sexta-feira, agosto 30, 2019

O caráter científico das teorias de criação


Inicialmente, é importante destacar (conforme já mencionado aqui neste blog em vários outros artigos) que há dois tipos de ciência praticados atualmente: a ciência humana e a ciência verdadeira. O que as diferencia significativamente é o tipo de raciocínio adotado. Enquanto a ciência humana (que remonta a Aristóteles) faz uso predominante de um raciocínio intuitivo/filosófico, mais aberto à especulação/interpretação, a ciência verdadeira (descoberta durante a Revolução Científica dos séculos 16 a 18) se utiliza do raciocínio formal (matemático), muito menos limitado e muito mais confiável, o qual deixa o mínimo espaço possível (ou nenhum) para a especulação/interpretação.[1-4] A ciência verdadeira é, portanto, muito mais eficiente em produzir conhecimento genuíno, mas a ciência humana também possui seu mérito. Neste artigo, estarei lidando, de forma geral, com a ciência humana (assim como em meu artigo anterior), haja vista ser esse o tipo de ciência praticada atualmente nas áreas de conhecimento que lidam com a questão das origens – tais como biologia evolutiva e geologia histórica.

A ciência de hoje possui uma visão essencialmente ateísta. Como diria Basil Willey: “A ciência deve ser provisoriamente ateísta, ou deixar de ser ela mesma.”[5] O que explica essa presente condição da ciência é a regra, supostamente necessária para o avanço científico, chamada naturalismo (ou materialismo) metodológico (NM). Stephen Meyer define essa norma da seguinte maneira: “...um princípio que especifica que os cientistas devem explicar todos os eventos através de causas materialísticas (não inteligentes), seja qual for a evidência.”[6] Por “causas materialísticas” entenda-se causas naturais (processos físicos, químicos, biológicos). Dentro desse contexto, qualquer cogitação de uma possível causa sobrenatural para explicar algum fenômeno natural, ainda que baseada em evidências do mundo natural, é descartada sob a acusação de ser metafísica ou teológica – em outras palavras, não científica.

Os defensores do princípio do NM argumentam que a proibição de invocar Deus ou alguma outra inteligência criativa em teorias científicas é bem fundamentada, nem um pouco arbitrária. Para eles, teorias de criação (Teoria do Design Inteligente – TDI – e Criacionismo Científico) não satisfazem padrões objetivos do método científico, conhecidos como critérios de demarcação. Não explicam por meio de causas naturais apenas, nem manifestam várias outras características de verdadeiras teorias científicas, tais como testabilidade, observabilidade e falseabilidade. Assim, diferente de teorias evolucionistas naturalísticas, teorias de criação seriam metodologicamente deficientes.[5]

Porém, há pelo menos três linhas de argumentação que demonstram a falibilidade dessa tentativa de imputar um caráter não científico à TDI,[5] a qual, por definição, “simplesmente diz que certas feições do Universo e dos seres vivos são mais bem explicadas por uma causa inteligente, ao invés de um processo não direcionado, como a seleção natural”.[7] Essa teoria não se preocupa em dizer quem seria essa causa inteligente (que pode ser Deus ou algum ser extraterrestre superevoluído, por exemplo). Apenas afirma que algumas evidências apontam para sua ação no Universo e nos seres vivos.

Em primeiro lugar, a maioria dos filósofos da ciência de hoje considera a questão “Quais métodos distinguem a ciência da não ciência?” como intratável e desinteressante. Eles têm aprendido com os sucessivos fracassos das tentativas de estabelecer critérios de demarcação, ao longo da história, capazes de distinguir com precisão a ciência da pseudociência, tendo chegado à conclusão de que a principal questão não é se uma teoria é ou não científica, mas se ela é ou não verdadeira ou garantida pela evidência. Como Martin Eger resume bem, “argumentos (ou critérios) de demarcação colapsaram. Filósofos da ciência não os consideram mais. Eles podem ainda desfrutar aceitação no mundo popular, mas esse é um mundo diferente”.[5]

Embora os argumentos de demarcação tenham caído em descrédito, de modo geral, para os filósofos da ciência, eles ainda são bastante valorizados por muitos cientistas. Em função disso, o segundo argumento tem por objetivo demonstrar a inaptidão de tais argumentos em desqualificar a TDI. Mais especificamente, é importante lidar com os seguintes critérios de demarcação, comumente utilizados como justificativa para atribuir o status de pseudociência à TDI: (a) explicações através de causas naturais apenas (é proibido recorrer a qualquer tipo de inteligência criativa), (b) observabilidade, (c) testabilidade, e (d) falseabilidade.[5]

Quanto ao item (a), que corresponde ao NM, é relevante atentarmos para o programa de pesquisa SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre), o qual tem como missão explorar, entender e explicar a origem da vida no Universo e a evolução da inteligência.[8] Os cientistas desse instituto se dedicam a detectar sinais de vida inteligente em algum lugar do Universo. Para isso, buscam ondas de rádio especiais, diferentes das que são comumente detectadas por seus telescópios (produzidas no espaço por causas naturais), que lhes garantam estar diante de uma evidência clara de inteligência. Ou seja, para os cientistas do SETI é fundamental diferenciar fenômenos produzidos por causas naturais daqueles produzidos por uma mente inteligente. Logo, esse programa científico sozinho lança por terra a obrigatoriedade imposta pelo NM de uma teoria utilizar-se apenas de causas naturais em seu recurso explanatório para ser considerada científica.[9] Adicionalmente, a ciência forense, a história e a arqueologia, cujo caráter científico não é questionado, também postulam, assim como o SETI, a ação passada de seres inteligentes para explicar eventos ou objetos em estudo.[5]

Os itens (b) e (c) costumam estar interligados nas críticas feitas à TDI, já que se presume que o caráter inobservável de um agente inteligente o torna inacessível à investigação empírica, tornando a teoria impossível de ser testada.[5]

