quinta-feira, março 29, 2018

Entrevista com o autor do livro recém-lançado Fomos Planejados


Fomos Planejados: a maior descoberta científica de todos os tempos é uma obra imperdível sobre a questão maior: “De onde viemos e para onde vamos?” No livro de 460 páginas, o cientista Dr. Marcos Eberlin avalia - via átomos e moléculas - o que a ciência de fato sabe sobre a “sopa de Miller”, que teria gerado o “micróbio primordial”, e então sua transformação “a la Darwin” em uma microbiologista, entre outros assuntos. Outra hipótese, porém, é debatida: a ciência descobriu que fomos feitos prontos, por um designer inteligentíssimo. Será? Acaso ou design? Leia e decida, pois é a sua origem que está em jogo! Assista à entrevista abaixo, com o autor de Fomos Planejados.


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terça-feira, março 27, 2018

Evidências de design inteligente no solo da Amazônia


A imprensa internacional publicou hoje o achado de numerosas estruturas no solo da zona sul da Amazônia. Acredita-se que essas estruturas datam da era pré-colombiana, pois é possível observar nelas elevado nível de sofisticação. O artigo encontra-se disponível no site da Nature Communications. O interessante é que os arqueólogos e pesquisadores identificaram essas estruturas, sem dúvida nenhuma, como feitas por seres humanos. As razões são que a complexidade e o design não correspondem aos efeitos que fenômenos naturais como a erosão ou a sedimentação poderiam causar, sem a intervenção de um ser inteligente. A complexidade e o design foram prova suficiente para os cientistas aceitar a autenticidade de uma construção humana.

Esse é o mesmo argumento que Paulo utilizou quando afirmou em Romanos 1:20: “Desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, Seu eterno poder e Sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis.”

Cabe, assim, perguntar: Por que os cientistas não têm dúvida sobre o fato de a origem dessas estruturas no solo ter um designer inteligente, mas duvidam da ideia de um designer inteligente na origem da complexidade biológica da célula, do DNA e dos órgãos dos seres vivos? Para nós, o solo do Brasil fala sobre a capacidade criativa dos seres humanos e “os céus declaram a glória de Deus”. Os seres vivos são prova incontestável da necessidade de um designer inteligente, divino e criador

(Raúl Esperante é biólogo e paleontólogo, pesquisador do Geoscience Research Institute)


sexta-feira, março 23, 2018

Criatura parecida com o Monstro do Lago Ness aparece na Georgia


Jeff Warren enviou uma foto da criatura ao jornal Savannah Morning com um comentário: “Isso não é uma brincadeira.” Ao encontrar a carcaça na costa do Refúgio Nacional de Vida Selvagem de Wolf Island, na Geórgia, na semana passada, ele afirmou que primeiro achou ser uma foca morta. Mas após fotografar os restos da criatura marinha que foi trazida à praia, ele a descreveu à estação de rádio WJAX como “algo do tipo Lago Ness”. De fato, o longo pescoço e a pequena cabeça lembrou os moradores locais do Altamaha-ha – a versão da Geórgia do monstro aquático imerso na crença sulista. Warren avistou a criatura durante um passeio de barco com seu filho próximo às Ilhas da Barreira da Geórgia, de acordo com o jornal First Coast News. Uma grande garça estava bicando sua carcaça, disse ele.

Especialistas em vida marinha não sabem o que fazer com as fotos e vídeo capturados por Warren, expressando ceticismo junto com estarrecimento.

Chantal Audran, do Centro de Ciência Marinha da Ilha de Tybee, disse ao Morning News que o animal se “parece com um tubarão enrugado”. Tara Cox, uma professora associada de ciências marinhas na Universidade Estadual de Savannah, disse ao jornal que pode ser um tubarão-elefante em decomposição, que adquiriu uma forma pré-histórica ao apodrecer.

Dwight Gale e George Gale, dois capitães de barcos de camarão, disseram ao First Coast que pode ser um peixe preso num pedaço de madeira, ou talvez um esturjão. “Nós vemos os esturjões todo o tempo, quando eles nadam em grupos na superfície da água, e muitas pessoas pensam que é o Altamaha-ha”, disse Dwight Gale à estação.

Sem um exame mais profundo da carcaça, entretanto, todas as pessoas que fizeram os comentários acima avisam que não podem afirmar nada com certeza.

(USA Today; tradução de Leonardo Serafim)

terça-feira, março 20, 2018

Tumba real em Canaã joga luz sobre a antiga cidade bíblica


A extraordinária descoberta de uma tumba magnífica e intacta de 3.600 anos na antiga cidade-estado canaanita de Megido surpreendeu os arqueólogos, não só pela variedade de riquezas encontradas na tumba, mas também pelas possíveis informações que pode trazer sobre a dinastia real que governou esse poderoso centro antes de ser conquistado pelo Egito no começo do século 15 a.C. A 30 km ao sul de Haifa, que hoje é o norte de Israel, o antigo local de Megido dominou uma passagem estratégica em importantes rotas militares e comerciais internacionais por cerca de cinco milênios, de 3000 a.C. até 1918. Com vista para o Vale Jezreel, o local testemunhou muitas batalhas decisivas que alteraram o curso da história, ganhando o apelido de Armagedom (de Har-Meggido ou “Monte de Megido”) primeiramente cunhado no Livro do Apocalipse.

Na primeira batalha registrada da história do Antigo Oriente Próximo, em Megido, o exército do faraó egípcio Tutmés 3º cercou a cidade fortificada na primeira metade do século 15 a.C. Depois de um cerco de sete meses, a cidade se rendeu ao faraó, que incorporou Canaã como uma província de seu império.

Megido (Tell el-Mutesellim, seu nome moderno) tem sido um local de investigação científica há 115 anos e a expedição internacional mais recente, sob a direção de Israel Finkelstein e Mario Martin da Universidade de Tel Aviv e Matthew Adams do Instituto de Arqueologia W. F. Albright, vem conduzindo escavações arqueológicas nesse local desde 1994.

Durante as temporadas de escavação, um número sem precedentes de monumentos – incluindo palácios, templos e muralhas das Idades do Bronze e Ferro (3300 – 586 a.C.) – foi descoberto no Patrimônio Mundial. Mas nada preparou os arqueólogos para a descoberta inesperada da tumba intacta datada do final da Idade Média do Bronze, por volta de 1700 – 1600 a.C., quando o poder de Megido canaanita estava no auge e antes de a dinastia governante cair sob o exército de Tutmés.

