quinta-feira, janeiro 12, 2023

Resposta ao texto do Dr. Eberlin sobre Big Bang

Escrevi recentemente um artigo sobre uma corrente de fake news que afirma que o James Webb Space Telescope (JWST) invalidou o modelo do Big Bang. Esse artigo recebeu uma réplica do Dr. Marcos Eberlin (veja aqui). O objetivo aqui é responder aos pontos mais importantes dessa réplica. Itens que precisam de aprofundamento adicional são tratados em outros artigos, para que este não fique ainda mais longo. Infelizmente, a quantidade de problemas conceituais da réplica é grande e requer esclarecimentos.

Atenuante

Antes de falar diretamente dos numerosos erros presentes na réplica, convém mencionar um dos fatores atenuantes que nos ajudam a entender como pessoas tão inteligentes e competentes em suas especialidades, como Marcos Eberlin, Adauto Lourenço e outros, podem, ao mesmo tempo, manter ideias equivocadas sobre uma série de assuntos.

Trata-se de um excesso de confiança na intuição e no que se fundamenta nela, como a razão humana desarmada e a organização sistemática do entendimento coletivo, também conhecida como Filosofia.

A razão humana baseada na intuição não funciona corretamente em certos domínios. Ela “dá pro gasto” em assuntos restritos à prática cotidiana, mas tende a falhar miseravelmente em tudo o mais. É por isso que precisamos dos métodos matemáticos para lidar corretamente com diversos domínios da realidade. Em particular, fenômenos relativísticos e quânticos estão entre os mais contraintuitivos. É justamente onde a razão humana mais falha que os métodos matemáticos da Ciência mais brilham, são mais necessários e dão resultados mais surpreendentes. Aliás, foi justamente por isso que pioneiros como Roger Bacon e Galileu Galilei propuseram que a Ciência Matemática (expressão de Roger Bacon) substituísse a Filosofia (organização do entendimento coletivo, das ideias que parecem razoáveis) nos estudos mais profundos em todos os domínios.

O Big Bang está nesses domínios. É por isso que até mesmo muitos físicos tendem a manter erros conceituais quanto a esse modelo, pois as pessoas fluentes em Relatividade Geral (que depende de Cálculo Tensorial aplicado a espaços semi-riemannianos) são relativamente poucas. Mesmo entre os que possuem os pré-requisitos técnicos para lidar com o assunto, é comum ocorrer de a pessoa inadvertidamente usar a intuição onde ela falha e esquecer de conferir matematicamente alguma ideia equivocada, o que pode induzir até mesmo um profissional a fazer alguma afirmação equivocada. Um exemplo é a ideia popular de uma singularidade no início do Universo.

Se profissionais podem cair em armadilhas quando não conferem cada detalhe matematicamente, imagine o que acontece com quem não é da área e resolve emitir opiniões sobre o assunto.

Mais uma vez, esses pontos ajudam a entender por que pessoas inteligentes e competentes em suas respectivas áreas, como Marcos Eberlin, Adauto Lourenço e outros, conseguem exibir tantos erros conceituais por parágrafo, quando falam em Cosmologia. Não é a área deles e constantemente demonstram não dominar os pré-requisitos necessários para lidar adequadamente com esses assuntos. Essa situação gera grande quantidade de premissas falsas, que alimentam diversas outras falácias. O desconhecimento nessa área não é vergonha, mas demonstra publicamente que as opiniões deles sobre esses assuntos não têm respaldo técnico. Esse é mais um motivo para que cada um fale apenas daquilo que domina tecnicamente.

Desqualificações

Esse assunto tem tudo a ver com a seção anterior. Há muitos que, além de não ter os pré-requisitos para lidar com assuntos sobre os quais divulgam opiniões fortes, ainda se baseiam na razão humana desarmada em domínios nos quais sabemos que ela falha miseravelmente. Divulgação assim é um desserviço não apenas ao criacionismo, mas à divulgação de conhecimento em geral. Infelizmente, é o que mais encontramos online por todos os lados.

Esclarecimentos que tenho fornecido a diversos formadores de opinião sobre tópicos que são minha especialidade e não a deles têm tido efeito em reduzir o problema. Houve época em que todas as palestras criacionistas a que assisti terminavam com argumentos do espantalho sobre Big Bang. Todos, biólogos, químicos, teólogos, filósofos, historiadores, educadores, paleontólogos, geólogos... todos pareciam considerar-se especialistas em Cosmologia e Astrofísica. Felizmente, a maioria dos divulgadores com quem conversei sobre o problema percebeu a situação e passou a se concentrar em sua especialidade.

Infelizmente, alguns preferiram as opiniões de pessoas de sua rede de confiança, o que faz sentido, que parecem especialistas, mas dão inúmeras demonstrações de também não possuir todos os pré-requisitos necessários para entender o assunto de que falam.

Meu propósito é defender a verdade, doa a quem doer. Todos temos falhas, todos temos lacunas de entendimento, lacunas de conhecimento e pontos comportamentais a melhorar. Entretanto, isso não nos dá liberdade de divulgar erros conceituais sobre temas que não dominamos. Quando erros conceituais importantes forem divulgados e eu tiver oportunidade de alertar o público sobre o problema, assim o farei, mesmo que isso seja entendido como desqualificação de alguém.