Porém, a realidade é que muitas áreas de conhecimento já consideradas científicas (por exemplo física, geologia, arqueologia, biologia) lidam rotineiramente com elementos inobserváveis (ex.: forças, átomos, eventos passados, feições geológicas da subsuperfície, estruturas biológicas moleculares), tendo que inferir sua existência a partir de elementos observáveis – ou seja, o teste é indireto. Até mesmo a teoria evolutiva apresenta elementos inobserváveis em sua estrutura, tais como: as formas de vida transicionais que ocupariam os nódulos da árvore da vida evolutiva de Darwin, mutações do passado, e eventos de rápida evolução (Pontualismo).[5]

O próprio Darwin argumentou que a inobservância de eventos/processos passados não significa que teorias sobre as origens sejam intestáveis. Ele afirmou: “Esta hipótese (descendência comum) deve ser testada... tentando ver se ela explica várias classes de fatos grandes e independentes; tais como a sucessão geológica dos seres orgânicos, sua distribuição no passado e no presente, e suas afinidades mútuas e homologias.” Para ele, essas teorias podem ser testadas indiretamente, avaliando seu poder explanatório com respeito a uma variedade de dados relevantes.[5]

Phillip Kitcher, que não é simpático às teorias de criação, reconheceu: “Mesmo postular um Criador que não pode ser observado não precisa ser menos científico do que postular partículas inobserváveis. O que importa é o caráter das propostas e os modos pelos quais elas são articuladas e defendidas.”[5]

O critério de falseabilidade (hipóteses científicas devem fazer previsões passíveis de refutação), item (d), é de difícil aplicação para qualquer teoria das origens. Mesmo que não haja dados que corroborem suas hipóteses preditivas de que certas evidências devem ser encontradas (ex.: os inúmeros fósseis intermediários previstos pela teoria da evolução), elas não podem ser refutadas, pois quase sempre haverá a possibilidade, ainda que mínima, de que tais dados surjam futuramente, já que a evidência e a compreensão do passado que temos são incompletas. Porém, a ciência deve ser capaz, afinal, trabalhando com hipóteses discordantes, e comparando-as com os dados, de identificar quais hipóteses não condizem com a realidade.[5, 10].  

Por fim, como último argumento contra a ideia de que a TDI não é científica, apresenta-se o fato de que ela é metodologicamente equivalente à teoria da evolução (TE), podendo ambas ser classificadas como ciências históricas – as quais lidam com eventos passados únicos, irreprodutíveis em laboratório, buscando explicá-los a partir de feições da natureza do presente, o que as torna significativamente diferentes das ciências não históricas (ex.: física e química), que se preocupam, primariamente, em descobrir, classificar ou explicar regularidades (leis) e propriedades da natureza. A ideia principal desse argumento é que, haja vista a equivalência mencionada, torna-se impossível considerar como científica ou pseudocientífica apenas uma dessas teorias (TDI ou TE). Já que são metodologicamente equivalentes, e a ciência é definida por seus métodos, ou ambas são ciência ou pseudociência.[5]

É pertinente destacar ainda que o doutor em ecologia e biologia evolutiva Leonard Brand propõe que hipóteses úteis (testáveis) podem ser derivadas do Criacionismo Bíblico (que pode ser definido como uma cosmovisão ou filosofia que considera a Bíblia como uma fonte confiável de revelação da verdade). Ele afirma: “Não podemos testar diretamente se Deus esteve envolvido na história da Terra; porém, se Ele Se envolveu das maneiras descritas na Bíblia (criação e catástrofe geológica global), esses eventos deveriam ter deixado alguma evidência no mundo natural (por exemplo, limitada evidência para intermediários evolucionários e evidência pervasiva de ação catastrófica global).” E no decorrer de sua argumentação ele apresenta várias dessas hipóteses, demonstrando como elas têm apresentado considerável poder explanatório.[10]

Portanto, o que temos aqui, mais uma vez, é um exemplo claro de uma ciência histórica,[11] a qual, assim como a TDI, utiliza os mesmos recursos metodológicos e explicativos característicos da TE. Sim, o Criacionismo Científico tem um componente filosófico (suas crenças) que embasa suas hipóteses, mas o mesmo pode ser dito quanto ao Darwinismo (cujas hipóteses se baseiam na crença ateísta do NM) ou TDI (que admite tanto o teísmo quanto o ateísmo). Ademais, é fácil notar, depois de tudo o que foi exposto, que os critérios de demarcação já mencionados também falham em atribuir um caráter de pseudociência ao Criacionismo Científico, como ocorre com a TDI. Logo, a realidade é que, independentemente da cosmovisão adotada para o estudo das origens, seja ela naturalística ou teísta, é possível criar verdadeiras hipóteses científicas para estudar o passado da vida e do Universo. O que, afinal, realmente importa e deve ser levado em consideração é o poder explanatório revelado por cada uma dessas hipóteses quando confrontadas com os dados.

