domingo, maio 31, 2015

“Eu nunca quis nada além de lutar contra o criacionismo”

"Quebrou a cara" no Brasil
Quando pretendia deixar o Brasil no dia 28 num voo para Los Angeles, o biólogo ateu militante Richard Dawkins tropeçou, machucou o rosto, levou cinco pontos e não pôde embarcar (confira). No Facebook, um internauta mais maroto chegou a escrever: “Deus é mesmo brasileiro!” Brincadeiras e provocações à parte, enquanto esteve em nosso país, Dawkins, que deveria falar sobre ciência, biologia e evolucionismo, não resistiu e pregou tratou de subjetividades como ateísmo e insultou criacionistas. Exemplo disso é a entrevista que ele concedeu à revista Galileu. Confira alguns trechos a seguir [com meus comentários entre colchetes]:

Quando e por que o senhor sentiu a necessidade de se tornar uma figura pública e advogar contra a religião e o criacionismo?

Bem, como cientista, eu me sinto apaixonado pela verdade [bem, como criacionista e cristão, eu também]. Eu amo a verdade, ela é tão empolgante, com certeza você deve concordar, afinal escreve para uma revista. O criacionismo é um insulto ao intelecto, então qualquer cientista vai querer lutar contra isso [toda generalização é um insulto ao intelecto. Conheço muitos cientistas e pesquisadores que defendem o criacionismo e não deixam de ser cientistas por isso]. Eu nunca quis nada além de lutar contra o criacionismo [puxa! É a razão da vida dele! Então o pessoal aqui no Brasil gastou uma grana pra trazer um biólogo que não veio falar de ciência, mas atacar os criacionistas!]. Nunca decidi me tornar uma figura pública, mas sempre senti a necessidade de advogar por esta causa e se, por consequência, me tornei uma pequena figura pública, foi incidentalmente. [Não, não foi incidentalmente. Dawkins vive de escrever livros, não faz pesquisas e está sempre na mídia. E ele descobriu o segredo para ser midiático: a polêmica. Ataque os criacionistas; deprecie Deus; faça campanhas ateístas com faixas e frases de efeito. Isso vende jornais.]

Existiu algum momento específico de sua vida adulta em que o senhor tenha se sentido inclinado a acreditar em algo além da ciência?

É claro que eu acredito em várias coisas no sentido da valorização: eu valorizo a música, valorizo a amizade humana e o amor humano, valorizo a poesia e todos os tipos de coisas como essas. Mas a crença implica em acreditar em algo factual, em inglês você pode usar o termo “acreditar” no sentido de “eu acredito no amor” ou algo do gênero. Eu suponho que você esteja falando de crença no sentido de acreditar em fatos, e não há nenhuma outra razão para acreditar em fatos além de evidências científicas. [Que fatos sustentam a existência de um sentimento como o amor? Quais as vantagens evolutivas da música, da arte? Num mundo em que a sobrevivência do mais forte ou mais apto, mais competitivo é um imperativo, por que perder tempo com coisas como música, pintura ou mesmo amor?]

O senhor consegue imaginar a existência de uma religião que não seja cega pelo dogma?

Não estou certo de que se chamaria religião neste caso. Eu acho que normalmente usamos a palavra religião para significar algo como uma fé, que é, em outras palavras, desprovida de evidências, e eu suponho que isso meio que signifique dogma. Eu realmente não sei, apenas não tenho interesse por religião. Isso é uma revista de ciência, não vamos falar sobre ciência? [Dawkins vive falando em ateísmo e quer puxar a orelha do repórter da Galileu por querer perguntar sobre religião? A fé não precisa ser desprovida de evidências, como quer Dawkins. O problema é que a falta de interesse dele pelo assunto faz com que ele ignore as evidências (talvez a aversão dele à religião tenha outros motivos...). A fé que eu abracei e defendo é racional e não está fundamentada no vácuo. Tenho muito boas evidências de que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus; de que Jesus ressuscitou dos mortos; de que Deus é o Criador do Universo. Mas será que Dawkins já parou para ouvir esse tipo de coisa? Dificilmente, pois ele vive evitando debates com apologistas cristão bem preparados.]

É claro que vamos. Em diversas ocasiões, o senhor sugeriu que os aspectos culturais da religião são uma coisa boa. Como o senhor enxerga o papel dos mitos em nosso passado e também no presente?

Nunca entendi muito bem o que é um mito, quer dizer, ele é uma história, e eu suponho que seja uma história com algum significado antropológico. Uma tribo terá histórias tribais sobre a origem das coisas. Estou ciente delas, não acho que sejam muito interessantes sob meu ponto de vista, eu sou um cientista. [Mas acredita no mito segundo o qual o Universo teria surgido a partir do nada e que matéria inorgânica teria por si só se organizado para dar origem à vida, com toda a sua complexidade e tremenda quantidade de informação genética.]

Mas às vezes nossos ancestrais criadores de mitos acertavam em algumas coisas...

Como o quê?

Como por exemplo o fato de a ciência atual ter comprovado a existência de um ancestral masculino e feminino comum a todos e chamá-los de Adão e Eva. É claro que existem diferenças enormes entre a narrativa bíblica e a científica, mas o senhor acredita que a intuição humana seja capaz de expandir nosso entendimento sobre o mundo?

Estou impressionado de que você pense que o mito de Adão e Eva esteja relacionado de alguma maneira com isso [dá-lhe arrogância dawkiniana!]. Como poderíamos não ter ancestrais masculinos e femininos? Como todos os mamíferos, nós somos seres sexuais, então obviamente nós temos ancestrais masculinos e femininos [e como esses ancestrais teriam se originado de seres vivos assexuados? Nem Dawkins responde]. Quanto ao que os cientistas chamam de Eva mitocondrial e Adão cromossomial-Y, é logicamente necessário que tenha de existir uma fêmea individual que seja a ancestral universal de todos nós na linhagem feminina, não poderia ser de outra forma. E similarmente tem de haver um ancestral macho que seja nosso ancestral comum mais recente na linhagem masculina. Esse ancestral seria aquele de quem herdamos todos os nossos cromossomos Y, e similarmente da mulher herdamos todas as nossas mitocôndrias. Isso é logicamente necessário, você não precisa de mitos para chegar a esta conclusão. [Então o relato bíblico se antecipa à ciência, a ciência conclui depois que é por aí mesmo, e cientistas como Dawkins saem dizendo que o relato de Gênesis é mito? Ah, Dawkins, de onde surgiram esses primeiros macho e fêmea, e de onde surgiram os cromossomos e as mitocôndria? Só para lembrar, a mitocôndrias são minúsculas “usinas” produtoras de energia de alto desempenho. Surgidas por acaso, claro...]