A descoberta surpreendente começou como um mistério, quando os arqueólogos começaram a notar rachaduras na superfície de uma área de escavação adjacente aos palácios da Idade do Bronze que foram descobertos nos anos 30. A terra parecia cair em alguma cavidade ou estrutura invisível, lembra Adams. Então, em 2016, eles encontraram o culpado: um corredor subterrâneo que levava a uma câmara funerária.

A câmara continha restos mortais intactos de três indivíduos – uma criança entre 8 e 10 anos, uma mulher de 30 e poucos anos e um homem entre 40 e 60 anos – enfeitados com joias de ouro e prata, incluindo anéis, broches e braceletes. O homem foi descoberto usando um colar e um diadema, ambos de ouro, e todos os objetos foram feitos com alto nível de habilidade artística.

Além das tumbas ricas e intactas, os arqueólogos também ficaram intrigados com a localização da tumba adjacente ao palácio real de Megido da Idade Média do Bronze. “Estamos falando da sepultura de uma família real por causa da monumentalidade da estrutura, a riqueza achada e pela tumba estar localizada perto do palácio real”, explica Finkelstein.

Os bens da sepultura apontam para a natureza cosmopolita de Megido daquela época e os tesouros que adquiriu por meio de sua localização nas importantes rotas comerciais do Mediterrâneo Oriental. Além das joias, a tumba continha recipientes de cerâmica do Chipre e jarros de pedra que podem ter vindo do Egito.

Os ricos adornos dos habitantes da tumba parecem indicar uma sociedade complexa e altamente estratificada, em que uma elite excepcionalmente rica e poderosa foi elevada acima da maior parte da sociedade de Megido.

Além da coleção de artefatos valiosos dos vastos cantos do antigo Oriente Próximo, os pesquisadores também esperam conseguir, através dos restos dos indivíduos, uma nova e importante informação. Enquanto escavavam a tumba, os arqueólogos perceberam que junto aos três indivíduos, outros restos humanos tinham sido enterrados previamente. Melissa Cradic, membro do time de escavação e especialista em ritos fúnebres antigos na região, explica que duas fases do ritual ocorreram na tumba. A primeira fase envolveu o sepultamento de pelo menos seis indivíduos em um curto período de tempo. Durante a segunda fase, os restos mortais foram empurrados para o fundo da tumba em um amontoado de ossos. Ao mesmo tempo, três novos indivíduos foram colocados na frente da tumba.

Cradic notou que algumas joias encontradas nos três indivíduos intactos, como tornozeleiras de contas de bronze e broches de metal, são idênticas aos artefatos encontrados na pilha dos restos mortais no fundo da tumba, sugerindo uma proximidade social entre esses dois grupos de pessoas que foram colocados juntos. “No entanto, os três últimos provavelmente eram especialmente importantes por causa da grande quantidade e riqueza excepcional de seus bens”, aponta Cradic, “assim como o fato de que seus corpos não foram tocados depois do sepultamento.”

Além disso, a evidência física para uma possível desordem genética nos ossos ou sangue dos restos mortais de vários dos indivíduos de ambas as fases sugere que eles podem ser parentes, de acordo com a bioarqueóloga Rachel Kalisher, que analisou os ossos.

Atualmente, um estudo amplo de DNA está sendo feito em muitos indivíduos desenterrados em Megido – tanto os da tumba “real” quanto aqueles com sepulturas menos elaboradas de outras áreas da região. Os resultados do antigo DNA poderiam revelar pela primeira vez se os habitantes “comuns” da cidade-estado canaanita tinham a mesma origem da elite, diz Finkelstein.

Os pesquisadores estão particularmente intrigados com a origem da classe dominante de Megido, uma vez que a correspondência diplomática com o Egito no século 14 a.C. – seguindo a conquista de Tutmés 3º – revela que o rei de Megido daquela época não tinha um nome semita (tradicionalmente canaanita), mas sim um nome hurrita: Birydia.

Estudiosos por muito tempo acreditaram que os hurritas eram um povo nômade da montanha que surgiu na região entre o quarto e terceiro milênio a.C., e eventualmente estabeleceram-se e adotaram a escrita cuneiforme. Novas escavações das cidades hurritas, no entanto, revelam uma cultura avançada com uma linguagem e sistema de crença distintos que pode ter tido um papel importante na formação das primeiras cidades e estados do Oriente Próximo. Os resultados de DNA de Megido podem, pela primeira vez, revelar o papel dos hurritas no governo das cidades-estados canaanitas, assim como mudar nossa percepção sobre a população de Canaã.

“Esses estudos têm o potencial de revolucionar o que sabemos sobre a população de Canaã”, diz Finkelstein, “antes do surgimento do mundo bíblico.”

Falar de Deus


“Ninguém jamais falou como este Homem.” João 7:46

Cecília Meireles, uma das escritoras mais importantes e expressivas da literatura brasileira, deixou-nos o belo poema “Falai de Deus com clareza”. Nele, a poetisa, com sensibilidade para o divino, deixou transparecer um apelo aos que pretendem comunicar Deus ao mundo.
 
“Falai de Deus com a clareza / da verdade e da certeza: / com um poder de corpo e alma / que não possa ninguém, / à passagem vossa, / não O entender. / Falai de Deus brandamente, / que o mundo se pôs dolente, / tão sem leis. / Falai de Deus com doçura, / que é difícil ser criatura: / bem o sabeis. / Falai de Deus de tal modo / que por Ele o mundo todo tenha amor / à vida e à morte, / e, de vê-Lo, O escolha como modelo superior. / Com voz, pensamentos e atos / representai tão exatos os reinos Seus / que todos vão livremente para esse encontro excelente. / Falai de Deus.”

O poema acima traz marcas evidentes de um tipo de discurso que desperta a atenção de alguns estudiosos: o discurso religioso, o qual, de forma explícita ou não, permeia as instâncias comunicativas, sendo quase onipresente na linguagem. Por causa dessa forte presença, não só a Análise do Discurso, mas também outras áreas do conhecimento – sobretudo a Filosofia, Psicologia, Psicanálise, Antropologia e Sociologia – tomarão o discurso religioso como um importante material de investigação, já que ele produz significativo impacto tanto sobre o indivíduo (é um elemento revelador da natureza humana, do homo religiosus) quanto sobre a coletividade (manifesta-se na vida pública e social).