Associações com ateus

Não, o que achei irônico não foi o uso de argumentos de ateus. Para quem não quiser se dar ao trabalho de ler essa seção do meu artigo novamente, resumo aqui a ironia: criacionistas do universo jovem usaram argumentos falsos de Eric Lerner em favor do universo eterno.

Eles querem defender o universo eterno? Claro que não. Então por que usam esses argumentos? Porque têm dificuldades técnicas para avaliar suas consequências. Intuitivamente, lhes parece correto e coerente. Não é a área deles.

Sempre tenho defendido o diálogo entre todos os que estão abertos a isso e defendo que se julguem os argumentos por seu mérito, independentemente da origem. Acho ótimo quando cristãos dialogam com ateus, desde que todos o façam racional e respeitosamente.

Também defendo que tudo possa ser discutido e questionado, seja para correção de ideias equivocadas, seja para aprofundamento. Mas não tenho misericórdia de argumentos falsos. O respeito por ideias alheias não deve opor-se à verdade. Se isso ofende alguém, paciência. Meu compromisso é com a verdade.

Lista dos principais erros

Tenho muito a dizer sobre cada uma das seções da réplica do Dr. Eberlin; explicar por que os conceitos utilizados são incorretos, quais as falácias empregadas, o que sabemos de fato sobre cada um daqueles itens, e assim por diante. Infelizmente, um texto assim ficaria tão longo que não caberia neste blog. Seria material para um livro. Isso exige estratégias para encurtar o texto.

Com esse objetivo, apresento a lista dos principais erros conceituais que observei na réplica, comento resumidamente alguns pontos e reservo outros detalhes para artigos específicos sobre cada tópico em que houver tal necessidade.

Falácias

Várias falácias foram amplamente utilizadas na réplica. Cito algumas:

Falsa premissa (parte-se de uma ideia falsa como se fosse verdadeira para defender algo). Esta é uma das mais usadas na réplica. Exemplos: elétrons feitos de quarks; redução de entropia do Universo em função da formação de hádrons; Big Bang como modelo da origem do universo (“Big Bang Primordial”, sendo que o modelo do Big Bang apenas implica na criação, mas não trata dela); galáxias gigantes e supermassivas no início do Universo; argumentar sobre o modelo do Big Bang como se tratasse de expansão de matéria em um espaço euclidiano, ao invés da expansão de uma hipersuperfície em um espaço quadridimensional hiperbólico (isso leva a inúmeros argumentos do espantalho, vários dos quais estão presentes na réplica).

Equívoco (usar palavras com mais de um sentido, partir de uma premissa em um sentido para justificar uma conclusão em outro sentido). Exemplo: chamar o “Big Bang Expandido” de modelo, quando é um imenso quebra-cabeças no qual são colocadas muitas peças excelentes juntamente com peças que não se encaixam, o que serve de base para vários argumentos por equívoco.

Composição (tomar a parte pelo todo). Exemplo: ataque a uma peça que não se encaixa no “Big Bang Expandido” na tentativa de derrubar todas as outras.

Non sequitur (a conclusão não é consequência da premissa). Exemplo: citar nuvem de Oort e outros fenômenos do Sistema Solar para defender a ideia de universo jovem.

Espantalho (distorcer modelos, ideias e argumentos alheios para que fique mais fácil combatê-los). Exemplos: nuvem de gás expandindo-se contra o nada (algo que não existe no modelo do Big Bang ou assemelhados); pânico entre astrofísicos, modelos e simulações como se fossem apenas imaginação (versus conjuntos de leis físicas aplicadas a dado contexto), etc.

Deus das lacunas (Deus Se esconde nas lacunas de conhecimento; o que Ele faz é inexplicável, não tem método e não segue regras; o que é explicável não é feito por Deus). Exemplo: rejeitar modelos que mostram como leis físicas geram estrelas e galáxias, pois a Bíblia diz que o Universo foi criado por Deus, e se Ele criou, então não pode haver um processo ou explicação via leis físicas.

Falsa dicotomia (tratar de possibilidades como se fossem mutuamente exclusivas, quando não são). Exemplo: as galáxias se formaram como consequência de leis físicas ou foi Deus quem as criou? (Ignorar que as principais ações de Deus no Universo, que sustentam todas as demais, são justamente as manifestações de leis físicas.)

Argumento da projeção mental (imaginar que a realidade coincide com nossa intuição sobre ela). Tipicamente, essa falácia consiste em ignorar o que mencionamos sobre as limitações da razão humana e, por isso, deixar de usar a Matemática em domínios nos quais só ela funciona.

Medidas de distâncias e intervalos de tempo

Eberlin falou como se a fórmula simples que apresentei não funcionasse em função de fenômenos relativísticos. Porém, as correções relativísticas no contexto em que a apliquei são muito menores do que as margens de erro nas medidas de distância. Moral da história: a fórmula funciona. Explico melhor em outro artigo.

Galáxias minúsculas como se fossem gigantes

GL-z13 e DLA0817g são apresentadas como exemplos de galáxias gigantes, supermassivas e maduras.

DLA0817g: é vista em uma época em que o Universo tinha cerca de 1,5 bilhão de anos de idade, segundo estimativas atuais. Sua massa era de 72 bilhões de massas solares. Isso pode parecer muito, mas a Via Láctea tem uma massa de mais de 1 trilhão de massas solares. A DLA0817g não é uma galáxia grande para os padrões atuais, apenas se a compararmos com galáxias anãs. Seu diâmetro é de cerca de 13 mil anos-luz, o que é minúsculo comparado com a Via Láctea, que tem mais de 100 mil.