Quando o senhor forjou o conceito do meme, ele estava a anos de se tornar um fenômeno generalizado na internet. Recentemente o senhor disse que os jovens estão perdendo muito ao se limitar apenas às frases de impacto e imagens engraçadas. Como o senhor descreveria um meme mais elaborado?

Um meme é uma unidade de herança cultural, a ideia é ver se podemos desenvolver uma analogia com o gene como a unidade da seleção natural de Darwin. A evolução darwinista, que eu suspeito que, de alguma forma, seja universal pelo Universo onde quer que haja vida, depende de entidades auto-replicantes, que em nosso planeta são o DNA. [Veja o que escrevi sobre memes em 2008.]

Qual é a sua opinião atual sobre a influência dos genes no comportamento humano moderno?

Os genes obviamente são cruciais para o desenvolvimento humano, é óbvio que nós não estaríamos aqui se não tivéssemos genes. Vou considerar que você quis dizer diferenças genéticas influenciando diferenças humanas, seria uma maneira de transformar sua pergunta em algo significativo [esse repórter é bem paciente com essas respostas ríspidas de Dawkins...]. Até que ponto é possível explicar as diferenças entre uma pessoa e outra através de seus genes? Digamos a tendência de ser agressivo, avarento, homossexual, altruísta - para todas essas características psicológicas seria possível examinar suas variações em humanos e a contribuição genética para essas variações através de estudos com gêmeos, por exemplo. Como um todo, a maioria das características psicológicas acaba tendo um componente genético razoavelmente alto, que não é cem por cento. [Os genes não são assim tão determinantes quanto Dawkins quer; há pesquisas recentes em epigenética, por exemplo, mostrando que a coisa é bem mais complexa do que se pensava quando O Gene Egoísta foi escrito.]

Algumas pessoas dizem que a epigenética é uma espécie de renascimento das ideias de Lamarck...

Sim, eu sei que elas dizem, e este é o problema. Isso poderia ser verdade se ela continuasse por um número indefinido de gerações. Mas é claro que outro fator para ela ser um ressurgimento do lamarckismo é que seria necessário que produzisse adaptação, como a que Lamarck visualizou do princípio de uso e desuso - digamos que quanto mais se usa um músculo, maior ele fica, e então isso é herdado pela próxima geração. Isso seria a evolução lamarckista. Não é isso que está sendo falado aqui, ninguém sugeriu que o princípio do uso e desuso leve ao crescimento de uma parte particular do corpo e seja herdado. [Ok, mas Dawkins não pode ser tão taxativo a respeito de uma área que mal se começou a estudar, a epigenética.]

Poderia contar uma ou duas dessas histórias engraçadas que mencionou [em sua autobiografia]?

Eu desenvolvi a ideia, especialmente mais para o fim do livro, de que a mínima mudança em quase qualquer lugar é suficiente para mudar todo o resto da história. Por exemplo, eu imaginei um dinossauro espirrando em um momento crucial que impediu que ele pegasse um pequeno mamífero em particular, e aquele mamífero foi em frente para se tornar o ancestral, o Adão de todos os mamíferos que sobreviveram, todos nós devemos nossa existência a este espirro hipotético desse dinossauro do Cretáceo. Eu acho este um pensamento interessante, e tento jogar pequenas reflexões, pensamentos como este, resultando de história que conto. [Temos que admitir: Dawkins tem muita imaginação!]

Tem algum arrependimento em sua carreira cientifica?

É difícil isso, não? Eu acho que depois de escrever O Gene Egoísta eu basicamente dei uma guinada para o caminho de escrever livros ao invés da pesquisa [grande problema esse, não para o bolso dele, evidentemente]. Eu cheguei a fazer um pouco mais de pesquisa, mas obviamente não o mesmo tanto que eu teria feito se não tivesse me dedicado a escrever livros. E eu não acho que eu me arrependa disso, de certa forma sim, mas eu provavelmente fiz mais pela ciência ao escrever livros do que teria feito através de uma pesquisa muito restrita que teria sido possível fazer [quanta modéstia!]. Eu nunca teria sido um grande pesquisador, de qualquer forma. [Há quem diga – ateus, inclusive – que nem pensador, nem escritor, nem filósofo ele é...]

O senhor disse uma vez que a ciência é a poesia da realidade. O senhor é um cientista. Diria que considera a si próprio também um poeta?

Bem, eu não escrevo versos, eu acho que alguns de meus escritos poderiam ser chamados de prosa poética, de um jeito parecido com o que diziam que Carl Sagan escrevia prosa poética [agora ele ofendeu o Sagan!].

Comentário do amigo Frank Mangabeira: “Superinteressante e reveladora essa afirmação de Richard Dawkins. Nada surpreendente também: mais uma demonstração de como se entender a psicologia do ateísmo. O ‘cientista’ ateu se sente insultado pelo modelo criacionista das origens, pautado, em suas pressuposições, no teísmo bíblico. Sem querer incentivar qualquer disputa maniqueísta sobre tão polêmico assunto, eu me pergunto: Quem anda insultando quem? Quem vocifera aos quatros cantos do planeta, de forma apologética, as ilusões da religião e as ‘verdades’ da evolução? Mais: Onde está a contribuição verdadeiramente científica de Dawkins para o mundo? Cadê suas pesquisas? Seria o biólogo de Oxford uma boa referência para tirarmos conclusões acerca de nossas origens? Duvido. Enquanto isso, criacionistas bem informados, que não se sentem nem insultados nem intimidados pelo modelo naturalista-metafísico presente na ciência atual, estão desenvolvendo suas pesquisas com o rigor científico, a honestidade intelectual e a humildade necessários, a exemplo do Geoscience Research Institute.

“Embora Dawkins afirme que ama a verdade, desconfio da sua ‘verdade’, pois seu dogmatismo ateu é evidente: digno de um fundamentalista extremo. Quem sabe, por trás da ciência de Dawkins, esconda-se o desejo pessoal de que sua visão de mundo seja o paradigma da realidade. Grande pretensão! Mais honesto foi o filósofo ateu Thomas Nagel que, numa confissão franca, trouxe à tona o seu querer: ‘Quero que o ateísmo seja verdadeiro e fico apreensivo com o fato de algumas das pessoas mais inteligentes e bem informadas que conheço serem crentes religiosos. Não se trata apenas de que não creia em Deus e, naturalmente, espero estar certo em minha crença. É que eu espero que não exista nenhum Deus! Não quero que exista um Deus; não quero que o Universo seja assim’ (Nagel 2001, p.130). 