O assunto central do discurso religioso é Deus, que também entrou, pelo menos tangencialmente, na pauta da Biologia, da Física e de outras ciências. Com vocabulário próprio de cada área, muitos cientistas se veem algumas vezes “obrigados” a se pronunciar perante a questão da origem do Universo e da vida: criação especial ou evolução? Quando a controvérsia acerca da existência de Deus surge, até mesmo o homem do laboratório (guiado pela imparcialidade e objetividade, esforçando-se em alcançar uma explicação estritamente científica para o mundo e a vida) termina discursando sobre Deus, seja para defendê-Lo, negá-Lo ou meramente para comentar e opinar acerca de Sua intromissão nos domínios da ciência. Nos moldes do teísmo clássico, fala-se até na “prova matemática” da existência do Ser Supremo.

Como se vê, sempre haverá uma palavra a ser dita no tocante a Deus, não importa se absurda e delirante ou convincente e razoável. Ele continua sendo assunto na boca de todos. Por isso, o homem não pode não falar de Deus. Mesmo o ateísmo tem se preocupado com Ele, mediante posicionamentos discursivos em favor de Sua não existência. Diz-se que “o ateísmo incompleto metamorfoseou o nome de Deus nas formas modernas da ciência, do estado, da filosofia e inclusive das artes. Espectro de Deus cristão, em todas essas formas encontramos um fantasma sob o desejo mais ingente de uma vontade débil que busca um ideal para além de todo o real, um sentido para além de toda consideração natural”. Assim, o discurso religioso, no sentido lato, é abrangente e universal; envolve o enunciador, mais do que este domina aquele. Por conseguinte, dele não se escapa; mas é necessário levá-lo até a arena das discussões, confrontando-o com a crítica.

Realmente, “o homem fala a Deus, fala com Deus e fala de Deus. Por outro lado, é impossível inventar uma linguagem que fale de Deus de maneira exata, adequada, perfeita, como a fazemos em relação à matemática e à física [...] Há sempre o perigo de entender mal o alcance da nossa linguagem e crer que se consegue exprimir muito mais do que realmente somos capazes de dizer dEle. [...] A linguagem religiosa não é uma linguagem abstrata, desapegada, como a linguagem científica, e sim uma linguagem que envolve intimamente aquele que a pronuncia: este não fala só do objeto em si mesmo, mas também da relação que assume em relação a esse objeto (Deus). De fato, usar a linguagem religiosa implica uma atitude de fé, de crença em Deus. Há, pois, uma singularidade que brota diretamente do objeto que se pretende designar e descrever: Deus. Dada a absoluta transcendência de tal objeto, é normal que a linguagem religiosa tenha um caráter ‘estranho’ (Ramsey), ‘paradoxal’ (Bouillard), ‘simbólico’ (Tillich). Quando fala de Deus, o homem move-se nas fronteiras da linguagem, submetendo-a a todo tipo de violência, acrescentando às palavras qualificações estranhas: adjetivos, superlativos, circunlocuções, sufixos, prefixos etc.” Logo, “esse ato de alongar as palavras até seu limite é essencial para o comportamento linguístico que é a religião (van Buren)”.     

Os analistas do discurso religioso extraem dele, pelo menos, quatro características. Consideram-no persuasivo, poderoso, ideológico e absoluto – um produtor de crença. Alguns acrescentam que ele é autoritário, porquanto “sua dimensão ideológica é tão forte que o enunciatário se vê como que impedido de optar publicamente por outro comportamento sem que se sinta culpado ou infiel perante os membros da comunidade sócio-cultural-religiosa a que pertence”. Na perspectiva de Eni Pulcinelli Orlandi, rigidez, ao invés de flexibilidade, constitui uma de suas marcas, pois “tende fortemente para a monossemia”, ficando restrito a uma significação específica. Já no âmbito da filosofia, a linguagem religiosa, conforme o empirista David Hume, não faz sentido; é sofística e ilusão que não pode ser levada a sério, pois contém considerável carga retórica escorregadia. Para os positivistas lógicos, que baseavam suas análises na verificabilidade (certo tipo de preconceito), o jargão religioso “não demonstra sentido formal nem fatual e, portanto, não tem sentido cognitivo”.

Quais cuidados deveríamos ter com nossas pressuposições ao nos debruçarmos criticamente sobre o discurso religioso? Conquanto a Análise do Discurso e outros saberes tenham contribuído no tocante aos estudos acerca da natureza e funções do discurso religioso, ainda há muito a se dizer. Mais: é preciso livrá-lo da caracterização enfaticamente negativa que certas análises desconstrucionistas exageradas lhe conferem ao associá-lo diretamente com a manipulação de mentes, alienação e imposição de dogmas irracionais, considerando-o apenas um instrumento de poder e controle. Não negamos que o discurso religioso presta-se a esse desserviço; entretanto, essa é somente a expressão distorcida da religião nele revelada. Se, consoante Dominique Maingueneau, “o discurso é uma organização situada para além da frase”, cabe-nos então ir além das aparências discursivas e dos atos de fala se quisermos compreender com maior profundidade as especificidades das enunciações religiosas, as quais nos auxiliam na compreensão do sujeito religioso. Dessa forma, malgrado as várias teorias do discurso propostas no meio acadêmico, o fato é que o discurso religioso, além de argumentativo, conduz para uma “concretização da intenção”, desembocando em um sistema de símbolos.

A pluralidade de religiões implica a pluralidade de discursos religiosos. Nesse sentido, dadas as várias noções e compreensões da Divindade espalhadas pelo mundo, falar de Deus sempre será algo complexo, polêmico, incômodo, arriscado, politicamente incorreto para algumas pessoas e, em certo aspecto, “perigoso”. Isso porque o objeto do discurso religioso é sui generis, exigindo do indivíduo envolvido com ele condições e requisitos nada fáceis de cumprir, os quais ultrapassam a esfera analítico-intelectual para imiscuir-se no âmbito psicológico-afetivo. Por isso, muitos defendem que a religião deve restringir-se à esfera privada da vida. A realidade, porém, é outra: o discurso religioso, sobretudo o institucionalizado, “dominou” o mundo – na fala, na escrita e em tudo mais. A reação racionalista é uma evidência desse domínio que ressurgiu com toda força, mesmo numa época de “morte de Deus”.

No Ocidente, largamente influenciado pelo cristianismo, o falar religioso - com sua característica de pregação apologética - expande-se para a esfera pública, gerando preocupação nas mentes humanistas e até mesmo nos pensadores crentes em Deus. Temendo-se qualquer manifestação de teocracia, vê-se essa intromissão do discurso religioso na esfera pública como um fator de exclusivismo e intolerância, ameaçando a democracia, a laicidade e a pluralidade de pensamento. Exageros à parte, se o assunto “Deus” não pode ser amputado nem da consciência individual nem do espaço coletivo – uma vez que pesquisas anunciam que “o cérebro humano já nasce predisposto a acreditar em Deus” -, como o cristianismo, especificamente, deveria se comportar ao falar do Ser divino numa sociedade avessa à pregação? Para os cristãos, o exemplo de Jesus Cristo revelado nas Escrituras constitui a máxima referência.