GL-z13 ou GLASS-z13: possui massa entre 0,05% e 0,08% da massa da Via Láctea. Isso corresponde a cerca de 15% da massa da galáxia anã conhecida como Pequena Nuvem de Magalhães. Seu tamanho é da ordem de 5% do da Via Láctea (cerca de 3 mil anos-luz; a Via Láctea tem mais de 100 mil anos-luz de diâmetro). O brilho intrínseco dela está de acordo com esses parâmetros (ou seja, é fraco). Os dados também indicam uma metalicidade da ordem de 2% da solar, o que faz sentido para uma galáxia em seus primeiros estágios de formação. Em que esse pessoal se baseia para afirmar que se trata de galáxias gigantescas, superbrilhantes e com metalicidade solar?

Nuvem expandindo-se contra o nada

Esse é um dos pontos em que a falta de familiaridade com o assunto cobra seu alto preço. Não existe algo sequer parecido com isso no modelo do Big Bang, até porque as equações do modelo não poderiam prever algo que vai contra elas próprias. O resultado dessa ideia absurda seria um colapso gravitacional sem direito a apelo a um processo de inflação para impedir a formação de um buraco negro de proporções cósmicas.

Essa ideia é fisicamente absurda por essa e por outras razões, e suas variantes têm sido usadas em argumentos do espantalho contra a ideia de que o espaço-tempo foi criado, mas com a distorção de que o que teria sido criado seria matéria em um ponto do espaço inicialmente vazio. Quem usa esses argumentos ignora tudo o que é essencial ao modelo do Big Bang.

Explicamos isso em outro artigo. É importante entender a ideia de Lemaître sobre o Universo como a hipersuperfície de uma hiperesfera cuja direção radial é uma dimensão de tempo, superfície essa que está toda preenchida de matéria e energia desde o início.

Falha em entender a dimensionalidade do modelo do Big Bang

A tal nuvem que se expande contra o nada é apenas uma das consequências de se ignorarem as características reais do modelo e de usar como fonte de informação apenas material divulgado por quem não tem conhecimentos técnicos na área.

Trata-se de um espaço hiperbólico quadridimensional cuja parte espacial se expande com o tempo, havendo ou não matéria (que entra via parâmetros do modelo). Se há matéria, ela é “arrastada” pela expansão do espaço.

De qualquer forma, mesmo entender um pouco disso não basta para equipar alguém a entender exatamente como funciona o modelo, muito menos a gerar argumentos sobre o assunto, que acabam recaindo na categoria do espantalho por se tratar de algo fora dos limites normais da razão humana. Não há o que fazer quanto a isso, exceto usar explicitamente métodos matemáticos adequados.

“Big Bang Primordial”

Pode-se usar essa expressão como referência à criação do universo? Claro. Pode-se usar essa expressão para referir-se ao modelo de Lemaître ou sua generalização (eliminação da hipótese de curvatura positiva)? Aí não faz sentido, pois esse modelo não fala diretamente da criação. O assunto dele é a evolução da geometria do espaço-tempo ao longo do tempo como consequência das leis da Relatividade Geral e da Termodinâmica. A criação do Universo está fora dos limites de validade do modelo.

Porém, como o domínio do modelo no tempo se inicia com o tempo macroscópico (a sequência de acontecimentos que vivenciamos), podemos inferir a criação do Universo a partir desse modelo. Percebe a diferença?

“Big Bang Expandido” como se fosse um modelo

Trata-se de um enorme quebra-cabeças com muitas peças que se encaixam de maneira excelente, outras que não se encaixam bem e outras que faltam.

Matéria sem antimatéria

Este assunto é interessante, mas se encaixa na falácia do argumento non sequitur (não se sabe como surgiu a matéria do Universo e, portanto, o Big Bang está errado). Trata-se de um problema que preocupa muitos físicos, mas, além de estar fora do escopo do modelo do Big Bang, ainda se trata de um falso problema que pretendo explicar em outro artigo.

Temperatura de 2,7 K

Eberlin fala como se isso fosse alguma hipótese absurda sobre as condições iniciais do Universo (espero que tenha sido apenas uma forma acidental de expressar suas ideias e não um erro conceitual de fato). Na verdade, para simplificar os cálculos, Lemaître (autor do modelo do Big Bang) imaginou o Universo aproximadamente homogêneo em larga escala (isso não é realmente necessário, mas simplifica o problema para resolvermos as equações manualmente). Ele ainda imaginou a parte espacial do Universo como sendo a hipersuperfície tridimensional de uma esfera quadridimensional, sendo que a direção radial da esfera seria o tempo. Essa esfera nasce toda preenchida, com raio muito pequeno, altíssima densidade e, portanto, temperatura elevadíssima. Se essas condições iniciais ocorreram, então hoje em dia deveríamos observar uma radiação cósmica de fundo também aproximadamente homogênea, aproximadamente com a mesma temperatura de corpo negro em todas as direções (exceto pelo efeito Doppler do nosso deslocamento em relação ao referencial sincrônico). Isso é exatamente o que se observa, inclusive com a temperatura de 2.72548±0.00057 K. Não se trata de especulação, mas de medidas obtidas. Mais uma evidência em favor do modelo do Big Bang.

Falso pânico

Não há pânico entre os astrofísicos, como Eberlin sugere. Trata-se do efeito troll: algumas pessoas leram apressadamente o título bem-humorado de um artigo e um tuíte e espalharam conclusões mirabolantes.