“Para Freud, ‘o homem é cego diante do próprio desejo’. Quem são os cegos? Os criacionistas, os evolucionistas ou ambos? Não se insulte com minha pergunta. Questione e pesquise com sinceridade, para poder enxergar melhor. Interaja com visões de mundo diferentes, sem hostilidade, porque a verdade é sempre engrandecida quando procedemos assim. Aprendemos mais e nosso intelecto se expande. E cuidado com os desejos...”

Leia mais: "Cristianismo, ciência e o obscurantismo do século XXI"

sexta-feira, maio 29, 2015

Diálogo com um cristão evolucionista

Convergências e divergências
Mantive recentemente um diálogo inbox com um jovem que se declara “evolucionista teísta”. O resultado (com a omissão do nome dele, evidentemente) você pode conferir abaixo:

Fulano: Cara, é por causa de “cristãos” como você que o cristianismo tem sido duramente criticado pelos círculos de intelectuais, não só aqui no Brasil como no mundo. Mesmo aceitando a evolução, jamais deixei de ser cristão, de ir à igreja, de crer na Bíblia, pois não vejo um conflito real entre a ciência e a fé. E, diferente do que vocês criacionistas fazem, não preciso “adaptar” a ciência para encaixar com a fé. Aceito a ciência como ela é. E ela em hipótese alguma contradiz minha fé. Tem muita gente por aí que diz que se você não crer que o mundo foi criado em seis dias você não é um “cristão bíblico”, um crente verdadeiro, etc. – seja o que for que isso signifique. Isso é uma tremenda bobagem! Você pode, sim, viver no século 21 e ser um cristão, sem cometer suicídio intelectual.

Michelson: Amigo Fulano, antes de mais nada, por favor leia isto (clique aqui). Chamar de bobagem a crença dos outros também depõe contra seu cristianismo, já que Cristo nos ensina a ser respeitosos.

Fulano: Já vi seu site umas mil vezes. Pelo fato de acreditar que uma mulher foi “inspirada” por Deus, e pelo de acreditar nas suas sandices, é natural que você rejeite a realidade. Uma coisa eu posso te garantir: nenhum dos apologistas de que você e sua trupe faz uso aceita o criacionismo. Vocês tem feito um desserviço ao cristianismo. Falar de criacionismo da Terra jovem é como dar um tiro no próprio pé dentro da apologética. O problema é que a maioria dessas defesas do criacionismo e ataques à evolução teísta usam de alguns artifícios que me deixam indignado. São eles: Ciência-lixo: argumentos como o da poeira lunar, força do campo magnético e bobagens desse tipo. Lógica-lixo: argumentos do tipo “não pode ser...”, argumentos “straw-men” (ou homem-pauzinho), simplificações grosseiras e todas as outras falácias de lógica que você pode imaginar. Teologia-lixo: “Creia no que eu creio, senão você não é realmente um cristão.”

Michelson: Amigo, não estamos aqui para evitar tiros no pé, mas para ser fiéis à Palavra de Deus (até porque muitos mártires deram a vida por isso). Lembre-se de que Jesus, Paulo e outros foram criacionistas que atestaram a historicidade do relato da criação em seis dias e de Adão e Eva. De minha parte, nunca disse que por alguém não crer no criacionismo isso faz dele menos cristão. Sempre apoiei e apoio o ministério de apologistas como William Craig, Plantinga, Strobell e outros. O cristianismo me ensinou a ser tolerante. E, assim como você, também amo a verdadeira ciência (galileana, experimental, empírica). Assim como também amo a boa teologia. Corretamente compreendidas, a boa teologia e a boa ciência estão de acordo.

Fulano: Gostaria muito que o que você diz fosse realmente verdade, mas no fundo sabemos que não é.

Michelson: “No fundo sabemos”, não! Eu bem sei em Quem e no que eu creio. Você acha que Jesus e Paulo estavam errados?

Fulano: Deixo que os verdadeiros especialistas respondam a isso. N. T. Wright, Alister McGrath e outros teólogos falam sobre a forma como Paulo via Adão. Mas é obvio que você irá rejeitar as observações desses especialistas, porque vai de encontro ao que sua profetiza disse a respeito. Uma mulher sem nenhuma formação acadêmica.

Michelson: Sinceramente, não preciso de Ellen White para defender a visão criacionista que esposo. Aliás, não são apenas os adventistas que defendem esse ponto de vista.

Fulano: Sim, os pentecostais também, kkkkkkkk.

Michelson: Infelizmente, sua visão é preconcebida e preconceituosa. O fato de Ellen White não ter tido formação acadêmica não a descredencia, assim como não descredenciaria Paulo, Isaías, João Batista...

Fulano: Mas católicos, anglicanos, boa parte dos reformados, incluindo presbiterianos, metodistas, etc. rejeitam uma visão literal do Gênesis. Mas esse é outro assunto...

Michelson: Não são apenas os pentecostais. Conheço acadêmicos da Mackenzie e batistas como o Dr. Marcos Eberlin.

Fulano: Marcos Eberlin? Adauto? Que pena que os profetas não ensinaram ciência, por isso não preciso tomar o relato de Gênesis literalmente.

Michelson: Non sequitur...

Fulano: Interessante que até o Behe em seu livro Darwin’s Black Box não nega a evolução

Michelson: Sim, Behe é católico e, por consequência, adota (talvez sem saber) uma teologia liberal, assim como você.

Fulano: E vocês chegam ao cumulo de negá-la. Negam uma Terra antiga e outros consensos científicos.

Michelson: No fundo, meu amigo, é tudo uma questão de cosmovisão e de base teológica. Há boas pessoas defendendo a teologia liberal e boas pessoas defendendo o método gramático histórico.

Fulano: É engraçado, porque quando Dawkins e os demais criticam o cristianismo, ele critica um estereótipo da religião. Vocês xiitas fundamentalistas.

Michelson: Gostaria de entender qual a consistência lógica desta sua afirmação: “Que pena que os profetas não ensinaram ciência, por isso não preciso tomar o relato de Gênesis literalmente.” Dawkins? Tem certeza de que ele faz isso? Você já leu Deus, Um Delírio?

Fulano: Eles [os profetas] não se preocuparam e nos transmitir um relato cientifico das origens. Mas o ponto central é que Deus criou todas as coisas. A forma, ou seja, o método dependia da cosmovisão da época.