Antes de ascender ao Céu, Jesus deu importante comissão a Seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). O evangelho significa o anúncio das “boas-novas” ou boas notícias de salvação que o planeta inteiro precisa ouvir, pois a mensagem cristã deve atingir até mesmo “os confins da Terra” (Atos 1:8). Não é uma imposição, mas uma proclamação e convite. No entanto, surge a pergunta: Diante de um cristianismo fragmentado em milhares de doutrinas, aparentemente contraditório e em crise, qual mensagem deve ser anunciada ao mundo? Não seria aquela denominada de “evangelho eterno” (Apocalipse 14:6)? Transposto o obstáculo concernente à identificação do verdadeiro evangelho de Cristo e assumindo-se o pressuposto de que existe uma verdade religiosa a ser descoberta e conhecida, em que linguagem ou espírito deve o evangelho ser exposto? Tal questionamento requer reflexão séria por parte da fé cristã, sem desconsiderar o seguinte: “Em certo sentido, o evangelho será sempre um discurso estranho ao mundo. Ele lança um desafio poderoso aos padrões, às perspectivas e às ideias seculares dominantes. O evangelho enfrentará o preconceito, a ignorância e a confusão. Por que acrescentar outras dificuldades às que existem, dada a natureza do próprio evangelho? Por que fazer o evangelho parecer mais estranho?” Assim, para que as “Boas Novas” não pareçam mais estranhas do que já são ao homem natural (que as considera loucas, excêntricas e esquisitas), revisitemos o poema de Cecília Meireles a fim de extrair dele alguns princípios necessários a todo indivíduo predisposto a falar de Deus.

“Falai de Deus com a clareza / da verdade e da certeza: / com um poder de corpo e alma / que não possa ninguém, / à passagem vossa, / não O entender.”

É possível visualizar clareza, verdade e certeza nos discursos humanos? Não seria esse um ideal ilusório e inalcançável? Segundo Michel Foucault, “a verdade é algo deste mundo: ela só é produzida em virtude de múltiplas formas de coação. E induz aos efeitos de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua ‘política geral’ de verdades: isto é, os tipos de discurso que ela aceita e faz funcionar como verdadeiras; os mecanismos e ocasiões que permitem a alguém distinguir entre declarações verdadeiras e falsas, os meios pelos quais cada uma é sancionada; as técnicas e procedimentos concedem valor na aquisição de verdades; o status daquelas que são acusadas de dizer o que conta como verdade.” Por estarem restritas a uma compreensão limitadora da verdade, pautada no espírito desconstrucionista da pós-modernidade, as considerações foulcautianas carecem de correção, pois enfocam apenas o aspecto problemático da manipulação, do poder e do controle em relação à verdade, a qual, nesta espécie de pensamento, não existe. De fato, entre falas conflitantes, incoerentes e mal intencionadas, nada exige mais clareza, compreensão e verdade do que Deus. Contudo, se a linguagem humana é imperfeita e limitada para se falar de coisas conhecidas, que esforço não devemos fazer para falar clara e distintamente do Ser infinito, que está fora da linguagem!

Conforme Guimarães Rosa, “o idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinzas”. Se, por um lado, o nome genérico Deus vem do sânscrito div (luz, claridade), por outro, o significado desse nome continua sepultado sob montanhas de cinzas hermenêuticas, debaixo de escombros linguísticos teoréticos. Dessa forma, se quisermos dizer algo dEle, nossas palavras – poluídas de a prioris – têm de ser “divinas”, purificadas pelo toque da “brasa viva do altar” (Isaías 6:7 e 8).

Em outro aspecto, o discurso religioso tem de ser exotérico (compreensível aos de fora da comunidade religiosa, claro como a luz do dia) e não esotérico (restrito ao universo da religião, opaco), revelando simplicidade e, tanto quanto possível, objetividade, livrando-se de jargões complexos e próprios da retórica pomposa, grandiloquente. Portanto, aos proclamadores da Palavra, cautela é essencial a fim de não envolver Deus em obscuridade, cercando-O de conceitos filosóficos especulativos e teologias nebulosas que O tornam ainda mais distante de Sua autorrevelação. Nesse sentido, ninguém falou de Deus com tanta clareza, verdade, certeza e poder quanto Jesus Cristo. Por onde Ele passava, era impossível não O entender.

“Falai de Deus brandamente, / que o mundo se pôs dolente, / tão sem leis. / Falai de Deus com doçura, / que é difícil ser criatura: / bem o sabeis / Falai de Deus de tal modo / que por Ele o mundo todo tenha amor / à vida e à morte, / e, de vê-Lo, O escolha como modelo superior.”

 O mundo vem se transformando num ambiente caótico, num campo de conflito onde leis universais de justiça e amor são cada vez mais desconsideradas. Em tal contexto, Deus, no pensamento do filósofo Nietzsche, “não passa de um conceito que determina o nosso modo de pensar. Assim, o discurso sobre Deus [...] se estabelece com pretensões de verdade, mas não passa de ‘palavras duras como tochas que fazem tropeçar’. No fundo, o possível discurso sobre Deus seria lido no mesmo âmbito das ciências positivas que buscam pelo mundo verdadeiro, um mundo que, no dizer de Nietzsche, foi suprimido. [...] O âmbito do saber metafísico, se revelaria, em Nietzsche, violência do conceito que, ao mirar as coisas celestes, impede a liberdade do ‘sentido da terra’. [...] Contudo, o discurso nietzschiano não será igualmente violento, já que, afinal de contas, enquanto ‘sacrossanto egoísmo’, ele declara guerra às verdades metafísicas, principalmente através da célebre fórmula do ‘filosofar com o martelo’: uma forte declaração de guerra aos ídolos ‘eternos’?”   

Inegavelmente, o tema “Deus” tem sido causa de hostilidade entre as pessoas. A tese é confirmada pela própria História: inquisição, fogueiras, guerras santas, prisões, exílio e muito derramamento de sangue “em nome de Deus”, mas também contra o nome de Deus. Religião e ateísmo, cada um ao seu modo, desempenharam papel vergonhoso nos séculos passados, haja vista a igreja hegemônica da Idade Média e os regimes ateus da antiga União Soviética e da China, ambos causadores de traumas históricos na civilização. O cenário de hoje, aparentemente mais brando, parece ser outro; entretanto, a “violência sagrada” insiste em levantar a cabeça. A palavra “Deus”, na boca vã e má, transforma-se em espada ameaçadora, embora Deus nada tenha a ver com violência. Todavia, se violência for entendida como conflito entre a verdade e o erro, que provocou profundas divisões no pensamento religioso, todo discurso será “violento”, na medida em que tenta posicionar-se hermeneuticamente. Daí as palavras de Jesus, frequentemente mal interpretadas: “Não penseis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mateus 10:34).