(David Ramos Pereira é geólogo e mestre em Geologia e Geoquímica pela UFPA)

Referências:
[1] A verdadeira e a falsa ciências. http://www.criacionismo.com.br/2016/07/a-verdadeira-e-falsa-ciencias.html; acessado em 20/8/2019.
[2] Ciência não é pesquisa comum. http://www.criacionismo.com.br/2016/09/ciencia-nao-e-pesquisa-comum.html; acessado em 20/8/2019.
[3] A descoberta da ciência. http://www.criacionismo.com.br/2017/03/a-descoberta-da-ciencia.html; acessado em 20/8/2019.
[4] Scientific Revolution. https://www.britannica.com/science/Scientific-Revolution; acessado em 20/8/2019.
[5] The Methodological Equivalence of Design and Descent. https://www.discovery.org/a/1696/; acessado em 18/8/2019.
[6] Denying the Signature: Methodological Naturalism and Materialism-of-the Gaps. https://evolutionnews.org/2015/11/denying_the_sig_4/; acessado em 17/8/2019.
[7] What is Intelligent Design. https://www.discovery.org/v/what-is-intelligent-design/; acessado em 18/9/2019.
[8] SETI Institute – Mission. https://www.seti.org/about-us/mission; acessado em 23/8/2019.
[9] Do You Like SETI? Fine, Then Let’s Dump Methodological Naturalism. https://evolutionnews.org/2014/09/do_you_like_set/; acessado em 20/8/2019.
[10] Brand, L. (2009). Faith, reason, and earth history: a paradigm of earth and biological origins by intelligent design. Andrews University Press, 332 p.
[11] It’s not science. https://creation.com/its-not-science; acessado em 25/8/2019.

quinta-feira, agosto 29, 2019

Diplópode de “99 mi de anos” força revisão na “evolução” dos artrópodes


O milípede recém-descrito (Burmanopetalum inexpectatum) visto em âmbar (Crédito da foto: Leif Moritz)

Uma equipe de paleontólogos da Bulgária e da Alemanha encontrou uma nova espécie de diplópode ou milípide, popularmente conhecido como “piolho de cobra”, em âmbar de Mianmar (antiga Birmânia). Usando as mais recentes tecnologias de pesquisa, os cientistas perceberam que não estavam apenas manipulando o primeiro fóssil de diplópode da subordem Burmanopetalidae, mas, especialmente, um indivíduo que, além de muito pequeno, apresentava uma morfologia tão incomum que se desviava drasticamente de seus equivalentes contemporâneos.[1]

Seu corpo, levemente enrolado na forma de um S, foi preservado tão perfeitamente que surpreendeu a equipe ao observá-lo no âmbar amarelo-limão. Os cientistas perceberam que o artrópode era uma espécie recém-descrita de diplópode com uma morfologia tão distinta que revisa o que os pesquisadores têm postulado sobre quando e como esses artrópodes evoluíram. Os resultados desse novo estudo foram publicados em 2 de maio de 2019, na revista ZooKeys.[1]

Os diplopodes são uma classe de artrópodes altamente diversificados, com mais de 11 mil espécies descritas. Apelidada de Burmanopetalum inexpectatum, a espécie de artrópode recém-descoberta de “99 milhões de anos” [segundo a cronologia evolucionista], tem cerca de 8,2 milímetros de comprimento e estava envolta em âmbar no vale de Hukawng, no estado de Kachin, no norte de Mianmar.[2]

Imagem processada em 3D
A fim de analisar e confirmar que o Burmanopetalum era de fato uma novidade, os cientistas utilizaram a microscopia de raios-x 3D para construir um modelo virtual do animal, incluindo seu esqueleto, anatomia interna e abundância de pernas minúsculas. A extraordinária e perfeita conservação do milípide possibilitou a observação dos minúsculos detalhes de sua morfologia, os quais raramente são preservados em fósseis.[1]

“Foi uma grande surpresa para nós que esse animal não possa ser colocado na atual classificação de milípedes”, relatou Storev.[1] As características que o diferem dos demais gêneros existentes de Callipodida estão relacionadas ao seu tamanho diminuto (menos de 1 cm de comprimento), olhos compostos por cinco ommatídeos (unidades formadoras dos olhos compostos) bem separados, ausência de cerdas pleurotérgicas e seu telson espatulado, que tem o dobro do tamanho do penúltimo anel do corpo.[2]

Como resultado, Stoev, juntamente com seus colegas Dr. Thomas Wesener e Leif Moritz, tiveram que revisar a classificação atual do diplópode e introduzir uma nova subordem (Burmanopetalidea) e uma nova família (Burmanopetalidae).

Curiosamente, o artrópode estudado não foi o único descoberto nesse depósito âmbar específico. Pelo contrário, foram encontradas aproximadamente 529 espécimes de diplópodes, contudo foi o único representante da sua ordem. É por isso que os cientistas o chamaram de Burmanopetalum inexpectatum: “inexpectatum” significa “inesperado” em latim, enquanto o epíteto genérico “Burmanopetalum” se refere ao país da descoberta (Myanmar, antiga Birmânia). O âmbar birmanês provou ser uma fonte importante de fósseis de artrópodes, contendo aproximadamente 849 espécies de artrópodes descritos.[2]

Nota: Primeiramente, conforme outros artigos já postados, reforço que os fósseis de âmbar são datados com idade na casa dos “milhões de anos” em virtude da camada estratigráfica em que são encontrados, além dos fósseis de idade nela contidos, não sendo assim uma datação direta.

É fantástico verificar que a cada nova espécie descoberta, especialmente as bem preservadas em âmbar, podemos contemplar a complexidade anatômica e morfofisiológica dos indivíduos, apesar dos supostos “milhões de anos” geralmente a eles atribuídos.

Algo que me chama muito a atenção é a complexidade visual dos seres vivos. A nova espécie relatada apresenta olhos compostos por cinco ommatídeos, um número bem maior que em outras. As imagens formadas pelos omatídeos são unidas como em um mosaico. As libélulas, por exemplo, possuem mais de 28 mil omatídeos nos olhos. Em biologia, omatídeos são unidades formadoras dos olhos compostos de um artrópode qualquer, com exceção dos aracnídeos, que têm olhos simples. Os omatídeos podem ir de um pequeno número até aos milhares. São formados por um conjunto de células fotorreceptoras rodeadas por células de suporte (células pigmentares).