Michelson: Você deveria estudar mais a Bíblia e sua coerência interna. Quanto a Dawkins, ele procura “detonar” o Deus da Bíblia, o mesmo Deus em quem você diz crer. O foco dele não são apenas os “fundamentalistas”.

Fulano: Rapaz, tenho livros ótimos de teologia. E o foco principal de Dawkins são, sim, os fundamentalistas.

Michelson: Então os leia, mas não apenas os que concordam com sua visão.

Fulano: Ele tacha vocês de inimigos da razão, justamente por negarem a evolução biológica e, consequentemente, uma Terra antiga.

Michelson: “O deus do Antigo Testamento é provavelmente o personagem mais desagradável de toda a ficção: ciumento e orgulhoso disso; um maníaco por controle, miserável e injusto; um abusador vingativo, eugenista sedento por sangue, misógino, homofóbico, racista, infanticida, genocida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista e caprichosamente malévolo” (Dawkins). Acho que você ainda crê no Antigo Testamento, né?

Fulano: Sim, e sei bem quais são as críticas do Dawkins.

Michelson: Amigo, criacionistas não negam necessariamente a Terra (inorgânica) antiga. Mas afirmam que a vida na Terra remonta a seis, sete, dez mil anos. E não negamos a “evolução biológica”, desde que o termo “evolução” seja bem compreendido. Trata-se da hipótese macroevolutiva filosófica que nega as Escrituras, ou apenas da diversificação de baixo nível, com a qual podemos concordar, porque é fato?

Fulano: Vocês confundem tudo. A macroevolução nega a Deus? O que nega a Deus são as concepções filosóficas retiradas da evolução. A ciência evolutiva em nada nega a existência ou inexistência de Deus.

Michelson: A macroevolução não nega a deus, nega apenas o Deus da Bíblia.

Fulano: Não, nega a interpretação adventista da Bíblia. Até porque, se os dias da criação não forem literais, vocês serão os mais prejudicados com isso.

Michelson: Se o assunto fosse apenas a questão da seleção natural, por exemplo, não haveria nenhuma negação de Deus, mas quando se extrapolam os argumentos para o campo da filosofia, aí a coisa complica. Darwin não tratou, em seu livro, da origem das espécies, apenas da diversificação delas. Isso porque ninguém sabe ao certo (no campo da ciência) como a vida começou. Mas afirmar que ela proveio de material inorgânico, organizando-se espontaneamente, adquirindo complexidade e negando a semana da criação, a história do pecado e a origem da morte em consequência disso - sim, isso é negar o Deus da Bíblia.

Fulano: Não é à toa que, por esse motivo, inúmeras igrejas cristãs, que não compartilham vossas crenças, já aceitam a evolução ou macroevolução. Vocês negam uma teoria cientifica por causa das concepções filosóficas que alguns tiram dela?

Michelson: Amigo, o fato de igrejas cristãs adotarem esse ou aquele ponto de vista não me ajuda em nada. No passado, o catolicismo defendeu o geocentrismo aristotélico. Se vivesse naquele tempo, você abraçaria essa visão? Há igrejas (a maioria delas) que adotaram a visão antropológica dualista grega/pagã e o dogma do inferno eterno. Vou embarcar nessa também?

Fulano: A questão não é nem mesmo o catolicismo em si. Cara, isso são questões teológicas. Estou falando de questões de cunho científico.

Michelson: Bem, o catolicismo é maior religião cristã. Sob seu ponto de vista, se os católicos são evolucionistas, também devemos ser. Não devemos estar com a maioria?

Fulano: Não.

Michelson: Falar de evolução e não enveredar para a teologia/filosofia é quase impossível. Estou apenas tentando mostrar que a questão é bem mais complexa.

Fulano: O evolucionismo é a melhor explicação que temos para a especiação e o registro fóssil.

Michelson: Se quer ficar estritamente no âmbito científico, me diga como a vida começou? De que forma podemos explicar a explosão cambriana? Como explicar o aumento de informação genética necessário para o “surgimento” de novos planos corporais e novos órgãos funcionais? Os estratos plano-paralelos na coluna geológica... Sem links, por favor. Gostaria de conhecer sua opinião.

Fulano: Todas as objeções criacionistas já foram respondidas.

Michelson: Você se diz cristão. Ok. Então acredita que Deus foi utilizando o método de tentativa e erro até chegar ao ser humano? Que Deus Se valeu da seleção natural e da mortandade e da predação e da crueldade para a aprimorar a vida?

Fulano: Não sei por que vocês ainda insistem nisso. Ele deixou que a natureza seguisse o seu próprio curso.

Michelson: Então acabei de descobrir que você é deísta, não teísta. E realmente fica difícil dialogar com alguém que não crê num Deus de amor que além de Criador é mantenedor da natureza.

Fulano: Sou teísta, apenas respeito as leis da lógica. Deus pode muito bem ter supervisionado todo o processo. Ou usado até mesmo a evolução como método

Michelson: Você não crê na literalidade de Gênesis, logo, não crê no relato da queda, do pecado e da morte consequente. Assim, precisa explicar de que maneira o mal se originou num universo criado por um Deus bom, e por que existe morte. Deus criou a morte como elemento “purificador” de sua criação? Teria Ele guiado o cruel processo evolutivo? E se a história do pecado é mito, Jesus ceio à Terra morrer por que mesmo?

Fulano: Milhões de anos atrás, surgia o nosso ancestral mais antigo, o Ardipithecus ramidus, com aproximadamente 4,4 milhões de anos, dando origem a outros gêneros, como o anamensis, afarensis, africanus, aethiopicus, boisei, crassidens e robustus. A partir deste, começa a distinção anatômica e o processo de transição para o homo (rudolfensis, habilis, ergaster, erectus, heidelbergensis, neanderthalensis e sapiens) sempre de forma ramificada e não linear. Paralelamente, surgiam evidências físicas da construção e aprimoramento de oldovanas referentes ao períodos geológicos em questão. O ponto crucial aqui gira novamente em torno da pergunta: ‘Quando nos tornamos humanos?’ Certamente, quando nós atingimos os padrões distintivos de estruturas anatômicas e comportamentos (autoconsciência e senso moral) que ainda podem ser encontrados atualmente, o que ocorreu muito provavelmente entre 100~150 mil anos atrás, com o gênero Homo. Romanos 5:12 nos diz que através de Adão (já evoluído como espécie Homo sapiens), o pecado entrou no mundo e assim a morte veio a todos os homens, porque ‘o salário do pecado é a morte’ (Romanos 6:23). A chave para essa questão é nos atentarmos ao fato de que os humanoides (que não significa humano) anteriores à nossa espécie não poderiam pecar porque não possuíam senso moral e, portanto, não poderiam ser julgados ou sequer poderiam ser chamados de homens.