Mais uma vez, Cristo é o referencial de não violência e amor. Acerca dEle, o Modelo superior dado à humanidade, pronunciou-se certa autora cristã: “Jesus não suprimia da verdade uma palavra que fosse, mas sempre a proferia com amor. Em Seu convívio com o povo exercia o maior tato, dispensando-lhes atenta e bondosa consideração. Não era nunca rude; jamais pronunciava desnecessariamente uma palavra severa; nunca motivava dores desnecessárias a uma alma sensível. Não censurava as fraquezas humanas. Dizia a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a injustiça; mas o pranto transparecia em Sua voz quando proferia Suas fulminantes repreensões. Chorou sobre Jerusalém, a cidade que amava, e que recusava recebê-Lo a Ele que era o caminho, a verdade e a vida. [...] Sua vida foi de abnegação e solícito cuidado pelos outros. Toda alma era preciosa aos Seus olhos. Se bem que sempre Se conduzisse com divina dignidade, inclinava-Se com a mais terna simpatia a cada membro da família de Deus.” Na perspectiva cristã, o discurso religioso equilibra a “dureza” da verdade com a suavizante influência do amor e da compaixão.

“Com voz, pensamentos e atos / representai tão exatos os reinos Seus / que todos vão livremente para esse encontro excelente. / Falai de Deus.”

Qualquer discurso hoje é olhado com desconfiança. Na esfera religiosa, quando se dissocia discurso de prática, o estrago é muito grande: a boa palavra é traída pelo ato ruim e Deus é malcompreendido. Quão diferente era Jesus quando falava aos homens! “Em conformidade com o que Ele ensinava, vivia (João 13:15). [...] Em Sua vida, as palavras de Cristo tiveram perfeita ilustração e apoio. E mais do que isto: Ele era aquilo que ensinava. Suas palavras eram a expressão não somente da experiência de Sua própria vida, mas de Seu próprio caráter. Não somente ensinava Ele a verdade, mas era a verdade. Era isto que Lhe dava poder aos ensinos”. Sendo o Logos divino, Cristo demonstrou, com voz, pensamentos e atos, a representação exata do reino de Deus, estimulando o homem ao encontro excelente com o Criador. Seu discurso atrativo, coerente e poderoso evidenciava o caráter divino de Suas palavras. Por essa razão, ficou registrado: “Nunca homem algum falou assim como este homem” (João 7:46); e nunca ninguém falará.

Retomando Guimarães Rosa: “A língua, para mim, é instrumento: fino, hábil, agudo, abarcável, penetrável, sempre perfectível. Mas sempre a serviço do homem e de Deus, do homem de Deus, da Transcendência.” Ainda há espaço para se falar de Deus com clareza, veracidade e certeza, aliados à ternura, amor e misericórdia. Se não for falso, vão e prejudicial, o discurso religioso centrado em Cristo será recebido como boas novas, preservando o seu lugar na vida do sujeito e no mundo e estando a serviço do bem. Porém, caso enverede por caminhos tortuosos, representará somente palavras jogadas ao vento destituídas de relevância e valor para uma realidade carente de sentido e ainda faminta de Deus.

“Pois Ele falou, e tudo Se fez” (Salmo 33:9). Que os seguidores de Jesus Cristo falem de Deus da forma melhor e mais completa possível: mediante palavras eternas, carregadas de vida e encarnadas em boas ações, tal como discursou o Deus-homem quando esteve Terra.

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)

sexta-feira, março 16, 2018

A questão não compreendida por Stephen Hawking

Graças a suas descobertas nos campos da astrofísica e da cosmologia, Stephen Hawking era considerado por muitos o cientista mais popular desde que Albert Einstein caminhou sobre a Terra. Claro que o fato de o britânico ser bastante midiático e ter escrito best-sellers colaborou, e muito, para torná-lo famoso e influente – sem contar, é claro, sua doença degenerativa que deveria ter ceifado sua vida muitos anos antes. Essa limitação física incapaz de impedir seus voos intelectuais criou um paradoxo que serviu de exemplo e motivação para todo o mundo: não existem desculpas para não sonharmos alto e não realizarmos grandes empreendimentos.

Hawking nasceu em 8 de janeiro de 1942, exatamente 300 anos após a morte de Galileu, e morreu no mesmo dia do nascimento de Albert Einstein (14 de março). O físico autor de Uma Breve História do Tempo (entre outros livros) tinha grande fé na capacidade humana de compreender a realidade. Ele disse certa vez: “Creio que conseguiremos compreender a origem e a estrutura do universo. […] Em minha opinião, não há nenhum aspecto da realidade fora do alcance da mente humana.”

quarta-feira, março 14, 2018

A morte de Stephen Hawking


Para mim foi como perder um amigo de infância, um parente, alguém chegado. Acompanho a vida e as ideias de Stephen Hawking desde os meus 15 anos, portanto há mais de 30 anos. Em 1989, comprei e devorei a primeira edição de seu aclamado livro Uma Breve História do Tempo. Anos mais tarde, incorporei à minha biblioteca os livros O Universo Numa Casca de Nós, A Teoria de Tudo, escrito pela primeira esposa do físico, e Minha Breve História, uma autobiografia reveladora, depois conto por quê. Cientistas como Carl Sagan e Stephen Hawking ajudaram a aguçar ainda mais meu gosto pela ciência, pela astronomia e pela cosmologia. E por isso sou grato a eles.

A notícia da morte de Hawking aos 76 anos, nesta madrugada, me entristeceu como quando Sagan morreu em 1996, vitimado pelo câncer. Hawking nasceu em 8 de janeiro de 1942, exatamente 300 anos após a morte de Galileu, e morreu no mesmo dia do nascimento de Albert Einstein (14 de março de 1879). Vitimado por uma doença neurodegenerativa, um dos homens mais brilhantes do mundo, cuja mente viajava pelos números e pelo Universo, viveu décadas confinado a uma cadeira de rodas. Confesso que orei muitas vezes por ele.

As frases hawkianas e suas afirmações sobre buracos negros e outros temas complexos sempre ganharam destaque na mídia. Exemplo de superação e determinação, Hawking tinha grande fé na capacidade humana de compreender a realidade. Ele disse certa vez: “Creio que conseguiremos compreender a origem e a estrutura do universo. [...] Em minha opinião, não há nenhum aspecto da realidade fora do alcance da mente humana.”