A parte exterior do omatídeo contém uma camada transparente, denominada cristalino, que funciona como uma lente, responsável pelo foco da imagem. A luz é transmitida às células fotorreceptoras que a transformam num impulso nervoso. Cada omatídeo funciona como um olho individual e possui seu nervo óptico individual. Nesse sentido, a nova espécie, “supostamente” mais primitiva, tem um conjunto óptico muito complexo para um ancestral.

Nesse sentido, ressalto que a visão tem sido objeto de assombro durante toda a história, devido às suas funções críticas. Certamente a existência de olhos compostos e completamente funcionais em indivíduos que “antecedem” outros tem feito com que, de quando em quando, evolucionistas pensantes questionem seriamente a base de sua origem.

Permanece o questionamento sobre a ausência de ancestrais evolutivos que apresentem sistemas corpóreos com menor complexidade, a fim de fundamentar os dados das árvores evolutivas dos seres vivos, propostas pelos evolucionistas. O que percebemos é um constante “adequamento” por parte dos evolucionistas, ora acrescentando um ancestral, ora retirando e colocando outro, conectando indivíduos outrora separados, separando outros anteriormente conectados.

O curioso nesse artigo é que a nova espécie descoberta apresenta grande similaridade com as demais representantes contemporâneas. Apesar dos “99 milhões de anos” a ela atribuídos, as variações adaptativas não são significativas e estão dentro de um padrão aceitável e explicável de baixas variações.

(Liziane Nunes Conrad Costa é formada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])

Referências:
[1] IMBLER, Sabrina. Found: A 99-Million-Year-Old Millipede, Perfectly Preserved in Amber. Atlas Obscura. May 02, 2019. Disponível em: https://www.atlasobscura.com/articles/millipede-preserved-in-amber (acesso em 7/5/2019).
[2] STOEV, Pavel; MORITZ, Leif; WESENER, Thomas. Dwarfs under dinosaur legs: a new millipede of the order Callipodida (Diplopoda) from Cretaceous amber of Burma. ZooKeys, v. 841, p. 79, 2019. doi: 10.3897/zookeys.841.34991 disponível em: https://zookeys.pensoft.net/article/34991/ (acesso em 7/5/2019).

Leia mais sobre fósseis em âmbar:

terça-feira, agosto 27, 2019

O ensino da teoria do design inteligente nas escolas públicas

Direito Brasileiro, desde as normas internacionais subscritas pelo Brasil, até a Constituição da República e leis infraconstitucionais, é unânime no sentido de viabilizar o ensino irrestrito, sem preconceitos e livre de qualquer imposição. O Direito Educacional Brasileiro determina que todo cidadão tem direito à liberdade de, sem interferência, ter opiniões e procurar, receber e transmitir conhecimento mediante fontes abalizadas e independentemente de fronteiras. Há um aparente mal-entendido quando o assunto é o ensino da Teoria da Evolução das Espécies (TE) e a Teoria do Design Inteligente (TDI), pois cientistas e professores confundem TDI com Criacionismo e afirmam que a teoria não deve ser ensinada nas escolas por não ser ciência e, sim, ensino de cunho religioso. No entanto, o presente trabalho procura demonstrar que a TDI é, sim, um método científico-filosófico tal qual a TE, que utiliza a pesquisa científica para avaliar a complexidade na natureza, detectando empiricamente os resultados/efeitos de uma mente inteligente, de um designer, responsável pela origem de tudo. A pesquisa aponta para uma contradição entre as competências gerais da Base Nacional Comum Curricular com seus conteúdos específicos para as disciplinas de Ciências e Biologia, nas quais se determina apenas o ensino da TE, em flagrante desrespeito à legislação educacional e aos próprios objetivos gerais do documento normativo. Com isso, a proposta de inserção do ensino da TDI, juntamente com as demais teorias que procuram explicar a origem do Universo e da vida, nos currículos escolares das disciplinas de Ciências e Biologia é medida que se impõe para o efetivo cumprimento dos princípios educacionais, a fim de garantir uma educação democrática, que respeite o pluralismo de ideias e o multiculturalismo, incentivando o raciocínio crítico, a formação de cidadãos autônomos, promovendo um ambiente de tolerância às diversas cosmovisões.
 
[Clique aqui para ler o TCC da advogada e historiadora Emanuela Borges]

Emanuela mantém no Facebook a página Papo Legal com Manu.

terça-feira, agosto 20, 2019

Eu: primata bípede ou ícone de Deus?


Toda pessoa já fez ou fará esta pergunta existencial: “Quem sou eu?” Com a mão no queixo ou coçando a cabeça, somos impulsionados por um imperativo que instiga o pensamento à procura da verdade sobre a natureza humana com suas dimensões biológica, psíquica e espiritual. Mediante a ciência, a filosofia, a religião e outros caminhos epistemológicos – ou até mesmo pela via do senso comum –, o Homo sapiens vasculha suas origens remotas, lançando mão do conhecimento que lhe é possível ter. Ele não se conforma em ignorar o berço ancestral do seu nascimento. “Quem sou eu?” constitui uma indagação das mais desafiadoras e enigmáticas que só pode ser respondida, em sentido último, por meio de metanarrativas apoiadas em algum tipo de metafísica/revelação. Porém, essa pergunta nos coloca diante de outra questão dicotômica ainda mais interessante: “Sou um ser com ascendência animal – entrelaçado em relações filogenéticas evolutivas e pertencente à família hominidae – ou alguém sem o mínimo parentesco com as criaturas irracionais, um filho de Deus?” Sejam quais forem as evidências para sustentar uma tese ou outra, o misterioso aparecimento da humanidade na Terra passa por duas narrativas conflitantes, as quais, por meio dos dados disponíveis, constroem, cada uma, a sua ciência histórica.