Michelson: Você realmente acredita nesse seu Ctrl-C Ctrl-V?

Fulano: Não precisa ser assim [referindo-se às minhas perguntas anteriores]. A obra de Jesus tem a ver conosco agora. A história da criação nos fala da nossa condição espiritual no presente, ou, mais precisamente, antes da encarnação e morte de Jesus Cristo. É dessa condição espiritual que a redenção depende, e não da verdade histórica, literal de um mito oriental de criação, baseado na existência de um homem chamado Adão.

Michelson: Como que a morte poderia ter vindo por meio desse “Adão” evoluído, se antes dele bilhões de organismo já haviam morrido? E você vem me falar em “lógica”? Você percebe seu problema? Você tem uma fé seletiva. O que convém das Escrituras, você crê. O que não concorda com sua lógica semi-deísta, você descarta. Eu creio num Deus todo poderoso que seria capaz de criar o Universo em seis segundos ou em seis milhões de anos, mas que preferiu criar a vida neste planeta em uma semana literal. E deixou esse relato simples registrado nas páginas sagradas. Suponho que você também chama de mito a travessia do Mar Vermelho, a história de Jonas, a destruição de Sodoma, o ato de Jesus caminhar sobre as águas, a multiplicação dos pães e peixes e a ressurreição. Todos esses eventos contrariam o conhecimento científico atual. Me perdoe, mas acho que você não é mesmo cristão. É, no máximo um deísta beirando a descrença.

Fulano: Eu sou tão cristão quanto você. Não preciso rejeitar o conhecimento cientifico para permanecer cristão. Você está me confundindo com um liberal. Eu só não aceito a literalidade do Gênesis.

Michelson: Você percebe que a coerência existe apenas em dois extremos? Para ser coerente, ou a pessoa abraça o ateísmo/naturalismo e a macroevolução, ou abraça o criacionismo teísta que aceita todos os milagres descritos na Bíblia, inclusive o da criação. Dawkins já entendeu isso. Mas muitos cristãos, não. Sua descrença é realmente muito seletiva... Repito: todos os profetas, autores bíblicos, apóstolos e Jesus criam no que você não crê. E eu fico com eles. Se desacreditarmos do relato da criação em Gênesis, comprometemos toda a teologia bíblica.

Fulano: Você está dizendo que ou eu sou um criacionista da Terra jovem, ou eu sou um ateu evolucionista?

Michelson: Não falei em “Terra jovem”, porque isso não vem ao caso. Defendo a “vida jovem”.

Fulano: Ok.

Michelson: Prefiro me posicionar ao lado de cientistas do quilate de Isaac Newton, para os quais a Revelação de Deus não contradizia a boa ciência, e vice-versa.

Fulano: O debate não é evolução x criacionismo. O debate é naturalismo x criacionismo. E a macroevolução é uma sucessão de microevoluções baseadas no princípio lógico da seleção natural.

Michelson: Definindo corretamente: naturalismo x teísmo (primeiro passo). Criacionismo x macroevolução (segundo passo). No primeiro passo, me posiciono ao lado dos apologistas que mencionamos no começo. Mas, quando o assunto envereda para a origem da vida, defesa do inferno eterno, etc., “pulo para fora do barco” e fico com a Bíblia, em sua totalidade. Macroevolução não se trata de uma sucessão de “microevoluções”, mas da ideia absurda da abiogênese e da crença ilógica de que informação complexa e específica pode surgir do nada e se tornar cada vez mais complexa. Existem limites para a modificação entre os seres, e isso se percebe com eles em vida, como no caso das experiências com as drosophilas. Quanto ao registro fóssil, aí a interpretação e a especulação assumem o controle.

Fulano: Eu não posso me considerar um cristão de verdade, caso aceite a macroevolução?

Michelson: Você pode se considerar o que quiser. Só que cristão, na acepção da palavra, é uma pessoa que crê como Jesus.

Fulano: A literatura de biologia está repleta de exemplos. Uma pesquisa na PubMed sobre “gene duplication” retorna mais de 6.000 referências.

Michelson: Gene duplication é uma coisa. Gene a partir do nada é outra. Duplicar uma informação não significa modificá-la a ponto de dar origem a novas estruturas complexas e funcionais.

Fulano: Amigo, a evolução não trata da origem da vida. Isso é um trabalho para os químicos.

Michelson: Sim, não deveria tratar. Mas o título da obra seminal evolucionista não é A Origem das Espécies? E Dawkins et caterva não vivem falando da origem da vida?

Fulano: Um mecanismo onde é mais comum de ocorrer aumento de informação é a duplicação genética, onde um longo pedaço de DNA é copiado, seguindo por mutações pontuais que mudam uma ou ambas as cópias. Sequenciamento genético tem mostrado vários casos onde isso fez surgir novas proteínas. Por exemplo: duas enzimas na síntese da histidina foram formadas, evidências mostram, via duplicação genética e fusão de duas sequências ancestrais (Lang et al. 2000). RNASE1, um gene para uma enzima pancreática, foi duplicado, e em macacos langur uma das cópias sofreu mutação para RNASE1B, que funciona melhor no intestino mais ácido do macaco (Zhang et al. 2002). Levedo foi colocado em um meio com pouco açúcar. Após 450 gerações, genes que transportam hexose duplicaram várias vezes, e muitas das versões duplicadas sofreram ainda mais mutações (Brown et al. 1998).

Michelson: E depois de todas essas pesquisas e descobertas, os macacos langur continuaram sendo macacos langur e levedo continuou sendo levedo. Assim como os tentilhões de Darwin continuam sendo tentilhões; as moscas-das-frutas continuam sendo o que são, e por aí vai. Acreditar que essas modificações limitadas poderiam transformar um macaco em um ser humano (calma, estou brincando) é extrapolação. Eu pareço estar dialogando com um evolucionista ateu, sabia?

Fulano: Eu não sou ateu!

Michelson: Eu sei que não. Apenas não crê que a Bíblia seja a revelação de Deus; descrê de alguns milagres, mas de outros não; e não aceita a visão criacionista defendida por Jesus, Paulo e outros?

Fulano: Você pode muda de ideia, cedo ou tarde

Michelson: Procuro manter a mente aberta, até porque foi por isso que deixei de ser evolucionista e abracei o criacionismo. E espero que essa seja também a sua postura. Se me permite, quero orar por você e manter nossa amizade cristã.