Infelizmente, Hawking, mesmo contemplando a complexidade do Universo e tendo muito tempo para refletir sobre isso, deixou de perceber o óbvio. Ele também disse: “Eu acredito que a explicação mais simples é: não existe Deus. Ninguém criou o Universo e ninguém dirige nosso destino. Isso me leva ao profundo entendimento de que provavelmente não existe céu nem vida após a morte. Temos apenas esta vida para apreciar o grande projeto do Universo, e sou muito grato por isso.”

Ao mesmo tempo que nega o Criador, o físico usa a expressão “projeto” para se referir ao Universo. Um projeto sem projetista?

Eu disse que o livro Minha Breve História é revelador. Pelo menos para mim foi, especialmente no que diz respeito à descrença do cientista. Na página 91, ele deixa escapar a informação de que teve uma oportunidade de conhecer o Criador do Universo: “Enquanto estive na Califórnia, trabalhei com um aluno de pesquisa no Caltech chamado Don Page. Don tinha nascido e fora criado em uma aldeia do Alasca, onde seus pais eram professores da escola e, junto com ele, eram os únicos não esquimós da região. Ele era cristão evangélico e fez o possível para me converter quando, mais tarde, veio morar conosco em Cambridge. Don costumava ler histórias da Bíblia para mim durante o café da manhã, mas eu lhe disse que conhecia bem a Bíblia do tempo em que morava em Maiorca e porque meu pai costumava lê-la para mim. (Meu pai não era crente, mas achava que a Bíblia do rei James era culturalmente importante.)”

Não, Hawking não conhecia a Bíblia, apenas havia tido uma experiência de leitura forçada na infância que o marcou negativamente e levantou nele uma espécie de “blindagem” contra a Palavra de Deus. (Aliás, Hawking também conhecia alguma coisa do adventismo: confira.)

Hawking não cria na Bíblia nem em Deus, no entanto, assim como Sagan, tinha fé na possibilidade de que um dia façamos contato com extraterrestres. Na verdade, vinha investindo dinheiro em pesquisas cuja finalidade era encontrar evidências de vida inteligente fora da Terra. Morreu sem realizar o grande sonho, assim como Sagan.

Vidas desperdiçadas? Por um lado, não, pois viveram intensamente e deram grande contribuição à ciência, legando conhecimento útil à posteridade. Por outro lado, sim, pois deram as costas a uma possibilidade de pelo menos cinquenta por cento de que exista mesmo um Deus Criador e uma vida eterna nos aguardando. Caso Sagan e Hawking tenham morrido perdidos (e isso é algo que somente Deus poderá determinar), terão desperdiçado a grande oportunidade de estudar de perto e para sempre tudo sobre o que sempre escreveram.

Stephen, traduzido para o português, é Estêvão. O cientista britânico viveu contemplando o céu em busca de respostas, mas ignorou a resposta. Em que condições espirituais ele morreu? Não sabemos. Só Deus sabe. O Estêvão da Bíblia morreu contemplando o céu, mas sabia que lá estava a resposta, cujo nome ele proferiu com suas últimas forças antes de fechar os olhos para este mundo: Jesus Cristo.

Dois Estêvãos, dois destinos selados. Uma breve história ou uma história eterna? Qual será a sua escolha? 

Michelson Borges

Leia tudo o que já publiquei sobre Stephen Hawking aqui no blog. Clique aqui.

terça-feira, março 13, 2018

Escamas de tubarão serão usadas em drones, aviões e turbinas eólicas


Materiais sintéticos inspirados na pele dos tubarões prometem melhorar o desempenho aerodinâmico de aviões, turbinas de energia eólica, drones e mesmo dos carros. Os tubarões e os aviões têm suas semelhanças: ambos são projetados para se moverem de forma eficiente em fluidos (água e ar), usando a forma de seus corpos para produzir sustentação e diminuir o arrasto. A diferença é que os tubarões têm cerca de 400 milhões de anos de liderança no processo de design [isso segundo a cosmovisão evolucionista, que tenta fazer do tempo um deus]. E, embora pareçam ser lisos e escorregadios, os tubarões têm na verdade a pele recoberta por uma espécie muito peculiar de escama.

“A pele dos tubarões é coberta por milhares e milhares de pequenas escamas, ou dentículos, que variam em forma e tamanho ao redor do corpo. Nós sabemos muito sobre a estrutura desses dentículos – que são muito semelhantes aos dentes humanos – mas sua função tem sido objeto de muito debate”, explicou o professor George Laude, da Universidade de Harvard, nos EUA.

Embora a maioria dos cientistas destacasse o papel das escamas na pele dos tubarões na redução do arrasto, os pesquisadores August Domel e Mehdi Saadat descobriram que elas são muito mais importantes na geração de sustentação, ajudando a manter o nível vertical do tubarão dentro da água. Para isso, eles reproduziram os dentículos do tubarão-mako, que é o tubarão mais rápido do mundo, e os colocaram sobre a superfície de uma asa com uma seção aerodinâmica curva – um aerofólio. Isso permite medir os efeitos do material sobre o arrasto e a sustentação.

Depois de testarem 20 configurações diferentes de tamanhos e posicionamento dos dentículos no aerofólio dentro de um tanque de fluxo de água, a equipe concluiu que, além de reduzir o arrasto, as estruturas em forma de dentes aumentam significativamente a sustentação, atuando como geradores de vórtices de alta potência e de perfil baixo – a relação entre elevação e arrasto chegou a 323% em comparação com o aerofólio sem os dentículos.

A equipe agora pretende começar a testar suas escamas de tubarão artificiais em aplicações práticas, a começar pelas pás que movem as turbinas eólicas.


Nota: De vez em quando, mesmo textos publicados em sites e revistas seculares se traem e deixam escapar o óbvio: se existe um design e um projeto é porque existe um designer e um projetista. Simples assim. [MB]

Leia mais sobre tubarões. Clique aqui.

Descobertas contestam hegemonia de Darwin e recuperam Lamarck


Características adquiridas em vida afetam genética e evolução das espécies, escreve professor escocês.

Resumo: Autor afirma que pesquisas recentes indicam que a evolução das espécies é um fenômeno mais complexo do que se imaginava e não pode ser explicado apenas pela seleção natural. Defensor de uma teoria alternativa (a síntese evolutiva estendida), ele argumenta que a ciência tem dificuldade para incorporar novas ideias. Leia o texto completo aqui e o artigo original em inglês aqui.