Na versão contada pelo conhecido paleoantropólogo Richard E. Leakey, a pergunta “Quem sou eu?” é respondida assim: “A partir de linhas de indícios diferentes – alguns genéticos, alguns fósseis –, sabemos [sic] que a primeira espécie humana evoluiu há cerca de sete milhões de anos. Na época em que o Homo erectus surgiu em cena, há quase dois milhões de anos, a pré-história humana já estava em marcha. Não sabemos ainda como muitas espécies humanas viveram e morreram antes do aparecimento do Homo erectus; houve pelo menos seis, e talvez o dobro desse número. Entretanto, sabemos de fato [sic] que todas as espécies humanas que viveram antes do Homo erectus eram, embora bípedes, marcadamente simiescas em muitos aspectos. Elas tinham cérebros relativamente pequenos, suas maxilas eram prognatas (isto é, projetavam-se para a frente), e a forma de seus corpos era mais simiesca do que humana em aspectos particulares, tais como o peito em forma afunilada, pescoço pequeno e nenhuma cintura.”[1]

Detalhes à parte, na mesma esteira vai o historiador israelense Yuval Noah Harari: “Gostemos ou não, somos membros de uma família grande e particularmente ruidosa chamada grandes primatas. Nossos parentes vivos mais próximos incluem os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos. Os chimpanzés são os mais próximos. [...] Os humanos surgiram na África Oriental há cerca de 2,5 milhões de anos, a partir de um gênero anterior de primatas chamados Australopithecus, que significa ‘macaco do Sul’. Por volta de dois milhões de anos atrás, alguns desses homens e mulheres arcaicos deixaram sua terra natal para se aventurar e se assentar em vastas áreas da África do Norte, da Europa e da Ásia.”[2]

Sabe-se, cientificamente, que o nascimento da humanidade ocorreu segundo a maneira contada pelos autores acima, ou tudo não passa de artifício hipotético fundamentado em certa visão de mundo e nas interpretações equivocadas dos resquícios paleoantropológicos encontrados em algumas regiões da Terra? Gostemos ou não, essa forma de encarar a origem do homem possui inúmeros problemas que esbarram na ciência empírica e laboratorial, percebidos por mentes críticas bem informadas, entre as quais encontram-se até mesmo estudiosos crentes no “fato” da evolução. David Pilbeam, paleontólogo norte-americano, por exemplo, honestamente reconheceu: “Praticamente todas as nossas teorias sobre as origens humanas desenvolveram-se relativamente à margem do registro fóssil. Nossas teorias frequentemente têm dito mais sobre suposições sobre o que de fato ocorreu.”[3]

A controvérsia prossegue. Ainda assim, o poder explanatório da teoria da evolução persuadiu – além de grandes cientistas – muitos religiosos, teólogos e igrejas cristãs a se renderem ao discurso que usa áreas da ciência para apoiar especulações baseadas em extrapolações de dados; pois, em tal perspectiva, se estes não forem interpretados “à luz da evolução”, nada fará sentido em biologia, em antropologia ou em qualquer saber que tenha o homem por objeto de estudo. Contudo, embora o pensamento evolucionista domine a comunidade científica, soam representativas vozes discordantes que, com argumentos plausíveis, apresentam o contraponto capaz de fazer frente à quase universal doutrina do transformismo macroevolucionário.

A outra narrativa, também alicerçada nos fatos da ciência e ancorada na concepção teísta de mundo, conta-nos algo exclusivo e extraordinário, mas digno de apreciação: “E disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança [...]. E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:26, 27). Nessa versão, os primeiros humanos, representados pelo casal Adão e Eva, tiveram origem diferenciada e especial, à parte dos demais seres vivos. Tal pressuposição advinda da Bíblia, circunscrita à estrutura conceitual criacionista, é vista por muitos como um conto mágico e indigno de consideração científica. Todavia, apesar do preconceito, das distorções e da incompreensão acerca desse modelo, não se pode deixar de se encantar e de se atrair pela beleza e lógica da exposição teísta: “Depois que a Terra com sua abundante vida animal e vegetal fora suscitada à existência, o homem, a obra coroadora do Criador, e aquele para quem a linda Terra fora preparada, foi trazido em cena. A ele foi dado domínio sobre tudo que seus olhos poderiam contemplar; pois ‘disse Deus: Façamos o homem a Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança’ [...]. Aqui está claramente estabelecida a origem da raça humana; e o relato divino refere tão compreensivelmente que não há lugar para conclusões errôneas. Deus criou o homem à Sua própria imagem. Não há aqui mistério. Não há lugar para a suposição de que o homem evoluiu, por meio de morosos graus de desenvolvimento, das formas inferiores da vida animal ou vegetal. Tal ensino rebaixa a grande obra do Criador ao nível das concepções estreitas e terrenas do homem. [...] A genealogia de nossa raça, conforme é dada pela inspiração, remonta sua origem não a uma linhagem de micróbios, moluscos e quadrúpedes a se desenvolverem, mas ao grande Criador. Posto que formado do pó, Adão era filho ‘de Deus’ (Lucas 3:38).”[4] Guiados pela inspiração bíblica, reflitamos um pouco sobre esse relato incomum mas passível de credibilidade.