Fulano: <Emoticon like>

Michelson: Afinal, se ambos cremos em Cristo, isso se torna um forte elo. Se aceita um conselho, continue lendo sobre ciência (como eu faço sempre), mas não descuide da leitura da Bíblia e de livros teológicos e devocionais. Conheci muitos jovens que acabaram abandonando absolutamente a fé por se dedicar demais a leituras que colocam a Bíblia em cheque e deixar de ler a própria Bíblia.

Fulano: Eu quase abandonei, enquanto mantive minhas posições criacionistas.

Michelson: Bem, eu tive outra experiência. Quase me tornei agnóstico por manter uma cosmovisão baseada na teologia liberal. Apenas me encontrei e pude harmonizar devidamente a ciência (que sempre amei) com a boa teologia quando me tornei criacionista. Você, como eu, deve crer que a Palavra de Deus não é apenas um simples livro. Que ela tem poder para transformar a mente e a vida das pessoas. Então continue lendo a Bíblia com o coração e a mente abertos.

Fulano: Amigo, foi um prazer, mas terei que me retirar. Devo almoçar agora. Se ainda desejar, podemos nos falar mais a tarde.

Michelson: Também foi um prazer conversar com você. Creio na utilidade dos diálogos respeitosos que discutem ideias. Fique com Jesus, Fulano. Deus, o nosso Criador, te abençoe e a mim também.



Guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência” (1 Timóteo 6:20).


“Há um esforço constante para explicar a criação como sendo resultado de causas naturais. Até mesmo professos cristãos aceitam o raciocínio humano contrário aos fatos apresentados nas Escrituras. [...] Essas mesmas pessoas aceitam avidamente as suposições apresentadas por geólogos que contradizem o relato de Moisés. [...] Aqueles que duvidam dos registros do Antigo e do Novo Testamento serão levados a dar um passo a mais e passarão a duvidar da existência de Deus. Então, ao perderem sua âncora, ficarão batendo de um lado para outro nas rochas da incredulidade e do desespero. [...] Céticos, por meio de uma compreensão equivocada, tanto da ciência quanto da revelação, alegam ter encontrado contradições entre elas; mas, quando corretamente entendidas, elas estão em perfeita harmonia. [...] Aqueles que fazem da Palavra Escrita o seu conselheiro encontrarão na ciência um ponto de apoio para entender Deus” (Ellen White, Os Escolhidos, p. 64, 65, 66).

Charlie & Dawkins: o diabo esteve à solta

Deus criou a Terra? Na Escócia agora é proibido ensinar isso

Não questione, apenas aceite
Se Deus criou a Terra ou não, o governo da Escócia não quer nem saber. O que eles sabem – e decidiram por lei – é que o criacionismo está proibido de ser ensinado em escolas dentro da disciplina de Ciências, como era comum no país. A decisão é considerada uma vitória da Scottish Secular Society (SSS), que há anos luta pela mudança. “Finalmente, conseguimos chegar ao ponto de o ministro responsável declarar que o criacionismo não deve e não pode ser ensinado como uma ciência”, afirmou Paul Braterman, conselheiro científico do SSS. A instituição garante que não tem nada contra o fato de o criacionismo ser citado ou ensinado, mas sempre distante da ciência – para isso, diz ela, existem aulas de religião. Com a decisão tomada, a Escócia agora se iguala aos seus vizinhos Inglaterra e País de Gales, que também proíbem o fato de o criacionismo ser ensinado como ciência. De acordo com o governo escocês, por meio de seu porta-voz, a intenção é que os alunos sejam expostos a “questões complexas e desafiadoras que possam desenvolver seu senso crítico”.


Nota: No entanto, creio que a ideia de que o Universo (tempo, espaço, matéria) teria se originado de maneira natural, por acaso (o nada gerando tudo) continuará sendo ensinada. Também creio que a hipótese anticientífica de que a vida teria se originado espontaneamente a partir de matéria inorgânica continuará sendo ensinada em sala de aula, embora não haja evidência alguma desse “fato”. Os alunos continuarão tendo seu senso crítico desenvolvido por meio do aprendizado dessa ideias, além daquelas que ensinam que somos apenas “macacos pelados” e que informação complexa e específica surge do nada, sem necessidade de uma fonte informante. E ai daqueles que ousarem questionar isso em sala de aula! Bota senso crítico nisso! [MB]

quinta-feira, maio 28, 2015

Dawkins: maravilhe-se com a obra, ignore o Artista

Promovendo o ateísmo no Brasil
André Petry é ateu, evangelicofóbico (confira), parcial (confira), fã de carteirinha de Darwin (confira) e admirador de Dawkins. E foi a ele que a revista Veja designou a tarefa de entrevistar o biólogo ateu mais incensado do nosso tempo. Ele mesmo, o ídolo de Petry: Richard Dawkins, aquele que cometeu o livro Deus, Um Delírio. Seria como pedir a um cardeal que entrevistasse o papa ou que Marcelo Crivella entrevistasse o “bispo” Macedo. O que você acha que aconteceu? Lógico! A entrevista é um bate-papo amistoso entre iguais. Petry ajeita a bola para Dawkins chutar. Não faz uma pergunta incômoda, não questiona, não pressiona, como deve fazer o bom jornalista. Mais uma vez Veja oferece sua tribuna de páginas amarelas e deixa Dawkins falar à vontade. E veja só algumas coisas que ele disse:

“Certos órgãos complexos e funcionais, como os olhos, por exemplo, vão gradual e progressivamente ficando melhores na execução de suas tarefas.” Petry, por que você não perguntou como? De que forma os olhos teriam “surgido” e se tornado mais complexos, se isso depende de surgimento e aprimoramento de informação genética? Informação complexa surge do nada? A evolução pode contrariar as leis da termodinâmica e desafiar a entropia? Vamos deixar Dawkins falar o que quer só por que ele é famoso?

“Obviamente, a consciência evoluiu como uma propriedade emergente dos cérebros. Nós, seres humanos, temos consciência. Portanto, é certo que, em algum momento, nossos ancestrais obrigatoriamente desenvolveram consciência.” Só porque ele é o Dawkins pode usar tautologias como bem entende? A consciência surgiu da matéria cerebral? Como se prova isso? Temos consciência porque temos consciência? É mais ou menos como dizer que a casa é vermelha porque é vermelha. Tautologias não explicam nada. O que me garante que um ajuntamento de moléculas seria capaz de dar origem à consciência? E se nossa consciência depende de um ajuntamento casual de moléculas, por que devo confiar nela? Aliás, por que devo acreditar que o amontoado de moléculas que forma o cérebro de Dawkins pode gerar pensamentos confiáveis? Por que devo aceitar as opiniões dele?