Química como se fosse oposta à Física em certos casos

Na verdade, o assunto da Física é tudo o que ocorre em qualquer universo físico. Como isso é abrangente demais, físicos concentram-se nas leis físicas e as utilizam para prever e entender fenômenos; também estudam como descobri-las e quais são suas relações entre si e com todos os fenômenos possíveis; nesses estudos, fica bem óbvia a insuficiência da razão humana e a eficácia e eficiência de métodos matemáticos. A Química trata de uma parte dos fenômenos regidos pela Eletrodinâmica Quântica, que é parte da Física. Essas coisas são levadas em conta nos modelos de Astrofísica.

Desprezo por simulações

Na réplica vemos algo que já vinha ocorrendo há anos: tratar simulações como se fossem faz-de-conta, pura imaginação. Na verdade, para fazer uma simulação, partimos de leis físicas relevantes para um determinado sistema físico e expressamos essas leis na forma de algoritmos para serem executados por computadores poderosos. O que os algoritmos fazem é calcular o que acontece ao longo do tempo como consequência das leis físicas e das condições iniciais. Essas condições iniciais podem ser observadas ou imaginadas. No caso de alguns modelos de formação de galáxias iniciais, as condições iniciais imaginadas estavam erradas. Mas esses mesmos modelos funcionam bem para condições observadas.

Desprezo por teorias científicas

Em Física, simplificadamente, podemos dizer que teorias são essencialmente conjuntos de leis físicas relevantes para determinado domínio. Essas leis são quase sempre expressas por equações diferenciais. Exemplos: teoria da Mecânica de Newton (três leis de movimento); teoria eletromagnética de Maxwell (quatro leis); Relatividade Especial (três leis de Newton, mais a equivalência entre sistemas inerciais; mais a existência de uma velocidade igual em todos os referenciais); Relatividade Geral (cinco leis da Relatividade Especial e mais uma que relaciona distribuição de energia com curvatura do espaço-tempo). O ápice do conhecimento científico sobre algum domínio da realidade é a correspondente teoria científica. Até mesmo as interpretações feitas pelos pesquisadores da área são tremendamente mais limitadas e menos confiáveis do que essas teorias matemáticas em si.

Desprezo por modelos

Existem os modelos conceituais que todos criamos espontaneamente desde o berço. Há quem tente rebaixar os modelos científicos a esse nível. Em Física, modelos são aplicações de teorias (conjuntos de leis) a casos particulares. Comparar um modelo conceitual com um modelo científico é como comparar uma bicicleta a um avião, ou seja, a diferença é abissal! Por exemplo, o modelo do Big Bang é uma aplicação da Relatividade Geral e da Termodinâmica ao caso particular que é o espaço-tempo como um todo. A quantidade de previsões acuradas geradas por esse modelo é enorme, apesar de se saber que se trata de um modelo incompleto. Outros exemplos de modelos: projetos de circuitos dos mais variados tipos, o que permite toda a tecnologia eletro-eletrônica moderna (aplicações da teoria eletromagnética de Maxwell); modelos de dinâmica do Sistema Solar, que permitem prever acuradamente, entre outras coisas, a posição de planetas e outros objetos no futuro, no presente ou no passado.

Desprezo por exegese bíblica

É preocupante o desdém demonstrado na réplica em relação a se fazerem estudos cuidadosos de textos bíblicos, levando-se em conta a língua original, as expressões idiomáticas, as definições apresentadas pelo próprio texto, o estilo e a estrutura literária; tudo isso é tratado implicitamente com desdém na réplica, como se bastasse uma leitura apressada do texto e não fosse necessário tipo algum de filtro para descartar interpretações incorretas.

Desprezo por hermenêutica bíblica

Também é preocupante o descuido com que interpretações que não se encaixam nem nas definições locais nem no contexto bíblico geral são aceitas e tratadas como se fossem a infalível Palavra de Deus. Essa atitude coloca um selo de infalibilidade na imaginação humana estimulada por uma leitura superficial e descontextualizada de textos bíblicos.

É um desprezo semelhante ao demonstrado na réplica por métodos da Ciência.

Interpretação anacrônica de Gênesis 1

Eberlin usa argumentos forjados por pessoas que também advogam que qualquer um entenderá corretamente textos bíblicos porque Deus o ajudará, independentemente de demonstrar reverência pelo uso de técnicas para evitar interpretações equivocadas. Como resultado dessa atitude, usam apenas a própria intuição (que sabidamente falha em qualquer domínio fora dos limites da prática cotidiana) para interpretar textos bíblicos. O resultado tem sido muitos erros básicos de exegese, a começar por anacronismo.

Um exemplo de anacronismo é atribuir um significado moderno a uma expressão antiga. Exemplo: shamayim como se significasse necessariamente “Universo”, e erets como se necessariamente significasse “planeta Terra”, apesar de o próprio texto explicitamente dizer que essas palavras significam outras coisas localmente (respectivamente, atmosfera e terra firme).

Por que existem tantas interpretações de textos bíblicos incompatíveis entre si? Justamente por causa do desrespeito por princípios de exegese e hermenêutica. A quantidade de doutrinas divergentes em denominações cristãs é grande em função disso, e as interpretações que lhes deram origem não podem estar todas certas.