Trazendo a humanidade à existência, ao invés de usar a palavra (num ato de solitária ordem: “Haja!”, “ajuntem-se!”, “produza!”, “povoem-se!”), as pessoas da Divindade dialogam entre Si e compartilham a alegria de formar um ser peculiar. Em ação sublime e irrepetível, repleta de carinho, cuidado, perícia, propósito e amor, surgem homem e mulher envolvidos em glória e perfeição. Não criaturas bestiais, descendentes de uma linhagem de seres inferiores, e sim o ápice do fiat divino. Portanto, “embora partilhe com animais determinados aspectos físicos, o que é razoável visto dever, como eles, viver no mesmo mundo, respirando o mesmo ar e participando dos mesmos ciclos vitais, o homem emerge da natureza qual autêntica obra-prima da Criação. Do ponto de vista da classificação científica, todos os seres vivos, incluindo o homem, são colocados em um dos dois grupos. Ou são plantas ou são animais [...]. Por mais que o homem se pareça com os animais, estritamente do ponto de vista dos anatomistas e fisiologistas, mesmo assim as diferenças não são imaginárias [...]. Um macaco pode olhar um céu estrelado, mas unicamente o homem pode ponderar a sua significação [...]. É esta considerável diferença entre a mente humana e a mente dos animais que eleva o homem acima de qualquer classificação com os brutos [...]. Quando consideramos a anatomia e os processos biológicos do homem, em verdade, ‘a vantagem do homem sobre os animais não é nenhuma’ [...]. Os animais se sobrepõem ao homem em todos os sentidos que ele possui, e mesmo assim o homem estabeleceu seu domínio sobre a terra através do maravilhoso mecanismo da sua incomparável mente”.[5]

Formado do pó da terra e com o fôlego de vida a animá-lo, o homem reúne em si, numa inter-relação harmoniosa e indivisível, as dimensões física, mental e espiritual. Sua origem superior aponta para um destino excelente: o de usufruir a presença de Deus, experimentando-O no corpo por meio dos sentidos, alargando seu horizonte mental e adorando-O em espírito. Sendo “tridimensional”, o homem equilibra-se sobre a forte base de sua natureza marcada pelo divino.

O “pó da terra” é o elemento que nos mantém ligados ao restante da criação, a lembrança de que somos seres físicos, dependentes, finitos; o “fôlego de vida” simboliza o elo afetivo-espiritual entre criatura e Criador, apontando-nos a eternidade como alvo. Pessoa alguma alcança plenitude de vida exagerando a importância da matéria, dos sentidos, da imanência - elementos promotores do hedonismo e existencialismo humanista. Do contrário, esquecer e desprezar os deveres relacionados ao mundo material e social para se dedicar a uma existência de ascetismo, desconsiderando o mundo sensível, constitui convite à alienação que empurra o indivíduo para um abismo de abstração e incompletude, derivado de vaga e fluida metafísica. Na criação, matéria e fôlego combinaram-se fazendo do homem ser vivente pleno.       

Colocados num patamar de superioridade, homem e mulher erguem-se como rei e rainha do planeta. Coube-lhes a responsabilidade de serem tutores da Terra, administrando os variados ambientes do mundo - céus atmosféricos, águas e terra. Nesse domínio veio embutido o dom da ciência, podendo haver interferência e controle em cada espaço do planeta. De algum modo, fazendo uso do conhecimento e habilidades concedidos pelo Criador, o homem seria capaz de viajar às profundidades aquáticas, elevar-se a grandes altitudes e percorrer a largura e o comprimento do mundo. Eis o poder com o qual a raça foi dotada no princípio, porquanto a Terra deveria ser conhecida da forma mais abarcante possível. Afinal, era a sua morada cósmica, devendo cada compartimento da “casa” tornar-se familiar ao morador. Encerra-se a obra divina no sexto dia, sob feliz avaliação: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1:31).

O Criador abençoou os primeiros humanos com um lar-jardim, locus de deleite e paz inserido na Terra paradisíaca. Nessa bênção estavam inclusas: as relações sociais representadas nos vários laços que passariam a existir (“sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”); a administração benigna do planeta envolvendo o cuidado das criaturas e do ambiente, a dádiva do prazer ao experimentarem os suprimentos de Deus e o descanso do sétimo dia. Além disso, uma ordem foi imposta a fim de se lembrarem dos limites de sua natureza e de que não eram seres infinitos nem deuses. “Não comerás do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal” jamais significou uma restrição esdrúxula e arbitrária, mas sábio comando que, se obedecido, garantiria vida e felicidade eternas e revelaria a confiança do homem nas palavras de Deus. Para tristeza do Universo, infelizmente experimentamos o “sabor da morte” ao devorarmos o mal como a uma iguaria. Todavia, para alegria dos caídos deste mundo e dos não caídos seres que observaram o “espetáculo da desgraça humana”, uma porta de escape foi aberta ao inaugurar-se o plano de redenção. 

Em Observações filosóficas, Ludwig Wittgenstein interpela o leitor com a seguinte proposta: “Diga-me como você procura e lhe direi o que você procura”. Mais adiante, o filósofo expande o raciocínio: “O modo como você procura expressa de alguma forma o que você espera [encontrar]”. Por fim, ele arremata: “Uma pergunta denota um método de procura”. Na busca pelas origens humanas, temos muitas perguntas a fazer. A partir delas, construímos nosso método de investigação, talvez marcado por jogos de linguagem. O que esperamos encontrar acerca de nós mesmos? Aristóteles afirmou que “o homem é por natureza um animal político; Schopenhauer, por sua vez, declarou que “é um animal metafísico”. Já o primatólogo Frans de Waal conclui especulativamente: “Se em nossa essência somos grandes primatas, como eu suponho, ou se pelo menos descendemos da mesma linhagem dos outros grandes primatas, como todo biólogo (sic) supõe, nascemos com uma gama de tendências que vão das mais vis às mais nobres. [...] Podemos ser primatas perversos, mas isso é explicável e benéfico para o mundo”6. O fenômeno humano continua um controverso mistério. Quem sou eu? Pelo modo criacionista de enxergar a humanidade, não sou nem animal primata, nem anjo, nem demônio; tampouco divindade. Embora caído, continuo um ser edênico: ícone de Deus.