“Não existem grandes debates teológicos. Teologia é um não assunto, carente de conteúdo.” Quero ver ele dizer na cara do Stephen Hawking que a teoria dos multiversos, as branas e outros conceitos são um “não assunto, carente de conteúdo”! E o que dizer do naturalismo filosófico que ele defende com unhas e dentes? É um assunto com conteúdo? Que evidências empíricas há de que o Universo e a vida surgiram a partir do nada e que a matéria teria dado origem a leis e constantes finamente ajustadas, ou que essas leis teriam possibilitado a origem da matéria? O naturalismo filosófico é, ele mesmo, um conceito que não pode ser submetido ao método científico. Então não me venha, Dawkins, dizer que a teologia é um “não assunto”. Grandes intelectuais ao longo da história (de alguns dos quais o próprio Dawkins foge, como o diabo da cruz) têm dedicado suas energias mentais e seu tempo ao estudo de algo que, se for real (e há boas evidências de que é), se constitui na maior de todas as ciências: o estudo de Deus. A descrença de Dawkins (ou de quem quer que seja) não pode ser motivo para considerar a teologia irrelevante – ainda mais se levarmos em conta que, segundo Richard Panek, conhecemos apenas 4% da realidade que nos rodeia. É muita pretensão achar que o método científico é suficiente para nos fornecer respostas absolutas como as de Dawkins.

“O Universo, o mundo e a vida têm complexidade suficiente. Não precisamos importar a complexidade manufaturada e inventada da teologia.” Não precisamos mesmo. E é a própria ciência quem nos convence do que Paulo afirma em Romanos 1:19 e 20, por exemplo. É a própria ciência que nos mostra cada vez mais o quão complexo é o Universo e que todo projeto pressupõe a existência de um projetista. Não foi a ciência que convenceu o diretor do projeto Genoma, Dr. Francis Collins, a abandonar seu ateísmo? Não foi a ciência que levou Antony Flew, considerado o maior filósofo ateu do século 20, a declarar que Deus existe? Aliás, que contribuições científicas de Dawkins podem ser comparadas às contribuições para a ciência de um Pasteur ou um Collins? Dawkins é um teórico que não deve pôr os pés num laboratório há muitos anos, do contrário não teria tempo para escrever tantos livros nos quais destila seu ódio contra Deus (que a psicologia poderia explicar).

Petry comenta: “À medida que o conhecimento científico sobre o mundo vai se ampliando, fica mais difícil acreditar em certos dogmas religiosos, como a ideia de que a humanidade tem apenas 6.000 anos de existência.” E é claro que Dawkins aproveita mais essa bola devidamente posicionada pelo amiguinho. Ocorre que Petry parece nem mesmo saber a diferença entre doutrina e dogma, ou quis usar a palavra num sentido pejorativo mesmo. Para os católicos, dogma se trata de uma afirmação do Espírito Santo por meio do magistério da igreja. Doutrinas bíblicas são conceitos revelados pelo Espírito Santo por meio dos profetas inspirados. Bem, para um ateu isso faz pouca diferença, mas, para quem crê, faz, sim. De qualquer forma, no fim das contas, os piores ataques são sempre contra os criacionistas que creem na literalidade do relato da criação no Gênesis...

E lá vem Dawkins de novo: “A ciência poderia ter progredido muito mais rapidamente num mundo não religioso.” Diga isso para os pais da ciência, gigantes do quilate de Newton, Galileu, Copérnico, Kepler e outros. Há estudiosos que atribuem justamente ao berço cristão o desenvolvimento da ciência moderna (confira). Aí vem Dawkins e tenta dar uma de revisionista profético, dizendo o que poderia ter sido da história da ciência caso não tivesse havido religião. Bem, ele poderia ter sido um dos muitos milhões de mortos no regime comunista ateu da ex-União Soviética...

Na recém-escrita autobiografia de Dawkins (que Veja já está divulgando), ele imagina que, se as crianças não tivessem contato com contos de fada, talvez não acreditassem em Deus. Mas ele se esquece de que foi justamente o cristianismo que ajudou a banir as religiões de mistério, o panteísmo, o ocultismo, o misticismo. A crença em um Deus lógico, racional, pessoal é o maior antídoto contra o misticismo e forneceu os pressupostos sobre os quais a ciência está fundamentada. Aliás, veja o que escreveu um filósofo ex-ateu que Veja nunca entrevistou: “O secularismo vivido na Europa e exportado para o mundo deixa o interior do indivíduo arruinado e o torna vulnerável a todo tipo de crença” (Ravi Zacharias, A Morte da Razão, p. 21).

Gostaria de ter lido uma entrevista questionadora como as que a Veja faz quando o entrevistado é um petista ou um evangélico. Mas, infelizmente, não foi isso o que eu li.

Enquanto o diabo se diverte com os incautos (confira aqui e aqui), seu “capelão” enviado aos céticos deixa sua marca de um ateísmo ácido e de um evolucionismo ufanista em nosso país. A situação está mesmo complicada... Deus tenha misericórdia dos que querem Lhe ser fiéis!

Michelson Borges

Charlie Challenge: brincando com o perigo

quarta-feira, maio 27, 2015

Ritual “Charlie Challenge” deixa aluna possessa em Manaus

Brincando com o perigo
Um antigo ritual mexicano para evocar espíritos tem tomado as redes sociais e é a nova febre do momento. Alunos de uma escola estadual no bairro Cidade Nova decidiram testar a “brincadeira” e acabaram endemoniados e vomitando muito. Denominado como “Charlie Charlie Challenge” [leia mais sobre isso aqui], em referência ao demônio que teria esse nome e seria uma criança, o ritual consiste em utilizar dois lápis, formando uma cruz sobre um papel com retângulos onde estão escritos “Sim” e “Não”. O ritual começa com a pergunta “Charlie, Charlie, podemos brincar?” (na versão mexicana), ou “Charlie, Charlie, você está aqui?” (na versão inglesa). Em seguida, os participantes começam a fazer perguntas para o demônio em que as respostas sejam sim ou não. Para finalizar é necessário perguntar “Charlie, Charlie, podemos parar?” Quando ele disser sim, os participantes devem quebrar os lápis para quebrar o contato com Charlie.