Pensamento mágico

Em Opus Majus, Roger Bacon fala da luta do misticismo pagão contra a racionalidade cristã. Os pagãos tentavam “explicar” tudo por magia; até mesmo os milagres cristãos eram vistos como atos mágicos de Deus, sem qualquer regra ou explicação possível. Já o cristianismo falava de um culto racional, de leis da natureza estabelecidas por Deus, de ordem e coerência. Após a revolução científica, que Roger Bacon ajudou grandemente a fundamentar, ficou claro que as dicas bíblicas sobre as leis da natureza eram acuradas e aplicam-se até mesmo aos milagres, que são intervenções divinas sempre em harmonia com o caráter divino e, por consequência, com Suas leis.

Obviamente, é preciso conhecer de perto essas leis para perceber isso. Temos um artigo que explica esse assunto. O essencial aqui é que o pensamento mágico de que o que Deus faz não segue lógica e é necessariamente inexplicável é uma ideia de origem pagã que se infiltrou no cristianismo. Foi o contrário dessa ideia que permitiu a revolução científica e é o que está por trás do tremendo sucesso da Ciência Matemática (expressão de Roger Bacon) em todas as áreas em que ela tem sido aplicada (todas as áreas do conhecimento humano, atualmente).

O pensamento mágico induz outras falácias, como a da falsa dicotomia: será que foi Deus quem criou ou foram as leis naturais? Lembremo-nos de que, no criacionismo bíblico, leis naturais são o resultado das ações mais fundamentais de Deus, das quais todas as demais dependem, inclusive os milagres. O que as leis naturais criam (como sistemas planetários que vemos em plena formação em vários estágios) são criações divinas. Essa suposta separação gera ainda a falácia do deus das lacunas.

Uso de Jó 9:8

Essa passagem se encontra em uma seção do livro de Jó que apenas cita as falas dele e de seus amigos, falas essas desabonadas por Deus no capítulo 38. Esse trecho intermediário do livro de Jó serve apenas para entendermos o pensamento deles, nunca para obter qualquer informação sobre a realidade física. Porém, existem passagens legítimas que mencionam Deus estendendo o firmamento (atmosfera, que mantém nas alturas as águas da chuva) sobre a terra (solo, porção seca), como quem estende um cobertor sobre alguém que dorme, ou como quem estende uma tenda para servir de abrigo. Passagens assim não devem ser usadas para chegarmos a qualquer conclusão sobre o Universo como um todo.

Buracos negros primordiais

A réplica os trata como se fossem tentativas ad hoc de explicação. Um dos assuntos discutidos em livros didáticos de Relatividade Geral refere-se aos tipos de buracos negros. Em particular, as leis envolvidas preveem a existência tanto de buracos negros formados por colapso gravitacional quanto buracos negros primordiais, bolas de espaço-tempo formadas com a criação do Universo. A influência desses últimos nos primeiros tempos do Universo deve ter sido colossal. Apesar de sabermos disso há muitas décadas, ainda não vi um modelo astrofísico levando em conta buracos negros primordiais na fase escura do Universo. Mas essa falha é fácil de explicar: a maioria dos astrofísicos só lembra dos buracos negros criados por colapso gravitacional e poucos possuem uma formação mais profunda no âmbito da Relatividade Geral. De qualquer maneira, é um erro não levar em conta buracos negros primordiais e a importância deles tem uma probabilidade altíssima. Porém, para sabermos em detalhes qual é sua influência, é preciso modelar e simular, já que nossa intuição é insuficiente para lidar com essas coisas.

Supostos impeditivos para contração gravitacional

Há algumas décadas, alguém propôs um modelo supostamente criacionista que tentava mostrar que estrelas não podem se formar pelo efeito da própria gravidade do gás inicial. O modelo era simplista, incompleto.

Atualmente, observamos diversas instâncias de sistemas planetários e estrelas em formação em várias partes de nossa vizinhança cósmica. Contra fatos não há argumentos.

A questão é: Quais condições iniciais formam cada tipo de objeto que vemos? Muitas condições têm sido encontradas que levam aos mesmos resultados que observamos na prática. Em alguns casos, ainda não foram encontradas as condições iniciais corretas.

Inflação para impedir o Big Crunch?

Mais uma ideia absurda originada em desinformação. Inflação é um mecanismo de expansão muito mais rápida do que a do Big Bang proposto (de maneira ad hoc) por Allan Guth, no “1980 Texas Symposium”. Seu objetivo não estava relacionado ao que é sugerido na réplica.

A ideia de que todo o material do Universo esteve um dia concentrado em um único ponto do espaço que veio a explodir ou expandir-se rapidamente é fisicamente absurda por vários motivos, como mencionamos. Essa concentração implicaria em que esse material estaria em um buraco negro de proporções cósmicas e nenhuma inflação faria diferença quanto a isso.

O que Guth queria fazer era conseguir explicar de alguma forma como é possível que a hipótese de Lamaître sobre a homogeneidade aproximada do Universo seja tão exata.

A ideia de inflação foi também generalizada para tentar imaginar o nascimento do Universo como um entre uma infinidade de fenômenos que constantemente gera universos ao longo da eternidade. Porém, o próprio Guth conseguiu provar que o tempo necessariamente teve um início mesmo em seu modelo.