Frank de Souza Mangabeira

Referências:
1. Leakey, Richard. (1997). A origem da espécie humana; trad. Alexandre Tort. Rio de Janeiro: Editora Rocco Ltda.
2. Harari, Yuval Noah. (2017). Sapiens: uma breve história da humanidade; trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L & PM.
3. Ap. Flori, Jean; Rasolofomasoandro, Henri. Em Busca das Origens: evolução ou criação? Madri: Editorial Safeliz, 2002, p. 281.
4. White, Ellen G. (2003). Patriarcas e ProfetasCasa Publicadora Brasileira: Tatuí, São Paulo.
5. Marsh, Frank Lewis. Estudos sobre criacionismo. Casa Publicadora Brasileira: Santo André, São Paulo.
6. Waal, Frans de. (2007). Eu, primata: por que somos como somos. Companhia das Letras.

sexta-feira, agosto 16, 2019

Cientistas acreditam que possa haver vida na Lua


Sim, a possibilidade é real de que neste exato momento possa haver milhares de “invasores” minúsculos sobre a superfície lunar. Apesar de a aparência causar muita estranheza, esse ser de oito patas, que aparenta usar um traje espacial, é, na verdade, um animal terrestre chamado tardígrado, e essa “invasão” foi decorrente de um acidente espacial.

Tardígrados, também conhecidos como “usos-d’água”, são animais microscópicos segmentados, relacionados com os artrópodes. Foram inicialmente descritos por J.A.E. Goeze em 1773. O nome do filo, Tardigrada, foi dado por Spallanzani em 1776. A maioria é fitófaga, mas alguns espécimes são predadores, como o Milnesium tardigradum. Com aproximadamente um milímetro de comprimento, são famosos no meio científico por sua elevada capacidade de resistência. Há quem os considere “indestrutíveis” por suportarem condições extremas, como alta radiação, frio e calor intensos, do zero absoluto (-272,15 °C) até os 150 °C, a pressões de seis mil atmosferas e 5000 Gy de radiação, cerca de mil vezes mais que um ser humano pode suportar, além de conseguir sobreviver anos sem alimentos e água.

Justamente por isso, conseguem viver nos mais diversos ambientes – do deserto do Saara ao topo de uma montanha coberta de neve, ou nos musgos do jardim da sua casa.

Apesar de apresentarem todas essas “vantagens”, os animais descobertos no século 18 apresentam como característica mais interessante, de fato, uma habilidade incrível: quando secos, retraem a cabeça e as oito patas, encolhendo-se em uma minúscula “bola”; produzem um revestimento extra no corpo que os protege de elementos que poderiam matá-los, entrando num estado profundo de “animação suspensa” ou latência, que se assemelha à morte. Eles perdem quase toda a água do corpo e seu metabolismo diminui para 0,01% da taxa normal; mas se reintroduzidos na água, mesmo décadas mais tarde, eles podem ser reanimados. Cientistas já reviveram tardígrados que passaram até dez anos nesse estado desidratado, embora em alguns casos possam sobreviver por muito mais tempo sem água.
           
A sonda Beresheet carregava a primeira biblioteca lunar da Arch Mission Foundation, organização sem fins lucrativos cujo objetivo é criar “um backup do planeta Terra”. O carregamento continha um arquivo com 30 milhões de páginas de informações. Para conseguir juntar todo esse material num “arquivo”, Spivack, o fundador da fundação escolheu Bruce Ha, cientista que desenvolveu uma técnica para gravar em níquel imagens em nanoescala, de alta resolução. A técnica usa lasers para gravar uma imagem em vidro e depois deposita níquel, átomo por átomo, em uma camada no topo. As imagens no filme de níquel resultante parecem holográficas e podem ser visualizadas usando um microscópio com capacidade de ampliação de 1000 x – tecnologia que está disponível há várias décadas.

Assim, o carregamento consistia em 25 camadas de níquel, cada uma com apenas alguns mícrons de espessura. As primeiras quatro camadas contêm aproximadamente 60 mil imagens de alta resolução de páginas de livros, que incluem iniciadores de linguagem, manuais e chaves para decodificar as outras 21 camadas. Essas camadas contêm quase toda a Wikipédia em inglês, milhares de livros clássicos e até mesmo os segredos dos truques de mágica de David Copperfield.

Spivack tinha planejado enviar amostras de DNA para a Lua em versões futuras da biblioteca lunar, não nessa missão. Entretanto, algumas semanas antes de ter que entregar a biblioteca lunar aos israelenses, ele decidiu incluir algum DNA na carga útil.

Bruce Ha e um engenheiro da equipe de Spivack, então, adicionaram uma fina camada de resina epóxi entre cada camada de níquel, um equivalente sintético ao âmbar. Nessa resina eles incluíram folículos pilosos e amostras de DNA humano e tardígrados desidratados. Ainda, além de fixados na resina citada, alguns milhares de tardígrados desidratados extras foram espalhados em uma fita que foi anexada à biblioteca lunar.

Afinal, por que tardígrados? A escolha vai muito além da capacidade de resistência dos animais: a ideia fundamenta-se na hipótese de que eles possam ser “revividos” futuramente.

A sonda israelense deixou a Terra em 22 de fevereiro, mas, quando se aproximou da superfície lunar em 11 de abril, uma falha no computador causou o mau funcionamento do motor principal da espaçonave e caiu na Lua, viajando a aproximadamente 500 km por hora.

Apesar disso, Beresheet conseguiu ejetar a biblioteca lunar da Arch Mission Foundation durante o impacto e provavelmente esteja em alguma parte da Lua, próximo do local do acidente. Spivack diz que, mesmo que a biblioteca se partisse em pedaços, a análise mostraria que esses fragmentos seriam grandes o suficiente para recuperar a maioria das informações analógicas nas primeiras quatro camadas. 

Os tardígrados podem estar intactos? A verdade sobre isso é uma incógnita, mas Lukasz Kaczmarek, especialista em tardígrados e astrobiólogo da Universidade Adam Mickiewicz, disse, em entrevista ao The Guardian, que a queda de um módulo espacial não é suficiente para matar esses animais: “Os tardígrados podem sobreviver a pressões comparáveis ​​àquelas criadas quando os asteróides atingem a Terra, então um pequeno acidente como esse não é nada para eles.”