Nota do blogueiro e mestre em História da Ciência Enézio Eugênio de Almeida Filho: “Desde 1998 este blogger vem anunciando uma grande, eminente e iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva. Não foi falta de notificação às editorias de ciência da grande mídia tupiniquim e seus jornalistas científicos. A maioria nem deu atenção devida ao que lhes chegava às mãos. Não interessa a quem tem uma agenda ideológica lidar com as questões de justificação teórica.

“Apenas um jornalista científico deu a atenção devida: Maurício Tuffani, então na Folha de S. Paulo, com uma reportagem especial intitulada “Visões extremas da evolução”, onde prevaleceu o paradigma neodarwinista e um pequeno destaque marginalizado da Teoria do Design Inteligente, na figura de Michael Behe, com a sua tese da complexidade irredutível (A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1997) e quando trabalhou na Galileu, publicou meu pequeno artigo “O Convite de Darwin”.

“Bastante atrasada, aliás muito atrasada, a Folha de S. Paulo traz à tona o que a nomenklatura científica conversa intramuros, mas que não tem mais como não debater a falência epistemológica do darwinismo. A internet já tornou isso público no mundo inteiro. Ao debate, senhores! Com a Teoria do Design Inteligente à mesa, pois a Síntese Evolutiva Ampliada/Estendida é uma teoria científica natimorta: não lidou como deveria lidar sobre a origem da informação genética...”

segunda-feira, março 12, 2018

O algoritmo que as formigas usam para construir pontes


Mesmo sem nenhum inseto responsável, as formigas-correição trabalham coletivamente para construir pontes usando o corpo a fim de se locomover pela selva. Uma nova pesquisa norte-americana revelou as regras matemáticas simples que levam a esse comportamento grupal complexo. Um artigo sobre as descobertas foi publicado na revista Journal of Theorical Biology, incluindo membros do Instituto de Tecnologia de Nova Jersei, Universidade Harvard, Universidade de Scranton e Universidade James Madison. As formigas-correição formam colônias com milhões de indivíduos, mas não têm casa permanente. Elas vivem atravessando a selva todas as noites em busca de novos locais de alimentação. Ao longo do caminho, realizam cálculos logísticos para se locomover, incluindo construir pontes com seus próprios corpos. Os insetos gerenciam essa coordenação sem nenhum líder e com recursos cognitivos mínimos – cada formiga é praticamente cega e tem um cérebro minúsculo incapaz de entender esse elaborado movimento coletivo.

Quando formigas em marcha encontram uma lacuna no caminho, elas diminuem o passo. O resto da colônia vem atropelando os indivíduos parados. Nesse ponto, conforme explica um dos autores do estudo, Simon Garnier, diretor do Swarm Lab do Instituto de Tecnologia de Nova Jersei, duas regras simples tomam lugar. A primeira delas diz às formigas paradas que elas devem permanecer assim, afinal de contas, outras formigas estão andando pelas suas costas. Se alguém passasse por cima de você, você também provavelmente não se mexeria. Esse mesmo processo se repete nas outras formigas: quando passam a primeira e se deparam com o buraco, elas também congelam e são “pisoteadas” por insetos vindo atrás. Dessa forma, as formigas constroem uma ponte longa o suficiente para abranger qualquer espaço à sua frente.

O comportamento não é tão simples assim, no entanto. Considere um obstáculo em V na frente das formigas: elas têm a possibilidade de contorná-lo, mas percorrer todo o caminho pode ser cansativo demais. Construir uma ponte na parte mais larga da lacuna minimizaria a distância, só que elas nem sempre fazem isso – podem percorrer um pedaço do caminho e criar uma ponte menor, por exemplo. Isso sugere que algum outro fator desempenha um papel nesse cálculo inconsciente.

As formigas presas na “ponte” não estão disponíveis para outras tarefas. A qualquer momento em uma marcha, uma colônia pode manter 40 a 50 pontes, formadas com uma a 50 formigas. Isso significa que até 20% da colônia pode ficar “presa” em pontes a cada vez. Nesse ponto, uma rota mais curta não vale a pena se muitas formigas são necessárias para criar uma ponte mais longa.

Só que as formigas não têm ideia de quantas das suas companheiras de colônia estão livres. E é aí que a segunda regra entra. À medida que as formigas individuais formam pontes, elas criam uma “sensibilidade” por serem pisoteadas. Quando o tráfego sobre suas costas diminui – talvez porque muitas outras formigas estão ocupadas construindo outras pontes –, a formiga descongela e retorna à marcha.

Com base nas observações dessas formigas na selva panamenha em 2014, os pesquisadores criaram um modelo que quantifica a sensibilidade dos insetos ao trânsito em cima deles, e prevê quando uma colônia vai superar um obstáculo e decidir, em certo sentido, que é melhor dar a volta em vez de criar uma ponte.

A evolução aparentemente equipou esses animais com os “algoritmos” certos para agir coletivamente da melhor forma possível. [!!!!!!]

Muitos pesquisadores trabalhando no desenvolvimento de robôs têm dificuldade em criar tais algoritmos que permitirão que suas máquinas realizem feitos semelhantes. Esse estudo pode ajudá-los; de qualquer forma, a natureza parece estar muito à frente da tecnologia nesse quesito, cumprindo tarefas de forma mais confiável e a um menor custo.

Por fim, é muito possível que existam mais comportamentos inexplorados envolvidos nesse processo do que essas duas regras simples. “Descrevemos as formigas como simples, mas nem entendemos direito o que elas estão fazendo. Sim, elas são simples, mas talvez não sejam tão simples quanto pensamos”, opinou Melvin Gauci, pesquisador da Universidade Harvard, que estuda robotização coletiva.


 Nota: Não é incrível atribuir comportamentos matemáticos complexos à “natureza”, ao acaso, às mutações aleatórias filtradas pela seleção natural cega? Os pesquisadores, usando inteligência, tecnologia e dinheiro, admitem que seus algoritmos nem chegam perto dos cálculos feitos pelas formigas, ou seja, seus robôs inteligentemente projetados não chegam aos pés das formigas que surgiram por acaso! Os algoritmos e programas dos robôs foram criados por seres humanos inteligentes; os algoritmos e programas mais complexos das formigas... bem, esses foram “criados” pela “mãe natureza”, essa sábia senhora usada para substituir uma palavra incômoda para os cientistas evolucionistas: Deus. [MB]

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio.Provérbios 6:6

Leia mais sobre as engenhosas formigas. Clique aqui e aqui.

quinta-feira, março 08, 2018

O que havia antes do Big Bang e da origem do Universo?