Citação infeliz

Eberlin faz uma citação interessante: “Se a ação da 2° Lei da Termodinâmica submete todo o Universo a um aumento contínuo e irreversível da desordem, então, como partículas elementares de quark puderam espontaneamente se unir e gerar três estruturas diferentes e, ao mesmo tempo, compatíveis entre si (prótons, elétrons e nêutrons)? E como essas partículas subatômicas puderam continuar violando a 2° Lei se organizando para que surgissem os fótons, os gases, a matéria de toda a Tabela Periódica (e só matéria, sem antimatéria) e dos demais sistemas ordenados existentes no Cosmos?”

Vejamos os principais erros a começar pelo menos grave, mas que demonstra falta de familiaridade com Termodinâmica:

1. Termodinâmica e desordem: não, a Termodinâmica não fala em aumento da desordem do Universo, mas essa confusão é comum. Até poderíamos fazer vista grossa, em outro contexto. O que temos na Segunda Lei é o aumento de entropia (que não é sinônimo de desordem) com o tempo em sistemas isolados. O Universo é um sistema isolado? Não para os criacionistas. Ainda assim, é válido dizer que a entropia do Universo aumenta com o tempo. O problema são algumas conclusões erradas que alguns que não são da área tiram disso.

2. Quarks como geradores de “prótons, elétrons e nêutrons”?! Desde quando elétrons são feitos de quarks?! Essas partículas violariam a Segunda Lei da Termodinâmica para formar fótons (também seriam feitos de quarks?!), os gases e toda a Tabela Periódica e os demais sistemas existentes no Cosmos.

O pior é que, como esses assuntos estão longe do cotidiano do público em geral, enganos assim podem soar como bons argumentos. Então vamos tentar desfazer um pouco dessa confusão sem entrar em detalhes técnicos inacessíveis aos não iniciados.

Entropia: pode ser definida de várias maneiras mais ou menos equivalentes, mas nunca como desordem. Podemos, sim, associar entropia com desordem em certas circunstâncias especiais, dependendo de como definimos desordem. Como é comum utilizarmos a desordem como recurso didático para explicar entropia, quem não conhece o assunto em primeira mão tende a pensar que entropia e desordem são sinônimos.

Entropia tem relação com várias coisas, como indisponibilidade de energia para gerar trabalho, quantidade de informação em um sistema, e até mesmo desordem em alguns casos específicos do cotidiano humano.

Felizmente, não precisamos de analogias didáticas para lidar tecnicamente com esse assunto. Grandezas e leis físicas são definidas por suas características matemáticas, frequentemente expressas como equações diferenciais (ou inequações diferenciais, como é o caso da Segunda Lei da Termodinâmica).

Enunciados verbais de leis e significados de grandezas apenas fornecem uma ideia pálida e distorcida do assunto e não devem ser tomados como base para conclusões importantes.

Mas, enfim, é verdade que a entropia do Universo aumenta (e muito) com o tempo. O leitor deve se lembrar de que um sistema pode baixar sua entropia às custas do aumento da entropia de outro. Isso ocorre muito em todo o Universo, e a expansão do espaço tem um papel importante especialmente nos primeiros instantes. Mas esse é um assunto longo e complexo que merece uma discussão à parte. Adiantamos que o próprio espaço tem entropia e sua expansão por si só causa um aumento de entropia no Universo, mesmo que a matéria não existisse. O aumento de entropia associado à expansão do espaço em si causa a redução de entropia de subsistemas, como se observa no caso do abaixamento da temperatura média do Universo.

Quarks: quanto à questão dos quarks que supostamente geram elétrons, vou me abster de comentar mais sobre o aspecto cômico da declaração e esclarecer logo o assunto.

Quando estudamos as propriedades das partículas subatômicas, encontramos padrões interessantes que nos ajudam tanto a classificar as partículas observadas quanto a prever algumas novas, confirmadas mais tarde. Além disso, as próprias leis físicas já preveem muitos fenômenos e propriedades de partículas, muitas das quais não fazem sentido para a intuição humana.

Entre as propriedades de partículas, temos massa de repouso, carga elétrica, carga de cor, número leptônico, spin, e assim por diante.

Partículas com spin inteiro classificam-se como bósons e não obedecem ao “princípio” da exclusão de Pauli. Partículas com spin inteiro mais meio são classificadas como férmions e obedecem ao “princípio” da exclusão de Pauli.

Entre os férmions fundamentais, encontramos os léptons (elétron, táuon, múon e seus respectivos neutrinos) e os quarks (up, down, top, bottom, charm, strange).

Entre os bósons fundamentais, encontramos partículas como fóton, Z, W, glúon…

Quarks não formam léptons, mas formam hádrons. Por exemplo, prótons e nêutrons (ao contrário dos elétrons) são sistemas complexos formados por quarks que interagem entre si por meio de glúons.

A altíssima densidade que se imagina haver por todo o espaço pouco depois que o Universo foi criado faria com que toda a atual massa do Universo estivesse condensada na forma de plasma de quarks (com glúons), contendo também léptons, diversos tipos de bósons e, possivelmente, mais alguns tipos de partículas que ainda não conhecemos. Imagina-se que, antes do plasma de quarks, teria havido uma situação em que as forças básicas estivessem unificadas e as partículas ainda não tivessem sofrido diferenciação por um processo chamado de quebra espontânea de simetria. Mas esse é outro detalhe.

Será que a formação de prótons e nêutrons a partir do plasma de quarks violaria a Segunda Lei da Termodinâmica?

