisa mais insana como: ‘E como você sabe que não está realmente numa simulação de computador?’

“Pois é, não estamos! E disso é possível ter certeza. E o homem que duvida dessa certeza precisa de um psiquiatra urgente. Não apenas é fácil descartar essa hipótese; chega a ser uma ofensa à racionalidade mantê-la ou dizer que não é possível descartar tal coisa. Acreditar na plausibilidade de qualquer loucura: eis o principal efeito colateral do naturalismo.

“Aqui, sigo Thomas Reid e G. K. Chesterton respectivamente: ‘Se isso for sabedoria, que eu fique iludido junto com o vulgo’ (Investigações Sobre a Mente Humana Segundo os Princípios do Senso Comum, p. 77). ‘O primeiro efeito de não acreditar em Deus é perder seu senso comum’ (O Oráculo do Cão].”

(*) Eu só não chamaria isso de idolatria científica, mas a tentativa de substituir a Ciência por filosofia barata, coisa que muitos fazem também no meio cristão, na tentativa de defender a verdade. Uns querem defender teísmo/criacionismo e outros o ateísmo/evolucionismo, mas os resultados tendem a ser perigosos de ambos os lados quando os fins justificam os meios.