Mesmo assim, Spivack ressalta que não há razão para se preocupar com os “ursos-d’água” tomando conta da Lua. Todos os tardígrados lunares encontrados pelos seres humanos futuros terão de ser trazidos de volta à Terra ou levados a algum lugar com uma atmosfera, a fim de reidratá-los. Se isso será o suficiente para trazê-los de volta à vida, no entanto, é um mistério.

Em 2007, diversos exemplares de duas espécies de tardígrados foram enviados ao espaço e expostos não apenas ao vácuo, onde a respiração é impossível, mas também a níveis de radiação capazes de incinerar qualquer ser humano. Por incrível que pareça, ao regressarem à Terra, um terço deles ainda estava vivo, mostrando-se assim os únicos animais nativos do planeta, de que se tem conhecimento, capazes de sobreviver às condições do espaço extraterrestre sem o auxílio de equipamentos. Ainda verificou-se que cerca de 10% dos animais sobreviventes foram capazes de se reproduzir com sucesso. 

Já em maio de 2011, os tardígrados foram incluídos na missão STS-134 do ônibus espacial Endeavour, em seu último voo ao espaço.

Como a Lua é considerada sem vida, as autoridades mundiais não desaprovam missões que “contaminem” a superfície desse satélite com organismos da Terra. Inclusive os astronautas da Missão Apollo 11 deixaram para trás seus próprios micróbios: 96 sacos de plástico contendo “lixo humano” ainda estão na Lua, mesmo após 50 anos.

Canais especializados em vida animal, como o Animal Planet, abordam esses animais esporadicamente, porém, até recentemente, esse filo era pouco conhecido pelo público em geral. O auge do “sucesso”, por assim dizer, foi verificado no filme “Homem-Formiga e a Vespa”, de 2018, em que esses animais aparecem com detalhes em algumas cenas. Afinal, não é de se estranhar que o aspecto peculiar da morfologia dos tardígrados atraia a atenção dos roteiristas cinematográficos. Ainda ouso dizer que as recentes notícias são um solo fértil para a mente criativa dos cineastas de ficção científica, não sendo improvável que nos próximos anos vejamos a estreia de filmes intitulados como: “A invasão dos tardígrados mutantes”, ou algo assim.

Nota: Quanto mais observo a natureza e a capacidade de adaptação dos seres vivos aos mais diversos ambientes, percebo a intencionalidade de Deus no planejamento de cada detalhe da criação. De fato, ainda temos muito a conhecer sobre os mecanismos que conferem às criaturas microscópicas, como os tardígrados, características tão fantásticas de sobrevivência.

(Liziane Nunes Conrad Costa é presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB], bacharel e licenciada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE])

Referencias:


Leia mais sobre assuntos relacionados:

quarta-feira, agosto 14, 2019

Professor de Yale abandona o darwinismo e diz por quê


Para o professor da Universidade de Yale, David Gelernter, a teoria da evolução de Charles Darwin é “uma bela ideia que foi efetivamente refutada”. A declaração foi feita por ele durante sua renúncia pública do darwinismo. Gelernter, que é conhecido por prever a World Wide Web e desenvolver muitas ferramentas complexas de computação ao longo dos anos, é hoje professor de ciência da computação em Yale, cientista-chefe da Mirror Worlds Technologies, membro do Conselho Nacional de Artes e autor prolífico. Em uma coluna para o Claremont Review of Books, Gelernter explicou como suas leituras e discussões sobre a evolução darwiniana e suas teorias concorrentes, como o design inteligente, o convenceram de que Darwin estava errado. Ele cita, por exemplo, o livro de Stephen Meyer, Darwin’s Doubt, de 2013, e The Deniable Darwin, de David Berlinski, para basear suas novas crenças a respeito da vida na Terra.

Há algumas semanas, ele voltou a falar sobre esse assunto em uma entrevista com a Hoover Institution da Universidade de Stanford, na qual ele diz não abraçar totalmente o design inteligente. “Meu argumento é com pessoas que rejeitam o design inteligente sem considerar, parece-me – é amplamente descartado no meu mundo acadêmico como um tipo de trabalho teológico – é um argumento científico absolutamente sério”, disse Gelernter.

Segundo o The College Fix, o professor afirmou que declarações como a sua o colocariam na mira de outros cientistas, mas que com ele não foi assim. “Eu não fui destruído, não sou biólogo, e não pretendo ser uma autoridade sobre esse assunto. [...] Estou atacando a religião deles e não os culpo por estarem todos de cabeça erguida, é um grande problema para eles. Não há razão para duvidar de que Darwin tenha explicado com sucesso os pequenos ajustes pelos quais um organismo se adapta às circunstâncias locais: mudanças na densidade da pele ou no estilo da asa ou na forma do bico”, escreveu o professor. “No entanto, há muitas razões para duvidar se ele pode responder às perguntas difíceis e explicar o quadro geral – não o ajuste fino das espécies existentes, mas o surgimento de novas espécies. A origem das espécies é exatamente o que Darwin não consegue explicar”, completa.

Para ele, a ideia de que o acaso e as mutações são a força motriz por trás da vasta complexidade da vida – mesmo com bilhões de anos – não é apenas cientificamente improvável, é uma impossibilidade, argumenta o acadêmico em seu artigo. “Darwin teria facilmente entendido que pequenas mutações são comuns, mas não podem criar mudanças evolutivas significativas; mutações importantes são raras e fatais”, escreveu Gelernter. “Não pode ser surpreendente que a revolução no conhecimento biológico ao longo do último meio século deva exigir uma nova compreensão da origem das espécies”.