Uma das características das interações entre quarks é a liberdade assintótica: significa que, quando estão próximos entre si, comportam-se como se estivessem livres. Quando se afastam demais uns dos outros, são puxados de volta violentamente. Se fornecermos suficiente energia para romper essa barreira, o resultado será a criação de pares quark-antiquark para manter sistemas de quarks confinados.

No caso do plasma primordial de quarks, a expansão do volume do espaço (com seu aumento de entropia) induziria os quarks a se afastarem uns dos outros. Em algum momento, isso causaria a separação entre cada parte desse plasma em relação às demais. Cada parte dessas é um hádron, isto é, um próton, nêutron, píon, etc.

Ok, mas isso não reduz a entropia do Universo? Não, pelas seguintes razões: primeiro, a expansão do espaço em si já representa um aumento na entropia; segundo, hádrons possuem entropia interna, de maneira que formação de hádrons a partir do plasma de glúons parece ter pouca influência sobre a entropia total do sistema (este é um estudo em andamento).

Vejamos um exemplo para ilustrar: imagine um gás contido em um recipiente em forma de paralelepípedo. Ele tem uma dada entropia. Imagine que introduzimos uma série de paredes nesse recipiente isolando umas partes do gás em relação às demais. Essencialmente, partimos de uma caixa de gás e passamos a ter várias caixas de gás. Se levarmos cada uma dessas caixas para um lugar diferente, continuaremos a ter a mesma entropia.

Se o plasma inicial de quarks for subdividido em regiões (chamadas hádrons), a soma das entropias internas dos hádrons seria aproximadamente a mesma da entropia do plasma original.

Quanto à formação de elementos mais pesados do que hidrogênio e hélio, as leis físicas implicam em que, nas condições adequadas, ocorrem reações nucleares que realmente os produzem. Essas condições existem no núcleo das estrelas. E esses núcleos se formam por colapso gravitacional, como vemos tanto na prática quanto pelas leis físicas em si, o que inclui a Segunda Lei da Termodinâmica. Aliás, essa lei é importante para que as reações nucleares aconteçam.

Afirmar que esses fenômenos espontâneos violam a Segunda Lei da Termodinâmica, especialmente sem fazer as contas para conferir, não tem cabimento.

Cálculos de Adauto Lourenço

Adauto e eu participamos juntos de alguns congressos em que ambos palestramos. Em certa ocasião, ele apresentou seus cálculos sobre a taxa de afastamento da Lua. Achei muito interessante a forma como ele conseguiu trabalhar com simplificações de um sistema terrivelmente complexo e calcular extrapolações.

O problema é que não se sabe até onde aquelas simplificações são válidas para fazer extrapolações de centenas de milhões de anos, a fim de poder afirmar que a Lua estaria praticamente tocando no solo da Terra na época que evolucionistas estimam que dinossauros habitavam a Terra.

Mas esse nem é o ponto. O importante aqui é a falácia do argumento non sequitur, como se uma suposta prova de que o Sistema Solar é jovem implicaria em que o Universo também é jovem. Não faz sentido algum.

100% dos modelos falharam?

Mencionei no artigo que 100% dos modelos de universo jovem propostos até o momento falharam de mais de uma maneira. Citei o de Humphreys como exemplo.

Na réplica, Eberlin tenta explicar por que os modelos científicos todos falham. Na verdade, eles têm-se mostrado bastante acurados em geral, e os que têm falhado consistentemente são apenas os que partem da premissa de que o Universo é jovem. Em alguns casos apenas, houve erro ao se imaginarem as condições iniciais usadas como parâmetros de entrada nos modelos. Temos aqui mais um exemplo da falácia da falsa premissa.

Mágica para resolver o problema da luz estelar distante

Eberlin tenta varrer para baixo do tapete esse problema reconhecido por militantes do universo jovem. Como ele faz isso? Apela para o pensamento mágico: de alguma forma, Deus faz com que a luz chegue instantaneamente a todos os lugares do Universo com imagens em tempo real e isso não se explica porque é Deus quem faz.

Basicamente, a luz teria velocidade infinita nessa concepção e nenhuma tentativa deve ser feita para harmonizar essa ideia com os experimentos que confirmam que a velocidade da luz é de 299.792.458 m/s. No pensamento mágico, nada se explica e nada tem sentido, de fato.

Mesmo assim, vamos tratar dessa e de outras ideias dos militantes do universo jovem em outro artigo, levando em conta suas consequências observáveis e parte de seu impacto teológico e nas leis físicas. Tratar de todos os problemas gerados por ideias mirabolantes como essas é inviável pela extensão do domínio do problema, mas podemos apresentar uma amostragem que dê ao leitor uma ideia do que elas representam na vida real.

Conclusão

Nenhum dos argumentos apresentados na réplica procede no sentido de justificar a posição apresentada. Trata-se apenas de um castelo de falácias construídas sobre premissas falsas.

Lembremo-nos de que o pensamento mágico opõe-se aos ensinamentos bíblicos. Enquanto o pensamento mágico diz “não tente entender porque é inexplicável”, Deus diz “vinde e arrazoemos” (Isaías 1:18); enquanto o pensamento mágico faz coro com a pseudociência e diz que o evangelho é loucura, a Bíblia diz que “a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). Não permitamos que o pensamento mágico seja usado para acobertar conclusões falsas sob o rótulo de “questões de fé”. A verdadeira fé não se opõe às evidências nem à Lógica, embora nem sempre concorde com a intuição humana, que muitos chamam de “razão”.

Na medida do possível, prepararemos artigos que forneçam maiores detalhes aos interessados.