Conforme relatos de testemunhas, na manhã desta quarta-feira (27), os alunos da escola (não citaremos o nome para preservar os alunos) iniciaram o ritual e uma das garotas começou a falar com a voz grave e vomitou muito. Várias crianças ficaram desesperadas com a cena e se instalou o caos na escola. Na internet, funcionários da escola e alunos têm realizado diversos relatos.


Nota: Podemos extrair algumas lições desse fenômeno instantâneo alimentado pela internet: (1) a web é realmente um meio tremendamente poderoso de espalhar informações, ideias e modismos (o Desafio Charlie foi mencionado por mais de dois milhões de usuários no Twitter, em apenas 48 horas, por meio da hashtag #CharlieCharlieChallenge); (2) uma geração doutrinada por livros e filmes de bruxos, vampiros e demônios tem mais curiosidade do que medo do oculto; (3) o diabo não mais esconde seu “jogo” e está muito ativo em nossos dias.

Quando eu era adolescente, os “rituais da moda” eram o tabuleiro ouija e a “brincadeira” do copo ou do compasso. Ouvi muitas histórias escabrosas atribuídas à atuação dos “espíritos” nesses jogos. Nessa nova versão de flerte com o oculto o inimigo não mais se esconde. Apresenta-se como demônio mesmo. E a criançada, dessensibilizada pelo consumo de tanto conteúdo satanista/ocultista, não se importa mais de brincar com o perigo. Na verdade, leva tudo na brincadeira. E a coisa fica exatamente do jeito que o diabo gosta.

Na verdade, para o mundo “oculto” existem outras portas aparentemente inofensivas. Os filmes de terror, por exemplo. Quando tinha 15 anos, Will Baron resolveu assistir no cinema ao filme The Devil Rides Out. Embora tivesse nascido num lar cristão, ele diz que o filme foi a porta de entrada ao mundo do misticismo e do ocultismo, no qual ele afundou completamente e depois foi resgatado por Deus. “Sentado em profunda introspecção, enquanto recordava nitidamente as cenas do filme, percebi horrorizado que algo sutil e sinistro aconteceu enquanto me encontrava no cinema. A poderosa semente do fascínio pelo mundo oculto e místico havia sido plantada em minha mente. A semente não germinou durante anos. Mas estava profundamente enraizada e me levou gradualmente ao cativante mundo do misticismo e ocultismo” (Enganado Pela Nova Era, p. 212).

Quanto a esse assunto, a Bíblia é muito clara: “Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações da presença de vocês” (Deuteronômio 18:10-12, NVI).

E Ellen White escreveu: “E o que dizer dos livros [filmes, jogos] de magia? O que você tem lido ultimamente? Como tem empregado seu tempo? Tem procurado estudar as Sagradas Escrituras para que possa ouvir a voz de Deus falando através de Sua Palavra? O mundo está cheio de livros que espalham as sementes da incredulidade, infidelidade e ateísmo. Em maior ou menor grau, você pode estar aprendendo as lições desses livros de magia. Afastam Deus da mente e separam a pessoa do verdadeiro Pastor” (Só Para Jovens, p. 14).

Nesta quarta-feira, infelizmente, dezenas de milhares de pessoas seguiram inadvertidamente o caminho das irmãs Fox. Estão brincando com o perigo, e o verdadeiro “Charlie” se divertindo um bocado. [MB]

Remanescentes esquecidos por Deus?!

O poder dos livros na transformação de um médico

Nada é impossível para Deus
Eu estava caminhando pela Avenida Santo Amaro no ano de 2007, quando um pensamento gerado pelo Espírito Santo me veio à mente: “Quero que você vá ao SELS” [lojas de livros e produtos naturais localizadas nas sedes administrativas da Igreja Adventista]. (Algumas pessoas não acreditam nisso, quando eu conto esse testemunho; então, para elas, eu indico o livro Fuga para Deus, da CPB). Me dirigi prontamente para lá e, então, questionei a Deus em oração: “Senhor, por que estou aqui? O que queres que eu faça?” Comecei a olhar os produtos e daí um livro me chamou a atenção: Por Que Creio, do jornalista Michelson Borges. Não tive dúvida alguma; comprei o livro e o levei para casa. Entreguei-o ao meu pai que, homem culto e inteligente que era, ficou feliz ao ganhar mais um livro.

Ele começou a ler e acabou gostando da leitura, baseada no criacionismo e não naquilo que ele sempre acreditou. Apesar de se proclamar católico, ele não cria em Deus como um Pai, como uma Pessoa a que se pode recorrer, etc. Sua crença era em uma força impessoal. Então posso dizer que ele era um agnóstico, que também acreditava no evolucionismo.

Então o livro lhe deu uma perspectiva diferente, que estava começando a se tornar real. Apesar de toda a cultura dele (nossa casa tinha uma biblioteca de aproximadamente 5.000 livros, vários deles sobre religiões diversas), ele nunca se encontrou em religião nenhuma.

Nessa época, ele não estava bem de saúde, na verdade estava bem doente. Então foi a época em que Deus começou a me usar para apresentar a ele uma realidade bem diferente que, provavelmente, ele não aceitaria em outro momento.

Depois do Por Que Creio, dei a ele o Origens, do Ariel Roth. Após criticar um dado exposto no livro, ele me disse que na época tinha virado seu livro de consulta! Nem pude acreditar. Fiquei boquiaberta!

Depois dei-lhe o livro Escavando a Verdade, sobre arqueologia, de Rodrigo Silva. Livro extremamente bem embasado que se sobrepôs à leitura anterior de um livro chamado E a Bíblia Tinha Razão, em que dados arqueológicos foram alterados para provar a veracidade da Bíblia. Livro que ajudou a pôr em cheque a crença do meu pai na Palavra de Deus.

Já no ano de 2008, dei-lhe outro livro: Cristianismo Puro e Simples, de C. S. Lewis, livro mais filosófico que religioso, que realmente embasa a Lei Moral, sobre o certo e o errado, e que se torna uma forte evidência da Lei e, principalmente, do caráter de Deus. Desse ele também gostou muito.

Esse foi o último livro que pude dar a ele. E o conhecimento de Deus foi formado nessas quatro leituras muito especiais! Deus usa pessoas para atender às necessidades de outras, e eu me sinto feliz por ter sido o instrumento para levá-Lo ao meu pai e lhe dar a chance da salvação e da redenção.

Então, o Dr. Anacleto Valtorta, ex-diretor do SAMSS, no Hospital das Clínicas de São Paulo, faleceu na manhã do dia 12 de março de 2008. Felizmente, com a esperança de salvação! Quem sabe ainda não vou me encontrar com ele? Ficaria extremamente feliz com isso!

Camilla Valtorta