[O texto que segue é um comentário do astrofísico Eduardo Lütz a esta matéria publicada no portal G1 e em outros sites.] Essa matéria trata de um tema muito interessante, mas que é entendido por poucas pessoas em função da necessidade de pré-requisitos matemáticos e conhecimentos específicos para entendê-lo. Por isso mesmo, é louvável a tentativa de Tyson e Hawking de tornar alguns de seus aspectos mais acessíveis. E é um grande desafio para quem não é da área sequer comentar a entrevista. Vamos então tentar esclarecer alguns pontos que ficaram mal entendidos bem como tentar situar um pouco melhor o que Hawking explicou.

“A ciência em geral aceita a teoria do Big Bang: o momento, há cerca de 13,8 bilhões de anos, no qual uma grande explosão de luz fez com que uma densa esfera da matéria se expandisse, tornando-se cada vez mais leve e diluída, gerando um universo em expansão continua.”

Há vários problemas nessa declaração do comentarista. Um é que Ciência é uma metodologia de pesquisa e representação, não uma pessoa ou um grupo que aceita, rejeita ou diz coisas. Mas é verdade que quase toda a comunidade científica aceita o modelo do Big Bang como sendo uma excelente aproximação do que acontece com o Universo.

Outro problema é que o comentarista fala de uma explosão de luz que teria feito com que uma esfera de matéria se expandisse. Como se houvesse um pontinho de matéria altamente concentrada em algum lugar de um espaço vazio, explodisse e se expandisse em todas as direções. Essa é uma concepção falsa. O modelo do Big Bang é muito diferente disso.

O modelo original do Big Bang foi deduzido a partir de três pontos de partida: (1) uma equação que descreve o funcionamento macroscópico do espaço-tempo (equação fundamental da Relatividade Geral), (2) leis da Termodinâmica e (3) a hipótese de que o Universo é aproximadamente homogêneo, se for observado em escala suficientemente grande (o que permite até os superaglomerados gigantes de galáxias). O último ponto é interessante apenas para facilitar os cálculos, mas não é tão essencial à conclusão final, qualitativamente falando, embora faça diferença nos detalhes mais finos. O resultado são equações que dizem que o Universo iniciou extremamente denso e desde então vem se expandindo. Mas a expansão não é da matéria, mas do próprio espaço. É a expansão do espaço que induz os aglomerados de galáxias a se afastarem uns dos outros com o passar do tempo.

No modelo do Big Bang, todo o espaço já nasce preenchido. Não se trata de uma bola de matéria crescendo no espaço que estava vazio, mas do crescimento de todo o espaço. Não há regiões vazias e não há uma esfera que cresce.

Outro detalhe interessante é que, tecnicamente, Big Bang não é o nome de uma explosão que teria servido como nascimento do Universo, mas um nome pejorativo dado a um modelo (sistema de equações) que descreve como o espaço cresce com o tempo. Mesmo que não existisse matéria no Universo, o espaço ainda sofreria expansão progressiva de acordo com a equação da Relatividade Geral. É dessa expansão que o modelo trata, não do que acontece com a matéria.

Outro ponto importante é que o modelo vale a partir do momento em que existe o tempo como o conhecemos, o tempo clássico (em contraste com tempo quântico). Esse tempo clássico tem um limite inicial, o qual dá sentido atribuir-se uma idade ao Universo. É importante ficar claro que a idade do Universo é a idade do próprio tempo. Por isso não faz sentido falar-se em “antes” do nascimento do Universo.

Algo que também precisa ser levado em conta é a questão da lei da conservação de energia. Essa lei é consequência de uma simetria do Universo em relação ao tempo. As regras que valem hoje, valem também amanhã. De acordo com um teorema famoso (Nöther), isso implica na lei de conservação de energia. Se o Universo é um sistema isolado, a quantidade de energia (e de massa, portanto) que existe hoje é a mesma que existia há um bilhão de anos. Mas o Universo nem sempre foi assim. Por ocasião do nascimento do tempo, essa e outras simetrias não existem. Existe uma espécie de recíproca ao teorema de Nöther que nos diz que o nascimento do tempo induz criação de energia, a qual excita o espaço-tempo e produz partículas. Esse fenômeno da excitação do vácuo com produção de partículas é bem corriqueiro em laboratórios de altas energias. Mas isso nos diz algo importante: não há por que preocupar-se com uma singularidade inicial na densidade do Universo, pois o espaço pode inclusive ter iniciado vazio mas ter sido excitado pela criação de energia durante a estabilização do tempo clássico. De qualquer forma, o modelo do Big Bang só vale após a estabilização, em princípio.

Como se deu esse processo e a partir de quê? Questões como essa estão ativamente sendo exploradas na área da Cosmologia Quântica. Hipóteses são levantadas e suas consequências são estudadas matematicamente a fim de se verificar se são consistentes internamente e se refletem bem o que observamos na realidade. É nessa linha que precisamos entender o que Hawking diz.

“Eu adoto o enfoque euclidiano (tridimensional) à gravidade quântica para descrever o início do Universo, pelo qual o tempo real e ordinário é substituído pelo tempo imaginário, que se comporta como uma quarta dimensão do espaço.”

“Na interpretação euclidiana, a história do Universo no tempo imaginário é uma superfície curva em quarta dimensão, como a superfície da Terra, mas com dimensões adicionais.”

Aqui, Hawking se refere a uma das linhas de pesquisa que existem em Cosmologia Quântica. Quando ele fala em tempo imaginário não se refere a um tempo da imaginação, mas à componente imaginária dos números complexos, que é algo bem “real” (em sentido coloquial) e nada tem a ver com imaginação. Tempo e espaço são coisas essencialmente da mesma natureza, diferindo apenas por um sinal em uma fórmula que representa as propriedades geométricas do espaço-tempo. Essa diferença de sinal é tal que nos permite afirmar que tempo imaginário é espaço e espaço imaginário é tempo. Hawking trabalha com uma hipótese que implica em que, se pudéssemos voltar no tempo até o nascimento do Universo, não conseguiríamos atingir aquele instante, pois o tempo tenderia a transformar-se em uma dimensão de espaço curvo e acabaríamos sendo desviados de nossa jornada sem nunca atingir o instante do nascimento do Universo. É como viajar em direção ao Polo Sul e, a certa altura, descobrir que estamos voltando para o Norte, pois não podemos ir mais ao sul do que o Polo Sul. Por isso Hawking diz que falar-se em “antes do Big Bang” equivale a falar-se em “ao sul do Polo Sul”.

(Eduardo Lütz é físico e engenheiro de software)