(Eduardo Lütz é bacharel em Física e mestre em Astrofísica Nuclear pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Hidrofólios imitam barbatana de baleia para reduzir cavitação e ruído

Um dos maiores problemas enfrentados pelos projetistas de hélices e turbinas subaquáticas é a cavitação. Na superfície das bordas móveis, grandes quedas de pressão podem resultar em uma vaporização repentina do fluido, o que leva não somente à perda de eficiência, mas também a danos estruturais graves, com as bolhas de ar destruindo hélices de navios e tubulações. A cavitação também é uma das principais causas de poluição sonora subaquática, que prejudica a vida selvagem e danifica os ecossistemas. Os engenheiros já haviam descoberto que a criação de pequenas protuberâncias nas extremidades das estruturas melhora a eficiência dos hidrofólios, o equivalente a um aerofólio, mas projetado para funcionar na água – eles são usados não apenas em embarcações, mas também em técnicas de geração de eletricidade que dispensam represar os rios.

Rafat Simanto e colegas da Universidade Nacional Chungnam, na Coreia do Sul, decidiram então testar se as protuberâncias nos hidrofólios também poderiam ajudar a minimizar a cavitação. Usando um túnel de cavitação, a equipe submeteu uma coleção de hidrofólios com diferentes formas de protuberância a uma variedade de condições e analisaram os resultados.

Eles descobriram que um design de hidrofólio que copia as protuberâncias das barbatanas da baleia jubarte produz efeitos positivos dramáticos. As protuberâncias direcionam o fluxo de água para as calhas que se formam entre as protuberâncias, fazendo com que a cavitação seja reduzida em até 60%.

“Em nosso experimento, modificamos a extremidade dos modelos de hidrofólio com protuberâncias senoidais”, explicou o professor Byoung-Kwon Ahn, coordenador da equipe. “De acordo com as nossas observações, as protuberâncias nos bordos de ataque podem efetivamente suprimir tanto a cavitação quanto o ruído.”

(Inovação Tecnológica)

Leia mais sobre biomimética aqui.

Bibliografia:

Rafat I. A. Simanto, Ji-Woo Hong, Ki-Seong Kim, Byoung-Kwon Ahn, Suyong Shin, “Experimental investigation on cavitation and induced noise of two-dimensional hydrofoils with leading-edge protuberances”, Physics of Fluids, vol. 34, 124115; DOI: 10.1063/5.0127170



quinta-feira, janeiro 05, 2023

Universidade de Oxford conclui que todos nós somos parentes

Pesquisadores usaram 3.601 genomas modernos e oito genomas antigos como base para provar nossa ancestralidade.

Fazer sua própria árvore genealógica é uma atividade comum nos primeiros anos de escola. A ideia é começar por você e ir listando seus antepassados, os antepassados dos seus antepassados, os antepassados deles e por aí vai. Entretanto, pesquisadores da Universidade de Oxford elevaram o nível dessa tarefa escolar: fizeram a árvore genealógica de toda a humanidade. De acordo com essa pesquisa, todos nós somos parentes. A conclusão vem após o estudo de 3.601 genomas modernos e oito genomas antigos.

“Os seres humanos estão todos relacionados entre si”, diz Gil McVean, da Universidade de Oxford. “O que eu sempre quis fazer é ser capaz de representar a totalidade do que podemos aprender sobre a história humana por meio dessa genealogia”. Para o pesquisador, agora há a possibilidade de construir a genealogia de todos. Dessa forma, segundo ele, as pessoas podem dar descrições mais complexas de si, ao invés de falar simplesmente: “Sou europeu” ou “Sou africano”.

A árvore genealógica feita por Oxford aponta que nossas raízes começam no nordeste da África. Além disso, dá pistas de que as pessoas chegaram à Nova Guiné e às Américas milhares de anos antes do que está nos registros arqueológicos. O mais provável, de acordo com os cientistas, é que os seres humanos se desenvolveram primeiro no continente africano – mais especificamente na região onde hoje é o Sudão. Depois, começaram as suas migrações.

Entretanto, essa teoria é considerada “simplista” por muitos arqueólogos e antropólogos. A maioria deles acredita que havia povos espalhados por toda a África, que, às vezes, eram separados ou cruzados. Dessa forma, a humanidade teria não apenas uma origem, mas várias.

McVean disse que a descoberta da árvore genealógica também é compatível com essa teoria. “Há linhagens muito profundas na África que sugerem a noção de que existem populações de origem múltipla, profundamente divergentes, representando divisões realmente antigas”, completa.

Gil McVean acredita que há três possíveis soluções para esse dilema: a primeira é de que a pesquisa está errada e a segunda é de que as pessoas estiveram em outros lugares antes de estarem na África. Entretanto, a terceira explora um cenário um pouco mais complexo. Segundo o pesquisador, as primeiras pessoas que povoaram as Américas vieram do leste da Ásia. A teoria é de que a população de onde elas vieram tenha morrido por lá. Isso significaria que, na verdade, os genes da população americana sejam variantes de pessoas que vieram da Ásia.

A trajetória completa dos seres humanos ainda está longe de ser completa. Entretanto, já se sabe o bastante para dizer que nossos ancestrais são os mesmos se colocarmos galhos suficientes na árvore. Além disso, à medida que novos genomas são sequenciados e catalogados, a estrutura fica ainda mais abrangente.

(New Scientist, via Escola Educação)